Sete anos de silêncio
estiveram os Prayer. Agora, com um line-up
renovado e uma dinâmica diferente, Tapani Tikkanen regressa aos originais com Danger In The Dark, um álbum lançado via
Escape Music. O simpático guitarrista e vocalista finlandês revelou-nos algumas
histórias curiosas e amargas, ligadas ao futebol e à música.
Viva! Obrigado Tapani por
teres destinado algum tempo a responder a Via Nocturna. Novo álbum e novo line-up. Excelente momento para os
Prayer atualmente?
Sim, esperemos
que sim! E depois de tudo, estamos muito felizes que o álbum esteja finalmente
concluído e lançado. Muitas coisas aconteceram desde o primeiro álbum. Eu acho
que a altura é sempre ideal para a boa música, música de verdade com músicos e
instrumentos verdadeiros, não achas? Tenho a sensação de que este é um bom
momento para nós, há muitas canções fortes no álbum, a capa é fantástica e
acredito que estabelecemos o nosso próprio estilo, não soamos como as restantes
bandas.
E porque razão um intervalo
de sete anos?
Como eu
disse, muitas coisas aconteceram. Tens dez horas disponíveis? Ok, eu vou tentar
ser sucinto. Após o primeiro álbum a sensação foi boa, fizemos alguns
espetáculos, tivemos algumas grandes reviews,
algumas más também, mas no cômputo geral o primeiro álbum correu bem. Mas
depois as coisas começaram a mudar quando começamos a ensaiar material novo.
Surgiram diferenças, conflitos pessoais e ilusões erradas a respeito deste
negócio e assim por diante. Foi muito frustrante e dececionante para mim. Ainda
fomos para os Soundmix para gravar o segundo
álbum e, de facto, chegamos a terminar o trabalho, tivemos a obra pronta e
tudo, mas depois as coisas pioraram e eu decidi acabar com a banda e parar tudo.
Eu não quis publicar o álbum, e sim, aí foi mesmo o final. Levei algum tempo a
pensar nas coisas, sabia que iria formar uma nova banda mais cedo ou mais tarde
mas não tinha pressa. Sabia que as músicas iriam
esperar, que não desapareceriam em qualquer lugar! Também me concentrei na
minha família e nos meus filhos, que jogam futebol de alta competição e passam
muito tempo a viajar para torneios e jogos. Bem, o tempo voa, como sabes, mas
depois de um par de anos entrei em contato com Jukka Ihme e fomos tentar algum
material novo com os seus amigos. Ele sentiu-se bem e decidimos que quando fosse
a altura ideal faríamos algo juntos. Jukka é um grande guitarrista e já o
conhecia antes, porque ele nasceu na mesma cidade que eu e confiava nele
completamente. Estava consciente que desta vez só iria trabalhar com pessoas
humildes e que sabem de onde vêm. Chegados aqui, fomos tocar e fazer arranjos
para três canções que era suposto estarem no álbum que nunca foi lançado. Levei
algumas coisas novas e, finalmente, em novembro passado, tive uma reunião com
Mika Pohjola e decidimos começar as gravações em dezembro. Eu conheci Mika há
quase 30 anos, ele é um velho amigo e estava muito feliz com o projeto como um
todo. Arranjámos um baterista fantástico, Matti Torro, que toca com os Myon
como Mika. Também trouxe o meu filho mais velho Valtteri para tocar algumas
partes de guitarra e alguns teclados. Ele tem apenas 14 anos, mas foi uma
experiência maravilhosa para ele, gravar um álbum real num estúdio real.
Finalmente chegamos. O álbum está terminado e lançado e depois de tudo, nós todos
estamos muito felizes e satisfeitos. E tenho certeza que não vai demorar outros
sete anos para fazer outro... dou-vos a minha palavra!
E como descreverias Danger In The Dark?
Bem, antes
de tudo quero que todos entendam que eu, em primeiro lugar, sou um compositor.
Eu escrevo canções. Eu escrevo todos os tipos de canções e isso depende do
sentimento. Quando estou triste ou feliz ou frustrado, ou qualquer outra coisa,
eu pego na minha guitarra e começo a tocar… e nunca se sabe o que sai, é isso.
Estas dez canções deste álbum novo são dez músicas diferentes. Não tento seguir
tendências, acho que essa é a maneira como a minha música sai e eu tento o meu
melhor para que as músicas soem como deveriam. Eu sei sobre o que canto e não
tento mais nada. Este álbum é um dos melhores álbuns que eu já fiz, talvez o
melhor. Estou satisfeito com todo o conjunto, acho que é um álbum muito maduro,
que é feito profissionalmente, onde há muitos detalhes nos arranjos e não é
superproduzido. Tem que se crescer com este álbum, deixar que as músicas se
abram para o ouvinte e ouvi-las cuidadosamente. Devem ler bem as letras também,
porque elas significam muito para mim e em muitas canções existem belas peças
de poesia. Por exemplo, Livin´
Ain´t Livin’, It´s Not The End (a minha
favorita) e Heart Wants You To Rock. De verdade, eles são tocantes. Eu tenho orgulho neste
trabalho e a certeza de este trabalho não ser apenas mais um registo. Estas são
as canções que gravei neste momento; da próxima vez pode ser diferente!
Por falar de letras, quais
são os principais tópicos abordados?
Bem, poderás
verificá-los e descobrir por ti próprio, mas há alguns pontos importantes que
quero referir. Principalmente as letras são positivas e, mesmo quando os tempos
são difíceis, devemos ser positivos e tentar ver o lado positivo. Como em Never Let Your Dreams Die acho que isso
diz tudo, certo? Eu também falo sobre a autoconfiança e acreditar em si mesmo e
nos seus sonhos, não se preocupar em demasia com as outra pessoas, não tentar
agradar a todos, porque é uma tarefa impossível. Eu nunca irei cantar sobre
política ou coisas melosas como “eu amo-te”. Mas devo dizer que nunca vais
saber que tipo de ideias podem surgir quando se escreve uma nova canção, nada
está escrito na pedra.
Este trabalho tem um
excelente artwork. Quem foi o
responsável?
Khalil Turk
e a Escape Music! Eles têm os seus próprios profissionais e realmente sabem o
que fazem! Fantástico!
Como decorreu o processo de
gravação de Danger In The Dark?
Como eu disse
antes, muitas coisas aconteceram antes mesmo de ir para estúdio. As mudanças line-up, o timing, etc. Mas quando finalmente fomos para estúdio tudo estava
bem mas tivemos alguns problemas. Começamos em dezembro e terminamos em maio. Todos
nós temos os nossos trabalhos e íamos para estúdio quando tínhamos tempo livre,
duas ou três vezes por semana à noite. Às vezes ficávamos lá 8 horas, outras
vezes apenas duas ou três horas por dia. Mika é o único de nós que se dedica à
música a tempo inteiro. Ele trabalha nos Soundmix
e sem a sua ajuda e empenho tudo isso teria sido muito mais difícil. Jukka e
Matti são também músicos muito experientes e com quem é fácil trabalhar. Divertimo-nos
e tivemos uma atmosfera muito descontraída. Ninguém tem quaisquer ilusões ou
fantasias estúpidas sobre o negócio e isso é bom. Há um conjunto de pequenos
erros do álbum, mas não quero tudo polido como das outras vezes. A canção não ficaria
melhor depois, é o que é.
Achei curioso que tenhas
gravado quatro álbuns para uma equipa de futebol, o F. C. Rainbow. Podes
explicar esta história?
Eu sempre adorei
futebol e quando era criança costumava jogar nas equipas da escola, mas depois
que música tornou-se a parte mais importante da minha vida. Eu ainda jogo de vez
em quando como hobby na quarta ou
quinta divisão. Gosto e ajuda-me a manter a boa forma. Em 1990, após o
Campeonato do Mundo estava a tomar café com os meus amigos e a falar de futebol...
e de repente alguém disse: Ei, vamos formar uma equipa nossa e só para músicos
e roqueiros de verdade! E foi assim que começou e logo tivemos cerca de 15 jogadores
a jogar futebol como loucos e a divertirmo-nos! Nós jogamos por diversão uma
vez por semana e participamos em alguns pequenos torneios sempre por diversão. Depois
tive a ideia que devíamos ter uma música como muitos clubes têm, ter o nosso
próprio hino. Assim, escrevi-o, toda a gente gostou e logo escrevi outro. Então
pensei em fazer todo o álbum! Um álbum cheio de canções de futebol, sobre a
nossa equipa, sobre incidentes loucos que aconteceram, um monte de autoironia...
enfim, sabes o que eu quero dizer. Ao todo escrevi quatro álbuns completos para
o FC Rainbow, todos em finlandês, cheios de ironia, humor e todos os tipos de sentimentos
que acontecem num jogo de futebol. As lágrimas de alegria e as amargas derrotas.
Tenho escrito músicas sobre as garrafas de água, os adeptos, o ataque, marcar
golos, jogar contra uma equipa de meninas, sobre longas viagens, hotéis,
pontapés livre, ser suplente, ganhar um jogo quando chegas a estar a perder por
3-0, enfim, sobre tudo. Posso garantir-te que tem sido muito divertido. Na
Finlândia, existe um campeonato para este tipo de equipas de espetáculos e
negócios, temos participado muitas e muitas vezes e até já ganhámos algumas
medalhas, mas o principal nestes acontecimentos é a diversão e a reunião de
amigos.
Já alguma tournée planeada para promover Danger In The Dark?
Não, não
neste momento mas é muito improvável que façamos alguns shows este ano. Todos
nós temos os nossos empregos e famílias e seria muito difícil agora. Talvez no
futuro, nunca se sabe que tipo de oportunidades podem aparecer.
A terminar, queres
acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores?
Bem, espero
que todos se divirtam este verão, comprando o nosso álbum e colocando-o a tocar
bem alto nos vossos apartamentos, de modo que cada vizinho o vá comprar,
também! Aumentem o volume do som dos vossos carros também e gritem da janela
para todos nas ruas: nunca deixem os vossos sonhos morrer. Obrigado e tudo de
melhor.
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