Entrevista: Legacy Of Cynthia

Sem margem para dúvidas que o metal de cariz progressivo, melódico e melancólico nacional está em boas mãos com os Legacy Of Cynthia. Depois das ameaças curtas com Voyage e II, os sintrenses arrasam completamente com Renaissance. Oz, guitarrista do coletivo, abordou juntamente com Via Nocturna esta sensacional evolução do seu projeto.

Olá Oz! Tudo bem? O que têm os Legacy Of Cynthia feito desde Voyage?
Olá. Está tudo a andar sobre rodas. Olha desde o Voyage temos tido muito trabalho. Além dos concertos que demos um pouco por todo o país lançámos uma promo intitulada II, com apenas 2 temas, e depois decidimos que era altura de nos fecharmos no estúdio e compor um longa duração. Quisemos fazer uma cena com mais qualidade em termos de produção e mais cuidado com algumas coisas que descurámos nas edições anteriores. Foi dessa “batalha” que nasceu o Renaissance.

Como foi que trabalharam desta feita para este novo disco? Aparentemente, a vossa base criativa mantem-se forte e estável…
A componente criativa que referes esteve sempre presente desde o início da banda. Acho que neste projeto todos os músicos conseguem encontrar o seu espaço e libertar toda a sua criatividade. Isso permite que consigamos integrar diferentes componentes sonoras, pois todos gostamos de coisas diferentes e apesar de termos formas singulares de abordagem musical isso acaba por se condensar de forma sólida nos temas que escrevemos.

No entanto, ocorreram algumas mudanças. Desde logo passaram apenas para um vocalista. Porquê?
Acho que este tipo de mudanças são naturais em todos os projetos. Para nós é primordial conseguir captar a essência de cada um dentro da banda. O Peter assume agora as vozes sozinho e teve um árduo trabalho em toda a fase de composição e gravação do novo álbum. Felizmente é um músico muito criativo e tem sempre imensas ideias diferentes para todos os riffs. Acho que ele conseguiu encontrar aqueles hooks que se calhar nos faltavam em composições anteriores, trazendo ao nosso som uma identidade, densidade e coesão mais vincadas.

E houve outras mudanças no line up. A química e a coesão da banda estão agora mais fortes?
Sim, tivemos várias mudanças na nossa formação desde o início. Além da entrada do Paulo Adelino para a bateria há cerca de dois anos, temos agora um novo guitarrista – Mário Lopes – que apesar de não ter gravado o disco se integrou na banda de forma fácil e parece que sempre tocou connosco. A verdade é que a química entre os músicos nesta banda será sempre algo determinante para trabalharmos de forma descontraída e sem quaisquer amarras. A coesão acho que advém um pouco do conhecimento que tens não só dos músicos mas também das pessoas em si e da visão que todos têm da banda. O actual line up rema todo na mesma direcção e partilha uma visão comum do que devem ser os Legacy of Cynthia. Posso dizer que a banda nunca esteve tão forte como agora.

Foi por tudo isso que surgiu o título Renaissance?
Renaissance é no fundo um espelho de vários processos, não apenas das mudanças no seio da banda, mas sobretudo a nível de conceção e direcção musical e lírica. Sentimos que neste trabalho encontrámos um caminho que queremos continuar a palmilhar. Outra coisa interessante, e que à partida pode passar despercebida, é que lançámos o álbum na primavera, uma altura em que toda a natureza se renova e renasce. No fundo o título do disco é uma amálgama de situações, como se fossem vários rios que desaguam num mesmo mar.

Quanto a Renaissance, de que forma olhas para este disco, principalmente, se comparado com a vossa estreia?
Tenho muito orgulho acerca de tudo o que fizemos no passado, mas olho para o Renaissance com uma satisfação enorme do que conseguimos fazer e da forma de como o fizemos. A banda evoluiu imenso desde os primeiros dias, não só em termos técnicos mas sobretudo a nível de composição. No Voyage a nossa abordagem era talvez um pouco mais viajante, e no Renaissance temos secções mais dinâmicas e com mais power, que se cruzam com partes mais melancólicas que julgo ser uma caraterística do nosso som. Optámos também por incluir mais hooks e foi com esta mescla que sentimos ter encontrado aquilo que nos faltou anteriormente. Pode soar a cliché de quem lança um trabalho novo, mas sinceramente acho que o Renaissance é nosso melhor trabalho até hoje.

Acaba mais uma vez por ser uma edição de autor. Sentem, seguramente, que tem entre mãos um disco com bastante potencial. Tem havido abordagem de alguma editora no sentido de uma edição mais alargada?
Antes de mais muito obrigado por achares que o nosso disco é um trabalho com bastante potencial. Tivemos alguns contactos com editoras, algumas até se mostraram interessadas, mas nenhum dos contactos ou conversas que tivemos despoletou aquele click que nos fizesse sentir que era aquilo que pretendíamos. Como sabes a indústria musical atravessa um momento de recessão e as editoras já não apostam em bandas novas como antigamente. Chegámos a receber propostas bem sinistras de editoras que queriam que nós pagássemos para eles editarem, promoverem e distribuírem o nosso álbum. Como para nós isso não faz qualquer sentido é aí que entra a edição de autor, que nos deu a liberdade de fazer as coisas à nossa maneira e com o nosso timing, sem qualquer pressão. Isso é claro que acarreta muito mais trabalho e talvez uma menor exposição mediática, mas nós não viramos a cara à luta. Ficamos a aguardar contactos sérios, que valorizem e apostem no nosso trabalho, não olhando apenas para nós como cifrões que pingam numa conta bancária.

Contam com as colaborações de Carina Leitão e Pedro Antunes como convidados. Como se proporcionaram esses contactos?
Foi fácil. Ambos ensaiavam com a sua anterior banda no estúdio do nosso baixista – onde também gravámos o disco – e quando tivemos a ideia de incluir uma voz feminina na The Silence a Carina foi uma escolha óbvia, quer pela sua capacidade vocal e talento, quer pela facilidade de contacto visto coabitarmos no mesmo espaço de ensaio. Fizemos o convite e ela aceitou na hora. Com o Pedro foi igual em relação às linhas de piano e teclados da Bystander. Temos muito a agradecer-lhes pois engradeceram o nosso trabalho.

Já agora, este Renaissance tem apenas edição digital ou também há uma física?
Sim. Fizemos uma edição física em digipack limitada a 250 cópias destinada apenas a vendas. Quem estiver interessado pode entrar em contacto connosco via e-mail ou através do nosso facebook.

Desta vez mudaram de estúdio. Como foi a experiência desta vez?
O Fingerprint Music Studio é do Caesar Craveiro, que é o nosso baixista e foi ele também que produziu, misturou e masterizou o disco. Foi uma escolha natural visto que é o espaço onde ensaiamos e apresenta condições para gravar um álbum com a qualidade que pretendíamos. Nós vemos o Fingerprint como a nossa casa. Gravar ali foi excelente, pois estivemos sempre livres de pressões em termos de limites de horas de gravação e apesar de termos tido alguns contratempos pois tivemos de nos encaixar entre os trabalhos que o Caesar ia tendo, isso acabou por ser benéfico, pois dava para ouvir o que tínhamos gravado e analisar o que podia ser melhorado, apagado, regravado, arranjado, até tudo ficar da forma que imaginámos. Ao longo do processo de gravação surgiram imensas ideias novas que fomos incorporando e acabaram por trazer uma nova vitalidade aos temas.

Em termos de composição, falavas há 3 anos de uma componente de jam sessions no vosso processo. A existência de um brilhante trabalho ao nível dos solos em Renaissance, de alguma forma enquadra-se nessa perspetiva?
Neste disco tivemos vários tipos de abordagens a nível de composição, quer através de jam sessions, quer através de muito trabalho feito em casa e muita análise posterior ao que estava criado de forma a aperfeiçoar o que achámos que podia ficar melhor. O solos são exemplo disso, tanto nasceram numa jam como num trabalho mais minucioso feito em casa.

Já têm disponível algum vídeo para este trabalho?
Acabámos de lançar o vídeo oficial da Seven Sins - http://youtu.be/1xznmEYEyjI - e temos projectos para mais alguns

Como estamos de apresentações ao vivo?
Olha… Felizmente temos tocado muito ao vivo, mas queremos sempre mais. Sabes que com o verão os concertos da cena underground, onde nos inserimos com muito orgulho, são mais reduzidos. Mas estamos a alinhavar algumas datas em Portugal e outras em Espanha que contamos divulgar muito em breve. Se calhar quando esta entrevista estiver online no Via Nocturna já temos datas marcadas para setembro e outubro. Se algum promotor estiver interessado em marcar alguma data basta entrar em contacto connosco.

Obrigado mais uma vez. Queres acrescentar mais alguma coisa para os nossos leitores ou para os vossos fãs?
Antes de tudo agradecer-vos pela oportunidade e por todo o apoio que nos têm dado. A quem estiver a ler estas linhas convido para visitar o nosso facebook ou o nosso bandcamp, conhecer o nosso trabalho e deixar-nos o vosso feedback. Forte abraço.

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