Entrevista: Galo Cant´Às Duas

É um nome estranho para um novo coletivo nacional. Um nome associado à sua origem rural. Falamos dos Galo Cant’Às Duas que apresentam Os Anjos Também Cantam, como seu cartão-de-visita. São quatro temas de muito experimentalismo e exploração sónica que o duo se encarregou de explicar para o Via Nocturna

Olá, tudo bem? Quem são os Galo Cant’Ás Duas? Como se proporcionou e o que vos motivou a erguer este projeto?
Olá olá. Galo Cant’Às Duas são duas pessoas que desde muito novos decidiram apostar profissionalmente no ramo musical. A educação musical sempre fez parte da nossa adolescência, através de conservatórios, aulas de instrumento privadas, e mais tarde as escolas profissionais e faculdades. A música clássica e o jazz foram duas vertentes que ambos estudámos, o que facilitou a nossa comunicação musical quando nos conhecemos. O Galo nasce em meio rural. Fazemos parte de uma associação cultural que tem sede em Lisboa – anualmente é organizado em encontro de artes, na aldeia da Moita, Castro Daire. Existe toda uma programação com variadas vertentes artísticas e nós fazemos parte da organização. Há dois anos, em cima da hora, recebemos um telefonema a dizer que o músico que ía estar apresentar o seu trabalho naquela noite não ía poder ir – decidimos então ir para cima do palco e fazer uma Jam/Concerto, sem qualquer estrutura ou planeamento do mesmo. Contrabaixo e bateria foram os instrumentos usados na Jam e correu muito bem – ficámos muito felizes por termos passado por aquela experiência, e o feedback que recebemos foi bastante motivador. Passado uns meses decidimos fecharmo-nos na sala de ensaios e ver o que podia acontecer. A música, aos poucos, foi ganhando forma, arranjámos uns concertos e a responsabilidade foi ficando maior. Vamos investindo e crescendo com o Galo muito naturalmente, o que torna o processo muito interessante.

Qual é o vosso background musical? Que outras experiências musicais tinham tido antes deste Galo Cant’Ás Duas?
Como já tinhamos referido, desde muito cedo que procurámos variadas dinâmicas no meio musical. Desde os 5/7 anos a ter aulas privadas e apartir dos 11/12 que cada um de nós procurou reunir pessoal para tocar e partilhar essa música. As bandas de covers fizeram parte e mais tarde, já com outras bases, seguir com as próprias composições. As escolas ajudaram-nos a descobrir e a ter contacto direto com outras visões e filosofias artísticas – abriu-nos portas para diversas experiências, tal como bandas sonoras para bailados e peças de teatro. São formatos que poem à prova qualquer pessoa, de repente pedem-te uma ideia geral e és obrigado a agir na hora - é óptimo, a creatividade mental evolui de dia para dia.

Que movimentos ou géneros são mais inspiradores ou influentes na vossa sonoridade?
 A nossa educação passou por variados géneros, estudámos desde o classico ao jazz, e com os amigos procurávamos outros, como rock, hiphop ou pop. Isso fez com que hoje em dia não estejamos “presos” a um ou dois géneros. Acaba por acontecer naturalmente com toda a gente, existe tanta informação e ela é tão fácil de atingir que ficamos com a mente cheia de diversidade, depois cabe a cada um saber filtrar todos esses mundos. O Galo é mesmo isso, a procura de um equilibrio onde tens variadas texturas e dinâmicas – os uníssunos subtis e lentos, grooves mais drum n’bass, a desconstrução da estrutura são exemplos do que constroi a nossa viagem.

Acredito que o facto de terem origem numa zona rural do interior influenciou a escolha do vosso nome. Para além disso transporta mais algum significado?
No parque de campismo do Encontro de Artes onde o Galo nasceu, visto que é um terreno habitado por um casal bem simpático, tem alguns galinheiros, torna-se cómico de situação quando vais para a tenda de madrugada e tens os galos todos a cantar. É super cómico porque são os galos que acabam por nos embalar. Esse foi o ponto principal da nossa escolha. Os galos merecem esta homenagem.

Por outro lado, o facto de serem oriundos de uma zona afastada dos grandes centros tem tido algum peso no vosso percurso até agora?
Somos de Viseu, muito facilmente viajamos para os grandes centros. Claro que se torna mais difícil conhecermos pessoalmente as pessoas que estão envolvídas na banda e outros contactos que podiamos expontaneamente fazer ao entrar num bar para beber um copo. Esse poderá ser o ponto negativo. Mas também sabemos que o ritmo de vida por exemplo em Lisboa, por experiência própria, não tem nada a ver com o nosso, tudo acontece mais depressa, as pessoas, no geral, acabam por andar muito na sua bolha e não têm tempo para um simples café. As tecnologias facilitam bastante, como nos tem facilitado a nós – talvez acabasse por ir dar ao mesmo nesse aspeto. Felizmente, o processo do Galo tem corrido muito bem, estamos a trabalhar com quem queremos, o facto de ser de Viseu não influênciou em nada. Existe toda uma gestão extremamente profissional de calendário para não falharmos em nada.

O projeto é apenas constituído por dois elementos. Contaram com a ajuda de mais algum músico na gravação do disco?
Admiramos muito o trabalho da malta do Haus, onde gravámos o disco. O Makoto e o Fábio Jevelim, que foram os nossos produtores, ajudaram-nos muito em algumas ideias que estavam um pouco perdidas nas nossas cabeças. Gravámos o disco em dois dias e meio e os três dias restantes foram para a mixagem e masterização. Sabíamos desde início do processo de estúdio que o caminho ía ser este, o que gerou alguma pressão em nós. Algumas sugestões foram dadas pelo Makoto e o Fábio, discutíamos isso e chegávamos a uma conclusão. Foi mais uma experiência enriquecedora nas nossas vidas.

Há perspetivas ou ideias de ampliar a base do coletivo?
Na verdade, para já, não pensamos muito nisso. Temos sempre ideias em aberto o que pode fazer com que de repente tudo mude. Muito poderá mudar no próximo disco, depende do queiramos procurar.

Como estamos em termos de agenda no que diz respeito a apresentações ao vivo?
Já temos alguns concertos marcados, e como qualquer músico estamos constantemente à procura de mais. É só andarem atentos à página de facebook do Galo e saberão a seu tempo por onde andará a Cantar. Muito obrigado. O Galo Canta de coração cheio!

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #48 VN2000: My Asylum (PARAGON)(Massacre Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)