The Joy Of Nature é o
projeto musical do açoriano Luís Couto, criado em 2006. A música absorve
elementos da folk, ambient, indie e postrock,
para criar as suas telas musicais através da experimentação. Conta no seu
catálogo com diversos discos, entre CDs, singles
em vinilo e CD-Rs, editados por etiquetas de países tão diferentes como Áustria,
E.U.A., Polónia e Portugal. O projeto acabou de lançar Two Leaves Left, um miniálbum, editado numa edição limitada a 50
exemplares. Este foi o mote para uma conversa com Luís Couto.
Olá Luís! Obrigado pela tua
disponibilidade. O teu projeto The Joy Of Nature já existe desde 2006. Podes
fazer uma breve resenha histórica da sua evolução?
Em 1998 comecei a usar o computador como estúdio de música e criei
dois projetos: um com sonoridade mais próxima do rock independente – Moving Coil – e outro que ia beber mais a
fontes tradicionais (mesmo que de outros países) e ao dark ambient – The Joy of Nature and Discipline. Com este projecto
apenas foram gravados, entre 1999 e 2003, dois temas para uma compilação e um
álbum. Este (saído em cassete e CD-R, em edição limitada) acabou por se tornar,
um pouco, objecto de culto. Em 2006, o projecto foi ressuscitado com o nome reduzido e com uma mudança de sonoridade:
deixei de usar samples e o som baseava-se
quase unicamente em instrumentos acústicos e recolhas sonoras de sons naturais.
Com o passar do tempo, os instrumentos elétricos (como a guitarra e o baixo)
foram ganhando um lugar na música. É mais difícil falar de uma evolução da
sonoridade, pois foram mantidas paralelamente diversas orientações musicais:
uma mais folk, outra mais
experimental, outra mais indie. Uma
delas predomina num trabalho, outra predomina noutro. A nível de edições, entre
2006 e 2010 foram editados 3 CDs, dois pela austríaca Anhstern e um pela
editora da Polónia Rage In Eden; dois singles
em vinilo, pela americana Little Somebody Records e pela portuguesa New
Approach Records; e isto para não falar de compilações e edições de autor e em
CD-R.
Como descreverias The Joy Of
Nature?
Tenho muita dificuldade em descrever The Joy of Nature... É um
projecto musical algo pessoal, mas sempre aberto a colaborações, cuja música se
baseia essencialmente nos instrumentos e sons acústicos para criar paisagens
musicais, tanto interiores como exteriores. É como pintar com música e sons.
O que motivou a criar um projeto
com estas caraterísticas?
Simplesmente, a dada altura, surgiu o conceito e a ideia de fazer
música essencialmente acústica, inspirada principalmente pela folk. Houve algumas experiências
pessoais que contribuíram para isso, mas prefiro não falar nelas. Não foi algo
pensado durante muito tempo, foi mais uma espécie de insight (risos).
Já tinhas experiência noutros
coletivos e/ou noutros géneros musicais quando iniciaste TJON?
Sim. Entre os 19/20 anos fui vocalista de uma anda de punk rock, posteriormente criei outro
projecto a solo – Moving Coil – mais virado para o rock independente e que marcou em presença em algumas compilações
da extinta Bor Land e de novos talentos da FNAC. Mais tarde, o projeto
continuou como duo, com a Mara Neves, e com o nome aquarelle. Moving Coil irá
regressar em breve, mas com um nome ligeiramente alterado – Moving Trees - e
será a forma de mais facilmente explorar sons mais rock, que já não cabem no universo de The Joy of Nature.
Este é um projeto essencialmente
baseado em ti mas que se socorre de alguns convidados. O que procuras atingir
quando se dá essa situação de convidares alguém?
É óptimo quando conseguimos contar com alguém que sabemos que
poderá adicionar algo àquilo que criamos, que percebe a nossa linguagem
musical, o que queremos transmitir. Mas não é fácil encontrar e aqueles que têm
colaborado em The Joy of Nature também têm as suas próprias bandas e projectos,
que lhes ocupa a maioria do seu tempo.
Ao longo destes anos tens mantido uma
interessante sequência produtiva. De onde te vem a inspiração?
Muitas vezes da própria observação da natureza. No passado, houve
uma forte influência de alguma literatura tradicional europeia e de recolhas
etnográficas. Mas, de uma forma ou de outra, a música acaba por reflectir as
minhas próprias vivências.
Recentemente lançaste Two Leaves Left. De que forma se
aproxima e/ou afasta da tua produção anterior?
Cada trabalho é único. Este foi o trabalho que, até hoje, levou
mais tempo a ser feito, depois de um afastamento da música que durou quase um
ano. Foi sendo gravado lentamente ao longo de ano e meio. É mais focado que
trabalhos anteriores como My Work Was Not
Yet Done ou a Evasão das Fadas e
foram utilizados menos instrumentos, havendo também menos camadas sonoras. Mas,
em geral, não destoa da restante discografia de The Joy of Nature.
Dizes que este é um álbum baseado
no isolamento. O facto de viveres nos Açores de alguma forma influencia ou não?
Os ilhéus são geralmente mais fechados e, por outro lado, viver
numa ilha tem as suas limitações. De qualquer maneira, o isolamento de que fala
o disco não está relacionado com questões geográficas. É o isolamento da vida
moderna, com as redes sociais e o isolamento de uma forma de vida cada vez mais
passada online.
Suponho, até pelo título e pela
bela capa, que manténs uma forte influência da natureza. A tua componente
ecológica tem-se mantido ao longo dos teus trabalhos, não é verdade?
O conceito de natureza que está no nome é um pouco mais alargado,
digamos que é a “Natureza” da natureza. Mas obviamente que há uma componente
ecológica, apesar de não se manifestar diretamente nas letras. Como podemos
apreciar a natureza quando dela vivemos afastados?
Ainda não foste conotado com a Quercus ou qualquer outra associação
ambientalista? (risos!!)
Não, estou à espera que alguma associação ambientalista me convide
a colaborar!
Voltas a contar com alguns
convidados neste teu trabalho? Qual o seu input?
O Gustavo, da Argentina, participou com alguns instrumentos
exóticos, como as chak’chas ou o theremin. O Gustavo tem colaborado desde
há algum tempo para cá em The Joy of Nature e nem preciso de lhe dizer nada.
Sem dúvida que deu outras cores à canção em que colaborou.
Em termos de vídeos, já tens alguma
coisa retirada de Two Leaves Left?
Foi feito um vídeo para the boy with the gun waiting by the sea
e será feito outro para behind the window.
O vídeo para este último tema já está
pensado, mas falta tempo para o concretizar.
Estás a pensar levar Two Leaves Left para palco?
Há planos para levar The Joy of Nature de regresso aos palcos no
próximo ano. Obviamente que um ou outro tema de Two Leaves Left será tocado, mas há muito por onde escolher entre o
vasto repertório e, além disso, dá sempre algum gozo fazer uma ou outra cover ao vivo (quase de certeza que será
feita uma de uma canção de Mark Lanegan).
Mais uma vez obrigado! Queres acrescentar
mais alguma coisa ao que foi dito ou deixar alguma mensagem?
Obrigado por esta entrevista! As mensagens que há a deixar já
foram deixadas através da música. Visitem o Bandcamp
de The Joy of Nature e poderão ouvir todos os seus trabalhos.
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