Entrevista com Divine Lust


Mesmo ao findar do ano surge-nos na nossa mesa de trabalho um dos melhores (até mesmo o melhor) álbum de 2008. Autores: os Divine Lust que através do seu baterista, João Costa, nos conta tudo a respeito do tristemente delicioso The Bitterest Flavours.



VIA NOCTURNA (VN): Antes de mais parabéns pelo excelente trabalho. Estavam à espera de conseguir produzir um álbum tão bom e que tivesse as excelentes criticas que tem recebido?
DIVINE LUST (DL): Obrigado! A nível dos media, as criticas estão a começar a aparecer e é óbvio que tínhamos alguma curiosidade para ver as reacções. Sem falsas modéstias, não posso dizer que as boas reacções até agora sejam uma surpresa... Quando partimos para a gravação deste segundo álbum, o principal objectivo foi sempre estabelecer uma fasquia elevada, sendo muito exigentes connosco em todo este processo. Só assim conseguiríamos chegar a este ponto e sentirmo-nos tremendamente satisfeitos com o que temos em mãos.

VN: Numa dessas criticas foram apontados como os sucessores dos Moonspell. Una comparação destas acarreta muita responsabilidade. Sentem uma pressão extra por isso?
DL: Sinceramente, não sentimos a mínima pressão com isso. Afinal de contas, foi apenas a opinião de um jornalista, bastante elogiosa, por sinal... Contudo, não nos sentimos sucessores de ninguém, seguimos o nosso próprio - penoso - caminho e, além do mais, os Moonspell estão bem vivos e activos!

VN: Desde a estreia homónima já passaram 6 anos. O que mudou desde então nos Divine Lust?
DL: Somos uma banda diferente. A nivel de line-up, por volta de 2003/2004 houve mudança de teclista e guitarrista. Nunca tivemos uma formação tão estável e coesa como temos agora. De resto, houve sobretudo um amadurecimento natural da banda e um refinar da nossa sonoridade. Apesar do mais importante – a nossa identidade – não ter sido descaracterizada, vejo os Divine Lust de hoje em dia como uma banda muito diferente do que éramos em 2002. Basta ouvir o novo álbum para tirar quaisquer dúvidas.

VN: O que retrata The Bitterest Flavours em termos musicais e líricos?
DL: É-me muito difícil colocar-me na pele de analista de uma obra que ajudei a criar. Simplificando a questão musical, fazemos metal melancólico. Para uma definição mais precisa, nada como ouvir e procurar conhecer... A nível lírico, não existiu nenhuma fronteira conceptual no conjunto de letras que formam este álbum. Porém, o título amargo acaba por espelhar, também aqui, essa melancolia, para não dizer mais, fatídicamente presente em todas elas. Umas mais pessoais, outras mais abstractas, todas honestamente sentidas.

VN: O baixo foi gravado por um músico convidado. Como será ao vivo?
DL: O baixo foi gravado pelo Dikk (Witchbreed, Gonçalo Pereira entre outras referências), que acumulou essa função com a de produtor do álbum. Ao vivo, o baixo é assegurado pelo Jorge Fonte, baixista que gravou o nosso álbum de estreia. A dada altura ele não pôde continuar como membro efectivo dos Divine Lust, contudo sempre continuou nosso grande amigo e eventualmente acabámos por acolhê-lo de novo como nosso músico convidado nos concertos.

VN: Como e quando surgiu a oportunidade da edição internacional do vosso trabalho pela Deadsun Records?
DL: Quando tivemos o álbum finalmente masterizado, tratámos de divulgá-lo junto de algumas dezenas de editoras. Recebemos várias manifestações de interesse, de desinteresse e algumas propostas concretas de edição, todas elas vindas de editoras estrangeiras. Entre essas, a da independente francesa Deadsun Records pareceu-nos ser a mais vantajosa para os Divine Lust, daí ter sido naturalmente a escolhida para editar este álbum.

VN: Quais os objectivos que se propõem atingir com este segundo álbum?
DL: Como te disse anteriormente, o primeiro objectivo já está atingido, que consistia em ter um álbum que nos satisfizesse em pleno. Seja a nível de execução, produção, artwork, estamos muito orgulhosos do que conseguimos obter. Posto isto, importa tentar chegar ao maior número possível de pessoas, sobretudo a nível europeu e aqui, atingir este objectivo, já não depende apenas de nós, mas muito do que se possa fazer a nível de promoção e distribuição.

VN: A participação dos convidados foi prevista desde o inicio ou surgiu com o desenrolar dos acontecimentos?
DL: Um pouco as duas situações, consoante o caso. Por exemplo, o tema The Son That Never Was foi escrito pelo Filipe (Nota: Filipe Gonçalves, vocalista e guitarrista) e desde que ele nos apresentou o esqueleto da música que tinha a ideia de colocar umas partes de violino e de voz feminina. No tema que abre o álbum - Last Will Left...- , eu sempre fiz questão de iniciá-lo com uma melodia tocada numa guitarra portuguesa. Já em estúdio, por sugestão nossa, do Dikk e dos póprios músicos convidados, acabámos por alargar a sua intervenção a mais um ou dois temas, com ideias surgidas já em pleno processo de gravação

VN: Sendo uma banda lisboeta praticante de metal melancólico, que papel joga o fado nas vossas raízes musicais e na hora de compor?
DL: Em comum com o fado, temos sobretudo as raízes melancólicas que nos inspiram a fazer este tipo de música. Aquele fatalismo tipicamente Português que acaba inevitavelmente por também nos correr no sangue e, felizmente, conseguimos também exteriorizá-lo na forma de música.

VN: E a presença da guitarra portuguesa torna-se fundamental nesse contexto?
DL: A guitarra portuguesa acabou por ser um elemento natural neste álbum. Mentia se dissesse que é fundamental na nossa música, até porque não é um instrumento que faça parte da nossa formação ao vivo. Acima de tudo, considerámos que fazia todo o sentido integrar um instrumento genuinamente nosso na ambiência destes temas e fazê-lo soar honesto e enriquecedor. E existe a vontade de não ficar por aqui...

VN: Embora não sendo únicos, o uso da guitarra portuguesa está limitada a um reduzido número de colectivos. O que pensas do uso de instrumentos tradicionais portugueses no metal, à semelhança do que acontece com grupos e instrumentos de outros países?
DL: Se esse uso não soar forçado, porque não? Por vezes, o difícil está em encontrar um ponto de equilíbrio em que esses instrumentos sejam mesmo audíveis, acrescentem realmente algo e, já agora, que a banda continue a soar.... metal!

VN: Em termos promocionais, que acções estão previstas para os próximos tempos?
DL: A partir de Janeiro começa a distribuição a nível internacional e, a nível nacional, o disco vai chegar às lojas, já que por enquanto apenas está disponível através do nosso site. Em Portugal, estamos numa fase de divulgação junto de rádios, webzines, revistas, etc e muito em breve, vamos começar a agendar concertos. Lá fora, estamos a desenvolver contactos no sentido de garantir distribuição nos países onde a nossa editora não chega.

VN: Obrigado e mais uma vez parabéns!!
DL: Obrigado nós pelo teu interesse e deixamos votos de um grande 2009 com continuação de bom trabalho, em nome da Música! Como não podia deixar de ser, aproveito para deixar um convite para conhecerem melhor os Divine Lust e The Bitterest Flavours através do nosso site oficial – http://www.divinelust.com/ – e da nossa página no MySpacewww.myspace.com/divinelustband .

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