Entrevista: Shadowside

Ao terceiro álbum, a banda de Santos Shadowside mostra-se em plena forma e apresenta um disco de metal de grande qualidade expondo, de novo, o nome do Brasil no panorama mundial internacional. Poderosa nos microfones, a simpática vocalista Dani Nolden falou abertamente a Via Nocturna sobre a banda e sobre o seu Inner Monster Out.

Olá! Obrigado por aceitares responder a Via Nocturna. Inner Monster Out é já o vosso terceiro trabalho. O que mudou para esta nova proposta?
Eu que agradeço pelo espaço! Sem qualquer dúvida, desta vez fizemos um som muito mais pesado e também muito mais maduro. No Inner Monster Out, nós decidimos que as diferenças musicais entre os membros da banda seriam bem-vindas, por isso nenhum de nós esteve interessado em seguir as suas influências pessoais. Queríamos fazer algo diferente do que ouvimos, algo que nenhum de nós teria criado individualmente. Apenas tínhamos a vontade em comum de fazer algo que soasse atual sem ser excessivamente moderno e sem deixar as nossas raízes de lado.

O facto de os dois primeiros trabalhos terem recebido excelentes críticas, de alguma forma, condicionou o processo de escrita para este novo trabalho?
Acredito que não, porque temos a tendência de esquecer rapidamente os elogios (risos). Não vale a pena tentar recriar o sucesso anterior porque eventualmente acabas por criar apenas sombras, trabalhos inspirados nos sucessos passados e não algo realmente interessante, surpreendente para os fãs. Nós sempre procuramos desafiar-nos a nós mesmos durante o processo de composição, buscamos algo que nunca fizemos antes, querendo sempre o próximo passo, o nível acima. Os trabalhos anteriores foram muito bem recebidos e isso é excelente, é claro... uma vez que eles abriram as portas para os Shadowside e trouxeram fãs muito fieis que continuam a seguir-nos. Porém nós não queremos estacionar nesse nível. O nosso objetivo é sempre olhar para trás e ter certeza que o nosso material atual é muito superior. Portanto, não nos preocupamos em seguir características ou fórmulas dos álbuns passados... não ficaríamos felizes dessa forma e penso que não agradaríamos aos nossos fãs assim. Nós mantivemos as características mais marcantes da banda, é claro, tudo aquilo que os fãs gostaram nos álbuns anteriores, mas não porque os álbuns foram bem-sucedidos, e sim porque isso faz parte de nós como músicos, não saberíamos compor música sem energia, sem peso, sem riffs nervosos e melodias marcantes, bonitas. Gostamos da união dos dois mundos... da intensidade do Metal extremo com a beleza das melodias do Hard Rock e Power Metal. Isso é algo que sempre estará presente em todos os álbuns dos Shadowside mas queremos sempre ter algo novo e inesperado para entregar aos fãs. Não teria graça entregar mais do mesmo... Ficaríamos estagnados como artistas e como banda. É claro que nos sentimos um pouco pressionados, especialmente quando percebemos que o álbum estava a sair um pouco mais agressivo do que fizemos anteriormente, mas decidimos seguir os nossos instintos e ir em frente... Afinal, se quisermos agradar aos nossos fãs antigos e conquistar fãs novos, precisamos antes de qualquer coisa, ter prazer em tocar o que fazemos e isso sem dúvida acontece para todos nós no atual momento.

Associado a este trabalho surgem uma série de nomes sonantes do panorama mundial. Primeiramente, o álbum foi misturado e masterizado nos míticos Fredman Studios. Como se proporcionou isso e como analisam o trabalho desenvolvido?
Foi muito fácil trabalhar com Fredrik Nordström, nosso produtor e dono do Fredman Studios. Ele é um perfeccionista e onde ele coloca a mão soa excelente... não apenas porque ele é um ótimo profissional, mas também porque escolhe com quem vai trabalhar. Nós já éramos fãs do seu trabalho e tínhamos vontade de entregar a produção do álbum nas suas mãos já desde o Dare to Dream, porém não nos sentíamos preparados, não parecia ser a hora certa. Mas desta vez sentimos que era o momento de dar um passo maior na nossa carreira e depois de ler uma entrevista com Fredrik onde ele dizia que havia recusado trabalhar com uma das maiores bandas de Black Metal da atualidade simplesmente porque não gostou do que ouviu, decidi que valia a pena entrar em contato com ele, pois se ele decidisse trabalhar connosco seria porque tinha ouvido algo interessante e sentido que nos poderia ajudar a chegar onde queríamos. Enviei-lhe um email, ele gostou e aceitou trabalhar com a banda. Foram 4 semanas de trabalho em Gotemburgo, na Suécia. Passámos as 4 semanas a morar literalmente dentro do estúdio. Fredrik tem toda a estrutura de uma casa, quartos, cozinha, chuveiro. Logo, trancamo-nos lá dentro e não fizemos qualquer outra coisa durante todo esse tempo a não ser trabalhar no álbum. Estava demasiado frio para nós pobres brasileiros, criados no eterno verão (risos). Não tínhamos vontade de sair, portanto era comum trabalharmos até 4, 5h da manhã. Ficamos completamente focados e Fredrik foi nosso guia. Ele foi sempre direto e disse-nos sinceramente o que estava excelente e o que era lixo, sem tirar nossa liberdade de criação, nem o controle das nossas mãos. Nós éramos responsáveis pela criação, porém seguíamos o conselho dele quando ele dizia que não estava bom e fazíamos algo diferente. Experimentávamos arranjos, melodias e estruturas diferentes até que, tanto nós quanto ele ficássemos contentes. Eu sinceramente não me vejo a trabalhar de outra forma no futuro... Foi a gravação mais rápida e divertida que já fizemos até hoje, porque não fomos até lá buscar elogios do produtor, fomos até lá buscar o melhor álbum que os Shadowside já fizeram e tenho certeza que atingimos esse objetivo.

Depois, o artwork foi criado por esse nome ímpar que é Felipe Machado Franco. De que forma se desenvolveu o processo criativo para o artwork? Vocês deram indicações ao Felipe ou deixaram, pura e simplesmente, que o génio dele se soltasse?
Foi um pouco dos dois. Nós explicamos-lhe que a ideia de Inner Monster Out era algo mental... as letras do álbum são como uma jornada dentro da tua própria mente, onde encontras várias facetas diferentes de uma única personalidade. Passamos-lhe esse conceito, dizendo que queríamos algo envolvendo mentes e cabeças. Então, Felipe criou todo o resto sozinho. Quando ele nos entregou o esboço, aprovamos imediatamente... ele entendeu exatamente a ideia e a representou-a em arte maravilhosamente bem.

Finalmente, mas não menos importante, a participação de alguns convidados especiais no tema título. Queres apresentá-los?
Temos como convidados os vocalistas Björn "Speed" Strid dos Soilwork, Niklas Isfeldt dos Dream Evil e Mikael Stanne dos Dark Tranquility. Nós sempre fomos uma banda meio chata em relação a participações especiais. Sempre nos recusamos a ter alguém apenas para ter o nome da pessoa no álbum. Achamos que não faria sentido musicalmente. Combinamos desde o início da banda que só chamaríamos alguém se fosse necessário ou se sentíssemos que a colaboração musical seria interessante. Na música Inner Monster Out, escrevi uma história meio Hannibal Lecter, meio Dexter, onde uma pessoa investiga um assassino cruel, brutal; porém precisa entender os seus motivos, precisa compreendê-lo para o poder encontrar. Os dois então acabam se confundindo, tornando-se uma só personalidade, perdendo a noção do que é válido para ajudar alguém e quando aí tornas-te pior do que o monstro que tentas combater. Então temos personagens na música. Elas não são definidas, mas estão lá e seria meio estúpido cantar todas essas pessoas diferentes sozinha... eu teria que mudar a história para alguém de personalidades múltiplas e não uma história com mais de uma pessoa. Foi quando decidimos chamar outras pessoas para dividir os vocais comigo. Inicialmente a ideia era ter apenas Björn e Niklas, porém durante as gravações ficamos amigos do Anders, baterista dos Dark Tranquility e ele levou Mikael para nos conhecer no dia das gravações da voz do Björn. Ele ficou empolgado e quis cantar também, o que foi uma surpresa maravilhosa para mim já que eu sou fã da voz dele. Espero no futuro contar com ele novamente pois gostaria de ter algo com a voz limpa dele numa música dos Shadowside. O mais interessante de trabalhar com todos estes elementos é que demos nossas ideias, mas também lhes demos liberdade para que eles interpretassem e mudassem as melodias como achassem melhor. Dessa forma, nós os tiramos um pouco das suas zonas de conforto, entregando algo completamente diferente do que eles estão acostumados a cantar, porém permitimos que eles trouxessem um pouco das suas bandas para nós também. Foi realmente uma colaboração ao invés de simplesmente cantores contratados.

A esse nível, como se processou o trabalho de preparação e gravação das suas partes?
Todos eles gravaram em Gotemburgo, no estúdio do Fredrik. Nós aproveitamos que estaríamos lá e decidimos chamar alguns dos nossos cantores suecos favoritos. Para Björn, enviamos a música por email para que ele se familiarizasse com ela, marcamos um dia no estúdio e então refinamos o que ele faria junto com ele. Niklas só recebeu a música alguns dias antes de gravá-la, porém ele entende e cria as coisas tão rapidamente que acredito que ele faria algo excelente mesmo se tivesse acabado de escutar a música. Mikael só escutou naquela altura e fez os guturais junto com Björn. Ainda acho uma pena não ter tido a oportunidade de conversar com ele antecipadamente para lhe dar mais partes para ele cantar!

Como surgiu a ideia de fazerem uma cover de Ace Of Spades?
O maior motivo é todos nós sermos grandes fãs de Motörhead. Foi uma homenagem, antes de qualquer coisa. Porém não tentamos fazer uma cópia da música original, pois ela é perfeita do jeito que é. Apenas fizemos nossa versão, mais ou menos o que teria sido se essa música tivesse sido composta por nós e não pelos Motörhead. Fizemos pela pura diversão de gravar e tocar Ace Of Spades.

Todavia, a edição brasileira traz uma outra faixa bónus, Inútil, certo?
Certo. Há já muito tempo que eu tinha vontade de gravar uma música em português, para os nossos fãs brasileiros, portugueses e também angolanos, pois temos um público bem forte por lá. Eu imagino que muitos portugueses também entendem inglês, mas a grande maioria dos brasileiros não fala mais que algumas palavras. Nós queríamos fazer algo bem Shadowside que eles também pudessem entender. A ideia inicial era escrever uma faixa completamente nova ou uma letra em português para um dos nossos sucessos passados, porém eu nunca escrevi letras em português antes e fiquei insegura. Tinha todo o resto do álbum para escrever e não tive o tempo que eu queria dedicar a essa composição. Então a ideia ficou um pouco de lado até surgir a ideia de tocar uma cover dos Ultraje a Rigor. Somos fãs da banda e achamos essa música perfeita para uma versão Metal. A nossa versão estava muito séria, mas a participação do Roger deu o toque de irreverência que ela precisa, merece e foi feita para ter. Foi uma verdadeira honra cantar ao lado dele, ele é um dos meus grandes ídolos brasileiros.

Vocês já fizeram tournées pelo Brasil com os Helloween e pela Europa com os WASP. Que memórias guardam desses acontecimentos? Ainda mantém contacto com os elementos desses grandes nomes?
Muito pouco, infelizmente. Tenho contato ocasional com alguns integrantes dos Helloween porque ficamos amigos, tivemos tempo de interagir, fazer festas, as tournées no Brasil normalmente permitem alguns momentos de relaxamento pois ficamos em hotéis entre um show e outro. As tournées pela Europa são mais cansativas, pois moramos dentro do tourbus, que normalmente sai logo após um show, então as oportunidades para sentar, beber e conversar com as outras bandas são bem raras. Durante a tournée com os WASP, aproximamo-nos bastante do Doug Blair, o guitarrista, mas infelizmente acabamos por nem trocar contatos no final da tour. As memórias são as melhores possíveis... tanto os shows quanto os momentos de folga, que é quando se tem a oportunidade de interagir tanto com outras bandas quanto com os fãs, foram inesquecíveis. É sempre uma responsabilidade enorme ser a banda de abertura de bandas lendárias como essas, pois não apenas os fãs esperam muito de nós, mas também os artistas principais. Eles não querem uma banda ruim, que não acenda um público, pois isso não os ajuda... eles querem que você deixe o público "no ponto". E os fãs estão muito mais críticos do que eles seriam em um show comum, pois esperaram horas na fila e pagaram para ver a banda principal. Se a banda de abertura não é excelente, ela é apenas aqueles 45 minutos que os impede de ver o show que eles querem ver (risos). Porém sempre fomos muito bem recebidos, o público sempre reagiu maravilhosamente bem, mesmo nos países onde as pessoas são consideradas mais contidas como Alemanha e Finlândia.

E que aprendizagens retiraram dessas experiências? De alguma foram estão a ser aplicadas nos processos de composição e/ou apresentação ao vivo?
Sim, sempre. Especialmente a tournée com o WASP influenciou muito o trabalho do Inner Monster Out, pois amadurecemos muito durante aqueles dois, três meses de shows todas as noites. Nós estávamos sendo testados e avaliados pelo público todas as noites e enfrentar públicos completamente desconhecidos para nós acabou por dar mais confiança e permitiu que deixássemos a nossa personalidade musical aflorar de vez. Quanto mais shows uma banda faz, mais real ela se torna. Estar no palco torna-se algo natural e é nesse momento que se faz a melhor apresentação, se tem a melhor performance. Quando se deixa o medo de lado e se perde o ego, aquela necessidade de agradar a todos, de ser unanimidade, aí nos torna-mos uma banda de verdade, completamente autêntica.

Entretanto assinaram pela Inner Woud. Suponho que na altura o disco já estava pronto…
Estava sim, já há alguns meses. Essa foi a alternativa que encontramos, especialmente nos dias de hoje, para manter o controlo criativo. Fazemos o que temos vontade e com o álbum pronto mostramos a quem gostaríamos de trabalhar para que eles vejam se consideram o que fizemos interessante também. Atualmente, é um risco muito grande para as gravadoras apostarem numa banda nova sem saber o que eles vão criar. Eu, sinceramente, se trabalhasse para uma gravadora ou tivesse minha própria, não assinaria com banda alguma sem ouvir o trabalho pronto, a menos que eles fossem um grupo com histórico mais do que provado ou que eu pudesse influenciar qual seria a direção do trabalho, pois era o meu investimento e tentaria minimizar meus riscos. Então, entendendo tudo isso e fazendo questão de continuar fazendo o som que temos vontade de fazer, sem a preocupação em seguir tendências, gravamos tudo antes.

Como se processou esse contacto e que expectativas têm para esta ligação?
Nós já acompanhávamos o trabalho deles através de outros artistas com quem eles trabalham. Por isso, eu sabia que eles eram éticos e muito dedicados. Enviamos o material, eles gostaram e após um período de conversas, trocas de ideias, eles decidiram trabalhar connosco. Eu sinceramente não poderia estar mais feliz por trabalhar com a Inner Wound Recordings. Até o nome da gravadora combina com Inner Monster Out (risos). Mas falando sério, eles são realmente excelentes, acreditam nos artistas com quem trabalham e dão-nos um apoio incrível. Acredito que teremos uma bela parceria de sucesso mútuo pela frente.

Recentemente foram nomeados para a 11ª edição do Annual Independent Music Awards. Como receberam essa notícia? E quais as vossas expectativas?
Eu inscrevi a banda em segredo... não contei a ninguém, nem aos rapazes da banda, até sermos selecionados. Continuaria em segredo se não tivéssemos chegado aos 5 finalistas (risos). Então quando os avisei que havíamos sido nomeados para o Independent Music Awards, eles ficaram meio surpresos... algo como... "como assim? de onde veio isso?" (risos) Mas realmente foi uma grande surpresa para todos nós. Eu pensava que não tínhamos hipóteses de chegar tão longe, pois são milhares de bandas inscritas no mundo inteiro e já estiveram nos finalistas grupos como Lacuna Coil, Vixen, All That Remains. Eu nunca percebo como chegamos longe até começar a analisar tanto a nossa carreira quanto os acontecimentos atuais da banda. Por isso, só o fato de termos sido nomeados já é uma enorme conquista. Sinceramente, não tenho expectativas. Ainda temos muito público para conquistar, muita gente ainda não ouviu falar de Shadowside, eu realmente não sei dizer qual é o tamanho da nossa base de fãs. Sempre me surpreendo com o número de pessoas que nos conhece quando tocamos num país diferente, por isso talvez seja maior que o que eu imagino, mas realmente não penso sobre o resultado do concurso. Quem nos quiser ver como vencedores, basta entrar em www.independentmusicawards.com, entrar na categoria Metal/Hardcore album, registar-se, que leva menos de um minuto, e dar-nos 5 estrelas. Eu não gosto muito da ideia de competição em música, mas infelizmente apenas uma banda pode ganhar os prémios. Porém eu vou considerar todas as 5 bandas como vencedoras. Acho que quem chegou lá connosco também não está lá por acaso.

Já agora, podes explicar o que se passou com o Metal Open Air? Vocês eram uma das bandas mais esperadas, mas essa presença gorou-se…
O Metal Open Air é a maior vergonha do Brasil e eu espero que todos saibam que isso não é um reflexo do país. Temos muitos organizadores de eventos extremamente responsáveis e é terrível que justamente esse, logo esse, que teve uma exposição tão grande, tenha caído nas mãos de quem não estava preparado para o que estava a fazer. Infelizmente, o que era para ser o maior evento que o Brasil já teve, acabou por se tornar um retrato de desrespeito aos grupos, ao público e aos trabalhadores. Nós já sentíamos que algo estava errado há muito tempo. Desde a confirmação da nossa participação no Metal Open Air, pressionávamos a organização para a assinatura de um contrato, uma formalização do convite. A resposta deles sempre era "amanhã", "semana que vem sem falta" e coisas assim. Também cobrávamos o dia e horário da nossa apresentação. Inicialmente estávamos programados para tocar no dia 21, entre 15h e 16h, seriam apenas dois palcos. Depois, no site oficial, apareceu um terceiro palco e horários diferentes, mas ninguém da organização sabia confirmar se seriam os horários finais ou não. Pelo contrário, eles diziam que aqueles horários ainda seriam modificados. Nós avisamo-los várias vezes que não tínhamos disponibilidade durante o final de semana inteiro e que precisávamos dessa confirmação para que pudéssemos programar a agenda da banda... e seguíamos sendo ignorados. Com a falta de um contrato e de uma confirmação, não pudemos esperar e marcamos os nossos compromissos, o que tornou impossível que viajássemos um dia antes para a cidade do evento. Porém estávamos tranquilos, pois pessoas que trabalhavam para a produção diziam que seriam mesmo apenas dois palcos, que nosso horário seria modificado, que os shows não começariam antes das 13h... e então, a menos de duas semanas do festival, eles enviaram um email para todas as bandas com o running order, com os Shadowside antes do meio-dia, sendo que o primeiro voo que chegava na cidade pousava às 12h38... e isso tornou nossa participação impossível, já que eles criaram tantos problemas com essa demora que nem uma reorganização de horário foi possível. As bandas que tocavam mais tarde também não tinham como chegar mais cedo. A pedido da produção e por ter certeza que o problema era "apenas" por desorganização, ocultamos o fato de que não havia contrato, nem passagens, reservas de hotéis ou cachet pagos, para dar tempo para eles resolverem essa confusão sem plantar uma semente de dúvida do público quanto ao restante das bandas. Afastamo-nos, oferecemos nosso apoio ao festival mesmo assim, torcendo para que tudo desse certo. Porém um dia antes do festival a maioria das bandas brasileiras começou a cancelar, todas com os mesmos problemas... falta de contrato, de passagens, de cachet. E então os Saxon cancelaram por falta de cachet e os Venom por um suposto problema no visto. Uma semana antes, haviam descoberto problemas com essas duas bandas, que a produção negou veementemente. Decidimos abrir todos esses detalhes no dia 20, quando praticamente metade das bandas já haviam anunciado o cancelamento e a organização do festival soltou um comunicado dizendo que os cancelamentos não passavam de boatos e que o festival seguia como planeado. Percebi ali que a coisa era mais profunda que desorganização, pois eles tentaram enganar o público. Retirei então publicamente o meu apoio ao festival e aos organizadores envolvidos. Eu sinceramente espero que isso não afete a imagem que o mundo tem do Brasil. Esse foi um péssimo exemplo que teve uma grande exposição, mas é o contrário do que costuma acontecer nos concertos em solo brasileiro.

A terminar, existe algo que queiras acrescentar ao que foi dito?
Eu espero que todos tenham gostado do Inner Monster Out! Torço para que tenhamos a oportunidade de tocar em Portugal este ano, seria algo muito especial para mim pois mais da metade da minha família é portuguesa. Vemo-nos em breve na estrada... abraços a todos!

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