Seis
anos sem originais não foram seis anos em silêncio. Z. Pedro, Eduardo F. e
Diogo P., esclareceram Via Nocturna a este respeito e fizeram a apresentação do
que se pode ouvir em Gorefilia, o
novo trabalho dos cada vez mais bizarros Holocausto Canibal.
O
novo álbum, Gorefilia, já está aí. O
que nos podem adiantar em relação a esse lançamento? Aparentemente algumas
mudanças em termos sonorosa e líricos…
Eduardo F. - O que foi variando ao longo dos álbuns foi
sem dúvida a abordagem a essa mesma sonoridade. Estamos em crer que o Gorefilia consegue equilibrar e
consolidar essa sonoridade com melhor qualidade, senão vejamos: temas
relativamente curtos e diretos à semelhança do Gonorreia Visceral, o aspeto mais groovy começado no Sublime
Massacre Corpóreo, uma aura mais negra abordada no Líbido Dispareunia e uma maior complexidade estrutural atingida com
o Opusgenitalia. Estes ingredientes
que foram surgindo e evoluindo no seio da banda consolidaram-se neste último
álbum e claro que a evolução do line-up
também contribuiu para essa estruturação que, apesar de poder não parecer, não
foi pensada mas sim resultado da convivência na sala de ensaios e ao vivo.
Claro que as referências de clássicos do death
metal e do gore grind permanecem,
todos nós temos os nossos "clássicos". Em termos líricos é que poderá
notar-se mais essa homenagem, talvez devido ao carácter conceptual de todo o
álbum e à incursão por temáticas mais obscuras, mas se existe essa homenagem é
feita de forma inconsciente.
Z. Pedro - A componente lírica deste álbum é uma
viagem conceptual sobre parafilias, desvios comportamentais, padrões sexuais
atípicos, amor bizarro... culminando muitas das vezes o processo, no habitual
tingir do esperma por sangue. Sempre me interessei por esta temática. O número
de parafilias existentes sofre atualizações constantes e por vezes chego à
conclusão que existe uma parafilia possível para quase tudo! Depois de alguns
álbuns a sorver da fonte patológica, forense, cirúrgica, anatómica… e mais
recentemente ter estado aprisionado na temática genital, impunha-se uma mudança
de conteúdos. Claro que a construção de cada conceito de álbum é antecedida por
bastante pesquisa e leitura. Muitas das vezes o bloqueio causado pelo papel em
branco exerce a sua influência, mas quando a fluidez criativa é finalmente despoletada,
os textos surgem de forma bastante natural e espontânea. Curiosamente todas as
letras do anterior Opusgenitalia eram
consideravelmente mais densas e complexas e foram escritas em poucos dias,
desta vez embora tenha havido uma simplificação intencional, no sentido de
torná-las mais directas, o processo foi consideravelmente mais moroso. Acho que
no Gorefilia podemos assumir que pela
primeira vez temos refrões orelhudos nos nossos temas, passíveis até de serem
cantados ou vociferados pelo público. Desta vez cinco letras não são da minha
autoria o que contribui obviamente para uma maior diversidade! Começando pelo
David Soares, sempre fui um consumidor da sua obra desde o Mostra-me a tua Espinha e sempre me ocorreu que um dia ele nos
pudesse ceder alguma da sua escrita para Holocausto Canibal. Poder usufruir na Acrotomofilia Zoófila da sua minúcia e
morbidez descritiva, sempre patente nos seus contos de terror, é algo que muito
nos orgulhamos e podemos desde já avançar que esta colaboração não termina com
o Gorefilia! Em relação ao Charles
Sangnoir [La Chanson Noire], que contribuiu com a Putrescência Necromântica, revelou possuir uma mente
[provavelmente] mais rebuscada que nós próprios e não podíamos de forma alguma
abdicar dos seus escritos. Quanto ao Fuse, não só escreveu a Supremacia Carnívora e a Vorarefilia –Antropofagia Auto-Infligida II,
como fez ainda um tema de raiz, Fascínio
Paradoxal, que por toda a negritude e força que transporta conquistou naturalmente
a posição de fecho do álbum.
Trata-se
do vosso primeiro trabalho de originais em seis anos. Alguma razão para este
hiato?
Z.Pedro - Um hiato editorial de 6 anos pode fazer crer
que estivemos apaticamente ligados ao ventilador, mas na verdade acabou por ser
um dos períodos mais prolíferos a nível de edições e entradas em estúdio do
nosso percurso. Gravamos temas para mais de 10 tributos e split CD’s dos quais se destacam: Cock and Ball Torture, Carcass,
Gut, Dead Infection, Blood, Malignant Tumour, Mata-Ratos, etc… alguns já
editados outros ainda a aguardar edição. Editamos o Visceral Massacre Memorabilia [que para além da reedição dos dois
primeiros álbuns Gonorreia Visceral e
Sublime Massacre Corpóreo incluiu
ainda alguns inéditos e tivemos efetivamente uma boa agenda internacional
possibilitada pelo anterior Opusgenitalia.
Outro grande consumidor de tempo e causador de incompatibilidade, deveu-se à
edição de álbuns de estreia por parte de elementos comuns a bandas paralelas e
em particular à grande atividade ao vivo de Grunt pela Europa. A culpa em parte
também foi dos promotores que continuaram sempre a convidar-nos para os seus
eventos, mesmo sabendo que o nosso alinhamento não iria diferir muito da
anterior vez que lá tocamos… e deixar assim que ruminássemos o nosso live set para lá do desejável. Se alguém
tivesse dito: “Basta! Agora só cá voltam com temas novos!”, seguramente já tínhamos
saído da hibernação editorial há mais tempo. Agora o objetivo é voltar a ter um
ritmo de lançamentos mais prolífero e célere tal como nos primórdios da banda.
Diogo P. - A mudança de formação foi sem dúvida um dos
principais fatores que contribuiu para esta demora. O line-up atual está no ativo desde 2009 apenas e envolveu todo um
processo de aprendizagem, consolidação e estabilização que muitas vezes foi
mais complicado que o que parece. Seria negar o inegável se disséssemos que as
alterações de formação não contribuíram para a já muitas vezes referida
“mudança de sonoridade”, contudo continua a ser HC no seu núcleo. Com o passar
do tempo e desde que se estabeleceu esta formação não só tentamos aprimorar a
música como banda como também tem havido um longo e árduo trabalho individual
no sentido de melhorar as nossas performances como músicos. Todo esse trabalho
de casa, a convivência com outros músicos quer em concertos quer noutras formas
de contacto acaba por contribuir positivamente para a evolução da banda. Somos
uma entidade coletiva e quando há evolução individual isso reflete-se no grupo
e por aí em diante.
Este
será um lançamento internacional através da Xtreeme Music. Como se processou esse
contacto?
Z.Pedro – Em inícios de 2009 fechamos contrato com uma
editora através da qual era suposto editarmos o Gorefilia. Após alguns incumprimentos contratuais por parte da
editora seguimos o impulso de procurar um novo selo para lançar este álbum, mas
na verdade acabamos por encontrar 3!Decidimos prospetar todo o mercado
existente, desde micro editoras sul americanas até gigantes da indústria
musical. No total surgiram inúmeras propostas de edição, algumas delas com
ofertas bastante modestas é certo, mas todas elas contribuíram para nos
sentirmos orgulhosos por todo o interesse demonstrado na banda. Quanto a termos
duas edições distintas, a internacional via Xtreem Music e a Raising Legends/Raging
Planet em território nacional, foi principalmente por termos sentido no passado
algumas lacunas a nível de distribuição e promoção por cá e a necessidade
crucial de colmatar essas falhas com este álbum. De referir que as edições
serão inteiramente distintas, mesmo a nível de apresentação/formato. A opção
pela Xtreem Music acabou por ser bastante óbvia! Em 1997 aquando da formação de
Holocausto Canibal, bandas como Incantation, Vader, Deranged, Immolation, Deeds
Of Flesh… para além de serem uma influência indireta na nossa sonoridade,
tinham também em comum o facto de terem editado trabalhos pela mítica Repulse
Records. Esta editora viria a dar origem anos mais tarde à Xtreem Music, que
continuou manter bem viva a música extrema ao longo de mais de 100 edições! É
portanto para nós uma grande honra e orgulho fazer parte deste incontornável
legado de Death Metal!
Eduardo F. – …E para nós reveste-se também de grande
importância, termos um conhecimento prévio dos responsáveis pelas editoras com
as quais negociamos. Já conhecemos o Dave Rotten [Xtreem Music A&R] há mais
de uma década. Partilhamos por diversas vezes palcos de festivais
internacionais, já tendo inclusivamente participado nalguns temas nossos ao
vivo.
Como
referiram, em solo nacional trata-se de uma parceria entre a Raising Legends e
a Raging Planet numa edição diferente da internacional Em que consistirão essas
diferenças?
Z.Pedro - A edição nacional a cargo da Raising
Legends/Raging Planet é em formato digipack
e o encarte terá algumas secções adicionais em relação à edição internacional
da Xtreem Music que tem um aspecto intencionalmente mais old school. Ambas as edições irão conter um extenso booklet de 16 páginas onde para além das
letras e todos os outros conteúdos habituais figuram também imagens alusivas a
cada uma das parafilias abordadas.
Este
é um disco que conta com alguns convidados de peso. Podes apresentá-los? E que papel
desempenharam na estrutura final dos temas?
Diogo P. - As diferentes colaborações foram fruto do nosso
percurso dos últimos anos - as amizades estabelecidas, as opiniões ouvidas e
acima de tudo uma prova do reconhecimento que nos é dado na música portuguesa.
As diferentes colaborações contribuíram com cor e textura, tornando o Gorefilia num álbum multidimensional,
algo diferente da habitual chapa 3 death metal/grind. Enriqueceram o
produto final também numa perspectiva de composição, pois abrimos o nosso leque
de ferramentas e sonoridades, algumas delas introduzidas já durante o processo
de finalização e em muitos outros cenários. A contribuição de terceiros nas
letras permitiu-nos dar outra roupagem aos temas, a introdução de samples permitiu distanciar-nos da
sonoridade passada [em que já utilizávamos introduções nos temas] na medida em
que foram trabalhados propositadamente para e com a música, a introdução de vozes
convidadas quebrou a monotonia do "grunho" e do álbum e até tornando
o álbum mais pesado e metálico do que aquilo que seria de esperar. Curiosamente
ou não, o Fuse de Dealema terá contribuído com a dimensão mais negra do álbum e
isso só prova que podemos aventurar-nos noutros espectros musicais mantendo a
nossa identidade e absorvendo uma série de elementos que só nos melhoram como
músicos, indivíduos e como banda. As restantes participações estiveram a cargo
de: Max Tomé [Colosso], Nuno P. [ex-Holocausto Canibal], Fabrice Costeira,
Miguel Newton [Mata-Ratos] na Goree Gajas,
Nocturnos Horrendus [Corpus Christii] na Orifícios
e Conde de Samodães na Objectofilia
Platónica.
Como
decorreu o processo de gravação de Gorefilia?
Z.Pedro - A captação do álbum decorreu nos
Estúdios213, do produtor Bruno Silva (Grunt, Heavenwood). Acabou por ser uma
escolha bastante espontânea e natural visto já termos gravado alguns dos temas
para tributos e splits neste mesmo
estúdio, sabíamos portanto que todo o processo de gravação iria ser bastante
fluído e que a nossa química com o produtor seria muito boa e essa é sem dúvida
uma das características que sempre consideramos cruciais aquando de uma escolha
final. Já a mistura e masterização ficou a cargo da conhecida dupla de
produtores polacos (Wojtek e Slawek) responsáveis pelos míticos Hertz Recording
Studios. Sempre nos identificamos com produções verdadeiramente avassaladoras de
bandas como Behemoth, Decapitated, Vader, Severe Torture etc e já há bastante
tempo que queríamos recorrer ao Hertz. Como desta vez o budget editorial para gravação o permitiu, conseguimos finalmente
concretizar esse antigo objetivo. Lembro-me que durante umas férias que os Dead
Infection passaram connosco em Portugal, termos perguntado como tinha sido
gravar o Brain Corrosion nos Hertz e
todas as referências que nos deram sobre o método de trabalho usado e o
entusiasmo com que o fizeram foram excelentes, pelo que desta vez não podíamos
mesmo deixar passar esta oportunidade. Agora corroboramos tudo o que nos tinham
transmitido e achamos notável a forma como compreenderam e assimilaram o nosso
som e nos proporcionaram indubitavelmente a produção mais forte da nossa
discografia, sem no entanto descaracterizar a personalidade de Holocausto
Canibal.
No
final de 2011 estiveram a recrutar Cannibal
Girls para o vosso primeiro vídeo. Como correram os castings? E que nos podes dizer do resultado final?
Z.Pedro – Em Outubro foram feitos alguns castings e escolhidas algumas localizações.
Posteriormente analisámos alguns guiões e story
boards que foram gentilmente elaborados a pensar em nós e começamos há semanas
a gravar os videoclips. Na verdade
serão realizados vários e estou em crer que mais uma vez o universo bizarro
estará bem presente. Em 15 anos nunca tivemos nenhum por isso queremos que o
primeiro seja especial, como uma primeira vez. Consideramos que a época e a
evolução tecnológica que estamos a viver é a mais propícia para tal, por isso
estamos a levar as coisas com calma e precisão tal e qual um desfloramento deve
ter.
A
terminar, o que temos em termos de concertos para os próximos tempos?
Eduardo F. - Intencionalmente queremos que o álbum respire
um pouco e tenha a maior audição possível antes de o começarmos a apresentar ao
vivo. Para já em promoção ao Gorefilia
materializamos em abril: dia 25 – Barroselas [concerto especial com uma Banda
Filarmónica], dia 30 – Barroselas - XV
SWR Fest. Em maio: dia 5 – Lisboa – Jurassic
Fest, dia 19 -Porto – Apresentação Gorefilia.
Os próximos serão: em junho: dia 01 – Salamanca –Espanha, dia 02 – Palencia – Brutologos 2012 - Espanha, dia 08 – S.P.
Sul - Areeiro Open Air, dia 29 –
Guimarães – Mass Execution Fest. Contudo
muito mais datas estão neste momento a ser negociadas e serão anunciadas em
breve no nosso site www.holocaustocanibal.com. Fiquem atentos! GRIND ON!!!
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