Um grupo de
amigos construtivos e empreendedores decidem avançar com um projeto no campo do
rock/metal alternativo. Como
resultado surge o enigmaticamente denominado Joe x ppl. O tempo de vida ainda é
curto mas para já têm deixado muito boas indicações. O primeiro trabalho só
deverá surgir lá para o final do ano, mas Via Nocturna quis conhecer melhor
esta entidade que se começa a impor no cenário nacional. Quem nos atendeu foi e
eloquente vocalista e guitarrista Nuno Garcez Rodrigues.
Olá, podes
contar-nos um pouco da origem e da história até à data dos Joe X Ppl?
A nossa história tem tanto de original como um de
caricato. Começamos por ser um grupo de amigos com um especial gosto pela
música rock, com algumas influências comuns
e com algumas diferenças de que consideramos saudáveis. Basicamente começamos
como um grupo de amigos que trocou o comum tipo e espaço de convivência por uma
sala de ensaios com alguns instrumentos a decorar o ambiente. Somos
naturalmente pessoas construtivas e empreendedoras o que nos levou a assumir um
projeto logo após os primeiros sinais positivos. Um pouco de precipitação e o desejo
de acelerar o processo, levou-nos a convocar novos membros para a banda de
forma rápida e pouco sustentada, membros esses que não conseguiram detetar e absorver
o potencial e que não perceberam os objetivos que tínhamos delineado e
projetado. Naturalmente abandonaram o projeto pouco tempo depois, sem terem uma
ideia aproximada do que era possível atingir. Em meados de 2010 e certos de que
o projeto se sustenta na combinação e no trabalho conjunto dos membros,
junta-se a nós (Nuno, Victor e Sérgio) o Tozé, que acima das suas qualidades
musicais se encaixava claramente na nossa filosofia construtiva. Estamos
cientes de que a nossa banda é um bocado a sério e um bocado anti-stress. Procuramos em cada ensaio
ou concerto escapar um pouco ao stress diário,
de uma forma construtiva e com objetivos comuns, entre eles a composição de boa
musica, a diversão e satisfação coletiva do resultado de um processo de criação
em conjunto.
Que nomes
vocês apontam como sendo as vossas maiores influências?
Falar sobre as nossas influências não é muito fácil.
Podem facilmente identificar-se influências que são comuns aos membros da banda
mas também se encontram influências a título pessoal. De Radiohead a Tool, de
Pearl Jam a Nirvana, do Rock ao Metal, dos mais clássicos aos mais
modernos, acho que o único ponto comum que conseguimos encontrar nos JOE x ppl
é que pessoalmente, todos temos bom ouvido e transportamos para a sala de
ensaios as influências que achamos serem os melhores exemplos de boa música. Se
for obrigatório darmos um destaque, apontamos sem dúvida para a sonoridade rock da segunda metade dos anos 70 (principalmente
pelo tipo de som e tecnologias aplicados nas guitarras) e para algumas
vertentes punk e grunge, sons que
preencheram a nossa adolescência.
Qual é o background musical dos elementos que
constituem os Joe X Ppl? Já todos tinham alguma experiência no meio musical ou
não?
A experiência dos elementos da banda é de todo rica e
um pouco diversificada. Fui membro de bandas de rock alternativo no passado e desde os meus 15 anos que partilho a
minha música em salas de ensaio e concertos. O Tozé possui alguma experiência,
tendo sido membro de uma banda no país vizinho. O Victor e o Sérgio possuem
experiência musical diversificada e antes dos JOE x ppl pisaram os mais
variados tipos de palcos e espaços. Apesar da experiência musical e de
execução, creio que a maior diferença dos JOE x ppl está na área tecnológica.
Pessoalmente sempre me interessei por som, produção, gravação e masterização. O
Victor, o Tozé e o seu Sérgio são profissionais da área de eletrónica, sistemas
de informação e sistemas avançados o que nos permite ter um background tecnológico de elevado nível.
Uma parte da paixão dos membros pelo projeto está neste mesmo ponto, na
aplicação prática de conceitos tecnológicos e na procura das melhores soluções para
as músicas, tanto no processo de execução como de gravação, chegando mesmo a
influenciar de forma indireta a composição. Talvez seja este o resultado de
formar uma banda com quatro engenheiros (com graus de Mestre), habituados ao
planeamento, ao rigor e à constante procura de novos meios com maior qualidade
e eficácia.
Qual o
significado do vosso nome?
Essa é a questão que mais nos colocam quando somos abordados.
Após os concertos ou nos contactos que recebemos, a pergunta é recorrente. No
decorrer da composição dos temas fomos sentindo influências do mundo exterior e
incluímos um pouco do sentimento geral de insatisfação da nossa geração na
nossa sociedade atual e do passado recente. A grande verdade é que vivemos num
mundo onde é cada vez mais difícil ter um emprego, sustentar uma família, ser
feliz e mesmo assim, para se manter o pouco que se conquista é preciso lutar
bastante contra as mais injustas forças (aumento dos custos de vida, impostos e
contrapartidas desajustados, pobres expetativas futuras, redução de qualidade
de vida, decisores políticos tendenciosos, redução de direitos). O mundo atual
está a espalhar na nossa geração um sentimento de insatisfação e injustiça generalizados.
De uma forma geral sentimos que o dia-a-dia de cada um se resume a uma batalha
desigual e injusta contra a generalidade de uma sociedade corrompida, que tanto
afeta nas reduções e condições dos bens mais essenciais, como reduz o conforto
e aumenta o desespero de muitos levando-os a cometer os mais diversos erros
pela tristeza e desilusão. Esta é a base do nome JOE x ppl onde de forma resumida
revelamos o sentimento de combate diário de um individuo (JOE – John DOE)
contra uma sociedade injusta.
De que forma
descreveriam a sonoridade praticada pela banda?
Apesar de considerarmos importante, sinceramente nunca
nos preocupamos em caracterizar a nossa sonoridade até que os temas que
disponibilizamos até ao momento (live
e nos nossos sítios internet) são
fruto de inspiração em diversas épocas e estados. Alguns pontos de definição do
nosso som são únicos e invioláveis como o som das guitarras em que recorremos a
processos tecnológicos para conseguir combinar sons característicos da década
de 70 e inícios de 80, do baixo, em que procuramos um som smooth e capaz de preencher as zonas de baixas frequências das
canções, da bateria, onde procuramos alguma agressividade e expansão. Confesso
que temos um gosto especial por momentos musicais explosivos, momentos esses em
que procuramos chocar com transições rápidas de sons mais soft para riffs em drives na guitarra, ritmos e baixo mais
agressivos. Esses são os momentos chave dos nossos temas onde tentamos demonstrar
o grito de revolta que há dentro de nós.
Pelo que me
pude aperceber, existe algum cuidado da vossa parte com os conteúdos líricos. É
verdade? Que temas são prioritariamente abordados pelos Joe X Ppl nas suas
letras?
Sim, sem dúvidas. De certa forma sinto-me orgulhoso
por esta questão porque um dos nossos objetivos é transmitir uma mensagem comum
que está escondida dentro de cada um de nós e da sociedade em geral. Seja uma
situação de desabafo emocional pessoal como no tema FY to K (For You To Know)
ou numa pura e direta critica político-social como no tema Less 1, procuramos sempre que os destinatários, para além de
perceberam a mensagem, a integrem e que se identifiquem com ela de forma direta
e total ou pelo menos relacionada com um ou outro momento das suas vidas.
Normalmente procuramos que as letras transmitam momentos, desilusões e
desabafos, principalmente os mais comuns da sociedade dos dias de hoje, com
especial atenção para a geração de 1970/1980, condenada a suportar mais do que
aquilo que merecia, fruto das más decisões politicas, da falta de princípios e
da lacuna de valores que assola a sociedade dos dias de hoje e que foi fruto de
uma evolução cultural errada nas últimas décadas.
Ideias para
uma primeira gravação já existirão, seguramente. Para quando preveem que isso possa
suceder?
Sim, estamos a preparar um EP que contamos
disponibilizar no último trimestre deste ano. A já referida paixão e apetência
tecnológica levou-nos a encarar a produção de um registo de elevada qualidade,
com cuidados ao nível da gravação, produção e masterização, tirando partido das
mais recentes tecnologias. No momento em que tomamos a decisão de gravar o
nosso som decidimos também que procuraríamos aplicar os nossos conhecimentos. Investigamos
um pouco e demos início a um projeto de gravação onde contamos com o apoio do
Mário Vila Nova, proprietário do Poultry Sound Studios em Braga. Rapidamente
percebemos que o Mário é um expert
inigualável e que para além da mais alta tecnologia de gravação, produção e
masterização, possui um enorme e aprofundado conhecimento de som, o que nos
levou a resultados bastante satisfatórios, como podem ouvir no tema Less 1 (em www.joexppl.com), tema esse
cuja gravação serviu de teste e definição de parâmetros, configurações e setup base para a gravação dos restantes,
em que nos encontramos a trabalhar e que brevemente revelaremos. No Poultry
Sound Studios e com o Mário temos a certeza que temos o conhecimento
necessário, a mais recente tecnologia (UAD, MOTU, CUBASE, AKG, RODE) e algumas
pérolas com perfumes do passado, como uma das máquinas de êna masterização em
fita da Tascam BR-20 que acrescenta o
som quente que só com a fita e grandes máquinas se consegue obter.
Pelos vistos
oportunidades para se apresentarem ao vivo não têm faltado. Inclusive já contam
com uma ida a Espanha. Como decorreu essa internacionalização?
O mais curioso até ao momento sobre os nossos
concertos é que os contactos se têm dado de forma informal, principalmente
através das redes sociais e mailing lists.
Os contactos surgem com naturalidade e normalmente, quando somos abordados
notamos que já existe conhecimento a nosso respeito, isto é, facilmente
percebemos que os nossos sites e as
nossas músicas foram consultados e ouvidos. Foi exatamente assim que fomos
abordados pelo responsável de programação do Dos de Mayo Rock Bar. Descobriu-nos no facebook,
navegou pelo nosso website e
contactou-nos. O evento em si decorreu num ambiente bastante acolhedor, descontraído
e familiar tendo sido bastante agradável e de onde regressamos com um feedback muito positivo sobre a atuação.
É um espaço aonde vamos voltar, estando acertado com os responsáveis o
agendamento de uma nova data no último trimestre de 2012, inserida na tour de divulgação do EP.
E já têm
outra ida, desta feita a Salamanca, marcada, certo?
Idem idem … Aspas .. Aspas… O concerto em Salamanca,
curiosamente foi agendado em março. O responsável pela programação do Lado Oscuro descobriu os JOE x ppl no facebook e contactou-nos. Rapidamente
acertamos agulhas para um gig e
acertamos uma data (13 de outubro), com mais de meio ano de antecedência, dado
o rigor com que se trabalha naquela casa. A programação é elaborada e acertada
com enorme antecedência.
E por cá,
como têm corrido as vossas apresentações ao vivo?
Até ao momento estamos tanto felizes como
surpreendidos com a receção que temos tido por parte do público. Das mais
diversas gerações, dos mais novos aos mais velhos, dos mais conservadores aos
mais modernistas, temos recebido críticas bastante positivas e temos acima de
tudo confirmado, que a nossa mensagem é interpretada, o que para nós é motivo
do maior orgulho. Em todos os espaços fomos bem recebidos tanto pelos owners como pelo público tradicional. É
claro que não tivemos concertos iguais, uns melhores, outros piores, em vários
aspetos diferenciados, mas não houve nenhum onde não tivéssemos sentido apreço
e reconhecimento pelo trabalho. Quanto aos concertos e espaços por onde
passamos, em perguntas deste género, normalmente destacamos o N101 em Guimarães que nos deu a primeira
oportunidade, o Belião em Ponte da
Barca que é um espaço de referência para a divulgação e difusão da música de
qualidade em Portugal, o Mini-Mercado
Mavy e a ABRA (Associação
Bracarense de Amigos dos Animais) que nos deram a oportunidade de poder
contribuir com o nosso trabalho para a causa da proteção dos animais, num
evento onde tivemos o especial sabor de sentirmos que estamos a contribuir para
a causa nobre de proteger aqueles que não tem voz de protesto. Apesar de todos
os outros terem sido importantes, estes destacam-se por detalhes um pouco mais
profundos.
O tema Lollipops foi o primeiro escolhido para
vídeo. Algum motivo em especial?
A Lollipops
é um dos temas que nutre mais simpatia no seio da banda, porque para além do ex-libris explosivo que revela na
transição para o refrão possui também uma letra simples de conteúdo profundo.
Além desta simpatia também teve um take
bastante interessante no Belião o que
resultou num vídeo com os mínimos exigíveis para a divulgação nos nossos
canais. Exatamente no mesmo dia libertamos em vídeo o tema 1001, gravado no mesmo espaço e no mesmo concerto, tema esse que
também consideramos bastante importante no reportório. Consideramos ambos os
temas com igual importância, o que nos levou a libertar ambos na mesma altura.
Estando em
início de carreira que patamares anseiam alcançar enquanto banda?
Honestamente não temos patamares definidos ou
objetivos traçados. Temos vontade de trabalhar e temos a certeza que só
trabalhando, com diversão à mistura, podemos obter os melhores resultados de
uma forma geral. Podemos dizer que nos estamos a divertir mas que também
levamos o projeto a sério e que soubemos e saberemos identificar a
oportunidades. Há biliões de pessoas neste mundo que aceitariam de bom grado
serem estrelas de rock mundiais, mas
no nosso caso, não temos um objetivo que nos mova. O nosso projeto está assente
na boa relação de amizade, na diversão e na vontade conjunta de fazer boa
música. Sentimos-mos felizes assim. Se outros voos e outras oportunidades
surgirem, vamos analisá-las e aproveitá-las, mas protegeremos sempre a espinha
dorsal do nosso projeto que assenta na nossa união sólida.
A terminar,
existe algo mais que queiram acrescentar que ainda não tenha sido abordado?
Acho que deixamos uma mensagem clara
daquilo que são os JOE x ppl e que decoramos os detalhes mais importantes do
projeto, resultado este que contou com as tuas diretas e incisivas perguntas.
Resta-nos agradecer-te a ti e ao Via Nocturna pela oportunidade e demonstrar
toda a nossa disponibilidade para colaborar convosco e com o vosso projeto em
qualquer altura, em qualquer situação. Gostava também de deixar um apreço final
ao Artur Loureiro (Tuito) por todo o apoio que tem dado ao nosso projeto, tanto
ao nível das condições na sala de ensaios como na partilha de conhecimento e
experiencia. O Artur é uma pedra basilar do nosso projeto e reconhecemos com
agradecimento de que nada disto era possível sem o seu apoio. Obrigado a todos.
MEMBROS:
Voz e Guitarras: Nuno Garcez Rodrigues
Baixo: Victor Coelho
Guitarras: António Silva (Tozé)
Bateria e Sampling: Sérgio Faria
INTERNET:
...de metal não têm nada. nada contra a banda; agora não comecem a misturar tudo que é nome de género musical no texto inicial da entrevista. vamos lá a melhorar este jornalismo e sabedoria musical!
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