Do Porto chega-nos mais uma banda
que com uma maturidade assinalável cruza o southern
rock com o rock clássico. No
fundo, simplesmente rock, como
afirmam Pedro Adriano Carlos (voz e guitarra) e Miguel Martins (guitarra e
coros) numa entrevista onde de aberta e descomprometida falam do seu projeto e
fazem as suas projeções.
Podem contar-nos um pouco da
origem e da história até à data dos The Happy Mothers?
Pedro Adriano Carlos (PAC): Eu e o Miguel andamos nisto há
13 anos, crescemos enquanto músicos a tocar sempre juntos. Quando começou a
ficar definido quem somos e o que queremos fazer decidimos criar os The Happy
Mothers em 2008. Quando se é miúdo e se está a começar na música, é natural
andar a saltar de banda em banda. Nós por acaso estivemos sempre lado a lado,
assistimos ao crescimento um do outro enquanto pessoas, acabamos por ter muito
em comum, acabamos por partilhar o mesmo sentimento pela vida, e isso faz com
que a identidade dos The Happy Mothers tenha a força que tem. Andámos durante
anos a tentar arranjar músicos que se enquadrassem bem conosco, que nos fizessem
sentir que somos um gang, até chegar
o Pedro Santos (baixista) e o André Mariano (baterista).
Miguel Martins (MM)- Os The
Happy Mothers são uma entidade criada por mim e pelo Pedro. O nome em si surgiu
em 2008, de uma interpretação daquilo que tinhamos vindo a fazer, uma ideia
dada pelo Pai do Pedro, que é um grande e muito interessante Poeta e Adacémico
Português. Desde então, sempre nos mativemos mais no meio underground da música Rock
nacional - lançamos um LP, o qual eu produzi, gravei e misturei, no ano de
2010, e, depois de o Pedro e o André se juntarem a nós, fizemos um pequeno tour um pouco por todo o país até 2011.
Em Novembro do mesmo ano, unimos esforços com o meu grande amigo, excelente
músico e produtor André Indiana e gravámos os 2 singles que acabamos de lançar, So
Sick e Spacetrip. Agora, acabámos
de planear o nosso futuro, e estamos a levar esse plano em frente.
Que nomes ou correntes musicais
vocês apontam como sendo as vossas maiores influências?
PAC: Rock
acima de tudo. Nós comentamos sempre, por exemplo, o facto do Axl Rose ser um
maluco e não ter noção do que anda a fazer recentemente. Mas se formos ouvir
Guns de 1987, ele é real, genuíno, sem barreiras, a cantar! Ou seja, atrai-nos
tudo o que é genuíno. Pode ser blues,
bossa-nova… se nos arrepia no momento
em que ouvimos, já está a influenciar o corpo e a mente.
MM: Eu podia desenvolver esta
questão exaustivamente - mas, para nós, estou certo que se trata apenas de Rock n’ Roll - canções executadas e
interpretadas de um modo livre em forma, em espírito, sem Rock n’ Roll regras. Pureza, beleza, liberdade. O mundo mais profundo
e espiritual de todos - eu acredito que um bom concerto de Rock é muito mais profundo, livre, espiritual, um momento de maior
comunhão entre as pessoas do que qualquer outra cerimónia.
Qual é o background musical dos elementos que constituem os The Happy Mothers?
MM: Essa é uma boa pergunta, pois
para uma banda de Rock, temos os mais
variados backgrounds musicais. O
Pedro Carlos lançou em 2011 um álbum a solo, Loaded Dice - é uma questão de pesquisarem e ouvirem para verem do
que se trata; eu colaborei com o André Indiana e com a Mónica Ferraz no tour
que fizeram em conjunto, o Love Tour,
entre 2010 e 2011, para além de ter feito engenharia de som em vários discos do
panorama nacional durante os mesmos anos; o Pedro Santos toca baixo com o
Miguel Araújo (vocalista dos Azeitonas), por vezes com os Azeitonas, com os
Touro e também com a Cristina Massena; o André Mariano, para além de sempre ter
sido o baterista dos recentemente extintos Slow Motion Beeer Walk, agora toca
guitarra Portuguesa com o grupo de fado Dona Gi.
PAC: Eu toquei guitarra com os Slow Motion Beer Walk
numa fase recente, e até foi aí que comecei a tocar com o André, até o termos
convidado para se juntar aos The Happy Mothers para a tour do Psycho In Lust. Acho que se um músico
quer estar envolvido em muitos projetos acaba por não dar 100% a um único projeto.
Se viveres de corpo e alma entregues ao teu projeto, a probabilidade de teres
êxito é maior, sem dúvida! Mas é bom colaborar com outros músicos, lidar e
aceitar outras visões em relação à música, e nós termos feito outras coisas
para além de The Happy Mothers ajudou a que eu e o Miguel nos entendessemos
cada vez melhor na parte da composição e escrita levou a que se abrisse mais
espaço para a crítica, para retificar o que está menos bom, e elogiar o que
está de facto, bom.
Qual o significado do vosso nome?
PAC: O nome em si é irónico. Para explicar de uma
forma prática, numa das perspectivas mais básicas: uma Mãe sente-se realizada
quando é Mãe, e isso faz parte da Natureza, mas depois as suas atenções e
preocupações viram-se completamente para a sua “cria”. E a “cria”, a criança, é
egoísta, procura sempre satisfazer as suas necessidades, porque ainda não está
educada, o seu instinto mais básico é pensar em si própria em primeiro lugar.
Isso pode servir de metáfora para tudo. A questão da liberdade enquanto
ser-humano, o libertar da mente, respeitar tudo e todos, respeitar o mundo como
é, mas nunca seres como o mundo quer que tu sejas. Os The Happy Mothers têm
essa convicção!
MM: Eu sei que o Pedro sempre teve
uma interpretação um pouco diferente da minha, mas para mim, “The Happy Mothers”
sempre representou uma metáfora ao nosso trabalho - enquanto artistas, somos os
criadores, as “Mães” e “Pais” das nossa obras, e tal com Pais, passamos por uma
grande pressão, e precisamos de uma imensa coragem em “criar” e “lançar” algo
às mãos inconstantes do mundo. Não sabemos em que é que a nossa obra se vai tornar,
não sabemos como o mundo a vai moldar, a vai aceitar, aleijar, modificar...
sabemos que qualquer obra de arte, qualquer música é uma entidade vida, a qual
apenas “parimos”, mas que, apesar disso, teremos que continuar a “amamentar” e
a tentar desenvolvê-la e expandi-la.
PAC: Eu acho que a interpretação
varia sempre de pessoa para pessoa, mas se formos a ver, vamos sempre de
encontro ao mesmo ponto quando explicamos o significado deste nome!
De que forma descreveriam a
sonoridade praticada pela banda?
MM: Um som puro, real, sem
“truques” de computador, sincero, humano, bem executado, pensado mas intuitivo,
nunca programado - what you see is what
you get. Um grupo de artistas que fazem o que fazem por amor, por fé, por
paixão, por acreditarem que cada nota que tocam é importante, pelo menos para
algumas pessoas - o que tocamos, cantamos, fazemos é real, verdadeiro e estamos
certos que muita gente se identificará com aquilo que fazemos exatamente por
essa razão - por ser sincero.
PAC: É muito sexual. Muito suja, no melhor dos
sentidos. Sendo, ao mesmo tempo, muito clean.
Há os dois lados, nunca nos cansamos porque existe dinâmica, cada música é uma
história, e o que acontece naturalmente é todas as músicas serem completamente
diferentes, mas sempre a soar à The Happy Mothers.
Em termos líricos que mensagem
transmitem os vossos temas?
PAC: Como disse anteriormente, os The Happy Mothers
têm a convicção de que cada pessoa deve viver a sua vida da forma que quer.
Sabes que mais? As pessoas passaram os últimos anos a dizer-me que “ninguém
pode decidir por mim”, que “ninguém vai escolher o caminho por mim”, mas estão
sempre à espera que eu decida pelo caminho que elas gostavam que eu seguisse. E
eu, seguindo as minhas paixões, as minhas escolhas, já acham que não estou a
viver na realidade e que corro perigo. Não faz sentido! A Vida é o nosso maior
risco. Liricamente, eu falo disso, tendo em conta as minhas boas e más
experiências, os perigos e os excessos, o desafiar a Vida, mas a vivê-la ao
mesmo tempo. De uma maneira ou de outra, as pessoas identificam-se. Se eu
escrever sobre sexo, por exemplo, as pessoas vão identificar-se com isso,
porque se calhar não se sentem confortáveis a falar sobre o tema, então
automaticamente sentem o impacto do que eu escrevi. “Love Girl, you´re so mean/ you make my body a
machine/like whores have never seen” (“Bang Bang Bang”). Não há
barreiras, a beleza da arte está na espontaneidade, na sinceridade, e o material
novo dos The Happy Mothers é cada vez mais verdadeiro e transcendente, lirica e
musicalmente. O Miguel também começou a escrever para a banda recentemente, e
tudo faz sentido, quando o que ambos escrevemos se encaixa na perfeição!
MM: Liberdade - a nossa mensagem
não é necessariamente política, não é necessariamente “revolucionária” no
sentido mais tradicional da palavra. Apesar de termos algumas opiniões
políticas, não nos achamos - de forma humilde - donos de um conhecimento ou de
uma razão “política” de forma a que pudessemos expressar, defender e “pregar” -
já quanto a termos espirituais, talvez sejamos arrogantes, e temos uma fé
enorme que as pessoas, em geral, devem ouvir-nos, entender-nos. Somos uma
entidade artística totalmente livre, independente, formada, culta, ateísta,
nihilista ao mesmo tempo que profundamente desesperada em partilhar aquilo em
que acredita - crenças que existem só até certo ponto desta realidade, o que
torna tudo isto um pouco paradoxal. Uma entidade que tem muito para dizer,
muito para inspirar, pois acreditamos que toda a sociedade considerada
“desenvolvida” vive desligada daquilo que nos torna humanos, da nossa pureza,
da nossa felicidade, instinto, natureza. Se ouvirem The Happy Mothers, procurem
entender tudo o que fazemos - desde as músicas, às letras, às imagens, aos
vídeos, às T-Shirts... sabemos que não vamos chegar a 100% do público que nos
ouve - é natural.
Sei que já existe um trabalho
editado, Psycho In Lust de 2010. Como
sentem esse lançamento e de que forma foi a sua receção?
MM: Para quem o ouviu, a recepção
foi boa. Como um lançamento underground
e independente, não temos grandes dados para responder de uma forma “comum” a
essa pergunta. É um disco escrito e cantado em Inglês - o que, apesar dos
tempos que correm, em Portugal ainda é um desafio, e mesmo um preconceito:
ainda ouço muitas vezes dizerem que música Portuguesa é cantada em Português -
eu respondo que, partindo dessa premissa, a música Portuguesa ou é “pimba” ou é
o Fado, pois o Rock n’ Roll de Português
não tem nada! Portugal tem um carácter esquisito, eu senti o Psycho In Lust ser muito mais bem
recebido pelas pessoas do mundo da música em Los Angeles do que em Portugal, e
questiono, “será por ser cantado em Inglês?” Não sei ao certo, mas penso que
não - penso que se trata de uma falta de conhecimento da tradição do estilo de
música que fazemos. De qualquer forma, é um disco “puro”, e a maioria das
pessoas que o ouviu gostou. Mas é certo que em termos “gerais” e comerciais foi
um lançamento complicado devido ao carácter revolucionário e de “fora da lei”
que o disco exerceu.
PAC: Foi bom termos feito esse
disco, foi o que precisávamos para nos desenvolvermos enquanto profissionais.
Foi mesmo um passo em frente para evoluirmos. Serviu principalmente para,
posteriormente, percebermos que precisávamos de um produtor, alguém de fora,
para puxar por nós. Mas é como o Miguel diz, houve uma boa recepção, é um disco
bonito mas bruto, “toca no ponto fraco” das pessoas, e foi difícil perceber a
aceitação, porque as pessoas podem gostar muito mas não se expressam. Eu posso
ver muito porno, mas não falo sobre isso. Mas se um dia eu começar a falar, as
outras pessoas sentem que também podem começar a dizer que, de facto, também
vêm porno! Acho que funciona um pouco assim na música também, e em tudo no
geral.
Entretanto, neste ano de 2012 já
editaram dois singles. Como está a
ser a sua aceitação?
MM: Em Dezembro poderemos
responder melhor a esta pergunta - os singles
foram editados apenas para “apimentar” a promoção que vamos fazer dos mesmos -
a qual vai começar com o tour que
estamos neste momento a acabar de fechar - o qual vai começar no dia 19 de outubro
no Plano B, no Porto, e o qual nos irá levar a Leiria (Texas Bar dia 26 de
outubro); Lisboa (2 de novembro); Coimbra (Sates dia 9 de novembro), Vila Real
(20 de dezembro) e por muitos outros locais que, infelizmente, ainda não
podemos anunciar. Novidades para breve!
E há perspetivas para um novo
longa duração para quando?
MM: Neste momento temos decididos
não só um novo longa duração (um álbum conceptual de nome The Black Sheep, o qual compusemos enquanto estive a viver em Los
Angeles) bem como um EP e um outro LP... mas não me quero adiantar muito mais
em relação a isto... o que posso dizer é que o The Black Sheep será um álbum semi-conceptual, para o qual eu e o
Pedro já compusemos mais de 50 novas músicas. O disco terá uma mensagem forte,
única, bem como um lançamento totalmente único e revolucionário. Iremos
adiantar o primeiro single, bem como
o nosso primeiro video-clip ainda no
final deste ano.
Que objetivos traçaram, se é que o
fizeram para a carreira dos The Happy Mothers?
MM: Decidimos o nosso futuro. Um
LP único, o qual estamos desde já orgulhosos; os The Happy Mothers são uma
entidade única, são muito mais que uma “banda” – existem e irão existir em
várias formas, em várias encarnações - esperem muitos concertos, muitas
músicas, muitos vídeos, muitas pinturas, esculturas, poemas, eventos,
colaborações.
PAC: O que vai acontecer nós já
sabemos, é como o Miguel diz, o futuro está traçado, nós agora só vamos
executá-lo, vivê-lo. No fundo o intuito é esse, vivemos para a nossa arte, como
dizia Charles Baudelaire “É necessário trabalhar, se não por disposição, pelo
menos, por desespero”! Portanto, se existe um objectivo, é simplesmente
continuar a criar em todas as formas de arte, e sobretudo, alcançar as pessoas.
Citando de novo, alguém que uma vez disse “a felicidade só existe quando
partilhada”. Os The Happy Mothers fazem sentido porque existem pessoas do outro
lado a compreender-nos e, sabendo disso, vamos continuar por aí, a espalhar a
nossa mensagem.
A fechar, querem acrescentar mais
alguma coisa?
PAC/MM: Mantenham-se atentos,
ouçam com calma, dêem tempo às músicas (não só as nossas, mas a todas as verdadeiras
músicas). Dêem valor ao que é Português, ao que é Espanhol, ao que é Francês,
Italiano, Afegão, Americano - mas dêem valor a tudo o que vos interessa...
pesquisem, dêem tempo às letras, músicas, vídeos, melodias - felizmente, ainda
há muita boa, real e sincera arte por este mundo fora. Façam parte disso.
Contactos:
email: info@thehappymothers.com
website: http://www.thehappymothers.com
bandcamp: http://thehappymothers.bandcamp.com/
Concertos Confirmados
19 de
Outubro - Plano B, Porto
26 de
Outubro - Texas Bar, Leiria
2 de
Novembro - States Club, Coimbra
20 de
Dezembro - Café Concerto, Vila Real
As datas dos concertos não estão erradas? Não batem certo com as anunciadas em http://www.thehappymothers.com
ResponderEliminarErrata: "Em
"Em termos líricos que mensagem transmitem os vossos temas?" Resposta do MM "ao mesmo tempo que porfundamente desesperada" * profundamente
Hey Anónimo,
ResponderEliminaras datas foram, de facto, alteradas! Sigam-se pelo site oficial da banda!