Entrevista: No Tribe

Os No Tribe apresentam o seu segundo álbum, Deserta, sucessor de Primordial onde apresentam uma sonoridade mais madura e assinala uma clara evolução no trajeto da banda. Tocam-se os extremos e os temas de Deserta deambulam entre paisagens áridas e locais paradisíacos. Eis os No Tribe em discurso direto.

Olá! Falem-nos um pouco dos No Tribe. Quando e como nasceram e que objetivos se propõem atingir?
Já muito aconteceu na banda, já por cá passaram muitas pessoas e muitas ideias, já tocamos um som bem mais duro e mais caótico. No entanto, uma coisa se tem mantido, sempre fomos uma banda aberta e predisposta para a diferença e para a mudança, não rejeitamos nada à partida e gostamos de estar disponíveis para coisas diferentes. Isso vê-se em muitas coisas como por exemplo no facto de investirmos o mesmo entusiasmo e dedicação num concerto com outras bandas de metal ou um concerto num festival de música electrónica, o que já aconteceu mesmo duas vezes.
 
Que nomes se podem apontar como as vossas principais influências?
As influências de cada um de nós são muito diferentes. Temos obviamente o metal e o rock como pontos de referência e mesmo aqui divergimos nas sonoridades que preferimos e que podem ir de Korn a Opeth, de Deftones a Type O Negative, de Pantera a Tool, de Nine Inch Nails a Meshuggah ou mesmo de Nirvana a Dream Theater.

Porque a escolha de um nome como No Tribe?
O nome No Tribe reflete a abertura para a diferença. O fato de sempre termos integrado pessoas com backgrounds e filosofias de vida, politicas ou sociais muito diferentes, faz de nós um coletivo de misturas, mestiço. Achamos que as ideologias são para ser contestadas e enriquecidas com misturas de diferença. Isso reflete-se também na nossa sonoridade, onde por um lado somos muito pesados para sermos uma banda de rock e algo leves para sermos considerados uma banda de metal. Portanto, até nesse aspecto o nome assenta que nem uma luva, por não querermos ou nos tentarmos juntar a alguma tribo. Porque não a temos.

Deserta é o vosso terceiro trabalho. Como caraterizariam o processo evolutivo da banda?
Natural. Após a consolidação da presente formação, tudo aconteceu de forma bastante natural. Usámos a gravação do Primordial e os concertos que fizemos após o lançamento como forma de entrosamento entre nós. O deserta acaba por ser um trabalho que reflete uma dinâmica de banda bastante fluida e participativa de todos nós, fruto de várias horas de trabalho e até mesmo de diversão.

Assim sendo, que diferenças apontam entre Deserta e Primordial?
A grande diferença entre os dois trabalhos está no facto de o Primordial ser resultado de um momento em que a banda estava a procurar a sua sonoridade. Tinham saído alguns elementos e começamos a procurar um novo som para a banda. Ainda produzimos algumas das músicas do Primordial com a formação incompleta, mas com a integração de todos os membros, novas influências foram aparecendo pelo que acaba por ser um trabalho que reflete a procura de algo. No deserta já estávamos experimentados e o processo criativo foi muito mais direto, conseguimos inclusivamente escolher de entre uma série de temas que tínhamos construído. Deste modo, é um EP mais direto na perspetiva em que pensamos ser mais homogéneo e coeso.

Existe algum significado específico para um título como Deserta?
Durante a gravação refletimos bastante sobre o melhor nome para ilustrar o novo trabalho. Devemos ter pensado em dezenas de nomes, mas nenhum deles reunia consenso. Mesmo no último dia depois de tudo acabado, quando íamos para casa, um de nós tinha um CD da Ana Moura a tocar no carro e nesse mesmo momento ela canta a frase: "Não fui eu, não deixei a porta aberta. Não fui eu, ficou-me a casa deserta.". A palavra deserta, como que a ilustrar um sentimento de abandono e solidão, fez click, foi imediato! O nome era perfeito, demonstrava na perfeição o imaginário que as músicas na sua globalidade sugerem: o isolamento da procura constante, a solidão que a presença de muita gente pode provocar, achamos que são sentimentos comuns a muitas pessoas.    
           
O primeiro single extraído do EP foi o tema Home. Que critérios presidiram à sua escolha?
Até neste tema estávamos divididos, tínhamos ideias diferentes para o primeiro single, tivemos que discutir muito para chegar a um entendimento. Achámos que talvez fosse a música com mais potencial para a agradar a um maior número de pessoas, porque tem um refrão orelhudo e uns riffs interessantes que dão uma dinâmica curiosa ao tema. Por acharmos que demonstra bem o que somos e onde estamos, pode ser uma música que desperte o interesse de mais pessoas que não conhecem os No Tribe.  

É verdade que o caos é um elemento sempre presente nos No Tribe, quer ao nível da sonoridade como da existência da própria banda?
Sim, é verdade. As várias alterações ao longo dos anos na formação dos No Tribe e as constantes alterações na sonoridade tornam o passado muito caótico. Contudo, após 2008, com a estabilização da formação atual, o caos continua a existir, não numa lógica destrutiva mas numa dinâmica de pôr tudo em causa. Por exemplo, na composição, não refletimos ou inteletualizamos o processo. Agarramos nos instrumentos e começamos a tocar o que nos parece fazer sentido no momento e se a ideia permanecer interessante, então passa a música, senão fica para trás. Já em concerto ou quando nos juntamos para beber uns copos aí sim, a coisa pode ficar mais complicada. Tudo pode acontecer. E geralmente acontece.

Para este trabalho mantiveram a escolha dos Blacksheep Studios e do Makoto Yagyu. Como correram as coisas desta vez?
As coisas correram muito bem, tal como na primeira vez. O ambiente do BSS é muito positivo, faz-nos sentir muito confortáveis, como que em casa. Além de que a nível técnico as coisas acontecem de acordo com o estabelecido. Estávamos mais preparados para o intenso trabalho de estúdio e conseguimos obter um bom resultado com os nossos registos. Como já tínhamos trabalhado com o Makoto e de certa forma, conhecíamos o seu método de trabalho, as coisas fluíram de forma mais descontraída e natural. A novidade neste processo de gravação foi a participação de um elemento externo à banda com a inclusão da voz do João Campos (Rejects United e Gula) no tema Sleep Deprivation. Mas, até aqui, tudo correu como previsto e estamos muito satisfeitos com o resultado final.

Como está a decorrer o processo de promoção de Deserta? Em termos de estrada, por exemplo, o que tem sido feito e o que já está planeado?
A promoção do deserta está a ser feita de forma gradual. Sem uma editora ou produtora para nos apoiar, o que temos feito, tem sido pelos nossos próprios meios. Enviamos o CD para os diversos meios de comunicação social, blogs e webzines. Lançamos o tema Home como primeiro single nas redes sociais e estamos a preparar o videoclip. Fizemos uma festa de apresentação do EP em vários bares no Bairro Alto (Lisboa) e um deles é mesmo o primeiro ponto de venda ao público do CD. A receção do deserta tem sido muito positiva de forma que em breve teremos mais pontos de venda do CD um pouco por todo o país. A tour do deserta é algo que também se encontra em preparação. Tinhamos planeado fazer um concerto de lançamento em Lisboa mas achamos que as salas disponíveis na altura não iriam beneficiar quem nos viesse ver. Queremos fazer esse concerto de lançamento num local com boas condições tanto para nós como para o público. Estamos a planear tocar novamente por todo o país. Fomos sempre muito bem recebidos nas várias cidades por onde passámos, o que nos motiva imenso, e nos faz querer chegar sempre um pouco mais longe.

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