Entrevista: The Godspeed Society

Eles são uma das mais inovadoras banda nacionais. Falamos dos The Godspeed Society que se estrearam este ano com Killing Tale, um portentoso álbum onde o rock/metal se cruza com o jazz e o blues em ambientes que vão de Paris a New Orleans ou Harlem. Sílvia Guerreiro, a Baby deste conto de arrepiar fala-nos de toda a evolução do projeto que culminou nesta obra-prima.
 
Olá, obrigado por estarem de novo a conversar com Via Nocturna. A última vez que conversámos foi em 2009 e já o conceito Killing Tale estava a ser trabalhado. O que se passou desde essa altura até agora?
Olá, obrigado nós, é um prazer! Sim, de facto em 2009 já tinhamos muito bem delineado o que pretendiamos fazer e a partir dessa altura foi tempo de finalizar algumas músicas, concluir alguns capítulos do livro e de começar a tocar e a ver a reação do público à nossa música. Depois seguiu-se a pré-produção do álbum e depois todo o processo de gravação, produção, tanto do albúm como do videoclip do primeiro single, Rose Lithium.
 
Mas porque cerca de três anos para a edição do disco?
Nós não tínhamos exatamente pressa em editá-lo a todo o custo. Era uma coisa que desejávamos muito, mas preferimos fazê-lo com pés e cabeça. Primeiro encontrámos os parceiros certos para nos ajudar com a edição e distribuição do disco e fomos para estúdio apenas quando sentimos que estávamos preparados para o fazer. Depois fomos gravando e editando sempre que nos era possível. Não sermos todos músicos profissionais e termos outras atividades paralelas, não nos dava todo o tempo do mundo para estar em estúdio e para além das gravações, tinhamos também de nos preocupar com o grafismo e com o livro. Foi um processo demorado, mas valeu bem a pena.
 

E já agora, podem recordar e esclarecer mais detalhadamente agora para os nossos leitores em que consiste o conceito Killing Tale?
O Killing Tale é um conto. Podemos dizer que é o livro que tem uma banda sonora, ou podemos dizer que as músicas têm um suporte escrito para as complementar. Essa história passa-se numa cidade chamada Bloody City e conta que uma mulher é assassinada pelo seu namorado, com uma facada no coração e ele livra-se do seu corpo no rio que banha a cidade, o Dark River. O corpo é encontrado a flutuar no rio pela polícia e aquele que era o melhor amigo de Baby (a falecida), vai em busca do assassino. Nessa busca, cruza-se com vários habitantes de Bloody City e as suas vidas que antes pareciam distantes, estão afinal mais próximas do que se pensava e a história desenrola-se de forma surpreendente. Baby recusa-se a morrer e o seu fantasma persegue No Face, o assassino, com intenções de o levar com ela para as profundezas de Dark River.
 
Não deixa de ser curiosa a semelhança com Sin City… há algum tipo de proximidade conceptual?
Sim! Nunca escondemos essa proximidade porque confessamos que esse filme e todo o universo Frank Miller nos fascina. A união da BD com o cinema, o estereótipo das personagens com nomes prepositadamente cliché, o aspecto monocromático com uns toques de cor aqui e ali, é fascinante. Não nos baseámos no Sin City para construir o nosso universo, foi um acaso proveniente da primeira música que fizémos, o Dark River, mas olhando para trás, admitimos que esse filme de alguma forma acabou por nos influenciar.
 

Como nascem os temas nos TGS e como se relaciona a componente musical com a literária?
Como dissemos, primeiro nasceu o Dark River e foi esse o mote para construir a ideia geral de toda a história de Killing Tale. A partir daí fomos construindo as músicas ao sabor de cada capítulo mas o inverso também aconteceu. Às vezes chegavamos à nossa sala de ensaios com uma ideia para uma música nova e normalmente numa noite fazíamos uma música inteira e a partir dessa música, criávamos um novo capítulo no livro.
 
Os vossos concertos são muito teatrais. Como é feita a sua preparação?
Pensamos música a música o que queremos transmitir ao público e tentamos que o que se está a passar em palco em termos de luz, movimentos, etc. coincida com o que se passa naquele capítulo da história de Killing Tale. O que fazemos é ensaiar a parte musical e quando esta já está segura, complementamos com a parte cénica também.
 
O álbum já está nas ruas desde Maio. Já tem algum feedback da reação do público e da imprensa?
As redes sociais tiveram um papel preponderante nesta proximidade com os fãs. Sem dúvida que um dos melhores momentos que iremos recordar desta experiência, foi o depois de lançarmos as primeiras notícias no facebook sobre o álbum e quando ele saíu e passou a estar à venda. Os fãs, os amigos, os desconhecidos que ficaram a conhecer o nosso trabalho, deram-nos os maiores elogios e o maior carinho que poderiamos ter recebido. A eles estamos muito gratos. Estamos mesmo muito satisfeitos com o feedback que recebemos. A imprensa ainda nos está a conhecer, mas até agora o feedback só tem sido bom!
 

Rose Lithium foi o tema escolhido para vídeo. Porque a escolha deste tema?
Não fomos nós que o escolhemos, foi o público! Nós apresentámos o Rose Lithium ao vivo pela primeira vez no Cinema S. Jorge e foi arrepiante! Um fã filmou esse momento, colocou no youtube e a partir daí passou a ser uma das músicas mais conhecidas e mais aplaudidas em todos os concertos. Por isso apostámos nesse tema e estamos encantados com o vídeo.
 
Em termos de espetáculos, como tem sido a vossa agenda e que outras datas estão planeadas para breve?
Já tocámos bastante por Lisboa e por isso queriamos apresentar o nosso espetáculo noutras zonas do país. Isso não tem sido tarefa fácil porque a nossa comitiva é numerosa e os custos que temos para sair de Lisboa e tocar por exemplo em Coimbra, são elevados. Contudo esperamos começar em breve a percorrer o país para tocar nas principais Fnac’s e aí sim, será uma optima oportunidade de alargar o leque de pessoas a conhecer o nosso trabalho.
 

Se calhar ainda é cedo, mas já pensam num segundo capítulo desta história ou mesmo uma nova história para um próximo trabalho?
Já estamos a trabalhar no segundo álbum! De uma forma muito embrionária ainda mas já estamos a definir a nova história e as novas personagens!
 
Sentem que são um dos projetos mais inovadores da música nacional? E simultaneamente não sentem alguma forma de incompreensão? Pergunto isso, porque apesar da excelência do vosso projeto e da sua transversalidade continuamos a não ver os TGS na televisão, por exemplo…
Não, de todo! Realmente achamos que conseguimos ter uma sonoridade única e uma forma de estar em palco só nossa, mas somos tão inovadores quanto tantos outros bons projectos nacionais. Talvez a mistura de instrumentos que utilizamos não seja a mais óbvia nem a mais tradicional, sim, mas não nos colocamos numa fasquia demasiado alta, somos aquilo que somos e gostamos muito da nossa própria música e acreditamos muito nela. Incomprensão...  sim, talvez um pouco. O Henrique Amaro disse uma coisa muito acertada no documentário Meio Metro de Pedra, que responde a essa questão na perfeição: “o nosso país precisa de cumplicidade. Qualquer músico, em qualquer parte do mundo, precisa de cumplicidade mediática e Portugal às vezes tem esse problema, toda a gente se aproveita do sucesso dos artistas e ninguém quer ser cumplice do seu crescimento”.
 
A terminar, querem acrescentar algo mais?
Queremos acrescentar que o Via Nocturna tem sido uma plataforma fundamental para divulgar não só a nossa música mas também aquilo que pensamos acerca dela. Muito vos agradecemos por isso e desejamos crescimento e uma vida longa a apoiar as novas bandas Portuguesas. Obrigado!

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