Antecipando a edição de um novo disco dos Pombagira (Maleficiah Lamiah com edição agendada para março de 2013) Via
Nocturna foi falar com Peter Hamilton-Giles que passou metade da entrevista a
criticar a crítica de Via Nocturna e outra metade a divagar filosófica e
poeticamente sobre os conceitos existenciais dos próprios Pombagira e desse seu
próximo trabalho. Apesar de tudo, uma agradável e evoluída conversa com o
guitarrista e vocalista do duo britânico.
Olá Peter, tudo bem? O novo ano marca um
novo álbum para os Pombagira. Qual é o sentimento geral? E quais as vossas
expectativas?
Sim, está
tudo ótimo com a gente, apesar de ao lermos o comentário em Via Nocturna termos
ficado dececionados que o novo álbum Maleficia
Lamiah tenha sido tão incompreendido. Mas tudo bem. Nunca pensamos fazer parte
de algum concurso de popularidade e não pedimos desculpas em avançar para áreas
onde as bandas de hoje em dia temem entrar. Como deves ter adivinhado,
portanto, estamos muito animados com o novo álbum. E certamente indica uma
evolução nas nossas habilidades enquanto compositores. E é também a mais feliz de
todas as gravações que fizemos até à data. É pesado e edificante, pelo menos
para nós. E convida as pessoas a expandirem as suas mentes de simples canções construídas
em três minutos com um versículo e coro. O que temos empreendido com Maleficia Lamiah é um estilo de música
de mente progressiva em expansão que convida à exploração imaginativa. É nossa
esperança que através do curso do tempo isso mude a perceção das pessoas sobre
como a música pesada é feita. Quando se trata de expetativas gostaria que as
pessoas ouvissem isto com uma mente aberta, em vez de o comparar com os nossos trabalhos
anteriores. Realmente mudamos: é mais ruidoso, mais sujo, mais pesado e mais empolgante
do que antes. As pessoas que já ouviram isso e entenderam o que estamos a fazer
comentaram que este álbum marca uma progressão natural para a banda, mantendo as
qualidades-chave dos Pombagira. Enquanto em alguns aspetos pode parecer como
uma forma extrema de música, coisa que questionaríamos, os vocais agora
acrescentam qualidade, harmonia e profundidade enquanto antes o estilo vocal pouco
acrescentava ao ambiente geral.
Como decorreu o processo de escrita de
Maleficia Lamiah?
O
processo de escrita levou um ano até estar tudo pronto. Reconhecendo o
princípio que uma música não deve ser muito longa, conseguimos assegurar a
criação de um espaço em que fomos capazes de desenvolver instintivamente cada música
sem restrições. Nunca querendo limitar ou deslocar os fascinantes contornos hipnóticos
da nossa música construímo-la para obter o máximo efeito.
Podes explicar o significado do título do
álbum? E, já agora, o significado do vosso nome no mínimo estranho?
Maleficia Lamiah é um neologismo,
ou seja um novo termo que combina Maleficia
associada à atividade das bruxas e ao transporte de destruição e danos a
outros, e Lamiah que é a
representação de uma bruxa como mensageiro encarnado ou consorte do diabo. Em alguns
aspetos encontramos semelhanças com Pombagira que é comumente descrito como um
demónio feminino da religião afro-brasileira de Quimbanda. Ambos ressoam com
uma maldade que vem num caminho orientado pela mão esquerda da feiticeira.
Entende-se como algo que só pode trazer mal, porém, é apenas um aspeto, para
estas entidades incentivarem a mudança ou transição e, assim, serem capazes de
trazer boa saúde e fortuna aos desamparados. Maleficia Lamiah e Pombagira refletem as pressões diárias que as populações
têm sentido ao longo de séculos. Enquanto alguns temem o que elas representam
outros continuam a colocar o alívio da sua destituição nas suas mãos capazes. Maleficia Lamiah é, portanto, o
opositor, bem como o portador da luz.
Quais são os principais temas abordados
nas vossas letras?
Como
mencionado anteriormente as letras endossam a nossa visão de Maleficia Lamiah como incompreendida,
traída e vibrantemente desafiadora no rosto da animosidade. As letras das
canções retratam um conto arquetípico que descreve a maneira em como os maus
tratos se podem transformar em vingança. E, no entanto, entre tudo isso, há uma
beleza e uma conexão com a paisagem, a natureza que reside além dos limites de
habitação humana. O tema-título, Maleficia
Lamiah, contorce-se e muda como as sombras a estenderem e a contrair o seu
alcance como o sol a cruzar o horizonte. Sob o brilho de acumuladas representações
distorcidas conjuro uma força de pura e formidável poder vingativo e, assim,
convidamos os nossos cálculos próprios. Grave
Cardinal, a segunda das duas músicas que estarão disponíveis na versão em
CD, apesar de haver três músicas adicionais na versão do álbum duplo de vinil,
é uma canção ao estilo de uma convocatória Vodu
para os pontos cardeais. É uma convocatória relaxada e traz o ouvinte para o
ponto em que entramos no domínio ritualmente preparado de alteridade onde os
mundos visível e invisível se encontram.
Quais são as principais diferenças neste
álbum comparativamente com os anteriores?
As
diferenças são certamente maiores que as semelhanças. Temos abraçado a
experimentação musical de mestres do passado, como Amon Düül II mestres kraut rock dos anos 70 que acreditavam
em fazer sua própria coisa ou Pink Floyd. É claro que ter o apoio de Vic Singh,
que fez a fotografia da capa para o álbum Piper
At The Gates Of Dawn dos Pink Floyd foi parcialmente a confirmação de que
estamos no caminho certo. Acho que outras diferenças vêm simplesmente do facto
de não podermos facilmente ser equiparados a outras bandas Stoner/Doom. Sentimos que já não somos mais um reflexo desses géneros,
embora as comparações convenientes continuem sempre a ser feitas, como na tua
revisão ao nosso álbum. E então, com as amplas e variadas mudanças espectrais que
a nossa música traz é evidente que existe uma diferença vocal em comparação com
os trabalhos anteriores. Tendo tocado em bandas grindcore e crust ao
longo dos últimos 25 anos, achei que precisávamos mudar, que precisávamos trazer
algo mais, com algo que se inclinasse para a música que estávamos a escrever.
Por muito que eu continue a gostar de bandas com estilos vocais cheios de
rugidos, para a nossa música comecei a sentir que tudo tinha de ser muito
unidimensional.
A
nossa forma de gravar permite-nos desenvolver os sons gerais de formas muito
diferentes. Portanto, nós usamos 6 amplificadores diferentes para overdrive, limpo e guitarras pesadas. Naturalmente
usamos o órgão Hammond de grande
efeito em algumas partes das canções. Mas a maior parte do que se ouve no álbum
pode ser reproduzir ao vivo apenas com nós os dois.
E ao vivo como será?
Temos
a intenção de usar um backline
semelhante ao que usamos nos últimos anos. Dois amplificadores de baixo ampeg SVT com um cabo ampeg 8x10, um ampeg V9 com um cabo ampeg
9x10 e cinco amplificadores, com um sunn
model ts, um west fillmore e Laney supergroups.
Nesta altura estão a desenvolver mais
algum projeto?
Eu já
comecei a escrever novo material para o próximo lançamento. Uma fantasia para
fazer algo diferente e talvez com canções um pouco mais curtas porque ter
canções mais curtas é sempre uma boa ideia para os espetáculos.
Queres dizer mais alguma coisa aos nossos
leitores?
Sim,
gostaria de dizer que as pessoas devem, em grande parte, ignorar a crítica de Via
Nocturna, uma vez que não representa o que temos produzido com Maleficia Lamiah. Ficamos espantados que
alguém possa dizer que é depressivo, quando na verdade a longa exploração
destina-se a transportar o ouvinte através de uma grande variedade de emoções.
Também gostaria de pedir às pessoas para olhar para além do critério doom/Stoner normal, porque já não
estamos a trabalhar dentro dessas restrições apertadas. Agora podem decidir que
isto não é para vocês e aí tudo bem, porque não podemos agradar a todos e,
aliás, nem quereríamos. Estamos aqui para levantar a barra, dizer que se lixe o
convencional e dizer um olá para empreendimentos criativos. Não é estarmos a
tentar reinventar a roda, é estarmos a tentar trazer de volta algo que foi
perdido em meados dos anos setenta, mas com um toque contemporâneo. Por isso
venham ver-nos. Vamos para a estrada novamente em 2013 e as atualizações serão postadas no facebook e no site da
Black Axis Records (www.blackaxisrec.co.uk). Ignorem o myspace, porque já que não temos lá o site e nunca usem o ReverbNation. Tornem-se num opositor e abracem a luz!
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