Membro fundador dos
Hostages, banda de Punk/Art Rock de
S. Francisco nascida em finais dos anos 70, Ray Vaughn esteve imensos anos
afastado das lides musicais, como acaba por nos explicar nesta entrevista. Mas
o seu regresso acontece com Way Down Low,
um disco onde o músico deixa para trás os seus medos e lança-se numa aventura
em formato de banda.
Olá Ray! Obrigado pelo teu
tempo respondendo a Via Nocturna! Podemos começar pelo início? Foste um dos
membros fundadores dos Hostages e depois desapareceste em 1992. Quais são as
tuas maiores lembranças desse tempo?
As minhas
memórias nunca foram tão acentuadas para começar com tristeza... O que mais ficou
comigo foi essa energia e sensação de que poderíamos ter feito alguma coisa com
a música naquela época. Quando somos jovens sabemos que não temos limites, não
se tem medo de errar ou cair de cara no
chão... No início dos anos 70, mudei-me de S. Francisco para Londres com
vontade de tocar e escrever músicas... A música no início e meados dos anos 70
parecia estar num estado de fluxo, cabelos grandes, solos de guitarra bombásticos,
jams de 20 minutos, realmente chatos.
Tudo parecia muito grande e muito produzido e eu não tinha ideia do que estava a
fazer ou por que fui para Londres... Mas lá eu era, não conhecia ninguém e o
principal pensamento que tinha era “e agora?” Tocava numa velha guitarra
acústica, em clubes folk em
Birmingham, Coventry, o Black Country
e tocando as minhas músicas. Um dia ouvi uma banda de Nova York, Television,
seguida pelos Ramones, Richard Hell, depois de volta a Londres, os Sex Pistols,
Clash... Depois de ouvir tudo isso, senti que tinha que estar numa banda.
Voltei para San Francisco no outono de 78, conheci Ed Rawlings e Peter Hughes e
juntos criámos os Hostages. San Francisco estava cheio de música e clubes. Punk, shows DIY e festas em armazéns. Foi uma verdadeira comunidade de freaks e artistas, skaters e drag queens. Tivemos
uma boa época, os Hostages terminaram em 84, mas Eddie e eu continuamos a tocar
até cerca de 92... Depois, uma noite saímos de palco e estava feito. Assim. Acabou.
Parecia que estava a escrever a mesma música repetidas vezes, quem quereria
ouvir essa merda? Eu certamente não. Em seguida, apaguei as luzes durante 17
anos.
Regressaste em 2010, em
formato a solo e acústico. Porque tomaste essa opção?
O que
aconteceu? Boa pergunta... Apenas um determinado dia peguei numa caneta e papel
e comecei a escrever novamente. Peguei numa guitarra acústica, como na década
de 70 e escrevi este registo que acabei por chamar de Way Down Low. Estava numa fase em que ia e vinha entre San
Francisco e Nova York, e realmente gostava do escape da cidade, gostei como
poderia ser totalmente anónimo neste rodopio, uma parceria entre o lixo da cidade
e os diamantes, a beleza e horror todos no mesmo bloco... Era muito fácil ser
essa entidade a solo e tocar quando quisesse, para quem quisesse, quando
quisesse, sem rede... Como um equilibrista na corda bamba, foi isso que fiz.
E nota-se que te sentes
confortável nos ambientes acústicos, porque eles estão muito presentes neste
álbum…
Depois de fazer
alguns espetáculos a solo, apenas eu e uma guitarra acústica, comecei a ter
medo do palco... Ficava tão nervoso quando tocava, bem, para ser honesto, em
lugares merda... e o costume era ficar excitado antes de tocar. Bem, foi muito
desconfortável… Foi bom uma vez, mas era tão estranho... Era como se eu nunca
tivesse feito isso antes. Foi quando chamei Ed Rawlings e disse: precisas tocar
essas músicas comigo. Foi quando começamos a fazer este espetáculo com 2
pessoas: eu na acústica e Ed na sua bela Stratocaster
prata. Elétrico e acústico, ao vivo, só nós dois... Funcionou bem e tornou-se
interessante tocar guitarras. Quanto à tua pergunta, eu adoro tocar em formato
acústico, mas ter uma banda atrás de mim é o que realmente quero.
Como já vimos, Ed Rawlings
está de novo contigo. Que outros músicos tocam contigo em Way Down Low?
Ed, claro, o
dono da mão lenta... Ele saca sons
daquela Strat prata que simplesmente
me levam ao topo. Na realidade, ele é um dos melhores guitarristas por aí hoje.
Michael Urbano na bateria é uma superestrela! Ele toca com os Ligabue e está na
Europa em tournée quando não anda na
estrada com os Cracker. Ele divide o estúdio onde gravei com o produtor Michael
Rosen. Stephen Winkle toca baixo na maioria das faixas. Stephen tocou com Ed e comigo
nos Die Boss Nova. Esta malta veio a frio para o estúdio e rockaram a valer! E, claro, Mr. Phil Bennett no Hammond B3... Ele toca com os Starship e
as suas faixas realmente falam por si, um teclista absolutamente brilhante. Na
minha opinião ajudou a elevar o disco a um outro nível. Apesar de tudo, tivemos
sorte com estes músicos... Falando honestamente são eles que fazem este disco.
A produção esteve a cargo Michael
Rosen, um vencedor de um Grammy. Como foi trabalhar com ele?
Michael
Rosen... O melhor amigo, irmão, recuemos
às minhas primeiras gravações com os Hostages e aos primeiros espetáculos, ele
é o elo que me tem segurado e isso é a pura verdade. A confiança que tenho nele
torna qualquer experiência de estúdio fluir. Podes pensar que uma banda a fazer
a música é a coisa mais importante, mas não é... Sem um produtor que saiba do
que faz, te conheça, consiga levar-te a fazer coisas nunca fizeste antes... Essa
é a magia da gravação... Agora, claro que se escreveres uma ou duas boas músicas
isso ajuda...
É verdade e o curioso é que
Michael começou a sua carreira a trabalhar contigo e agora estão de novo juntos...
Conheci
Michael quando ele estava na faculdade na sua formação em gravação. Ele gravou
praticamente tudo o que os Hostages fizeram... E ele também fez os nossos espetáculos. Tocamos
em alguns dos piores clubes dos EUA e digo-te que o Michael sempre fez os
nossos shows soarem bem. Quando fui ter
com Michael pela primeira vez para este projeto era para gravar um álbum
acústico a solo. Ainda não tinha banda. E durante alguns meses, tocámos no
estúdio... e soava bem. Desenvolvemos um pouco as músicas, re-escrevemos aqui e
ali e foi Michael quem sugeriu trazer
Michael Urbano para tocar bateria. Pensei: claro, porque não? Urbano também já
tocou com Cheryl Crow, Smashmouth e muitas outras bandas. No mínimo, eu estava
mais do que feliz a tocar com ele. Acontece que, pelo menos para mim, eu
realmente estava conetado com ele. Tens que imaginar esta potência de um
baterista num quarto, eu e a minha Martin
D28 acústica noutra sala, passando 3 dias colocando as pistas de 12 músicas.
Só nós dois! E Michael Rosen a girar os botões na cabine de controlo. Nada do que
eu estava acostumado num estúdio... Nunca tinha gravado assim... foi estranho
mas à medida que as faixas iam ficando completas adicionamos Ed, Stephen e
Phil. E estou muito feliz com o som e o registo, o melhor que eu já fiz, com
certeza. Mas o próximo será um pouco diferente.
Para quem estiver
interessado em adquirir o teu álbum, o que deve fazer?
Querem ouvir
o disco? Ele está disponível no I Tunes, no Best Buys, K Mart, Amazon... mas
quem quiser ouvir de graça poderá encontrá-lo em rayosomusic.com. Devo admitir
que o meu site está uma confusão,
ainda há trabalhos a decorrer, mas podem navegar e ler mais sobre o processo de
gravação no meu blog, e também me podem
encontrar no YouTube
http://www.youtube.com/watch?v = 2_GoFCKt2AE
E a respeito de atuações, como
está a agenda?
Estive em
Nova York, em julho e terminamos alguns shows
aqui em San Francisco; pretendemos estar no Noroeste do Pacífico, em outubro e
com sorte e boa fortuna na Europa na Primavera com uma banda completa. De igual
forma que adoro a ideia de um ato de solo, uma banda completa realmente permite
que as músicas alcancem um outro nível.
Mais uma vez obrigado pelo teu
tempo e para terminar dava-te a oportunidade de dizer mais alguma coisa que não
tenha sido abordado nesta entrevista...
Não,
obrigado... tem sido um inferno de um passeio selvagem, sinto-me extremamente
afortunado que esteja a receber interesse e airplay
para Way Down Low, não só aqui nos
Estados Unidos, mas a Europa e Canadá, bem... realmente não te posso agradecer
o suficiente pelo teu tempo e apoio. Ser capaz de tocar ao vivo, para as pessoas
que amam a música tanto quanto eu é o maior presente... Obrigado. Amem e respeitem todos... E não se
esqueça de fazer bastante ruído!
Bela entrevista! Não sabia que o senhor Ray estava de volta... Obrigada!
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