A revista
francesa Les Inrockuptibles afirmava
em 2012 que os a Jigsaw eram uma banda a seguir. Em 2014, a especializada
revista coloca-os junto de nomes como Tom Waits e Leonard Cohen. E o caso não é
para menos: depois da “perda da inocência” e da “construção da identidade”, os a
Jigsaw falam-nos agora, volvidos três anos, da aceitação dos termos da nossa
mortalidade. Jorri e João Rui revelam
a Via Nocturna as razões de ser No True
Magic.
Olá pessoal! Tudo
bem? Obrigado pela vossa disponibilidade. Podem falar um pouco deste projeto a
Jigsaw. Como nasceu, como se foi desenvolvendo, têm atingido os objetivos
inicialmente traçados?
Este projeto nasceu há 15 anos, fruto
da vontade de criar música. Creio que não será muito diferente do momento
inicial em que tantas bandas se formam. Em 2007 editamos o nosso primeiro LP Letters From The Boatman, seguido pelo Like The Wolf em 2009, e foi este que
levou à nossa internacionalização e durante a tour do qual levámos as nossas canções a diversos cantos da europa.
Durante esta tour escrevemos o nosso
álbum Drunken Sailors & Happy Pirates
que viu a luz do dia em 2011. Regressamos agora às edições discográficas em
formato LP em 2014 com o No True Magic.
Com um passo
já rico em termos de produções, de que forma prepararam este regresso?
Este “regresso” foi preparado ao longo de três anos
durante o qual também andamos a promover o anterior Drunken Sailors & Happy Pirates. A sua preparação acaba por não
ser muito diferente da dos álbuns anteriores no sentido em que o começámos a
preparar com bastante antecedência. O que vai alterando é a maior experiência
que temos na sua preparação dado o que aprendemos com as anteriores.
E porque um
hiato de três anos para o vosso trabalho anterior?
Para este álbum necessitámos de mais tempo porque para
o anterior escrevemos demasiadas canções. Apesar do anterior ter apenas 12
canções no álbum, nós gravámos cerca de 32 e necessitávamos de mais tempo para
as poder apresentar todas. Até porque a maioria foi editada, tanto como b-sides de cd-Singles, como em Cassete e Vinil.
Porquê No True Magic num álbum que é, todo ele,
pura magia?
No True Magic é a metáfora do conceito deste
álbum; da suspensão da mortalidade. É nesse sentido que professamos a não existência
da verdadeira magia; do milagre supremo da imortalidade.
No entanto,
é, também um álbum algo escuro e sombrio. Foi vossa intenção desde o início
criar algo assim?
Sim, este foi assumidamente escrito com o propósito de
ser o nosso álbum mais negro. E sendo a mortalidade/imortalidade o tema, mais
não o poderia ser. Pelo menos na narrativa que nele é abordada.
No True Magic é um disco
conceptual, verdade? Podes descrever um pouco do conceito à volta do qual giram
estes temas?
Sim, à semelhança dos nossos álbuns anteriores, este
volta a ser um álbum conceptual no qual as canções servem o conceito que foi
criado. Como falava atrás, a suspensão da mortalidade. O poeta Simon Coleridge
falava da willing suspension of disbelief;
a suspensão voluntária do nosso julgamento/credulidade em relação à
implausibilidade de uma determinada narrativa. É um pouco isso o que nós
fazemos em relação ao nosso encarar do fim dos nossos dias. Vamo-nos
esquecendo, todos os dias, do nosso fim – como se um ato de magia nos pudesse
conceder a imortalidade. E na compreensão do quão ilusória ela é, compreendemos
a ilusão que nos enreda a existência.
Vocês são
apenas um duo mas apenas na fase de criação, porque na execução têm a The Great
Moonshiners Band. Quem são eles atualmente?
Tanto na fase de criação como de execução somos apenas
nós os dois. Na gravação contámos com com um punhado de convidados, alguns dos
quais fazem parte da The Great Moonshiners Band, que foi uma banda de suporte
que criámos para a apresentação deste álbum. O Pedro Serra no contrabaixo, a
Maria Côrte na harpa, viola de arco e violino, bem como o Guilherme Pimenta na
bateria e percussões participaram neste álbum e fazem parte desta banda,
juntamente com o Victor Torpedo na guitarra, a Tracy Vandal na voz e a Paula
Nozzari nas percussões.
Precisamente,
para este disco ainda tiveram outros convidados. Queres falar um pouco sobre a
sua escolha e participação?
Para além dos que já falei, participou ainda o Miguel
Gelpi e o Gito Lima no contrabaixo, que para além do contrabaixo foi ainda o
responsável pelo design do álbum.
Participou ainda a Carla Torgerson na voz, o Hugo Fernandes no violoncelo, o
Laurent Rossi na Trompa e a Susana Ribeiro no violino e Glockenspiel. A escolha de cada um deles foi feita de acordo com o
que a canção nos pedia e de acordo com o que conhecemos do trabalho de cada um
destes músicos fenomenais. É baseado neste conhecimento que temos sempre a
certeza de que o convite irá resultar de melhor forma para a canção.
E como se
proporcionou o contacto com a Carla Torgerson?
O caso da Carla deve-se à paixão que temos pela sua
voz, que nos levou a criar o papel feminino da narrativa da canção Black Jewelled Moon especificamente para
a sua voz. O contacto em si foi através do vocalista dos Walkabouts (da qual a
Carla faz parte) Chris Eckman que me colocou em contacto com a Carla. Ela
depois gravou a voz em Seattle no estúdio Wakatake do Glenn Slater, teclista
também dos Walkabouts. Creio que será o caso para dizer que estamos bastante
agradecidos não só à Carla mas a toda a banda dos Walkabouts.
Ao longo dos
anos têm tido bastante reconhecimento fora do país (até mais que cá dentro,
suponho). Na vossa opinião a que se fica a dever isso?
É uma boa pergunta, para a qual não tenho de facto uma
resposta simples. Ainda mais porque há um maior esforço de promoção da música
em Portugal do que fora dele e ainda assim temos sido sempre bastante apoiados
pelos media internacionais. Creio que
seria uma pergunta à qual estariam mais qualificados os media portugueses para responder.
Esse
reconhecimento proporcionou-vos uma longa tournée
europeia. Que recordações guardam desses momentos? Vai repetir-se com este novo
disco?
Desde essa longa tour
que já somos sempre obrigados a apresentar os nossos discos fora de portas. As
pessoas desses países receberam-nos com um carinho tal, que estamos em dívida
para com elas. E exigimo-nos o esforço desse regresso para lhes apresentar as
nossas novas canções.
Estão a
comemorar 15 anos de existência. Olhando para trás, como analisam o percurso
dos a Jigsaw até hoje?
Ao olhar para trás, vamos percebendo que não é o tempo
que nos transforma mas sim a experiência de o atravessar. A forma como nos
vamos transformando assentes na experiência que vamos adquirindo. E nota-se bem
de álbum para álbum com essa experiência nos altera. E isso não se queda apenas
no âmbito musical.
Tiveram algum evento especialmente preparado para esta comemoração ou não?
Sim, voltamos a celebrar o nosso aniversário no Salão
Brazil em Coimbra num concerto duplo (dia 13 e 14 de dezembro) onde tocámos 15
músicas diferentes em cada um dos dias, acompanhados pela nossa The Great
Moonshiners Band. Foram dois dias muito especiais em que pudemos partilhar
essas 30 canções com quem nos tem seguido de tão perto e ainda mais por ter
sido na nossa cidade em Coimbra.
Mais uma vez
obrigado! Queres deixar alguma mensagem?
Como estamos em final de ano, ficam os nossos votos de
boas entradas com muito boa música e bons livros para todos. Abraços e beijos
dos a Jigsaw.
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