Dave
Kilminster não pára! Depois de Scarlet –
The Director’s Cut, de um álbum acústico em dueto com Murray Hockridge e de
uma nova tournée com Roger Waters – The Wall Live – eis que o virtuoso
guitarrista britânico está de regresso aos álbuns de originais com …And The Truth Will Set You Free. E nem
um grave acidente de viação que o impediu de tocar guitarra durante alguns
meses lhe retirou a vontade de continuar a trabalhar em prol da verdade. Aqui
ficam os sentimentos e emoções de Dave Kilminster.
Olá Dave!
Tudo bem desde a última vez que falamos? Novo álbum cá fora - o que nos podes
dizer a este respeito?
Sim, a vida está, na maior parte, boa... Tive um
acidente de carro em maio passado, o que se traduziu que não pude tocar
guitarra durante muitos meses... Mas sabes como é - temos que manter o
pensamento positivo - as coisas podem sempre ser piores!! Felizmente já tinha
acabado de gravar as guitarras do meu novo álbum antes do acidente!! Quanto ao
álbum em si, eu estou muito feliz!! Sinto que eu estou a desenvolver a minha
própria "voz" musical e acho que a principal diferença de The Truth… são todas as harmonias vocais.
Diverti-me muito a faze-las! Era algo que sempre tentei – cantei num Barbershop
Quartet quando ainda andava na escola – pelo que esse som está na minha cabeça desde
muito jovem. E os Queen foram a primeira banda rock com quem tomei contacto e sempre adorei totalmente as suas
maravilhosas harmonias.
Seguiste o
mesmo processo de trabalho de Scarlet…?
Bem, eu aprendi muito a trabalhar em Scarlet... e algumas das coisas que
aprendi foi como 'não' fazer certas coisas!! Hahaha... Mas, sim, foi um
processo semelhante, mas de forma geral mais simples e muito mais rápido!!!
Além disso, todas as músicas foram escritas num prazo muito curto, o que ajudou
na consistência geral...
Se Scarlet foi o reflexo de toda a música
que ouviste, como definirias …And The
Truth Will Set You Free…?
Bem, estou muito orgulhoso de Scarlet, mas senti que era talvez um pouco demasiado eclético... Eu
ouço tantos estilos diferentes de música que, por isso, havia lá muitos e diferentes
humores e texturas. Para The Truth… queria
um álbum forte e mais conciso. Uma declaração mais definitiva. Portanto, desta
vez deixei de lado os teclados e peguei nas coisas que eu pensei que funcionaram
muito bem em Scarlet, focando-me em
fazer esses elementos ainda melhores neste novo disco.
E existe
algum significado particular para um título como este? Como surgiu?
É tão difícil encontrar a verdade em qualquer coisa
hoje em dia... Há tantas mentiras agora - nas notícias, comunicação social e na
internet... disfarces e conspirações...
é quase impossível encontrar a verdade. Mesmo em fotos, hoje em dia raramente
vês uma foto numa revista que não tenha sido drasticamente fotoshopped, alterada ou manipulada de alguma forma. E a música
agora também, devido ao advento de tecnologia e dos computadores… Fico tão
cansado de ouvir todo o lixo produzido por aqueles que tocam nas estações de
rádio hoje... tudo samples. Loops de bateria, baixo programado,
'cordas' de teclado e vários ruídos estúpidos... Quantised, digitalizados, junk
higienizados, com vocais que foram compactados e autotuned dentro de uma polegada das suas vidas miseráveis!!! Quero
dizer, há mais personalidade numa máquina digital de resposta!! Ninguém está
realmente a tocar nada nessas faixas. Não há coração, nem alma, nem emoção... É
apenas barulho, ruídos bleepy
informatizados para bêbados, idiotas desmiolados a saltar para cima e para
baixo. Portanto, (pelo menos para mim), este álbum apresenta a "verdade"
do ponto de vista musical... bateria verdadeira, baixo real, guitarra real...
não há loops, nenhum autotune - apenas três pessoas numa sala, a tocar música
juntos! Até mesmo as imagens são intocadas... sem photoshop!!
A respeito
dos músicos, decidiste manter a mesma equipa com Pete Riley e Phil Williams.
Foi uma escolha natural?
Sim, totalmente.... Uma boa química numa banda é
essencial, mas é tão difícil de encontrar... Acho que é por isso que existem
tão poucas grandes bandas!! Mas, para mim, algo especial acontece quando nós os
três tocamos juntos... Gostaria de fazer isso mais vezes!!
Voltaste a
trabalhar com um ensemble de cordas,
desta vez o Larkin Quartet. Foste tu, outra vez, quem fez os arranjos?
Sim, até os escrevi em papel manuscrito!! O quarteto
comentou quando chegou que já há algum tempo que não via música escrita à mão.
Hoje em dia a maioria das músicas é impressa usando algo como o Finale ou Sibelius... que, naturalmente, são absolutamente bons... Mas para mim é apenas mais uma coisa para levar
para longe da realidade - mais longe do que o simples ato físico de escrever as
coisas. Quando é escrito à mão, há lá mais, não sei, personalidade... Queria
voltar à maneira como Mozart, Debussy e Bach o fizeram!!
Antes deste
álbum estiveste envolvido na The Wall
Tour. De alguma forma essa longa tournée
acabou por influenciar este trabalho?
Não acho que tenha influenciado diretamente, a não ser
para me inspirar para gravar outro álbum com a minha própria música. Embora
haja uma faixa no álbum (chamada Stardust),
que tem uma influência muito Floydiana,
mas é mais do período Shine On que
ouvi quando era mais jovem. No meu crescimento, adorava o Wish You Were Here... E, na realidade, nunca tinha ouvido o The Wall até 2010!!!
Entre os teus
dois álbuns tiveste uma experiência acústica com Murray Hockridge. O que
sentiste com esse trabalho?
Amo esse álbum (Closer
To Earth) e escolhemos propositadamente as músicas para apresentar uma
experiência bonita, atmosférica para o ouvinte... Porém, quando tocamos juntos
ao vivo, foi sempre muito mais louco, com muito mais improvisação,
espontaneidade, uma coisa orgânica, com toneladas de energia... E, na verdade,
após a loucura de tocar em estádios enormes com Roger Waters para 70.000
pessoas, havia algo realmente agradável em tocar para pequeno grupo de pessoas.
É muito mais emocional... mais intensamente íntimo... ser capaz de ver e
interagir com o público para sentir a energia e a atmosfera da sala... Adoraria
fazer mais espetáculos desses, e, na verdade, tínhamos agendado uma tournée em outubro/novembro na Europa, mas
infelizmente tivemos que cancelar – aquele acidente de carro confundiu todos os
meus planos no ano passado...
Para além de
tocares e trabalhares com Roger Waters, estás envolvido ou a colaborar com mais
algum projeto?
Não... não tive possibilidade de tocar guitarra
durante alguns meses. Aliás, apenas voltei a tocar nos últimos dias.
Já tens
alguma tour planeada?
De momento, não. Acho que seria muito difícil fazer
uma tournée em nome individual. Mesmo
bandas bem estabelecidas estão a descobrir que é incrivelmente difícil fazer uma
tournée financeiramente rentável hoje
em dia. Mas fui recentemente convidado a tocar guitarra com Steven Wilson na
sua tournée pelos EUA. Estou
incrivelmente animado e feliz com isso!!! Gosto muito dos seus últimos
álbuns... e, na realidade, não consigo pensar em mais ninguém de quem possa
dizer o mesmo!!!
Mais uma vez
Dave obrigado por este momento. Queres deixar alguma mensagem?
Sim... confiram o pequeno vídeo promocional do meu
novo álbum!! Espero que gostem...
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