A vida não
tem sido fácil para os Leather Synn, com uma série de contratempos que têm
atrasado a afirmação daquela que é, atualmente, uma das melhores bandas
nacionais de heavy metal clássico.
Precursores do movimento já conhecido como NWOPHM,
a banda lisboeta lança, finalmente, o seu single Honour And Freedom/Face To Face (cover dos Alkateya) em formato físico. Carlos “Manimal” Faria
falou-nos do parto difícil deste single e do futuro.
Olá Carlos! Tudo
bem? Este single teve um “parto
difícil”. O que aconteceu na realidade?
Olá, Tudo bem, Sim isto foi muito difícil! Aquando o
lançamento do EP de estreia, delineamos logo um plano para a banda que
basicamente era no prazo de 12 a 18 meses gravar este single Honour and Freedom e um álbum. Mas, por
razões diversas a banda entrou numa espiral de saídas e entradas incontrolável
e sem um lineup estável era
impossível cumprir este plano dentro do prazo. Eu e o Victor Silver nunca
mandamos a toalha ao chão, recrutamos novos elementos e seguimos em frente com
o que nos tínhamos proposto fazer. Após a gravação deste disco veio o segundo
revés, que foi os problemas relacionados com a edição física em vinil. Como se
trata de uma edição com múltiplas cores, vários formatos de capa e com muitos
extras e torna-se muito difícil produzir. As fábricas preferem fazer produtos
de forma standard, sempre igual,
“atar e por ao fumeiro” como diz o povo. O atraso maior foi a fábrica do vinil,
que também era responsável pela impressão da capa normal. Essa fábrica atrasou-se
com o vinil. As máquinas que fazem hoje o vinil são as mesmas dos anos 70 e 80,
não são novas. Como a demanda é grande trabalham sempre a todo o gás e isto de
trabalhar com material velho é sempre um problema, arranjas de um lado avaria
do outro. Para além disso também fizeram asneira com a impressão das capas e
teve de ser tudo reimpresso.
Mas uma vez
que já estava disponível em formato digital desde o ano passado, como foi a sua
aceitação?
Como o disco ia sair pela minha editora, a Non Nobis Prod.
lancei o single antecipadamente em
formato digital em mais de 200 plataformas, ao abrigo do acordo de distribuição
digital que a editora tem. A saída a edição digital e física era para acontecer
com um intervalo de 3 semanas a um mês mas como te disse o atraso na edição física
estragou tudo. Enfim, a reação ao trabalho está a ser muito positiva e as
pessoas querem mais. Toda a gente pedo “O álbum!”. É unanime que a voz do
Sanchez Cano assenta que nem uma luva no som da banda e que este disco regista
uma evolução global na performance.
Entretanto
também sofreram, como referiste, diversas mudanças na vossa formação. Quem
está, agora, nos Leather Synn?
As entradas e saídas dos Leather Synn entre a saída do
primeiro disco e hoje davam um filme (estou a falar a sério, não é exagero!). Logo
após a saída do primeiro disco o Zé Rockhard sai porque tinha 3 bandas (Leather
Synn, Ravensire e Inquisidor) e estava a ser complicado para ele gerir o tempo
disponível. Entrou o Alcides Pinto para o seu lugar. Mais tarde, em cima da
gravação do disco sai o vocalista, Xico que foi viver para o Reino Unido e o
Hugo Conim que vive no Algarve e era difícil estar sempre nos ensaios…
Resultado eu e o Victor Silver gravamos o single com o Alcides nas guitarras e
o Sanches Cano na voz. Paralelamente fomos ensaiando também com o Fábio Santos
que é um guitarrista fantástico. Assim que acabamos de gravar o single o Alcides Pinto começou a não se
sentir bem com a dinâmica da banda todos estes problemas de atrasos na edição
instabilidade de elementos, levaram a que o Alcides abandonasse. No entanto
conseguimos em tempo record arranjar
um substituto, o Marco Void. Neste momento os Leather Synn são: Sanchez Cano – Voz, Victor Silver – Bateria,
Fábio – Guitarra, Marco Void – Guitarra e eu (Manimal Faria) - Baixo. Estamos muito contentes porque temos um line-up competente e dedicado. Os
Leather Synn não são a segunda nem a terceira ou quarta banda nem o side project de ninguém. Estamos de
corpo e alma na banda, respeitamo-nos muito mutuamente e à parte de sermos
membros de uma banda somos também amigos e isso é fundamental. Sinto que a
instabilidade acabou aqui.
E é com estes
membros que já se encontram a trabalhar no novo álbum. Como está a decorrer o
processo de trabalho?
Sim, vão ser estes os elementos que vão gravar o novo
álbum, estamos a compor e paralelamente a preparar um set pra concertos ao vivo, que vão ter temas novos. Iremos testar
um ao outro tema ao vivo para ver como funcionam antes de os gravar.
Há
possibilidade para indicares datas para esse lançamento?
Não, por duas ordens de razão. Primeiro porque, na
banda somos todos gente já com alguma idade, com empregos exigentes, alguns de
nós com família constituída, ou seja, não temos todo o tempo do mundo para nos
dedicarmos à banda como gostaríamos portanto e como estamos sujeitos sempre a
um ou outro imprevisto não nos comprometemos com datas para não defraudar
expectativas dentro e fora da banda. Segunda razão, temos o lema “cadelas
apreçadas parem os filhos cegos” – Nós somos gente que gosta de amadurecer as
ideias e não queremos apreçar as coisas. No entanto julgo que será um álbum
para sair este ano.
Quanto a este
single, um tema original e uma cover. Porque Alkateya e porque Face To Face?
Este single
foi “projetado” ainda com o Xico Steel na banda, aliás quando ele sai já a
bateria e o baixo tinham sido gravados. E como o Alcides era um ex-Alkateya, eu
e o Xico crescemos a ouvir Alkateya... Eu lembro-me de ouvir Alkateya no Lança
Chamas nos anos 80 e perceber que era possível fazer uma banda de Heavy Metal em Portugal. Portanto
quisemos mesmo fazer um tributo sentido aos Alkateya, não é só uma cover feita por piada de uma música que
a gente curte, era uma mensagem de apreço e agradecimento a uma das bandas que
nos “mostrou o caminho”. O tema escolhido foi o Face To Face porque toda a gente sugeriu dois ou três temas
diferentes e quando fomos a ver o Face To
Face era aquele que era comum a todos!
Os fãs terão
opção de escolha entre diversos formatos do single,
não é? Como está a ser a saída, tem feedback
disso?
Para além do formato digital, que para os fãs de Heavy Metal tradicional, ainda não é uma
opção recorrente, editamos em vinil em 3 cores diferentes com pacotes
diferentes; Vinil preto com insert –
versão básica em maior quantidade, vinil vermelho com insert, foto da banda e download
card (ed. Mais limitada que tem agradado muito a pessoas que já não têm
gira discos mas compram o disco na mesma e fazem o download dos temas. Assim ficam com algo físico da banda e acabam
por conseguir ter os temas disponíveis), por último temos uma edição
limitadíssima em vinil branco com uma capa desdobrável em poster, oferta de fotos autografadas, palheta da banda, download card etc. – Esta versão die hard tem sido a escolha dos colecionadores
de vinil que valorizam edições de qualidade e com extras. Eu sou um colecionador
de vinil e sei bem o que a malta gosta portanto propus-me a fazer a edição em
vinil 7” mais luxuosa de sempre em Portugal. Consegui e não estou nada
arrependido. O futuro das edições físicas é este, é dar ao cliente algo mais do
que a música, porque essa arranja-se de borla ou compra-se por alguns cêntimos
na net!
Vocês têm
sido apontados como um dos precursores do NWOPHM.
Como sentem essa bandeira? E como sentem, na realidade, o desenvolvimento desse
movimento?
Eu e o Xico começamos a brincadeira (New Wave Of Portuguese Heavy Metal) para
criar um enquadramento ao movimento que se começou a desenvolver ha uns anos a
esta parte em Portugal. Portugal tem um leque muito bom de bandas de Heavy metal tradicional. Midnight
Priest, Ravensire, Hiperion, Cruz de Ferro, Perpetrator, Shivan, The Unholy,
Deadly Force e outros. Não
ficamos nada atrás do que se faz lá fora no que toca a novas bandas de Heavy Metal tradicional. Como tal julgo
que o facto de se criar um movimento, que internamente faça com que as bandas
se unam, colaborem e entreajudem e que lá fora dê a perceber que em Portugal há
bom Heavy Metal e que vale a pena
olhar para a nossa cena musical com outros olhos, é desejável e salutar para
todos. Os produtores de vinho criam uma região demarcada, uma marca, um produto
com certas caraterísticas e depois tentam em conjunto meter esse produto lá
fora e afirmar-se no mercado global. Nós as bandas de heavy Metal, temos de fazer o mesmo. NWOPHM, tem de ser garantia de qualidade e se os seus
intervenientes lutarem por isso, talvez a internacionalização bem-sucedida do Metal nacional não se circunscreva ao
caso pontual dos Moonspell. Acredito que das bandas de Metal tradicional actualmente a operar em Portugal uma ou outra
posso crescer e tornar-se referência no estilo aqui e lá fora, mas
desenganem-se os que acham que o podem fazer sozinhos! Precisamos em Portugal
de uma cena forte com bandas, promotores, editores, media tudo a jogar com espirito de equipa e com amor à camisola e
claro de fans dedicados que apareçam nos concertos a apoiar as bandas e que
comprem discos. Estamos em crise mas sem haver gente nos concertos e sem se
vender CDs, não vai ser fácil.
E agora segue-se
a estrada. O que há de novidades a este respeito?
Uiii, com tanto entra e sai de elementos e
vidas ocupadas como temos, foi difícil manter uma regularidade ao vivo. Para além
disso os Leather Synn apostaram em criar um espectáculo completo, não nos
limitamos apenas a subir ao palco e tocar. Usamos pirotecnia (sempre que
possível), estamos a projetar cenário de palco etc. mas para isso é preciso roadies, é preciso uma logística
complicada e recursos que podem fazer o show de Leather Synn ficar um pouco
caro, contudo estamos a trabalhar numa solução low cost para poder ir a mais sítios, mas mesmo assim uma coisa é
certa - não pagamos para tocar, não porque não gostemos de tocar ao vivo, mas
porque é um mau principio que os artistas têm de contrariar. Até ao lançamento
do álbum faremos por certo alguns concertos de forma mais ou menos avulsa.
Depois do lançamento do álbum vamos avaliar o impacto do mesmo, ver da nossa
disponibilidade e decidir se planeamos uma tour
com pés e cabeça ou continuamos neste
registo - tocar quando se proporcionar e ir usando mais ou menos Stage Show à medida das
circunstâncias.
Obrigado.
Continuem o bom trabalho e deixo-vos a possibilidade de acrescentarem mais
qualquer coisa ao que já foi abordado.
Queria agradecer-te o apoio e disponibilidade e
agradecer a todos os que nos têm apoiado. Queria ainda apelar o público que não
deixe de apoiar a cena Heavy Metal
nacional, apareçam nos concertos e dentro das possibilidades vão comprando os
trabalhos das bandas nacionais há muito bons discos por ai. À semelhança das
bolachas também no heavy Metal “O que
é nacional é bom!”
Comentários
Enviar um comentário