O metal sinfónico pode já ter conhecido
melhores dias, mas ainda hoje surgem projetos extremamente interessantes neste
âmbito. Da Itália (de onde haveria de ser!!) surgem os WinterAge com The Harmonic Passage, um disco
verdadeiramente bombástico neste espectro e a prova de que ainda se faz metal sinfónico de elevada qualidade.
Fomos conhecer os autores deste trabalho marcante neste ano de 2015 nesta
conversa com o teclista Dario Gisotti.
Olá Dario! Em
primeiro lugar, obrigado pelo teu tempo! Em segundo lugar, parabéns pelo álbum The Harmonic Passage. Agora, com todo o
trabalho feito e o álbum cá fora sentem que alcançaram o que pretendiam?
Sim, sentimos!! O álbum soa melhor do
que o esperado e estamos a ter ótimas respostas do mundo da música. De verdade,
no início não sabíamos como ele iria soar e foi ótimo vê-lo crescer gradualmente.
Acho que as nossas esperanças e expetativas foram totalmente cumpridas!
The Harmonic Passage traz-nos passagens majestosas e épicas. Podes contar-nos como
decorreu todo o processo de trabalho?
As canções foram escritas por mim e
pelo Gabriele, apesar de durante todo o processo a banda ter estado junta.
Algum material foi deitado fora até acabarmos com um conjunto de boas canções
para trabalhar. Os arranjos foram feitos em conjunto, enriquecemos os temas com
os poderosos riffs do Riccardo, e, depois,
Gabriele escreveu todas as partes orquestrais tornando a música realmente
picante! E nessa altura, tivemos que encontrar todos os membros da nossa
orquestra o que exigiu uma série de telefonemas, acredita!! Finalmente, encontramo-nos
no estúdio de gravação onde todos fizeram o seu trabalho. Gravar a orquestra foi
muito difícil e temos de agradecer ao nosso diretor Alessandro Sartini pelo grande
trabalho que fez. Os nossos ouvidos estavam tão cansados que a mistura e masterização
do álbum parecia ser uma "missão impossível"!! Graças ao nosso
técnico Tommy Talamanca e à sua grande experiência tudo bateu certo no final.
Os Winterage
nasceram em 2008, mas este é apenas o vosso primeiro longa duração depois de
single e um EP. O que motivou essa ausência de mais gravações?
Quando a banda foi fundada éramos todos
muito jovens e demorou bastante tempo para construirmos um som próprio e escrevermos
material satisfatório. Além disso, não foi fácil encontrar as pessoas certas
para trabalhar, isso demorou anos! Quando o line-up
ficou finalmente pronto, começamos a trabalhar no material de The Harmonic Passage e percebemos logo
que seria necessário muito mais do que pensávamos. Demorou mais um ano em
relação ao previsto, mas isso foi uma coisa boa, porque realmente precisávamos de
tempo para analisar todos os pormenores deste enorme trabalho.
A vossa música
introduz fortes passagens sinfónicas no metal.
Gravaram com uma orquestra e coros reais, não foi? Como foi essa experiência de
trabalhar e gravar com eles?
A melhor experiência de sempre? O caos
total? Ambos? Montamos uma orquestra com 40 alunos do conservatório, tivemos
uma única sessão de ensaios e tocamos com todos eles no estúdio de gravação. A
maioria deles nunca tinha gravado música rock
ou algo parecido – devias ter visto os rostos deles quando a bateria e as guitarras
explodiram pela primeira vez nos seus fones. Depois, gravar, gravar, gravar com
um calendário mais rigoroso do que nunca, até ninguém sequer entender o que
estávamos a fazer. Os pobres músicos de cordas a tocarem durante 10 horas
seguidas, 15 pessoas numa sala de 4x4 metros. Depois de algumas horas sentia-se
(e cheirava) como uma floresta tropical. Algumas passagens saíram tão bem que mal
podíamos acreditar, outras passagens tivemos que tentar dezenas de vezes, até ao
ponto de desespero. Não entendo como o produtor Alessandro conseguiu manter a
calma e o ambiente, porque se não conseguisse teria ido tudo para o inferno! No
final, agradecemos-lhe à maneira italiana, com 12 garrafas de bom vinho.
Com quantos músicos
trabalharam?
Acho que com cerca de 40, contando a
secção de cordas, a secção de metais, a secção de sopros, coros líricos, coros
de power metal, cravo, harpa,
guitarra clássica, tímpanos e vozes de crianças! Quero agradecer a todos,
porque nunca vi tanta paixão e compromisso desinteressado em tantas pessoas.
Cada um deles deu uma grande contribuição para o som final do álbum, com suas
grandes capacidades pessoais e a sua grande vontade. Colaborar com tantas
grandes pessoas foi uma honra.
E como será
ao vivo?
(Risos) Difícil, acho eu? Agora estou
a tentar fazer tudo o que posso com teclados e estamos a usar pistas de apoio
para suprir o que ainda está em falta. O que eu mais gosto é que, para as
faixas de apoio, usamos a secção orquestral do álbum, por isso, quando estou em
palco consigo ouvir aquela nota de trompete ou o trinado do oboé e sinto um
pouco como se aqueles amigos estivessem lá a tocar connosco. Claro que seria
ótimo tocar com todos eles no palco. Infelizmente, de momento não é possível,
mas para o futuro, quem sabe!!
Podes descrever
a música que interpretam em The Harmonic
Passage?
Posso...? Bem, editoras primeiro!
Chamamos a nossa música de power metal
sinfónico, isto porque a maioria do ritmo no álbum tem uma veia power metal, com riffs muito rápidos e vigorosos e bateria rápida. Nisso implantamos
os nossos arranjos orquestrais, tentando fundir ambos os lados da melhor
maneira possível. Depois, vêm todas as outras influências que o nosso álbum
contém e que vêm com a experiência pessoal de cada um de nós. Algo da música
sinfónica, algo de música barroca, algo de rock
progressivo, algo de música tradicional. O resultado é o que vocês ouvem, podem
julgar!
Como é que
têm sido as reações deste álbum até agora?
Melhor do que esperávamos! Muitos fãs
de todo o mundo estão a dar-nos um grande feedback
e os críticos têm sido muito positivos em relação ao nosso trabalho. As
vendas não nos estão a por ricos mas, obviamente, preocupamo-nos mais com a
grande resposta que estamos a ter das pessoas simpáticas e apaixonadas pelo
nosso trabalho, de vários países, dispostos a descrever o seu apreço e
sentimentos. Isso significa muito para nós!
Após o
lançamento do álbum tiveram algumas mudanças no line-up com a saída do baixista e do baterista. Quem é que os
substituiu?
Primeiro, precisamos de agradecer aos
nossos antigos músicos Matteo e Davide por todas as coisas que nos deram nos
últimos anos: eles foram importantes para a nosso álbum e, também, nossos grandes
amigos. Como se sentiram na necessidade de mudar algo na sua visão da música e
da vida, tivemos a sorte de encontrar outros dois grandes músicos, e outros
dois grandes amigos, Fausto Ciapica (baixista) e Luca Ghiglione (baterista). Estamo-nos
a dar muito bem com eles. Em poucos meses eles aprenderam o reportório muito
bem: o som da banda está mais forte que nunca.
O vosso violinista,
Gabriele Boschi junta-se ao Vivaldi Metal
Project. Podes explicar-nos em que consiste este projecto?
O Vivaldi
Metal Project é um encontro de músicos de rock e metal de todo o
mundo, dispostos a revisitar a grande obra de Vivaldi numa forma de metal. O projeto foi criado pelos
músicos italianos Mistheria e Alberto Rigoni e conta com grandes nomes da
música internacional, como Rick Wakeman (Yes), Mike LePond (Symphony X) e Mark
Boals (Yngwie Malmsteen). Gabriele foi selecionado como violinista para o projeto,
devido à sua grande habilidade em executar música clássica e à sua experiência nos
Winterage. Estamos muito orgulhosos dele e estamos ansiosos para ouvir alguma
coisa deste grande projeto!
O vosso nome surge
de um curioso jogo com as palavras Winter, Age e Rage. Podes explicar-nos o seu
significado?
Decidimos não destacar nem a letra R,
nem o A, para deixar os fãs decidirem o significado que melhor lhes convier! O
inverno pode ser uma época de grande beleza, rico em emoções, paisagens e
sensações, mas também pode ser rígido e violento de alguma forma, o que pode
descrever muito bem a dualidade no som da banda. Se Winterage soar familiar
para alguns de vocês, basta levarem em consideração que somos grandes fãs dos
nossos concidadãos Rhapsody of Fire!
Nos vossos
primórdios eram uma banda instrumental, não eram? Quando e por que sentiram necessidade
de incluir vocais?
O nosso primeiro EP funcionou bem
para testar as nossas capacidades a compor e tocar música e, de forma
grosseira, definiu as influências e sons que apresentamos nos nossos trabalhos
subsequentes. Quando foi feito e o ouvimos, percebemos que a música podia ser
mais forte e significativa usada como veículo de palavras e voz humana. A
grande beleza e poder catártico do belcanto
e da ópera, que são fortes caraterísticas da nossa cultura musical italiana,
pode dar ao metal o toque de energia
e comunicação que é necessário, para levar a cabo todo o significado da música.
Foi talvez por isso que passamos de nenhum cantor para dez cantores (risos).
Muito
obrigado, Dario. Foi um prazer fazer esta entrevista. Queres acrescentar mais alguma
coisa?
Obrigado por este espaço e pela tua atenção!
Uma mensagem para todos os nossos fãs e leitores: o nosso álbum The Harmonic Passage está disponível em
todas as maiores lojas online e
físicas e podem encontrá-lo gratuitamente no Spotify! Não tenham medo de nos dizerem o que pensam sobre ele! Stay Winter!
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