Os Anthropia
são um dos mais geniais coletivos dentro do espectro do power metal progressivo no velho continente. Aliás, a presença de
nomes como Arjen Anthony Lucassen e Edu Falaschi no novo trabalho dos franceses
é revelador disso mesmo. Após cinco anos de trabalho (não em exclusivo) surge Non-Euclidean Spaces, um trabalho
conceptual influenciado pelo universo Lovecraft e aqui perfeitamente
escalpelizado pelo mentor Hugues Lefebvre.
Viva Hugues!
Obrigado pela tua disponibilidade! Podemos começar por apresentar os Anthropia?
Viva! Sim, claro. Anthropia é uma
banda de metal progressivo de Nice
(França), com: Nathalie Olmi (vocal), Yann Mouhad (guitarras), Julien Negro
(guitarra baixo), Damien Rainaud (bateria), e eu Hugues Lefebvre (guitarra,
vocais). As nossas principais influências são bandas como Symphony X, Opeth,
Pain Of Salvation, Megadeth, Ayreon...
Podes contar-nos
um pouco da história da banda?
Os Anthropia foram criados em 2003, e
o primeiro álbum The Ereyn Chronicles
Part One foi lançado como um projeto solo em 2006 via Magna Carta Records (EUA).
Tornou-se então uma banda completa e criamos o nosso próprio selo Adarca
Records para lançar o nosso segundo álbum The
Chain Reaction em 2009. Depois de um álbum ao vivo unplugged em 2010 (Acoustic
Reactions), regressamos agora com o nosso novo bebé Non-Euclidean Spaces,
um álbum conceptual sobre Cthulhu Mythos.
Podemos dizer
que Anthropia é mais do que apenas música, não é verdade? Anthropia é também um
conceito?
Sim, realmente gostaria de ver os Anthropia
assim. Hoje em dia, a maioria das pessoas ouve música da mesma forma como comem
fast food: ouvem sem ouvir. Com os Anthropia,
não tentamos ser a banda mais popular do mundo, apenas tentamos fazer música
interessante e os melhores álbuns possível. Por isso, às vezes isso resulta em canções
longas, que parecem complicadas à primeira audição e onde precisas estar focado
para entender o que queríamos fazer. Mas eu gosto de coisas complicadas, daí o
nome Anthropia. Do ponto de vista semântico, a palavra Anthropia é inicialmente
um trocadilho com Anthros (homem em grego) e entropia, uma noção científica que
ilustra desordem criada ao nível microscópico. Pensei que era indicativo
misturar essas duas palavras, para mostrar que a humanidade pode, às vezes, ser
uma fonte de caos.
De que forma
esse conceito se reflete em Non-Euclidean
Spaces, o vosso nosso trabalho?
Cada álbum de Anthropia contém uma
parte deste conceito: estamos, de alguma forma, a organizar a nossa própria
decadência. A humanidade pode fazer muitas coisas grandes, mas também é capaz
de fazer o pior. Em Non-Euclidean Spaces,
algumas seitas de magia negra tentam despertar os antigos deuses para trazer o Armageddon
para a Terra. E adivinhem, eles não são alienígenas ou monstros... eles são simplesmente
seres humanos! (risos)
Esta é,
também, uma homenagem a HP Lovecraft, certo? Por quê?
Devo dizer que todos nós nos
Anthropia somos grandes fãs de Lovecraft. Quanto a mim, li todos os contos,
romances, joguei todos os jogos de tabuleiro, jogos de cartas, jogos de vídeo.
Adoro aquela atmosfera de 1920, cheia de mistérios, magia e antigas profecias. Era
óbvio para mim fazer um dia um álbum sobre este universo. Bem, está feito!
Non-Euclidean Spaces é um álbum conceptual, portanto, podes falar-nos de que se
trata este conceito?
Seguimos Randolph Carter, de 50 anos
de idade (um personagem recorrente de HP Lovecraft), que está bastante
deprimido porque perdeu há muito tempo a sua capacidade de sonhar e viajar
através das dimensões como costumava fazer durante a infância. Para ele, os
culpados são as pessoas que ele conheceu durante a sua vida: todos eles foram
muito terra-a-terra, cartesianos, e esmagaram o seu espirito «sonhador». Odeia-os
por isso que é a fonte da sua misantropia. De qualquer forma, depois de décadas,
ele finalmente recebe de volta as suas habilidades e voa para longe através de
outras dimensões. Nesse meio tempo, seitas secretas em todo o mundo começam a
unir forças para trazer de volta à vida grandes velhos (como Cthulhu). Apenas
Randolph poderá fazer algo a este respeito, mas no seu estado, ajudar a
humanidade significaria sacrificar-se a si mesmo. E ele pergunta a si mesmo se realmente
a humanidade merece ser salva...
De que forma
o artwork se relaciona com todo o
conceito?
O artwork
foi criado por David Demaret, um grande designer
francês que já trabalhou com Cthulhu
Mythos. Nele é visível uma paisagem não-euclidiana com um homem no meio de
estruturas estranhas. Podemos supor que é Randolph Carter durante uma das suas
explorações fora-deste-mundo. Poderás notar uma grande quantidade de
referências a Cthulhu Mythos neste
trabalho artístico, começando, naturalmente, com tentáculos em todos os lugares
e um «sinal mais velho» na parte de trás do herói. Este é realmente um álbum
para os fãs de Lovecraft, musicalmente e visualmente falando!
A música em Non-Euclidean Spaces é muito complexa,
embora perfeitamente percetível. Como se desenvolve o trabalho de composição?
Primeiro li os contos de Lovecraft,
tentando desta vez capturar os principais temas da sua obra. Foi um trabalho grandiosos,
mas muito útil para criar o conceito e o tema de cada canção. Tive também
muitas ideias que gravava no meu computador: pequenas melodias, riffs, truques… e tentei ver que ideia
se encaixaria com cada música. Após esta etapa, tinha quase 10 rascunhos de
músicas e apenas tinha que as terminar. Isso era o mais fácil porque o universo
de Lovecraft ainda estava fresco na minha mente, portanto limitei-me a deixar a
minha inspiração falar, acho eu (risos).
Assim sendo,
quanto tempo trabalharam neste álbum?
Apesar de termos começado a trabalhar
neste álbum logo após The Chain Reaction,
em 2010, não posso dizer que tenhamos trabalhado nele durante 5 anos completos.
Todos nós tivemos vários outros projetos para tratar e foi por isso que demorou
tanto tempo. Mas sabes, estou muito feliz: acho que o tempo é necessário para
compor boas canções. E é benéfico teres a tua própria editora: o álbum é
lançado quando está feito! E não levando em linha de conta considerações
comerciais.
Presenças
muito notadas são as de Arjen Lucassen e Edu Falaschi. Como conseguiste a sua
colaboração? Foi fácil convencê-los?
Há muito tempo que sou um grande fã
de Arjen, e por volta de 2009, já lhe tinha perguntado se estava interessado em
fazer uma aparição no The Chain Reaction.
Infelizmente, nessa altura, não foi possível devido à sua agenda. Ele é uma
pessoa muito ocupada como se pode imaginar! Portanto, desta vez, entrei em
contacto com ele com bastante antecedência e depois de ouvir a demo de The Melancholy Of RC, ele aceitou ser o narrador em todas as
músicas do álbum. Ele realmente é uma pessoa fantástica, muito bom e muito
profissional, é claro! É uma honra tê-lo no álbum. Quanto ao Edu, foi um pouco
diferente. Damien, Yann e eu somos grandes fãs dos Angra e quando Damien me
disse que iria produzir o novo álbum dos Almah, disse-lhe para convidar o Edu
para Non-Euclidean Spaces. Ele ouviu The Snake Den, gostou e aceitou o
trabalho. Um grande agradecimento a ele também, é muito bom ter uma voz como a
dele no álbum.
Mas contam
com mais convidados, certo? Podes apresentá-los?
Pascal Allaigre é um herói da
guitarra de Nova Caledônia e faz um solo em The
Snake Den. Laurent Tardy toca a parte de piano em The Part Of Them In Me. Os dois são grandes amigos de Damien. Ele
agora vive em Los Angeles como engenheiro de som e têm grandes contactos de
todos os lados porque trabalha muito bem. Trabalhou para o novo álbum dos Fear
Factory e para o próximo DVD dos Dragonforce!
Há algumas hipóteses
de termos Non-Euclidean Spaces ao
vivo? Têm algo planeado nesse sentido?
Nada está planeado se falarmos de um
ponto de vista de live. É bastante
complicado porque em termos geográficos estamos todos separados. Mas nada é
impossível, por isso vamos ver. Este fim de semana filmamos algumas cenas para o
primeiro vídeo do álbum. Muito trabalho em perspetiva, mas claro que ficaríamos
contentes em mostrar o novo material aos fãs!
Muito
obrigado, Hugues. Queres acrescentar mais alguma coisa?
De nada e obrigado pela tua
entrevista. Queremos agradecer profundamente aos nossos fãs, é importante para
nós ver que o álbum tem recebido um bom feedback.
Isso justifica todo este trabalho! Vocês podem obter os nossos álbuns nas
principais lojas na web: Amazon, CDBaby, Bandcamp... e na nossa
própria loja em www.adarca.com/store. Felicidades!
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