Os Country Playground são uma banda
recente, têm apenas um ano de existência mas os membros andam há muito nas
lides do rock’n’roll. Rodrigo
Cavalheiro, baterista e vocalista dos Born a Lion, e Fernando Silva,
ex-guitarrista dos leirienses e extintos Canker Bit Jesus, juntaram-se para
fazer aquilo a que, em tom de brincadeira, chamam electric farmer rock. Vamos perceber porque nesta conversa com
Fernando Silva.
Olá Fernando! Obrigado pela vossa disponibilidade.
O que vos motivou a juntarem-se e erguerem este projeto?
Desde
já agradecemos o convite. Os Country Playground tiveram como base uma incursão
do Rodrigo pelo Universo da música country.
É uma paixão antiga dele. Começou sozinho, a apresentar umas canções escritas
por ele e pela mulher, acompanhado apenas por guitarra acústica. Entretanto o
Rodrigo “encostou” o projeto porque não estava a funcionar como ele idealizava.
Em 2014 o Rodrigo foi novamente convidado para tocar com este projeto e na
altura pensou em reformular a coisa, de modo a torná-lo mais rude e cru – mais
próximo ao country-rock duro
americano. Para isso resolveu ligar-me para ver se nos entrosávamos a tocar. Já
nos conhecemos há mesmo muitos anos, mas ainda nunca tínhamos tido a
oportunidade de tocar juntos. Felizmente a coisa correu bem. Em pouco tempo
fizemos várias músicas e fomos descobrindo que temos bastantes gostos em comum
no que toca à música. Foi nessa altura que surgiram os Country Playground que
podes ouvir agora. O que nos
motiva a continuar é o gozo e o prazer extremo que esta banda nos dá. Nós
gostamos mesmo de tocar e estamos os dois a fazer o que mais gostamos sem
qualquer tipo de compromisso.
De que forma Country Playground se
afasta ou aproxima dos vossos projetos anteriores?
Penso
que tanto no meu caso como no do Rodrigo, a coisa mais óbvia é o facto desta
banda ser mais soft que Born a Lion
ou Canker Bit Jesus. Mas há mais coisas. Nos Country Playground estamos a fazer
canções que tanto resultam bem com uma palete enorme de instrumentos, como
apenas com uma guitarra acústica e voz. Além disso o facto de sermos apenas
dois e estarmos bastante concertados e agradados com o que estamos a fazer
torna tudo mais fácil. A logística é simples e nunca ficamos à espera de mais
ninguém para fazer as coisas. De qualquer forma, o que aproxima Country
Playground de todos os nossos projetos anteriores é a forte veia rock que nós temos e que dificilmente
conseguiremos tirar de nós. Penso que a genuinidade dos Country também é algo
em comum com o que fizemos até agora – tanto eu como o Rodrigo nunca estivemos
a fazer frete onde tocámos, estamos sempre de corpo e alma, e neste caso isso
também não é diferente.
Quais são as vossas principais
influências?
Nós
somos influenciados por tudo o que ouvimos e por tudo o que fomos aprendendo e
fazendo ao longo dos anos. De qualquer forma, eu e o Rodrigo partilhamos o
gosto pelo country-rock do final dos
60, início dos 70. Gostamos e ouvimos bastante Neil Young, Buffalo Springfield,
Townes Van Zandt, Johnny Cash, Eagles, Willie Nelson, Stones (principalmente da
altura do Exile e do Sticky Fingers), Gram Parsons, Dylan, Led Zeppellin...
Acho que estas são as principais referências que sentimos em Country
Playground...
Vocês autodenominam-se de uma banda
de electric farmer rock. O que significa
isso exatamente?
Essa
denominação surgiu de uma brincadeira quando estávamos a preparar as coisas
para o lançamento do disco com o pessoal da editora. Nós temos um grande amigo
que é um grande melómano e uma pessoa que é extremamente ativa na dinamização
cultural de Leiria. Muito provavelmente é ele quem está na origem do movimento
atual que existe em Leiria. Ele consegue sempre arranjar formas muito ecléticas
e originais para descrever as várias bandas que aparecem. A certa altura da
nossa reunião alguém se lembrou de perguntar como é que essa pessoa
classificaria a nossa banda e alguém disse: electric
farmer rock. Foi a risada geral, mas depois começámos a ver que apesar da
coisa ter jeitos de brincadeira, não fica mesmo nada longe do que fazemos.
Temos o nosso som cru e sujo, com jeitos de country,
mas ainda assim muito rock: electric farmer rock!
Por quê a escolha do melro como
capa e como título para o álbum?
O
melro é algo que por acaso já está junto a Country Playground desde que me
juntei ao Rodrigo em Maio de 2014. Fazia parte do nosso primeiro logótipo. É
uma ave que ambos gostamos muito, remete para uma ideia de liberdade e está
muito ligado ao Universo country –
muito ligado à natureza e aos animais. Além disso, quando estávamos a gravar,
usámos o melro como ponto de foco para a gravação do instrumental. Basicamente tentámos
transmitir alguma coerência aos diferentes temas, imaginando sempre a figura de
um melro enquanto estávamos a gravar. Sei que é uma coisa que parece vinda do
mundo metafísico, mas a verdade é que para nós resultou bem. Com o álbum pronto
o nome já não ia ser outro: Turdus Merula
– o nome científico do melro preto. A capa veio depois. É da autoria da Ana
Sousa, a mulher do Rodrigo, e apenas lhe pedimos 2 coisas: que tivesse um melro
na capa e que remetesse para a ideia de uma capa de um vinil antigo. Quando ela
nos mostrou o resultado ficámos extremamente contentes – ela concretizou
completamente o que pretendíamos.
Para já os Country Playground são
um duo. Tiveram a ajuda de mais algum músico na gravação de Turdus Merula?
Não.
O disco foi inteiramente produzido por nós. Fomos nós que gravámos e fui eu que
misturei e masterizei. Ainda gravámos outros instrumentos mas resolvemos
retirar tudo e apresentar o disco tal e qual como tocamos ao vivo. As músicas
como estão já estão bastante cheias. Além disso, o acrescentar outros
instrumentos tirava genuinidade ao disco – nós sentimos isso na altura.
E têm perspetivas de vir a incluir
mais algum elemento ou não?
Isso
não passa pelos nossos planos agora. Estamos mesmo focados em fazer acontecer
as coisas apenas os dois. De qualquer forma, isto não quer dizer que no futuro
não possa haver colaborações com outros músicos. Mas os Country Playground
somos nós os dois e pretendemos manter a coisa assim. Como te disse
anteriormente, o facto de sermos apenas dois e estarmos muito focados no que
queremos fazer e como o queremos fazer, é algo que nos facilita bastante a
vida, não apenas no processo criativo, mas em toda a logística que envolve ter
uma banda.
E em formato duo, como tem
funcionado ao vivo?
Acho
que tem funcionado muito bem. Os concertos são bastante enérgicos e intensos. O
pessoal fica surpreendido por as canções parecerem tão cheias com apenas os dois
instrumentos e as vozes. Eu e o Rodrigo entregamo-nos completamente nos
concertos e acho que quem nos vê consegue sentir bastante as canções perceber
essa nossa entrega. Também temos notado um interesse crescente pela banda e já
notamos que há pessoal a cantar os refrões... Só nos falta começar a tocar fora
da nossa “casa” para podermos confirmar se realmente conseguimos contagiar mais
pessoal com a nossa energia.
Este álbum já estava gravado há
quase um ano. Porque demoraram a coloca-lo ca fora? Mas já estava disponível online antes ou não?
O
álbum foi gravado em agosto de 2014. Estava pronto na primeira semana de setembro,
inclusivamente com todo o artwork
feito. Confesso que não nos esforçámos muito na busca por uma editora. Apenas
sondámos as que estão na nossa região, mas estas já tinham os seus planos e por
diferentes motivos, não nos conseguiam encaixar nos seus catálogos. Começámos
então a planear a edição de autor digital do disco – sem uma editora que o
distribua, o mais provável é acabares com uma caixa cheia de CDs debaixo da
cama ou na garagem. Estávamos para o fazer em outubro do ano passado mas nessa
altura o Rodrigo teve de ir trabalhar para fora de Leiria. Isso deixou tudo em standby. Quando ele regressou em março
deste ano retomámos o nosso plano. Para isso fomos ter com a Preguiça Magazine
para nos ajudar com a promoção online
do disco. A Preguiça é uma publicação digital que tem bastantes seguidores na
zona de Leiria (e não só) e que nos podia ajudar a dar a conhecer que tínhamos
um álbum na rua. O que aconteceu a seguir surpreendeu-nos completamente: a
Preguiça perguntou-nos se nós não queríamos ser a sua primeira edição
discográfica. Já não contávamos com nada disso, mas foi muito bom. Permitiu-nos
fazer o vídeo, ter distribuição e promoção – algo que dificilmente teríamos se
tivéssemos arrancado por nossa conta apenas com a edição digital.
Projetos para o futuro? O que têm
em vista?
A
nossa prioridade número um é arrancar para a estrada. E estamos a trabalhar
para isso agora. Queremos dar a conhecer os Country Playground ao vivo ao maior
número de pessoas possível. Acho que é importante que as pessoas nos vejam e
oiçam para nos conhecerem. Também já temos muitas músicas novas que podem vir a
aparecer num futuro disco... mas tudo a seu tempo.
Mais uma vez obrigado! Querem
acrescentar mais alguma coisa?
Só
queremos agradecer o convite para a entrevista. Também agradecer a todas as
pessoas que nos têm apoiado e que nos têm seguido. Apesar de ainda não poder
adiantar datas da tour, posso já
dizer que dia 12 de setembro, pelas 17:00, vamos apresentar o Turdus Merula na Fnac do Chiado. Será a
nossa primeira apresentação fora de “casa”, pelo que convidamos quem estiver
por perto e que nos queira conhecer a aparecer. Vão passando pelo nosso facebook para ficarem ao corrente das
datas da tour e de todas as novidades
dos Country Playground.
Muito obrigado!
Nós é que agradecemos! Grande abraço!!!
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