Começar uma
carreira com o patrocínio de Roger Waters deve ser um sonho tornado realidade
para qualquer músico. Aconteceu com os Blurred Vision que, curiosamente, só
surgiram como banda após o lançamento de Another
Brick In The Wall. Mas este trio composto por dois irmãos iranianos, que se
formou no Canadá e agora está sedeado em Londres não se iludiu com essa bênção e
trabalhou sério num álbum – Organized Insanity
– de grande qualidade, como o demonstra as quatro nomeações para os Grammy’s. Sepp Osley, um dos irmãos,
mostrou-nos como o rock pode servir
para transmitir mensagens de paz e tentar unificar um mundo em permanente convulsão.
Olá Sepp!
Obrigada por nos concederes esta entrevista! Importas-te de nos falar um pouco sobre
a história dos Blurred Vision até agora?
O prazer é meu. Bem a história da banda é certamente
rica em conteúdo, mas vou tentar condensar num resumo. Lançamo-nos em 2010 aquando
do nosso remake do icónico Another Brick In The Wall 2 dos Pink Floyd que se
tornou um hit viral, bem como um grito de guerra para a liberdade para a
juventude do Irão. Chamamo-la de Hey Ayatollah Leave Those Children Alone em
apoio à revolta da juventude que ocorreu em 2009/2010 naquele país, protestando
contra a fraude das eleições da altura. O vídeo tornou-se global e,
naturalmente, nós ganhamos a amizade e apoio de um de nossos grandes heróis
Roger Waters. Essencialmente, foi assim que os Blurred Vision nasceram. Fomos
empurrados para o centro de um grande movimento político e social, bem como nos
tornamos uma nova banda Rock 'N' Roll com algo para dizer - com um propósito. O
vídeo, realizado pelo aclamado cineasta Babak Payami, ganhou vários prémios e
elogios em todo o mundo e foi nomeado um dos 100 melhores vídeos pop mais
influentes de todos os tempos de pela The Art Of Pop Video da Televisor. Mais
tarde, em 2010, conhecemos o nosso baterista Ben Riley e trabalhamos
incansavelmente para chegar ao ponto em que estamos agora com o nosso álbum de
estreia. Tivemos a sorte de estar presentes em alguns concertos e ocasiões
históricas entre o momento do lançamento do nosso álbum de estreia, como sendo
a única banda canadiana convidada para se apresentar no The Beatles 50th
Anniversary Concert in New York City realizando no World Pride onde dois
milhões de pessoas se reuniram, tornando-nos os embaixadores da associação de
caridade sedeada em Nova Iorque WhyHunger, juntando-nos a ícones como Bruce
Springsteen, Jackson Browne e Carlos Santana na luta contra a fome e a pobreza.
O que vos
motivou a erguer esta banda?
O imenso poder e força do Rock 'N' Roll para mudar o
mundo! Quero dizer, não foi só pelos clichês das festas, meninas e fama. Esse
charme perde-se rapidamente e é melhor ter boas razões para te manter ativo, caso
contrário vai-se queimar-te e desaparecer.
O facto de terem
sido apoiados por Roger Waters no início da vossa carreira tornou o vosso caminho
mais fácil ou com mais responsabilidade?
Bem, seguramente que contribui para uma boa maneira de
quebrar o gelo. Mas nós não pensamos nisso como tendo posto mais pressão sobre
nós. Acho que conseguimos fazer isto por nós próprios e não ser apenas mais uma
banda de homogeneizada forma de pop. Desde o inicio que deixamos bem claro que
estávamos aqui para dizer coisas que iam ser polémicas para alguns, mas
unificantes para muitos outros, especialmente a nossa geração e os jovens do
mundo que acho que têm sede de uma banda como a nossa.
Como
aconteceu esse apoio?
Quando regravamos Another Brick... enviamo-la para
Roger e recebemos a sua bênção! Essa foi a primeira parte que precisávamos
porque não queríamos lançar nada sem o seu consentimento. Depois disso tivemos
o seu apoio para o que estamos a tentar fazer e que continua até hoje. Ele sabe
que nós somos da mesma têmpera daqueles que olham para cima e foram inspirados
para usar a música como uma ferramenta para a Paz. Estamos incrivelmente
agradecidos e motivados por termos Roger Waters a apoiar-nos nas nossas vidas e
na nossa própria viagem musical, não só como uma inspiração musical mas também
filosoficamente.
Porque a
vossa saída de Toronto para Londres? Procuravam alguma coisa em particular?
Para ser honesto e num determinado sentido, Londres
sempre foi a nossa casa longe de casa. Lançamo-nos em Londres em 2010 e essa
cidade sempre foi muito querida para nós, pelo que evoca e encarna. Crescemos
com a música e cultura britânicas de forma que vir para aqui fez todo o sentido
para nós, especialmente com o lançamento do álbum de estreia e tudo o que se
seguiu.
Organized Insanity
é a vossa estreia, cinco anos após o nascimento como banda. Tempo suficiente
para as músicas se desenvolverem e transformarem na verdadeira obra de arte que
são. Suponho que nunca sentiram qualquer tipo de pressão…
Descobrimos muitas coisas neste intervalo de 5 anos,
mas também temos estado bastante ocupados com o crescimento da banda. Nunca
quisemos lançar o nosso álbum de estreia só por lançar. Queríamos ter certeza
de que tudo estava pronto e - mais importante - que nós estávamos prontos. Para
nós demorou tanto tempo a construir porque queríamos um nome que tivesse
história e que os fãs pudessem absorver e envolver-se. Agora, por causa dessa
decisão, o futuro vai mover-se a um ritmo muito rápido para o grupo mas estamos
totalmente prontos para isso.
Podemos ouvir
diferentes cenários na vossa música, mas, um dos mais intrigantes e emocionantes
são as influências do Oriente Médio. Naturalmente, o facto de tu e o teu irmão serem
iranianos acaba por influenciar. Representam memórias da vossa terra natal?
Se olhares para a música popular e particularmente a
partir dos anos 60, os ritmos e melodias do médio oriente e indianos foram muitas
vezes experimentadas. Os Beatles são um nome fácil de escolher, mas certamente
a lista continua com Led Zeppelin, Pink Floyd e tantos outros. O Extremo
Oriente é uma terra antiga, com sabedoria antiga e conhecimento e cultura que nos
atrai a nós, ocidentais. É claro, esquecendo o estado louco dos dias de hoje
com esses fanáticos religiosos a comandar. Mas debaixo dessa camada fina da
superfície encontra-se um mundo de imensos prazeres místicos e míticos. A Pérsia
é antiga, muito antiga, e ter nascido lá e ter essa ascendência a correr no nosso
sangue, definitivamente dá-nos muito mais credibilidade para usar as melodias e
ritmos antigos e essa mistura de dois mundos sai muito naturalmente em nós.
E uma canção como
No More War está relacionada com os problemas associados ao teu país?
Não! No More War é exatamente isso, uma exigência que nós,
como comunidade global, fazemos. Parar de bombardear e matar pessoas! Para ser
muito franco, nós não somos do tipo de termos a nossa mão nos nossos corações onde
nascemos, crescemos ou vivemos. Vemo-nos como cidadãos deste planeta, o grande
conjunto azul, muito verde, e queremos usar a nossa música para unificar o mundo
e derrubar os muros e fronteiras que nos separam uns dos outros.
Por que um
título como Organized Insanity? Tem algum significado especial?
Organized Insanity foi escolhido porque é uma frase
que representa perfeitamente o mundo em que vivemos. Num momento pode tudo
desmoronar-se e ainda assim achamos que está tudo organizado e no seu devido lugar.
Na realidade, o título não se aplica apenas ao mundo político/social em que
vivemos, mas também às nossas vidas pessoais, a forma como tentamos equilibrar
a loucura do nosso dia-a-dia. Seja no amor, na família ou nos empregos, tudo é caótico
e nós de alguma forma tentamos manter isso "organizado".
Voltando ao
single digital de 2010, Another Brick In The Wall onde fizeram referências ao
Ayatollah. Como foi a sua aceitação? E tiveram alguns problemas ou não?
Bem, como já referi alguns detalhes desse lançamento
nas perguntas anteriores, vou só dizer que a receção foi tão boa, que deu à luz
esta banda e não, nunca tivemos quaisquer tipo de problemas.
Quanto a
concertos, recentemente abriram para os Uriah Heep. Como foi essa experiência?
Foi fantástica! Não há nenhuma outra palavra para isso
a não ser um monte de sinónimos. Vivemos um bom momento não só por tocar no
mesmo palco dos Heep como também pelos seus fãs que são muito difíceis de
agradar e é melhor estares ao teu melhor nível para os conquistar. Foi uma
explosão fazer isso todas as noites e iríamos de cabeça para a estrada com os Heep
a qualquer momento, em qualquer fase da nossa carreira o que pode significar que
eles possam abrir para nós numa próxima vez!
Quais são os
vossos projectos quer pessoais, quer para a banda para os próximos tempos?
Estamos a preparar uma longa tournée para promover o
álbum de estreia. Deveremos fazer isso durante pelo menos mais 6-8 meses antes
de entrar em estúdio para gravar o segundo álbum, coisa sobre a qual estamos
muito animados!
Muito
obrigado Sepp. Tudo de bom para vocês! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Obrigado, muito obrigado pela entrevista e pelo tempo
que despendeste connosco. Estamos ansiosos e esperançados de poder ir a
Portugal em breve para tocar para os fantásticos fãs portugueses do rock.
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