Assim de
repente somos assaltados por um
estranho nome (para rock,
naturalmente), totalmente desconhecido – Dona Elvira. Um conjunto de músicos
experientes, oriundo dos mais diversos quadrantes juntou-se para criar a
primeira grande sensação do rock
nacional deste ano. Naturalmente, quisemos conhecer melhor as histórias e
segredos que envolvem esta nova e excelente proposta nacional.
Olá, tudo bem? Quem são os Dona Elvira e como
surgiram?
Está tudo ótimo, bem dentro do
espírito Dona Elvira. Fazemos por estar sempre bem, é esse espírito que nos
carateriza enquanto banda! Somos cinco músicos bem-dispostos com uma paixão
pela música comum a todos mas que adquiriu um sentido especial quando nos
juntámos os cinco para tocar, criou-se uma mística qualquer que se tornou muito
forte. Decidimos chamar-lhe “o espírito Dona Elvira” e tem sido “a nossa frase”
de explicação para tudo de bom que nos está a acontecer. Surgimos em 2014 como banda de covers a convite do Francisco Durão
(teclados). Fomos tocando aqui e ali mas interpretávamos os covers de tal forma que nos íamos
afastando cada vez mais dos temas originais até que pouco tempo depois o Tiago
Caldeira (guitarras) sugeriu passarmos para originais. O Paulo Lawson
(vocalista), do nada, diz que já tinha pensado nisso e que já tinha trabalho
adiantado apresentando um sem fim de letras! O António Oliveira (bateria) e o
Sérgio Martins (baixo) fecharam a secção rítmica e nunca mais olhámos para
trás. Foi compor até ao Verão de 2015 quando começámos a gravar.
Sendo que já todos tiveram diversas experiências,
como se proporcionou esta junção?
Essa é a parte gira. Já todos andámos
por estilos muito diferentes, da música tradicional portuguesa ao rock puro passando pelo punk, todos trazíamos uma bagagem
totalmente diferente uns dos outros e a curiosidade de cada um por essas mesmas
diferenças acabaram por nos juntar. E depois foram as composições. Começaram
por ter ingredientes de muitos estilos e isso mexeu connosco. Não só era óbvio
que iríamos tocar juntos como acabou por ser o elemento que distingue os Dona
Elvira, tudo entrelaçado para atingir o que queríamos desde o início: fazer rock português e em português.
E porque um nome tão peculiar como Dona Elvira?
Foi o Francisco. Cada um começou a
propor ideias para nomes, mas como cada ideia vinha fortemente influenciada
pelas nossas raízes musicais individuais, nenhum nome estava a definir bem o
que estávamos a criar. E nisto o Francisco sai-se com Dona Elvira. Todos
gostámos. Todos visualizámos uma Dona Elvira qualquer e ficou. Há malandrices
nas mentes de alguns, ou de todos!
Histórias e Segredos é nome do vosso trabalho de
estreia. Que histórias e segredos, efetivamente, nos querem contar?
As histórias são como fotografias daquilo
que toda a gente sente quando pensa que se apaixona e quando percebe que afinal
não se apaixonou assim tanto, ou quando ama mas não é correspondido, ou quando
sonha com qualquer coisa mas afinal não era bem o que ambicionava, ou quando o
sonho se torna realidade e é muito mais do que se poderia imaginar… São
alegrias e vitórias e uma ou outra derrota… são pessoas, somos todos nós, és tu
também, é toda a gente porque todos nós de uma forma ou outra passamos pelas
mesmas coisas e o que sentimos não é assim tão diferente do que as outras
pessoas sentem. Os segredos são malandrices inocentes. São coisas que todos
fazemos e que não contamos a ninguém mas que tantas vezes, do nada, saltam-nos
à cabeça e automaticamente damos por nós a sorrir e só nós sabemos porquê, mais
ninguém. E isso é bom!
E, na vossa opinião, a melhor forma de contar essas
histórias e segredos é exclusivamente em português?
Sim, tem que ser em português. Isso
ficou definido desde o início. A nossa língua é muito expressiva, transmite muito
bem sentimentos. E nós todos também nos sentimos muito portugueses e quisemos
que a nossa música também fosse muito portuguesa. Por isso é que fomos
brincando sem preconceitos com as géneses do rock português e remexer tudo até conseguirmos a nossa sonoridade! Achamos que a música e a língua juntas são um
património cultural que é apreciado por cá mas não só; é importante manter.
E musicalmente não é um disco linear. Como se
fundem os vossos diferentes backgrounds musicais no estilo Dona Elvira?
Pois! Lá está. Há um grande
entrelaçar de estilos. Todos contribuímos com ideias quando estamos a compor.
Invariavelmente, surgem imensas ideias influenciadas pela experiência musical
de cada um, seja como músicos ou como ouvintes, e depois trabalhamo-las até se
fundirem e soarem a algo que nos emociona e faz-nos passar para os pormenores e
se torna vincadamente rock português.
Se não emociona e se começa a soar a pouco português, vai para a gaveta. Por
isso é que há temas que puxam mais para o Rock
melódico, outros para o alternativo, e outras são de acentuado cariz folk punk, tudo debaixo do chapéu do rock. E a julgar pelo que está a ser
trabalhado para o segundo disco, parece que assim se vai manter. E ao vivo
funciona lindamente.
Um estilo assumidamente rock. E aquele rock que se
convencionou chamar de rock português. Acaba por ser o que melhor vos
identifica?
Sim, sem dúvida. Gostamos de brincar
com “portuguesices” do passado e da atualidade. Neste disco há muitas pistas
disso mesmo, a tal Elvira que veio do
interior para Lisboa, a resposta ao saudosismo com o tema Recomeçar, a mensagem (dura) do Nada
Muda Num Instante, a marota da Mondadeira…
tudo englobado numa sonoridade rock,
onde todos nos revemos. A conjugação destes elementos é sem dúvida o que melhor
nos identifica.
Referiram numa entrevista recente que o rock está a
voltar em força. Sentem mesmo isso? Pergunto isso, porque em Portugal
continua-se a não se apostar nos valores sérios em detrimento de muito lixo. O
que têm a dizer a este respeito?
Escolhemos o nosso caminho e
mantivemo-nos sólidos. Começámos a tocar ao vivo fomo-nos dando a conhecer
devagar, e aí começa a surpresa! Começámos a perceber que havia uma certa fome
de rock, até de públicos de outros
géneros que inesperadamente nos cumprimentavam precisamente por estarmos a
tocar rock. Nós todos enquanto banda
percebemos as modas, ora mais para aqui, ora mais para lá, agora uma cena a
todo o vapor que depois desaparece e dá o lugar a outra, mas o rock é tão transversal… e está sempre
presente. Dizemos com total convicção, neste nosso percurso percebemos que há
muito espaço para o crescimento do rock
em Portugal, as pessoas querem. Deve ser um dos poucos estilos que não rouba
espaço a outros géneros, convive bem, os players
da indústria não devem ter receios. E é giro quando as pessoas percebem que os
Dona Elvira são mesmo aquilo que se imagina ser uma banda rock, 5 tipos a compor juntos fechados em estúdio, a passar por
histórias inacreditáveis juntos, a viverem aventuras que as pessoas acham que é
só nos filmes das bandas lendárias… Não é nada, isso existe, e nós fazemos
parte dessa escola. O público gosta disso. Marca uma certa diferença face à atualidade.
Sabes porquê? Porque é rock!
Já há novidades a respeito da apresentação deste
álbum ao vivo?
Já começa a haver novidades. É o que
dissemos antes, talvez contra algumas expetativas, o público quer rock e temos sido contactados por vários
pontos do País. Mas não vamos perder a cabeça e deitar ao chão um estratégia
que está bem definida. Lançámos o disco em versão digital, passadas duas
semanas estávamos no TOP 50 nacional, pouco depois a nossa editora informou-nos
que estamos no top do ranking do Spotify, o iTunes deu-nos
um destaque inesperado… Portanto, a nossa música está a passar! Brevemente
lançaremos o CD em formato físico, estamos bem acompanhados por profissionais
que nos deixam muito confortáveis e chegámos àquele ponto que nos podemos
dedicar a tocar e deixar esta gente maravilhosa que nos rodeia fazer o seu
trabalho. Sem querer levantar muito o véu, em abril vamos começar a aparecer
muito mais…
E para o futuro, que projetos estão previstos para
os Dona Elvira?
Para já estamos muito concentrados no
Histórias e Segredos e estamos a apreciar toda a máquina que entretanto se foi
montando à nossa volta. Isto também foi giro, assim de repente percebemos que
já não somos só cinco, a família Dona Elvira agora conta com imensas pessoas,
cada uma com uma função específica e todas a trabalharem para objetivos comuns.
Isto é mesmo giro, estamos mesmo a gostar de ter sempre pessoas à nossa volta,
mas também sabe bem voltar ao estúdio, só os cinco, e tocar só por tocar e do
nada um de nós gritar GRAVA, GRAVA, ESTE VAI PARA O PRÓXIMO DISCO!!! É táo bom!
Mais uma vez obrigado. Querem acrescentar mais
alguma coisa?
Queremos sim. Queremos agradecer-te
muito. Por esta entrevista mas por todas as entrevistas que fazes e por todos
os reviews a todos os outros músicos.
Há muito boa música em Portugal que merece ser apreciada e dada a conhecer. É
cultura, é diversão, é um modo de vida, é música! É preciso ter consciência que
sem quem escreva sobre o que há de bom por aí, há o risco de coisas boas não
serem ouvidas. Portanto, o obrigado somos nós que te damos ti e à Via Nocturna.
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