Entrevista: Dany M

Antigo músico de bandas como os 100 Complexos, Daniel Monteiro, aka Dany M, em boa hora se aventurou sozinho. Com um conjunto de temas de grande personalidade e diversidade e um leque de grandes músicos, escreveu e gravou Beyond Reason, um disco de estreia bastante auspicioso. Foi com um guitarrista criativo e acidentado que Via Nocturna falou…

Olá Daniel, tudo bem? Quando sentiste que estava na altura de avançares para um projeto desta envergadura?
Olá Pedro!! Acho que não houve um momento em particular, houve uma espécie de efeito dominó de circunstâncias que se foram conjugando, e a dada altura o passo óbvio era fazer este registo em estúdio, isto aconteceu em 2016. Tinha este sonho faz algum tempo, e quando se vive rodeado de família, amigos e colegas que nos inspiram e motivam, as coisas acontecem de forma natural.

Sendo que tens bastante experiência como guitarrista e até baixista, noutras bandas, esta foi a primeira vez que avançaste sob o teu próprio nome?
Sim estou pela primeira vez a solo. Sabes, estar numa banda tem muitas vantagens, mas também acarreta muitos problemas, por exemplo, às vezes encontrar espaços de ensaio suficientemente grandes para comportar o ego gigante de alguns é impossível (ah!ah!ah!)… falando sério (se bem que de certeza que houve gente que se identificou com o comentário) … a meu ver o maior problema de uma banda é conseguir ter toda a gente motivada, a remar na mesma direção e com o mesmo objetivo. Quando se fala em projetos de originais, estamos a falar que vais investir o teu tempo, energia e dinheiro sem nenhuma garantia de retorno a curto prazo, se não tiveres um grupo de pessoas muito especial, isso vai acabar por se tornar um problema, e eu definitivamente devido a experiências passadas quis evitar isso, daí o avançar com o projeto a solo.

E foi, também, a primeira vez que te aventuraste com os vocais?
Eu já tinha feito backing vocals anteriormente, vocalista principal foi novidade. O nível de importância da voz principal é muito grande, mas foi uma responsabilidade que tive de assumir em função do que queria fazer.

E para isso chamaste a Sandra Oliveira dos Blame Zeus para coaching, certo? Mas ela acabou também por contribuir nos backing vocals?
Sim, quando parti para esta aventura fiz uma análise, o meu ponto forte eram as minhas músicas, o meu ponto fraco claramente era a voz, e tinha de contrariar e trabalhar esse ponto para ser bem-sucedido. Fiz uma pesquisa de professores de canto por aí, e o meu produtor sugeriu a Sandra, que eu não conhecia, mas coincidentemente até é esposa de um grande músico e amigo com quem tive o prazer de tocar. Ela acabou por se tornar uma das pessoas centrais na qualidade final do álbum e a quem estou muito grato. Existem muitos professores a quem pagaria aulas, que se estariam nas tintas para se aprendia ou não, para se o meu objetivo era atingido ou não, mas ela compreendeu exatamente o que eu queria, e massacrou-me até eu chegar lá! Devido a alguns contratempos e ao facto de eu ter um trabalho de 40 horas como vendedor, o álbum foi atrasando um pouco, quando estávamos a fechar e faltavam apenas gravar as backing vocals em algumas músicas, a Sandra foi a escolha obvia não só por ser dona de uma voz incrível, mas também porque já estava à vontade com as músicas, por me ouvir cantar nas aulas e no estúdio, também nas aulas já tínhamos feito algumas experiencias nesse sentido.

E recrutaste um conjunto de músicos de grande profissionalismo e classe. Foi fácil convencer todos eles a participarem no teu disco?
Foi realmente uma honra e privilégio trabalhar com todos, o entusiasmo e profissionalismo por eles depositado na abordagem a cada música foi para mim muito gratificante. Tirando eu que fiquei com as guitarras e as vozes que foram escolha minha, a escolha do baterista, baixista e teclista, foi da responsabilidade do meu produtor Vítor Neves. Ele também foi uma peça fundamental, não só por ter escolhido músicos de grande calibre, mas também pela qualidade, cuidado, energia que depositou neste trabalho. 

O que ressalta à vista no teu disco é a diversidade musical. Foste tu o principal responsável pelas composições? O que mais te influenciou?
Todas as músicas e letras deste álbum são da minha autoria. Tenho uns gostos musicais bastantes diversificados, o meu pai sempre teve grandes discos em casa e habituei-me a ouvir um pouco de tudo. Quando escrevo música não gosto de me limitar, tenho uma política go with the flow (ir ao sabor do vento). A influencia dos Blues, talvez às vezes seja ténue, mas é aquela que vai estando sempre mais presente.

Deste disco já foram registados dois vídeos, curiosamente para temas bem distintos. Foi essa a intenção? Mostrar algumas das diferentes atmosferas existentes em Beyond Reason?
Quando apresentei os temas ao produtor, conversamos sobre a variedade musical, e foi algo que decidi abraçar, acho que criei um álbum fácil de ouvir, em que não há momentos monótonos e que qualquer pessoa independentemente do estilo musical de eleição pode encontrar sempre uma faixa com a qual se identifique, até porque hoje em dia com o formato digital as pessoas podem comprar num álbum apenas as músicas que mais gostam.

Essas atmosferas são, efetivamente, tão díspares que até temos uma secção de rap num tema. Como se proporcionou?
Em 2015 já tinha decidido ir a estúdio e já tinha os projetos da maior parte das 10 músicas. Nesse mesmo ano, o tema She’s So Hot apresentei-o ao vivo numa festa de Natal para testar reações. Nessa festa um colega meu cantou hip-hop, como fiquei surpreendido pelo talento dele, decidi convidá-lo e reformular a música que senti que faltava ali uma “pitada de sal”. Entretanto quando já estava a concluir as gravações, deparei-me com um grande problema, que foi o inglês dele não ser grande coisa. Assim, fui obrigado a arranjar um rapper sob pressão, uma amiga minha conhecia e apresentou-me o Marco AKA Massive, fizemos algumas experiências, e ele acabou por ser a cereja no topo do bolo!

Para ires para palco, já tens uma banda definida? Serão estes músicos que agora gravaram contigo?
Devido a terem a agenda preenchida os músicos que gravaram comigo não me vão poder acompanhar ao vivo, no entanto sem querer levantar o véu, posso adiantar que a banda que vai acompanhar ao vivo será sem dúvida do mesmo nível.

Por falar em palco, como está a tua agenda para o verão?
A minha aposta para apresentação do meu trabalho ao vivo será em outubro, algo que foi planeado em função das agendas dos músicos que me vão acompanhar e por um lado ainda bem que assim foi, pois tive um “pequeno” acidente de trabalho que obrigou a uma paragem em junho/julho. Certamente e terei muito gosto assim que tiver datas concretas de as partilhar convosco!

E depois de Beyond Reason até onde pensas chegar? Que objetivos ainda tens para concretizar?
Eu estou a apostar numa forte presença online, aproveitar a janela que é a internet, para tentar fazer chegar este álbum ao máximo de público possível. O objetivo principal a curto prazo é rentabilizar ao máximo este trabalho, de forma a poder investir num segundo álbum que seria a evolução natural deste, e gostava também de um dia poder fazer um álbum em português.

Obrigado Daniel! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Queria agradecer imenso toda a vossa simpatia, e vosso apoio na divulgação de músicos menos conhecidos, infelizmente quando se entra no mundo da música como músico/banda independente, o que mais se vê são portas fechadas, e quem está lá dentro nem sequer se digna de espreitar para ver quem está a bater à porta. Por isso, muito obrigado por tudo o que fazem pela música portuguesa!!!

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