Foi durante um concerto dos Gazua em
Beja que João Morais se cruzou com a viola campaniça. De tal forma ficou
impressionado que o seu interesse o levou a criar um projeto paralelo ao qual
batizou de O Gajo – um nome de rua que deita abaixo qualquer formalismo, afirma
o músico. Longe do Chão é o resultado primeiro dessa experiência e
foi a respeito desta nova aventura que fomos conversar com João Morais.
Olá João, tudo bem? Dado o teu trajeto
com os Gazua, sentia-se que a qualquer altura tu pudesses arriscar ainda mais.
Mas a viola campaniça acabou por ser um enorme surpresa… Quando te cruzaste com
ela?
Cruzei-me
com a viola Campaniça num concerto de Gazua em Beja. A abrir o nosso concerto
estava o Paulo Colaço, um tocador da viola Campaniça e no backstage fiquei impressionado com o som da viola. Ele falou-me um
pouco do instrumento e quando regressei a Lisboa decidi comprar uma. Contactei
um amigo meu, o Marco Vieira que está à frente de uma escola de música
tradicional em Odemira e ele deixou-me ficar com uma que estava encomendada
para a escola. A partir daí foi dar asas à imaginação.
O que te influenciou ou te motivou a
avançares para um álbum desta natureza?
Sempre
tive muitas referências fora do Rock
e sou um grande admirador da World Music.
Esta ideia já andava em banho maria há algum tempo, faltava só o instrumento
certo.
Já tinhas tido experiências com a
guitarra portuguesa. Como passaste de uma para a outra?
Aprendi
a tocar guitarra portuguesa e fiquei fascinado com o som e com a técnica, mas
as minhas composições não funcionavam com a afinação dessa guitarra. Eu teria
que optar e decidi que não queria desconstruir a afinação da guitarra
portuguesa pois queria continuar a tocar alguns fados e corridinhos com ela.
Tinha por isso de procurar outra opção.
A guitarra portuguesa não te seduziu
assim tanto como a campaniça?
A
guitarra portuguesa seduziu muito, mas não quis deixar de tocar os fados que
aprendi a tocar nela.
Também é
curioso que este é um álbum dedicado a Lisboa, logo não seria mais lógico a
utilização da guitarra portuguesa?
Este
disco Longe do Chão é dedicado a Lisboa. Sempre toquei guitarras Americanas ou
Japonesas e por isso utilizar uma viola Portuguesa era o meu principal objetivo. Quis situar-me no mundo e Portugal é a minha identidade
sem fronteiras regionais.
Definitivamente, estagnação é uma
palavra que não existe no teu dicionário. Como reagiram os teus fãs a esta
aventura, no mínimo, diferente?
Não
sei se tenho fans… tenho pessoas que admiram o meu trabalho e as que realmente
me seguem, sabem que não consigo ficar muito tempo no mesmo registo. Tive
formação artística e repetir fórmulas é algo que não vejo como evolução. Não pinto o mesmo quadro duas vezes só porque o
primeiro teve boa recetividade… A
resposta a este trabalho tem sido muito positiva e tem superado todas as minhas
expetativas.
Sendo este um instrumento alentejano,
pergunto-te se tens alguma ligação com essa parte do país?
Não
tenho relação com o Alentejo. Sou apenas um admirador da região e espero vir a
viver por lá um dia. Quero arranjar
outras violas como a Braguesa (de Braga) ou uma Amarantina (de Amarante).
Procuro acima de tudo um som Português.
Aqui surges a solo, apenas com uma voz
convidada num tema. Porque tomaste essa decisão?
Por
questões de autonomia. Direcionei a minha vida para me poder dedicar mais à música
mas não é fácil arranjar uma banda com a mesma disponibilidade. Assim torna-se
muito mais fácil.
Tens ideias
de continuar com este projeto alargado a mais alguns convidados ou participações?
Este
é um projeto a solo completamente aberto a participações e convidados. Só não quero compromissos a médio e longo prazo.
Outra curiosidade é o nome do projeto.
Porque O Gajo? Há aquela ideia deste álbum e projeto serem do “gajo dos Gazua”.
Será isso?
Não.
É um nome fácil de decorar e que deita abaixo quaisquer formalismos. Seja em
que palco for, O GAJO é sempre um nome de rua.
Por falar em Gazua, tens novidades?
Tocamos
dia 11 de agosto em Pinhel e depois disso iremos ver qual o plano de ação. Neste
momento não sei qual será o futuro dos GAZUA.
Finalmente, há projetos para levar O
Gajo para palco? Em que formato será feita essa transposição?
O
GAJO não tem parado de tocar ao vivo. O disco saiu à 2 meses e meio e já dei
mais de 20 concertos. Nunca foi tão fácil! A recetividade tem sido excelente e
há muita gente curiosa por este novo rumo da viola Campaniça. Desde o início do projeto já dei mais de 60 concertos,
e planos é o que não faltam!
Obrigado, João! As maiores felicidades!
Queres acrescentar mais alguma coisa?
Temos
uma grande família de instrumentos tradicionais, procurem-nos que para além de
serem nossos, têm uma grande personalidade sonora! …E apareçam!
so cool!
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