A temperatura em Chicago tem estado muito baixa mas
acreditamos que a mente efervescente de Scott Fischer seja capaz de repor a
normalidade das coisas. De facto, Open 28 Hours mostra mais uma vez um coletivo – Fischer’s
Flicker – com ideias refrescantes (parece um contrassenso, certo?) e muito à
frente. E, também mais uma vez, tivemos uma interessantíssima conversa com o
vocalista e teclista.
Olá Scott, como vão coisas por Chicago? Como preparaste
este novo álbum, Open 28 Hours – a trabalhar durante 28 horas (risos)?
Olá Pedro, é bom voltar a falar contigo! E estás absolutamente
certo - o nome do meu último álbum está, definitivamente, correlacionado com a
minha ética de trabalho e, aparentemente, vou adicionando horas ao relógio para
ter tudo pronto a tempo.
Quando, em 2012, te estreaste com este novo projeto
e lançaste Katmandon't, pensaste que, cinco anos depois, já terias
três álbuns?
Boa pergunta! Com toda a honestidade, tenho uma
tendência a ser excessivamente ambicioso, portanto, provavelmente imaginaria ter
ainda mais em 5 anos, mas como tudo aconteceu no seu devido tempo, este ritmo é
bom para mim. Não gostaria de apressar as coisas e depois não lhe aplicar o
apropriado selo de aprovação!
Mas, se contamos com as tuas outras obras, já
alcançaste a marca de sete discos. Já começa a ser uma marca relevante. Sentes
isso? E isso dá-te mais responsabilidade?
Insistente, Pedro. Sim, especialmente depois de criar,
para este disco, uma música como Mother
Of A Ship que me deixou a pensar "bem, aonde vamos a partir daqui?"
Mas, como o material futuro já está na fase de mistura, estou entusiasmado por
ainda conseguir entregar algo novo e emocionante, garantindo que não seja
redundante com o que já foi dito no nosso catálogo.
Entre Katmandon't e Fornever And Never passaste por uma série de experiências
incríveis. Este período agora foi mais calmo ou não?
Felizmente, sim! A vida ainda está cheia de surpresas
e tento sempre ver o positivo na mudança, mesmo que pareça ser algo traumático.
No entanto, comparativamente, as coisas acalmaram-se. Talvez seja por isso que
este último álbum tem muito mais humor que parecia ter faltado nos últimos dois
lançamentos.
E se há adjetivo que se continue a aplicar ao teu trabalho
é “extravagância”. De onde vem tanta criatividade?
Uau - obrigado, Pedro! Isso é difícil de
responder. Não tenho a certeza de onde vem. Sempre tive uma mentalidade
criativa - pensando nas exceções às regras em vez de nas normas. Costumava
dedicar muito tempo preocupado se as músicas se enquadravam ou não no "nosso
som", mas, como acho que este álbum continua claramente a demonstrar, aprendi
a não ligar a essa preocupação e, em vez disso, espero que o álbum tenha algo que
possa atrair a todos. Há amigos meus que preferem a abordagem mais mainstream, outros preferem mais
vanguardismo. Portanto, tento expressar isso e se alguém não gosta de uma faixa
do disco, deve avançar pois algo lhe irá agradar.
Agora parece que as influências da década de 60/70
são um pouco mais exploradas. Concordas? Era essa a tua intenção desde o início
ou simplesmente o álbum desenvolveu-se nessa direção?
Pessoalmente, essas são as eras para as quais tenho
mais tendência. Tenho uma teoria pessoal que 1973 viu o último pináculo da
música. Tenho a certeza de que muitos vão gozar e discordar, mas, para mim, a
maioria dos meus artistas preferidos de todos os tempos lançaram os seus melhores
trabalhos nesse período de 1973-1975. Por outro lado, fico entediado com apenas
uma era ou género, por isso tento incorporar outros elementos de diferentes
períodos de tempo e estilos.
Curiosamente, na última vez que falamos, abordaste
o próximo álbum dos Fischer´s Flicker referindo que se iria chamar Mother Of A Ship. Esta
música está, realmente, neste disco, mas não o batiza. O que mudou. Por quê?
Mais uma ótima questão – apanhaste-me! Sim, inicialmente
o título do álbum era para ser Mother Of
A Ship (mesmo se olhares para os créditos iniciais do vídeo The In-Betweener, poderás verificar que
diz que é do álbum Mother Of A Ship)!
No entanto, quando chegou a altura de decidir a sequência dos temas, fiquei
cada vez mais preocupado quanto ao título do álbum, na medida em que a
brincadeira de Mother Of A Ship não
encaixava bem em faixas mais graves e sombrias (como Smoke Signals). Alguns amigos meus estavam a encorajar-me a dar uma
oportunidade a Futurama, o show de Matt Groening. Por isso, andava
a assistir a alguns episódios antigos e eles tinham uma cena numa loja de
conveniência com um sinal de néon dizendo OPEN
28 HOURS. Foi aí que pensei que isso expressava perfeitamente a minha
mentalidade com o meu projeto musical. Fazer o que for preciso para conseguir concluir
as coisas. Nunca me deixar ir abaixo. Parecia a única resposta!
E, como parece, continuas a jogar com as palavras...
Adoro! Mas não sou o único a fazer destas coisas. Sun
Ra, George Clinton, Zappa tudo vem à minha mente. E nem sempre me dou bem com outras
línguas, mas definitivamente sou um grande fã de jogos de palavras!
Já agora, qual é o significado de 3 6 9?
Bem, o próprio título vem da rima infantil tradicional
que uso a meio da canção. No que diz respeito ao significado da própria canção,
ela foi escrita durante esse período de "experiências incríveis" como
lhe chamaste anteriormente - ha! Tem
a ver com lidar com a desonestidade num relacionamento e coisas do tipo “chama-os
a todos”!
Existe algum conceito neste álbum? É um álbum conceptual
ou não?
Não especificamente, não. No entanto, a peça central
do álbum (Mother Of A Ship) é um
conceito gigante dentro de si mesmo. E, mesmo assim, Farther To The Sun não se liga especificamente à história - utiliza
continuidade conceptual com personagens anteriores dos meus de álbuns mais
antigos (AstroMan And His Dog Smitz)
Projetos para os próximos tempos? O que tens em
mente?
Grande pergunta! Essa é uma parte de mim que muda
diariamente para que realmente saiba o que acontecerá! Ultimamente, fiz grandes
mudanças para converter muitas áreas do meu espaço para o vídeo de Mother Of A Ship. Com a extensão dessa faixa,
com quase 10 minutos, é um compromisso. Vamos ver como se desenrola!
Entretanto, também fizemos algumas mudanças nos nossos ambientes de ensaio e
estúdio. Felizmente, através dessas mudanças, poderemos racionalizar alguns dos
nossos processos de gravação. Outro aspeto que abordamos (mas, novamente, nada
está escrito em pedra) é a ideia de não continuar a lançar o nosso material em
formato físico. Avançando, iremos procurar lançar singles à medida que estejam prontos e quando se começarem a
acumular, gravar alguns dos últimos numa compilação do tipo "álbum
completo" antes de continuar. Parece ser melhor para os serviços de streaming e é a tendência da nossa
geração de querer tudo o que podemos obter AGORA!
Mais uma vez, Scott, muito obrigado. Queres deixar alguma
mensagem?
Obrigado, Pedro! Só quero agradecer por teres
percebido as pequenas coisas nos meus álbuns ao longo dos vários anos e por
fazeres algumas perguntas inteligentes e não apenas o típico "Então, há quanto
tempo tocas o teu instrumento?". Além disso, como disse anteriormente, para
quem explora minha música, se uma faixa não vos disser nada, tentem outra no
álbum, porque acredito que existe algo para todos!
Comentários
Enviar um comentário