Entrevista: Prayer

Novamente mais seis anos de espera até um novo álbum. Tem sido sempre assim com os Prayer que já habituaram os seus fãs a longos períodos entre discos. Mas Tapani Tikkanen sabe bem que a falta de pressão é benéfica para a banda. Numa agradável conversa, que voltou a passar pelo futebol, o líder do projeto finlandês falou-nos com entusiasmo de Silent Soldiers, o seu mais recente disco.

Olá Tapani, como estás? Finalmente, um novo álbum dos Prayer. Por que, novamente, tanto tempo entre lançamentos?
Estou bem, obrigado! E sinto-me bem com a resposta que o novo álbum tem tido. Bem, há muitas razões... antes de mais, não temos calendário particular nem nos apressamos a fazer qualquer coisa. Porque não somos músicos a tempo inteiro, os nossos membros da banda têm os seus próprios empregos, projetos e famílias para tratar, por isso essas coisas levam tempo. Também houve no verão passado uma remodelação do estúdio Soundmix o que atrasou alguns meses. Trocaram o equipamento de mistura e uma série de coisas. Mas tenho a certeza, porém, que não demorará tanto para o próximo. Quero começar a trabalhar o mais rápido possível, porque escrevi muito material novo, com o qual estou muito entusiasmado.

Uma vez que tiveram algumas alterações de line-up, sentiram algum tipo de problemas ou não? Como resolveram essa situação?
Após o primeiro álbum, basicamente mudou toda a formação. Por muitas razões, as coisas acontecem na vida, não foi problema, mas eu quis demorar algum tempo para garantir o que e quando queria fazer. Por exemplo, um elemento mudou-se para a África. Como já disse antes, não estamos aqui a tempo inteiro. Surgem mudanças na vida, queiras ou não. Só tens que ajustar e continuar. Eu tenho a minha música, posso sempre contar com isso. Vivemos um tempo maravilhoso a fazer este álbum com Mika, Jukka e Ville. Não temos pressão, podemos fazer isso da maneira que gostamos.

Silent Soldiers parece ser um álbum diferente na orientação dos Prayer. Concordas? O que tentaram alcançar com este disco?
O plano era fazer o melhor álbum até agora. E acho que conseguimos isso. Gravamos mais de 30 músicas, depois escolhemos 15 para o álbum. Essa foi a parte mais difícil. Há 12 músicas no cd e as restantes, Lovers On The Road, Broken Hearted Me e All Up For Love estão no Spotify! Deves ouvi-las! Lovers On The Road é uma das minhas favoritas, deveria ter sido incluída no álbum, mas está no Spotify, tudo bem. Depois disso, já escrevi mais de 150 músicas novas, portanto, podes imaginar o quão difícil é escolher entre ao teus próprios "filhos". O som no álbum é claro, fresco, aberto e eu queria assim. O material também é muito forte, não há fillers. Todas as músicas têm a sua própria identidade, a própria história e, juntas, fazem um bom pacote de rock melódico/AOR. Mas, isso sou eu a falar, os ouvintes decidem por si mesmos, certo? Eu sei que todas as bandas dizem que "este é o nosso melhor álbum", quando têm um novo disco, mas desta vez é verdade. As minhas letras também estão melhor e tentei colocar um enorme esforço na sua construção - não são apenas linhas após linhas. Há muitas histórias verdadeiras diferentes por trás delas. Mesmo muito difíceis.

Ou seja, na globalidade, consideras este o vosso melhor álbum até agora?
No meu coração, sinto que este é o melhor álbum até agora. Por muitas razões: liricamente - as histórias são fortes e carregam as músicas. Todas as músicas foram construídas dessa forma. De que se trata, o que sentimos, como soam e assim por diante. Há, também, muitas histórias verdadeiras por trás, como, por exemplo, em King Of The Hill, que é uma história sobre a cena do futebol júnior aqui em Oulu, a minha cidade natal. Maus líderes, diretores de clubes que não faziam muito pelo bullying de crianças, muitas equipas que acabaram e coisas assim. Havia alguns jogadores e treinadores narcisistas que faziam coisas más e deixavam que coisas más acontecessem. Eu sei do que falo aqui. O som e o material são a melhor embalagem até agora. Espero que todos sintam o mesmo. Mas ninguém pode dizer que as músicas tocam o mesmo - há músicas mais duras, mais melódicas, mais fáceis e tudo o mais.

Por exemplo, tens uma música de 15 minutos. Foi a primeira vez que fizeste algo tão longo? Como foi essa experiência?
Sim, durante muitos anos tive esse sonho de escrever uma música longa e agora, finalmente consegui faze-la. Estou muito orgulhoso dessa música. Tem é uma longa história por trás, que vai até à minha infância. É uma história verdadeira. No final dos anos sessenta, quando tinha 7,8,9, 10 anos, costumávamos passar os nossos verões pelo lago Puhos, no norte da Finlândia. É um lago grande e bonito com muitas ilhas. Numa dessas ilhas vivia um homem alemão em completa solidão. Ninguém sabia muito sobre ele, era uma espécie de solitário. Construiu lá a sua cabana, com cercas à volta e ninguém tinha autorização para lá ir. Sempre houve mistério em torno daquilo e, para uma criança como eu, era uma coisa enorme. Como a Ilha do Tesouro ou algo assim. Depois de quase 50 anos, finalmente fui lá, e foi uma experiência sensível para mim. As minhas mãos tremiam quando saí do barco e fiquei na praia. Quando ouvires a música e leres as letras, ficarás a conhecer toda a história. É uma história que não se pode escrever em 3 minutos, é preciso ser maior e mais longo do que isso. E no final eu digo "todos nós temos uma", todos nós temos as nossas próprias Ilhas Mistério que devemos conquistar, certo? Seria outra coisa fazer um vídeo dessa música... mas não seria barato. Seria mais como um mini-filme.

Por outro lado, tens uma música como No Giver, All Taker com uma deliciosa melodia. É um marco neste álbum e na tua carreira?
Obrigado. É um dos pontos fortes do disco. Saiu bem, tem um bom fluxo, é fácil de ouvir. E concordo, é uma das melhores faixas que já fiz. Seria uma música perfeita para tocar na rádio, mas sabes como é nos dias de hoje. Por exemplo, na Finlândia, a maioria das estações de rádio são propriedade da mesma empresa e tocam sempre os mesmos hits pop e r & b, como em qualquer lugar. Adoro o piano elétrico nessa música, é mágico!!

Este conjunto de músicas representa o vosso trajeto desde 2012 até agora ou são todos temas recentes?
Todas as músicas deste álbum foram escritas durante estes últimos anos. A maioria deles nos últimos dois anos.

O futebol continua a ser um dos teus hobbies? A Finlândia está fora do Campeonato do Mundo, por isso como vês a possibilidade de Portugal ser campeão, agora do mundo (risos)?
Sim, adoro futebol e os meus dois filhos jogam ao mais alto nível. Pessoalmente, deixei de jogar, apenas de vez em quando. Mas adoro assistir na televisão e no estádio. A seleção finlandesa não está muito bem, talvez porque os jogadores não sejam suficientemente bons. Muitas pessoas dizem que deveria haver mais mudanças, deixar os mais jovens tentar porque estão com fome de bola e querem mostrar o que podem fazer. Portugal é e sempre foi um excelente país de futebol, eles farão um bom campeonato.

E como estão os F. C. Rainbow? Ganharam muitas vezes? (risos)
Escrevi quatro álbuns de música comédia-ironia-futebol em finlandês, apenas por divertimento. Foi divertido. Jogamos muitas vezes em torneios amadores e saímo-nos bem algumas vezes. Mas muitas vezes, muitos dos jogadores tinham bebido demasiada cerveja na noite anterior (risos).

Obrigado Tapani! Queres acrescentar mais alguma coisa?
Quero acrescentar que acabamos de lançar um vídeo no youtube do tema Silent Treatment e espero que todos espalhem a palavra a este respeito. Também estamos no Facebook. Procurem o álbum bem como as 3 músicas extras que lançadas digitalmente. Como disse antes, temos muito material novo e estou muito confiante de que o próximo álbum será muito forte. Comprem o álbum, se quiserem, é tocado com instrumentos reais e por pessoas reais, não por computadores e precisamos de todo o apoio para que o fogo continue a arder. Saiam e conquistem a vossa MISTERY ISLAND!!! Muito amor e tudo de melhor!

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