Um impressionante e
ambicioso exemplo de virtuosismo e musicalidade. Assim definiu Jim DeRogatis o
som dos Tautologic. O mentor do projeto, Ethan Sellers, desta vez elevou o
patamar de exigência e qualidade e o resultado na forma de Re:Psychle é marcante. Foi com o próprio líder do projeto que fomos conversar,
passando por vários assuntos e onde nem faltou falar de Obama e Trump.
Olá Ethan, antes de
mais, obrigado pela disponibilidade. Re:Psychle é já
o vosso terceiro álbum. Como o definirias, em comparação com os lançamentos
anteriores?
Em
termos de conceito musical, diria que Re:Psychle
é uma continuação de West Is North, East
Is South. Difere porque tem melhor execução, alguns novos twists e mais unidade temática. Eu vi o
EP Basement Sessions Volume 1 como um
processo de aprendizagem, onde descobri como usar a engenharia nas minhas
próprias gravações e integrar a improvisação e as outras contribuições dos
colegas da banda, por forma a obter peças mais evoluídas.
Já agora, qual o significado
de Tautologic e como surge este nome para a banda?
Uma
tautologia é definida como "a afirmação da mesma coisa duas vezes em
palavras diferentes" ou "uma afirmação que é verdadeira por
necessidade ou em virtude da sua forma lógica". Uma grande parte da
escolha de usar Tautologic como nosso nome foi, essencialmente, autodepreciativo
e um comentário sobre o processo criativo. Uma vez que conheces uma quantidade
decente sobre como uma música é criada, percebes que a maioria das músicas é o
resultado de uma combinação bastante finita de intervalos melódicos, harmónicos
e rítmicos que, todos concordamos, são agradáveis ou possuem certas qualidades
que consideramos evocativas. Quando pegas no fator preferências com base no
estilo, isso fica mais estreito. Como resultado, todos reciclam as suas
influências (sejam elas conhecidas ou não). Ou seja, efetivamente acabam por dizem
o mesmo em palavras diferentes. O único padrão criativo ao qual se pode segurar
- e não ficar louco é - "isso funciona?"
Quanto à criação das
músicas e ao processo de gravação, como ocorreu o trabalho desta vez?
Com
exceção de Coltrane Supermarket
(escrito e arranjado pelo baterista Pat Buzby), compus todas as músicas e
entreguei as partes totalmente gravadas aos músicos. Também foi assim para os nossos
outros álbuns - mas hoje em dia faço no computador, em vez de ser à mão. Para
algumas coisas – solos improvisados de guitarra e saxofone, partes de bateria e
algumas linhas de baixo "sensatas" - criei ideias ou simplesmente dei
algumas notas conceituais. Os Tautologic tocaram a maioria das músicas ao vivo
antes de entrar em estúdio, mesmo que algumas delas fossem "somente de estúdio"
até começar a fazer espetáculos de apoio ao lançamento do álbum. Eu próprio
tratei da engenharia da maior parte de Re:Psychle.
A maior parte do tracking ocorreu
separadamente, embora algumas faixas do kit
de bateria e baixo tenham sido realizadas ao mesmo tempo. No meu estúdio de
gravação, em casa, não tinha espaço suficiente para captar corretamente a banda
inteira de uma só vez. Desde então, o meu orçamento melhorou um pouco e espero
acompanhar de forma mais próxima a banda em lançamentos subsequentes. Os sopros
em On Your Left foram feitos seccionadamente
na Rax Trax, onde também regravamos
algumas baterias e misturamos o álbum com Rick Barnes (nomeado para um Grammy). Partes de um próximo álbum
também já foram captadas lá.
Em Re:Psychle, contam com as colaborações de alguns elementos de nomeada e até
premiados. Queres apresenta-los e referir a sua contribuição para o resultado
deste álbum?
Todos os que
trabalharam neste álbum fizeram um trabalho de primeira qualidade. Estou grato
por todos e cada um deles. Foi imensamente gratificante ouvir músicos dar vida
às minhas composições. Os músicos com mais notoriedade foram Nick Photinos (violoncelo)
e Michael Maccaferri (clarinetes) do grupo de câmara premiado com o Grammy, Eight Blackbird, John Janowiak
(trombone) dos Liquid Soul e Jeff Yang (violino), que era membro dos Corky
Siegel’s Chamber Blues e concertmaster
de tours com Mannheim Steamroller e
Il Divo. O nosso saxofonista, Chris Greene, tem recebido reconhecimento no cenário
jazz de Chicago e em publicações como
Downbeat.
Também a mistura e a
masterização foram entregues a nomes reconhecidos. Como foi o seu desempenho?
Rick Barnes
(engenheiro de mistura) e eu já tínhamos trabalhado juntos antes, em projetos
que eu produzi para outros artistas. Optei por ter o Rick a misturar o álbum em
vez de o fazer sozinho porque valorizo a sua experiência e precisava de uma
nova perspetiva depois de trabalhar obsessivamente nas faixas. Rax Trax também é um ótimo lugar para
trabalhar. A minha colaboração com Randy LeRoy (engenheiro de masterização) foi
mínima - ele sabia o que fazer sem muita contribuição minha. Ele veio altamente
recomendado por um amigo, teve uma lista impressionante de clientes (e nomeações
para os Grammy), e os resultados
falam por si mesmos.
Diz-se que este álbum
aborda a vida cotidiana dos habitantes de Chicago. De que forma é diferente de
outras cidades para ser o tema escolhido para este álbum?
Vivo em Chicago –
cada um escreve sobre o que conhece.
E este foi um álbum
escrito entre os edifícios da Universidade de Chicago e a mansão de Obama. Como
isso se reflete, por exemplo, em termos líricos?
A maioria dos
personagens das músicas é baseada em pessoas reais da vizinhança. Para ser
honesto, Obama destaca-se muito mais agora que na altura da criação do álbum,
que foi antes da sua eleição por dois anos. O bairro sofreu uma rápida transformação
nos últimos anos como resultado de um investimento e desenvolvimento
substanciais, e, portanto, Re:Psychle
é quase um documento do desaparecimento de Hyde Park.
Já que falamos de Obama,
há alguma possibilidade de haver alguma referência a Trump ou não vale a pena
falar? (risos)
Não.
Para além dos
Tautologic, também estás envolvido em outros projetos musicais. Quais são?
Produzo e
organizo outros artistas e lidero quatro outras bandas - Character Fleadh (Irish, Scottish, Celtic), Le
Travaillant (Cajun, zydeco), Bourbon Aristocracy (Bluegrass) e Chez Butter (soul, R & B e funk). Além
disso, há membros dos Tautologic e dos Character Fleadh a trabalhar juntos numa
espécie de projeto Celtic prog
chamado Logical Fleadh, que combina músicas tradicionais, músicas e composições
originais, algumas ideias minhas de arranjos e a secção rítmica dos Tautologic.
Obrigado, Ethan. Podes
deixar uma mensagem, se quiseres...
Nós (Tautologic e
a nossa editora Turtle Down Music) esperamos que as pessoas gostem de Re:Psychle e tirem algo disso para as suas
vidas. Tem sido um trabalho de amor.
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