Entrevista: Toxikull


Depois de Black Sheep, os Toxikull voltam mais fortes e mais criativos, criando com The Nightraiser, um verdadeiro clássico do heavy metal nacional (e não só!). Com um novo guitarrista (que já era familiar na verdadeira aceção da palavra) e ligados a duas novas editoras, os Toxikull são cada vez mais uma referência no que ao som pesado diz respeito. Foi Lex Thunder quem nos falou das alterações e da nova orientação da banda.

Olá Lex, tudo bem? Definitivamente o heavy metal português está bem e recomenda-se…
Sem dúvida, o panorama metálico está cada vez melhor. Mais bandas, mais webzines, mais blogs, mais público, mais festivais, mais bares, enfim... podia continuar e fazer uma lista com o que de bom que há cá. Sem duvida uma idade de ouro.

Depois de em 2015 terem incendiado o panorama metaleiro nacional com Black Sheep, The Nightraiser é o sucessor lógico. Vêm este EP, de facto, como uma continuação?
Não sei se diria bem uma continuação. O propósito do EP foi um pouco uma mudança/afirmação de um novo som, um novo estilo, uma nova fase, e acho que esse aspeto foi bem conseguido. Finalmente encontramos o que somos e o que procurávamos que não estava tão presente no Black Sheep. Um som de gravação mais cru, com influencias puras old-school. Uma composição mais rápida e objetiva. Mesmo o artwork da capa foi muito melhor pensado e investido. Basicamente quando digo que não é assim tanto uma continuação é porque de facto houve um grande corte e diferença quanto à maneira que abordámos o nosso produto, e a que a partir deste EP vai ser tudo nesta onda, por agora claro.

Houve algumas mudanças entre o primeiro disco e este, nomeadamente ao nível da troca do guitarrista. Quando é que Michael Blade entrou e já teve oportunidade de colaborar na criação dos temas?
O Michael Blade entrou em janeiro de 2017, umas semanas antes dum concerto importantíssimo no RCA, a semi-final do concurso para ir tocar ao W:O:A. Na altura o nosso ex-guitarrista Leander estava com pouca disponibilidade para a Black Sheep tour 2017 de abril que aí vinha, e decidimos todos (inclusive ele próprio) que para ninguém sair prejudicado, o melhor seria ele sair da banda e assim aconteceu. No entanto não precisei de procurar muito por um substituto pois o Michael é o meu irmão mais novo. Foi a pessoa perfeita porque já acompanhava a banda do irmão mais velho desde o inicio, tocava muito bem guitarra, e tínhamos quase as mesmas influências, para não falar da postura infernal que tem em palco. Correu tudo muito bem e o auge disso foi (respondendo à tua pergunta) a composição do EP. Posso dizer-te que ele colaborou em quase todos os temas, e graças a ele o The Nightraiser está como está. As únicas músicas já criadas antes da entrada dele para a banda eram a Surrender Or Die e a HellMaster e mesmo assim houve um toque da parte dele. O resto foi quase tudo composto por mim e por ele em conjunto.

Por outro lado, há também uma mudança de editora. Supõe-se que quando se muda, se vai para melhor. Foi isso que procuraram?
Não foi uma questão de ser melhor. A Non Nobis foi excelente para nós e recomendo a todas as bandas. Decidimos assinar com a Mosher Records e a Firecum Records porque queríamos algo novo, uma experiência nova com pessoas novas. A proposta surgiu do Rui (Mosher) e tendo em conta os objetivos que a banda queria atingir entrou a Firecum na festa. Vimos nisto uma ótima oportunidade. Também decidimos alinhar pois sabemos bem quem é o Rui. Depositamos muita confiança no trabalho dele e até agora este “casamento a três” tem corrido muito bem.

No que diz respeito ao processo de composição, como foi o procedimento para este novo trabalho? Basicamente o mesmo?
Foi diferente, muito diferente. Como eu o Michael vivemos juntos, a composição foi quase toda feita em casa por mim e por ele. Basicamente tocávamos os dois, discutíamos ideias e depois no ensaio apresentávamos as bases das músicas. Sendo que nesses ensaios, o Antim e o The Lorke  participavam também com as suas ideias e pormenores. Como o Antim disse 40 vezes na mesma frase numa entrevista na Antena 3 “Foi um processo dinâmico” (risos).

Entre Black Sheep e The Nightraiser tiveram oportunidade de tocar ao vivo com regularidade? Que aprendizagens trouxeram do palco para a criação do novo álbum?
Sim, em dois anos conseguimos dar uns 40/50 concertos. É muita fruta. Acho que a experiência e o facto de conheceres novos lugares e sítios abre-te a mente em todos os aspetos nomeadamente em termos criativos. Não te consigo descrever situações concretas mas na minha opinião isto tudo deve-se ao facto de ires crescendo como ser humano e depois essa evolução se refletir na arte que crias.

De acordo contigo, este álbum é um apelo à rebelião e alguma crítica social. Porque?
Porque acho que a música deve ser também um instrumento de inspiração e crítica social. Quase todas as faixas fazem referência a algum tipo de revolta. A Nightraiser é baseada numa espécie de justiceiro social assassino em que a noite significa pureza, a Surrender Or Die é sobre pirataria que afinal de contas era a maneira mais desesperada e agressiva de revolta contra o poder, a Freedom To Kill é sobre a imposição que a sociedade põe sob os instintos mais primários do ser humano e retrata a mente e os pensamentos mais negros que todos nós temos. Mesmo a própria Rocker que é um cover dos Hollywood Rose, é baseada na rebeldia do Rock e embora essa letra não tenha sido escrita por mim, obviamente encaixa-se perfeitamente com os outros temas.

E é um disco mais rápido, mais pesado. Foi assim programado ou simplesmente aconteceu?
Aconteceu, tem tudo a ver com fases, estamos numa fase em que ouvimos mais música assim e somo inspirados a fazer música assim. Não costumamos planear nada em termos musicais, tocamos o que nos sai do espírito e tentamos ao máximo fazer o que gostamos.

O que vos motivou para fazerem uma cover de Rocker?
Basicamente queria ouvir uma versão em condições daquela malha, e como ninguém tinha feito essa versão, decidimos ser nós a faze-la. Acontece que já fui e sou (não tanto) um grande fã de Guns n Roses, conheço tudo sobre a banda e os seus membros. A Rocker sempre foi uma música que quis tocar desde há muitos anos, tem um espírito selvagem, punk, com vocais desafiantes, embora aquilo não tenha passado de um demo, então a qualidade de som e performance ficam um pouco a desejar.

Os Toxikull nasceram como Toxic Room. O que vos fez mudar de nome em 2016?
A razão da mudança foi o facto de Toxic Room ser um projeto de 2012/2013. A média de idades andava a volta de 16/18 anos e acontece que neste projeto passaram cerca de 10 membros diferentes, tocávamos alguns covers e alguns originais, ainda estávamos a aprender e muito (não é que agora saibamos tudo, mas a maturidade era diferente), eu sempre quis isto mais que tudo mas a maior parte das vezes não estava bem acompanhado nesse aspeto. Chegou finalmente um período em que os Toxic Room estabilizaram com a mesma line-up (Eu, Antim, Leander (actualOkkultist) e o The Lorke) durante um bom período de tempo, lançamos um EP chamado Little Piece Of Hell, e andamos a tocar mais a sério, chegando a sair da nossa zona Cascais uma ou duas vezes e ir para outro sítios do país (o que para nós era um sonho na altura), embora nunca conseguíssemos estabilizar como nome forte do heavy. Até que tive a ideia de lançar um álbum (Black Sheep) e com isso veio a ideia de mudar de nome, pois a banda chamada Toxic Room começou como um projeto de putos, já com alguns anos que não acrescentaram nada ao nome da banda. Digamos que foi um refrescar/começar de novo mas com os mesmos membros. Outra razão foi porque realmente nunca gostei muito de bandas com mais de um nome. Acho que uma banda fica mais forte com um só nome, basta olhar para os big 4.

Alguns dos vossos membros também estão noutras bandas. Qual é ponto da situação em relação a elas?
Até hoje sempre deu para gerir tudo. As outras bandas raramente tem interferência na nossa. O maior problema encontra-se em gerir a nossa vida pessoal com a banda, isso sim, arranjar tempo para ensaiar, marcar concertos, compor, fazer contactos às vezes torna-se difícil com gerir trabalho, estudo, vida pessoal. Mas a verdade é que conseguimos sempre arranjar tempo para tudo.

Que objetivos se propõem atingir nos tempos mais próximos?
Chegar a mais malta, dar mais concertos e começar já a compor o próximo álbum para sair em 2019.

Obrigado, Lex. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Queremos agradecer-te esta entrevista, e agradecer a todos os que nos tem puxado para cima sem olhar para baixo!


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