Entrevista: Dionisyan


Criativo, visionário, audacioso, Tregor Russo é um nome único no panorama italiano do metal. O seu mais recente projeto, Dionisyan, já apresentou diversas e diferenciadas abordagens ao doom metal, mas o que nos levou a falar com o compositor, músico, multi-instrumentista, produtor e professor italiano foi o lançamento de Delirium and Madness – Concerto Grosso Opera n.º 2 in G Minor, onde a música barroca do sec. XVII tem uma significativa importância. Fiquem com as eloquentes palavras de Tregor Russo.

Olá Tregor, como estás? Obrigado pela tua disponibilidade. Pode apresentar os Dionisyan aos metalheads portugueses?
Dionisyan é o lado escuro da minha alma espiritual, da minha criatividade artística em mudança, introspeção do tempo do ser e da catarse redentora. Criei os Dionisyan em 2010 com a intenção de fazer música a partir de sentimentos profundos, cheios de emoções sombrias e melancólicas, misturar arranjos complexos, muito diferentes de qualquer coisa que eu tenha escrito, criado e organizado em todos os meus outros projetos musicais do passado como Gates Of Eden, Sortilegium, Leper Divine e Eriaminell.

Então, que nomes ou movimentos mais te influenciaram?
A minha atenção concentrou-se no metal, mais especialmente no doom metal dos anos 90, mas a minha paixão pelas composições típicas da música barroca prevalece no segundo trabalho de Dionisyan. A música barroca permitiu-me criar um reflexo das minhas composições e orquestrações que nunca terminam em si mesmas, estão em evolução constante, no que concerne às técnicas de músicas de polifonia contrapontística que paira sobre cada parte do álbum. Na terceira Ópera Dionisiana, irei mudar pela terceira vez, o género musical. Não me quero fossilizar a mim mesmo ou até embalar-me nos estilos articulados tortuosamente bonitos que juntei nos dois álbuns dionisanos. No primeiro álbum, explorei progressivamente metal, death metal melódico, música tradicional árabe, canções clássicas e medievais, sempre com doom metal atmosférico. No segundo, a música barroca, a ópera e o metal progressivo, sempre com doom metal atmosférico. O terceiro irá ser exclusivamente doom metal atmosférico, muito linear, sem qualquer contaminação de outros estilos e géneros musicais. Será 100% doom metal. O som satisfez-me, depois de diferentes misturas e pós-produções para chegar ao resultado final ideal nas masters. Para o line up, só mantenho o baixista Alessandro Basso e vou trocar de vocalista para, desta vez, ter um masculino estilo claro, limpo e épico.

Podes falar-nos um pouco sobre o teu passado musical antes deste projeto?
Este período está a ser muito preenchido. Estou a dedicar tempo a um antigo projeto meu que estava exumado – os Gates Of Eden. Aqui proponho uma invenção musical muito poderosa: metal progressivo com música mediterrânea, jazz, música étnica e tradicional do Médio Oriente. Desde janeiro até à semana passada, estive em estúdio a gravar completamente a solo o primeiro álbum instrumental dos Gates of Eden (guitarras elétricas de 7 cordas, baixo de 5 cordas, bateria e outros instrumentos étnicos e tradicionais do Médio Oriente). Este é um dos meus projetos musicais a solo que em 2008 lançou o primeiro EP, de forma profissional, com distribuição mundial de mil cópias esgotadas! O álbum que concebi como um novo e pioneiro género de metal, também tem a intenção de ser música para as massas, direta, cativante desde o primeiro momento e fácil de entender. Mesmo para quem não tem background técnico e cultural para compreender a música, composições, arranjos e orquestrações. Com este primeiro álbum dos Gates Of Eden, no qual proponho um inovador e original metal progressivo do Médio Oriente, no seu interior, misturei diferentes estilos de música na fase "arranjo técnico-composição-orquestração". O resultado da minha pesquisa cuidadosa, estudos e pensamentos profundos, desembocou numa maneira que une diferentes gostos estilísticos, que atraem as massas e são atingidos por melodias diretas, cativantes e fáceis de entender sem enlouquecer a tentar percebe-las! Toquei duff (pandeireta árabe), vários shakers, darbouka e tabla que são instrumentos de percussão árabe, originais do Egito e da Turquia. Isto, tanto no primeiro EP de 2008 como neste primeiro longa-duração que acabei de gravar no mês passado. Agora estou a tratar da pós-produção, edição e mistura final. Uma verdadeira bomba atómica de poder, técnica, produção estelar e inventividade musical, na qual prestei atenção aos mínimos detalhes sem deixar nada ao acaso.

Voltando a Dionisyan, quais são as principais diferenças entre este novo álbum e o anterior?
Neste segundo álbum de Dionisyan, Delirium and Madness – Concerto Grosso Opera n.º 2 in G Minor, reinventei e renovei a polifonia polirrítmica antifónica da música barroca em estilo metal. É o meu sexto álbum de carreira e é a minha obra-prima absoluta, onde me superei em todos os detalhes, em comparação com o primeiro álbum The Mystery Of Faith, que já era muito complexo. Com certeza Delirium And Madness é musicalmente muito mais complexo em relação às composições, arranjos e orquestrações do primeiro álbum, que, de qualquer forma, já apresentava a sua inovação musical na vanguarda dos contrastes de géneros que misturei. Mas, no segundo álbum mudei para outros géneros de música para não fossilizar os Dionisyan. O que fiz até agora foi ir além dos limites com outros estilos musicais para avançar no meu caminho evolucionário como compositor, multi- instrumentista e professor de música.

Fazes uma abordagem muito peculiar ao doom metal. De onde vem a inspiração?
O meu estilo de composição é da música clássica ao jazz. Componho música de forma profissional há mais de 20 anos como professor de música. E para Delirium And Madness, inicialmente tive uma visão geral de toda a ópera que comecei a desenvolver, individualmente para cada música. Normalmente, começo a trabalhar em linhas mais melódicas que interagem umas com as outras para que as duas guitarras elétricas harmonizadas desenvolvam todas as outras linhas métricas com os outros instrumentos. Esta é a minha maneira natural de compor, extremamente detalhada, complicada e complexa.

Quem foram os convidados deste álbum? Quais foram as suas contribuições?
Contactei Sarah Eick durante as sessões de gravação. Queria um convidado especial que cantasse apenas numa canção, na sua língua original, para acrescentar valor à minha opera magna. Aprecio a sua voz e interpretação em To Mourn Is At Virtue da demo dos Funeral, de 1997. Esta voz encaixa perfeitamente com a minha visão artística da música. Depois de 19 anos, aceitou cantar de novo para mim, já que, abandonando a cena metal, estava imediatamente disponível para registar os seus itens na canção Guardian Angels que foi feita por Little On Lien. Podes ver o fantástico resultado no youtube.

Para quem não conhece o teu trabalho, como descreverias Delirium And Madness?
Com Delirium And Madness quis dar uma forte e impactante identificação com a espiritualidade associada à filosofia, completamente mudada para a ópera feminina e vocais modernos. Certamente é um álbum pioneiro de um novo género – o doom metal barroco atmosférico. Melodia absoluta, harmonias da primeira à última nota da ópera, canto feminino lírico e moderno alternados, música barroca com metal progressivo. É o método doom atmosférico na minha mistura original e inovadora. Para Delirium And Madness quis recriar um verdadeiro Concerto Grosso em verdadeiro estilo barroco com os cantos femininos, mas revisitado em metal e quis recriar o contraponto polifónico típico italiano do final do sec. XVII, contrastando as diferentes linhas melódicas, usando tanto o canto lírico, como o moderno, para ter uma marca única que pudesse identificar a minha proposta musical.

Muito obrigado, Tregor! Dou-te a oportunidade de acrescentar mais alguma coisa ou deixar uma mensagem...
Aproveito a oportunidade para agradecer à grande comunidade da Via Nocturna Webzine pela amável entrevista e pela oportunidade de dar a conhecer a mim e aos meus Dionisyan. Também convido quem quiser conhecer o segundo álbum Delirium And Madness - Concerto Grosso Opera n.º 2 In G Minor, a ver o vídeo de Blood Prophecy e In The Mirror Of My Soul, bem como o último audio-vídeo de Guardian Angels com Sarah Eick, dos Funeral, como convidada especial. O nosso CD também está disponível para venda. Quem quiser adquirir uma cópia, por favor contacte-me para castellus@tiscali.it, e com o CD envio um poster autografado. Obrigado por tudo.

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