Entrevista: Gimba


Cantautor, trovadeiro ou lá como lhe quiserem chamar, Gimba já cá anda há 40 anos a mexer com música. Passou por todas as fases importantes da música nacional, mas a solo, sob a sua assinatura Ponto G é apenas o segundo disco. O multi-instrumentista acedeu a responder a Via Nocturna e, sem perder o sentido de boa disposição (não de humor, como faz questão de referenciar!) sempre vai lançando algumas farpas.

Olá Gimba, obrigado por esta oportunidade. Apesar de seres um dos mais requisitados artistas nacionais, em termos de lançamentos a solo, não tens tido muita produção, sendo este o segundo disco em 20 anos. A que se fica a dever isso?
Isso deve-se a eu ter uma atividade musical multifacetada e dividida em várias vertentes que não apenas na previsível edição discográfica. Faço produção, sonorização, composição por encomenda, enfim: teatro, rádio, televisão, etc...

Ponto G é o teu novo trabalho. Como descreverias este conjunto de canções, nomeadamente em comparação com o resto da tua carreira?
Há pouco tempo descobri e assumi a minha vertente de artista solo, cantautor, ou trovadeiro, como gosto de me chamar. Comecei a tocar sozinho (coisa que nunca antes tinha feito), e a ver as reações positivas do público – nacional e estrangeiro – ao meu reportório. E comecei a gravar este punhado de canções, cada uma com o seu sabor, como sempre foi a minha marca de água.

E quando começaste a trabalhar neste conjunto de canções? São todas recentes ou recuperas algum material mais antigo?
São todas mais ou menos recentes, embora uma ou outra tenha mais de uma década. É natural ir buscar coisas ao baú se elas fizerem sentido na hora de decidir publicar.

A componente lírica continua a ser uma das tuas mais fortes prestações. Que temáticas abordas desta vez?
Fala-se em lírica, mas eu não sou um poeta. Letrista, sim. Como tal, falo de coisas triviais. Desde o dia a dia no meu bairro (São Bento) até às minhas visões do mundo que me rodeia (Vá lá!!; Não é Mania, Não!) e as inevitáveis canções de amor.

E sempre num português bem escorrido, não é verdade? E sem esquecer o humor. É importante, para ti, a existência do humor na música? Será este o verdadeiro Ponto G?
Não sou nem nunca fui um humorista, nem faço nem fiz música humorística. O que sempre existiu em mim e nas minhas composições foi um certo à vontade, uma certa descontração e boa disposição. Apenas isso. Humor, não. Isso é mais com o Bruno Nogueira, o Rui Sinel de Cordes ou até o próprio Manuel João Vieira.

No tema Vá Lá!! tens a companhia de uma série de vozes bem conhecidas do panorama musical nacional. Pode também isso ser visto como o reconhecimento que esses artistas têm pela tua carreira?
Sim e não, ou melhor: não e sim. «Não», porque conheço toda a gente de ginjeira e foi só pegar no telefone e fazer os convites. E «Sim», porque de alguma maneira lhes inspiro confiança para aceitarem vir gravar ao meu humilde sótão (o Melhor Estúdio do Mundo)...

O lançamento deste álbum surge, precisamente, quando comemoras 40 anos de carreira. De que forma olhas para trás, desde os tempos dos Afonsinhos do Condado, e vês a tua evolução, a evolução da música, dos gostos e de todo o negócio?
Olho para trás de uma forma natural e penso que tudo se desenrolou – até hoje – de uma forma natural. Sem querer ser repetitivo, é a ordem natural das coisas. As coisas acontecem como têm de acontecer. A “indústria” (detesto esta terminologia) já viveu crises, a elas sobreviveu, teve de readaptar-se, enfim: lo que sera, sera...

Viveste por dentro muitos movimentos da música em Portugal – da glória do Festival da Canção ao boom do rock português, passando pelo fenómeno Zip-Zip, o rock sinfónico e a música de intervenção. Como vês o atual panorama musical no nosso país?
Está de muito boa saúde. Nunca se produziu tanta música e tão boa como hoje. Neste aspeto, o acesso às tecnologias foi um passo decisivo. Existe música de muitas tendências e existe público para todas essas tendências. Mas atenção: existe música muito má (e «muito má» é pouco; eu diria «muito muito má»). E a rádio e a televisão, ou melhor: os responsáveis da rádio e das televisões (são pessoas, com nomes e moradas!) têm grandes responsabilidades morais por este flagelo! Que exista música muito muito má, tudo bem; é natural. Agora, quem pega nessa (má) música e a espeta sem escrúpulos em frente da população em geral, desvirtuando a nossa cultura, merece pena pesada. Mas como a leste do Caia o crime compensa, a situação não está – infelizmente – em vias de mudar...

A televisão também faz parte de ti. E desde sempre tem estado associado a diversos programas televisivos. Atualmente é o DDT. E a pergunta deve ser feita: quando é que tocas uma música inteira no DDT? (risos)
Isso vai ser impossível. À hora que respondo a estas perguntas, o DDT saiu do ar. Acabou. Finito!...

Agora a sério, como é estar a tocar junto com todos aqueles grandes e incrivelmente divertidos artistas?
É um enorme privilégio. Nesse aspeto tenho tido sorte. Só trabalho com os melhores!

Já andas em tour para apresentar Ponto G?
Sim. Depois dos habituais concertos de promoção já estou em vias de encetar a Volta a Portugal no meu Renault Kangoo. A banda (somos só três) e o equipamento cabe à justa nesta simpática carrinha (que se chama Lolita). Mas atenção, que em Portugal não há tours. Quando muito, há fins-de-semana com concertos à sexta, ao sábado e ao domingo, e depois volta tudo para casa. Uma tour é uma maratona em que geralmente se faz trinta ou mais concertos em dois meses e só então regressas à base. O Quim Barreiros faz isso. Eu, por enquanto, não. Mas, se me quiserem, lá chegarei!

Obrigado Gimba! Foi um enorme prazer fazer esta entrevista!!
É normal. Afinal o Ponto G é um ponto de prazer. E se deu prazer, ainda por cima, ao que parece,  «enorme», quero ouvir gemer...



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