Tem
sido frequente o longo espaço entre álbuns dos Time Simmetry. Ghosts não foge à regra e surge seis anos após Tetraktys.
Tempo demasiado, provavelmente, mas não para os madrilenos que acham – e nós
concordamos – que é preciso tempo para as canções amadurecerem. Isto apesar de
a nova equipa – que inclui uma nova vocalista Elena Aznar e um novo baixista
Carlos Hernández – afirmar estar a trabalhar bem. Pouco tempo depois do
falecimento de André Matos, estivemos à conversa com Carlos Hernández (baixo), Jorge
Velasco (guitarra e backing vocals) e Dave Rubio (guitarra e vocais),
sendo que, naturalmente, a conversa também passou pelo saudoso vocalista
brasileiro.
Olá
Carlos, Jorge e Dave, obrigado pela vossa disponibilidade e parabéns pelo novo
álbum. Em primeiro lugar, podem apresentar a banda aos metalheads portugueses?
CARLOS
HERNÁNDEZ (CH): Bom dia a todos. Obrigado por dedicares algum
tempo a compartilhar o nosso projeto e a nossa música com os amantes portugueses
de música rock.
JORGE VELASCO
(JV): Olá!
DAVE RUBIO
(DR): Obrigado, Daniel. Sim, claro, deixa-me apresentar a
banda. Time Symmetry é uma banda de prog metal baseada em Madrid.
Nasceu em 1999 tentando imitar algumas bandas como Dream Theater, Symphony
X, Metallica... e mais tarde, começamos a definir o nosso próprio
som. Desde então, lançámos quatro álbuns de estúdio.
Ghosts
surge seis anos após o vosso último lançamento, Tetraktys e este já
tinha sido lançado sete anos após a estreia. Por que tanto tempo entre
lançamentos?
DR:
Infelizmente, não podemos dedicar-nos profissionalmente à música e o nosso
tempo é limitado. Além disso, gostamos de desenvolver cada faixa e álbum em
profundidade na sala de ensaios para ter certeza absoluta de que são dignos.
Entre
o último álbum e este Ghosts, muita coisa
mudou no line-up da banda. O que aconteceu?
JV:
Já lá vão quase 6 anos desde o nosso álbum anterior Tetraktys e, definitivamente,
muitas coisas mudaram! A mudança mais óbvia foi a inclusão de Elena Aznar
como nossa vocalista. Conhecemos Elena há vários anos e temos colaborado com
ela noutros projetos musicais alternativos... Parecia óbvio que em algum
momento nos encaixaríamos para colaborar. Ela tem uma ótima voz e
definitivamente leva Time Symmetry a um patamar mais alto. Por outro
lado, há tanto tempo que temos procurado por um baixista que se encaixasse na nossa
banda que estávamos quase a desistir e a tocar sem um baixista. Mas, finalmente
encontramo-lo! Falei pessoalmente com Carlos por telefone na primeira vez que
nos encontramos e desde esse primeiro momento pensei que ele se encaixaria bem nos
Time Symmetry. Tem muito talento, trabalha muito e tem uma tremenda
cultura musical.
Carlos,
como novo membro da banda, chegaste a colaborar na criação destas incríveis
novas músicas?
CH:
Bem, eu tentei. E espero que sim... (risos) Dave é o principal compositor da
banda. Muito, muito prolífico!! Ele escreveu cerca de 200 músicas incríveis
antes de decidir quais delas iriam fazer parte do novo álbum (risos). Ele
geralmente cria uma demo completa para cada faixa. Usualmente, este é o
ponto de partida. O bom é que Dave é muito aberto e generoso com o resto dos
membros da banda e está sempre disposto a ouvir o que temos a dizer sobre as
músicas e fazer mudanças significativas, se necessário. Finalmente, todos nós
trabalhamos juntos e todos têm a sua contribuição: pode ser uma melodia vocal,
uma nova linha de baixo ou a letra final da música.
Quais
são as vossas principais influências?
JV: Honestamente,
acho que podemos presumir que, musicalmente, temos uma ampla gama de
influências. Obviamente, cada um de nós tem as suas. Isso determina o som
global dos Time Symmetry, a maneira como compomos ou os arranjos que criamos.
Mas, como acho que me estás a perguntar por coisas mais específicas (risos),
posso dizer que me podes encontrar a ouvir bandas como Extreme, Anathema,
Dream Theater, Hans Zimmer ou Michael Jackson.
CH: Como
disse o Jorge, somos todos amantes da música e temos muitas influências
diferentes. Existem muitos baixistas de rock e prog incríveis que
explodem a minha mente: Tony Levin, Nicky Beggs, Geddy Lee,
John Myung ou John Paul Jones, por exemplo. Estudar o trabalho
deles é sempre inspirador… e um grande prazer! Mas também sou influenciado por muitos
outros músicos que podem soar bem longe do que fazemos nos Time Symmetry,
como Pat Metheny, Stravinsky ou James Brown (só para citar
alguns).
Como
definiriam Ghosts para os
leitores que não vos conhecem?
JV:
Cada single de Time Symmetry tem o seu próprio foco. No início,
fomos mais influenciados pela música prog metal e tínhamos um teclista
na nossa formação. Isso definiu muito das nossas músicas e do nosso próprio
estilo. Antes de trabalhar na gravação de Tetraktys, decidimos separar-nos
de Jesus, o nosso teclista. Essa é a razão pela qual podes encontrar sons muito
mais pesados. Finalmente, em Ghosts, acho que os leitores/ouvintes
encontrarão um álbum muito mais maduro, com músicas melódicas e progressivas e,
é claro, com uma voz feminina à frente.
Este
é um álbum conceptual? Se sim, que temática é abordada?
CH:
Eu diria que este não é um álbum conceptual usual, mas é muito mais do que 10
músicas que foram colocadas juntas. A atmosfera global leva-nos para uma
sociedade urbana e distópica. O título, Ghosts, evoca os fantasmas do
nosso tempo: diferentes dilemas morais, a corrupção do poder social e político,
o debate sobre o uso de novas tecnologias, questões de género...
No
passado dia 20 de julho, vocês e outras bandas espanholas tiveram a
oportunidade de celebrar a incrível voz de André Matos. Como surgiu essa
oportunidade?
DR:
Quando tomamos conhecimendo do falecimento de Andre Matos foi devastador
por causa de sua juventude, por causa da grande perda que significa para a
música, por causa da sua família e amigos... E, de repente e graças às redes
sociais, começamos a conversar uns com os outros e outros colegas do mundo da
música e todos pensávamos o mesmo: sentíamos que tínhamos que fazer uma
homenagem, um reconhecimento ao Andre Matos e à música dos Angra.
De
que forma o André Matos influenciou a vossa carreira musical?
DR:
Para nós Angra sempre foi, é e será uma grande influência na nossa música.
Lembro-me de comprar Holy Land e ficar surpreendido. Era tão poderoso,
técnico e, ao mesmo tempo, melódico que instantaneamente eu quis ter esse
sentimento na nossa música. É curioso, mas 23 anos depois desse álbum,
continuamos a compor músicas com arranjos e reminiscências de André Matos
e Angra.
Para
além desse espetáculo, o que têm planeado para apresentar o álbum ao vivo?
JV: Precisamente!
Agora queremos andar mais tempo em tournée com Ghosts. Estamos a
trabalhar em mais datas pela Espanha, que nos levará a um espetáculo muito
especial em Madrid. Depois, possivelmente começar a moldar ideias para um novo
álbum no próximo ano.
CH:
Também estamos a organizar alguns espetáculo no estrangeiro para 2020. Não
somos uma banda muito popular fora da Espanha, mas felizmente temos um monte de
bons fãs por toda a Europa e eles estão dispostos a ajudar-nos a espalhar a nossa
música. Vamos ver o que acontece!
Para
terminar, não teremos que esperar outros seis anos até ao próximo álbum, pois
não? (risos)
JH:
Dedos cruzados (risos)! Faremos o nosso melhor, podes crer!
CH: A
equipa está em boa forma! E acho que atualmente estamos a trabalhar muito bem.
Esperamos poder fazer muito mais coisas do que um disco nos próximos seis anos.
Mas vamos-te mantendo informado.
Muito
obrigado! Querem acrescentar mais alguma coisa?
CH:
Muito obrigado pelo teu tempo, Daniel. Grandes abraços para todos os metalheads
portugueses que seguem a Via Nocturna. Esperamos poder tocar em Portugal
em breve.
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