Entrevista: Rui T & The Road Band


Rui Terroso já andou por aí num formato sem banda, sentiu algumas dificuldades e até alguns problemas. E foi Peter Murphy quem lhe fez ver que valia a pena continuar a tentar. Daí até surgir a sua banda, The Road Band, foi um instante e Born Again é o primeiro resultado deste novo e alargado projeto. O coletivo de Vila do Conde surge renovado e inspirado e apresenta um disco enriquecido com alguns convidados de renome mundial. Por isso, fomos falar com o líder Rui Terroso. Confiram!

Olá Rui, obrigado pela tua disponibilidade. Primeiro, podes apresentar a banda aos rockers portugueses?
Olá. Rui T & The Road Band são 5 elementos. Eu na guitarra e voz, o Rúben Carneiro na guitarra ritmo e backing vocals, André Rodrigues na guitarra solo, Diogo Antunes no baixo e João Melo na bateria.

Quando é que decidiste começar este projeto e com que objetivos o iniciaste?
Em 2008 quando concorri a um concurso de música - o Rock Rendez Worten. Gravei todos os instrumentos e correu muito bem, tive muito bom feedback e terminei em 4º lugar no Top Músicas RRW08 com o tema Sick Lovers. Daí para a frente e até 2011 mais ou menos, era apenas eu e a minha guitarra. Fazia-me acompanhar por duas loopstations e uma caixa de ritmos e as máquinas eram a minha banda. Depois houve, de facto, a necessidade de transformar os temas e levar o projeto a palcos maiores e daí à entrada de músicos no trabalho foi apenas um passo.

Quais são as tuas principais influencias?
Eu ouço um pouco de tudo. Costumo dizer que a minha principal influência é a boa música e procuro estar atualizado nesse sentido. No entanto, tenho que admitir que o bom e velho rock dos The Cult, The Cure, Bauhaus, Sisters of Mercy, The Mission, entre outros são, de facto, a minha escola.

Podes descrever Born Again nas tuas próprias palavras?
Born Again é um disco que reflete duas fases bem distintas da minha vida. Por um lado a recuperação de alguns temas que tinha escrito no início de tudo e que fazem sentido estar neste disco por ser o primeiro neste formato. Por outro, os novos temas que já sofreram grandes influências na composição por parte da atual formação, essencialmente do meu grande amigo e músico Rúben Carneiro (mestre dos dedilhados), como todos o apelidamos.

Qual é o vosso background musical?
A boa música. Esse é o maior background. Depois temos uma grande diversidade de gostos musicais entre todos os elementos. Eu e o Rúben, por sermos amigos de infância e praticamente da mesma geração, temos o ouvido treinado com praticamente toda a discografia dos The Cure, do Peter Murphy, dos Bauhaus, dos The Cult, Joy Division, entre outros. Mas ouvimos coisas recentes e mais atuais também. O André Rodrigues por exemplo é um fã de Heavy Metal e daí os solos sempre pujantes, o Diogo é mais variado nas suas escolhas e mesmo o João Melo baterista também. Pelo meio, uns são auto-didactas, outros como o caso do André é Professor de música, e isso acaba por se refletir no som atual da banda.

Como é que foi o método de trabalho que vos levou a este conjunto de temas?
Os temas já existiam, alguns gravados num disco de 2010 na vertente sem banda, outros estavam na gaveta. Depois foi o cunho pessoal de cada um.

Neste álbum vocês tem alguns convidados, nacionais e internacionais. Como é que se proporcionou a sua colaboração? Como foi o trabalho com eles?
Bem isto daria para mais do que uma simples entrevista. Mas basicamente (vou tentar): Existiu uma fase muito complicada na minha vida. Depois de meses de trabalho de estúdio, tempo e dinheiro perdidos com pessoas e pseudo-produtores que nunca cumpriram e que culminou num contrato discográfico e no lançamento de um disco na vertente sem banda, provocado pelo incumprimento de terceiros. Esse disco aconteceu porque eu tinha um compromisso com a minha editora na altura e não queria falhar. Estas coisas bastante negativas infelizmente fazem parte do mundo da música e sei que não sou caso único. Descobri nessa altura que a depressão atinge qualquer pessoa. Já tinha pensado em desistir de trabalhar arduamente na música até porque em Portugal não existe grande apoio ou incentivo. Adiante... Foi a compra em jeito de prenda de um bilhete para ver Peter Murphy na Casa da Música e oferta da minha mulher a 16 de outubro de 2016. O meu aniversário é a 28 de outubro e portanto foi uma boa prenda antecipada. Depois do concerto, eu e a minha mulher fomos os únicos a ter acesso ao backstage e pelas mãos da enorme Suse Ribeiro que era a técnica de som do Peter na digressão Stripped Tour que na altura estava a promover. Estivemos cerca de uma hora à conversa com o Peter, o Emilio e o John Andrews, com umas cervejas à mistura. Obviamente, falamos de música e mostrei-lhes também algumas coisas minhas. E foram palavras como as que o Peter proferiu na altura sobre a minha música que transformaram por completo a visão que tinha sobre mim próprio e sobre a música que fazia e os problemas que tinha tido até então. Problemas que ele próprio confessou ter tido também. O Peter era o meu músico preferido desde sempre, e portanto, dizer-me olhos nos olhos, que eu era bom no que fazia e que não podia parar, aquilo foi como um elixir. Lembro-me que no dia seguinte tirei o pó das guitarras e dos amplificadores. Devo isso e muito à Suse Ribeiro. Indiretamente ajudou-me a sair de uma fase muito má da minha vida. O passo seguinte seriam os músicos e o primeiro a quem liguei teria que ser obviamente alguém da minha inteira confiança e alguém que eu admirasse e respeitasse e esse era o Rúben que curiosamente nunca tinhamos tocado juntos no mesmo projeto. Pelo meio, houve uns castings, algumas mudanças até chegarmos a esta formação. Quando decidimos gravar este disco assumimos todos que o iriamos fazer por nossa conta e risco porque não poderiamos correr riscos novamente. Este disco teria que sair e tal e qual o idealizamos. Foi tudo captado e misturado por nós. Entretanto convidei o John Andrews (EUA) numa fase em que ele estava a descansar da digressão que tinha terminado com o Peter e com NENA com quem ele colabora também e mostramos-lhe o tema Stay Away | Stay With Me. Fizemos o convite para participar com guitarra acústica 12 cordas. O John gostou logo do tema e aceitou o convite. Dois dias depois estavamos a receber as gravações dele. O Trevor Sewell (UK) conhecemos no Festival de Blues de Vila do Conde e como enorme músico multipremiado e um talentoso guitarrista achamos que encaixaria no tema Longe que nem uma luva. Foi igual e de uma enorme generosidade também. Dois dias depois tinhamos as gravações em nosso poder. A Katrin Wettin tem uma forte ligação a Portugal apesar de nunca cá ter vindo, mas pelas covers que faz de temas de músicos nossos e não só. Ela é incrivemente talentosa no violino e sabiamos que iria fazer um enorme trabalho nos temas Angel In The Sky e Angel In The Street. As pequenas mas enormes colaborações do Sérgio Calisto (violoncelo) e da Ana Santos (piano) apareceram por intermédio do nosso guitarrista André Rodrigues que os conhece bem.

Porquê a utilização do português e do inglês nas letras dos vossos temas?
É natural no processo de composição. Surgiram assim alguns, outros foram recuperados para este disco e já eram assim. O próximo disco pensamos fazer de forma diferente.

Que temáticas são tratadas nas vossas canções?
Amor, ódio, raiva, solidão, morte. Coisas comuns...

Tens alguma tour planeada para apresentares este álbum ao vivo?
Nós pretendemos apresentar este disco sempre e quando houver condições que nos garantam qualidade para o fazer. Já o fizemos na FNAC, também em Santa Maria da Feira, em Santo Tirso, entre outros. Evitamos algumas casas e pretendemos tocar menos vezes mas ter qualidade assegurada quer para nós enquanto músicos e artistas, quer para o público. Isso nem sempre é possível. Portugal ainda vive muito de imitações, de covers, ou bandas de tributo. Nada contra, pelo contrário. Mas deveriamos apostar mais em produção de material nosso e de valor. O poder local deveria também apoiar os artistas locais, dando-lhes condições. Isso, raramente acontece. No nosso caso, que levamos o nome da nossa cidade mais longe, não só não acontece, como temos a certeza que não há vontade em que aconteça. Temos um cachet definido que pensamos ser justo e ajustável às situações como é obvio e temos bom rock para oferecer. A partir daí estamos disponíveis.

Muito obrigado Rui. Queres acrescentar mais alguma coisa?
Sim. Posso? Queria apenas dizer que os santos da casa, de facto, não fazem milagres. E queria agradecer em nome de todos à Via Nocturna pelo enorme apoio. Obrigado! Rock on!



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