Blasférmico
(MULHERHOMEM)
(2019, Independente)
Já os acompanhamos desde
2012, na altura com o lançamento de Novecentos
e continuamos a par do seu percurso com O
Inverno dos Outros, de 2016. Agora surge Blasférmico e vem acompanhado dessa notícia inesperada – este é o
último trabalho dos Lisboetas Mulherhomem. Mas não é isso que faz de Blasférmico um álbum especial. Este é um
disco especial porque os Mulherhomem sempre foram especiais – a forma
como não ligam a regras de composição pré-estabelecidas, todo o critério de
excelência colocado na escrita de textos (ainda e sempre em Português!) fortes
e nada dados a banalidades, a sua mistura desenfreada, mas perfeitamente original
e consistente de punk, indie, rock, metal… tudo
elementos que marcaram a existência do power
trio e que voltam a revelar-se fundamentais à hora da sua morte. Esta sim é
uma verdadeira blasfémia e uma arrepiante obscenidade! E utilizando palavras da
própria banda… seguiram o seu rumo, desconhecemos o seu destino… até um dia! [74%]
Insufficient Necessitites (CHRIS HASKETT)
(2019, Independente)
Insufficient Necessities é o novo EP de 4 temas do
guitarrista Chris Haskett. O músico que tocou nos anos 80 e 90 com a Rollins
Band, esteve com David Bowie em 1999 numa tour e, posteriormente, no álbum Hours, em complemento de Reeves Gabrels e que já foi nomeada
para um Grammy apresenta este
trabalho instrumental com o destaque a ser dado à sua guitarra. Mas embora seja
um álbum de guitarra feito por um guitarrista, não é um álbum de solos
mirabolantes e excessivo virtuosismo. Estes 4 temas assentam em estruturas funk e jazz, com uma secção rítmica de enorme dinamismo e sobre a qual
Haskett constrói paisagens muito técnicas mas pouco convencionais de guitarra, de
uma forma um pouco fraturante, como o próprio guitarrista gosta de afirmar. [72%]
Take The Ride (KINGSBOROUGH)
(2020, Independente)
Conhecemos os Kingsborough
com o seu sensacional disco 1544, uma
verdadeira obra emblemática de como fazer blues
rock. O coletivo norte-americano regressará em fevereiro de 2020 com o EP
intitulado Take The Ride, onde se
apresentam quatro temas diferentes e que deixarão os seus fãs algo confusos. Se
o blues rock da abertura So High e a faixa Open Invitation mostram a banda a beber nos anos 70 (nomes como Free,
por exemplo vêm à memória), nos outros dois procura-se alguma contemporaneidade
e neste campeonato, não estão ao
mesmo nível. Até porque o tema final, Across
The Headlights, parece mais pensado em conseguir airplay em determinadas rádios. Naturalmente ficamos à espera que
estes rockers da Bay Area se definam
para o próximo longa-duração. Mas se aceitarem o nosso conselho deverão
permanecer fiéis ao rock americano
influenciado pelos anos 70. É onde melhor se enquadram e é onde conseguem ser
mais apelativos e interessantes. [79%]
25 Anos a Cantar (AD LIBITUM – Viseu)
(2019, Independente)
O grupo viseense Ad Libitum começou em 1994
integrado na Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de
Viseu e nesta sua caminhada tem atuado um pouco por todo o mundo e já
lançou dois álbuns – Acordes de Sexta (2001) e Cantigas Sem Tempo
(2006). O seu 25º aniversário é comemorado com o seu terceiro lançamento, 25
Anos a Cantar. Este registo apresenta 13 temas (ou melhor, 12 mais uma
faixa final de conversa, animação, tainadas e memórias!) de cariz tradicional, folk
e ao jeito das tunas académicas. Por aqui há temas de cantores de nomeada (Zeca,
Mafalda Arnauth e Trovante) com os arranjos próprios do coletivo;
temas tradicionais portugueses e temas brasileiros; uma homenagem a Amália;
construções musicais próprias que aproveitam letras de Gil Vicente e Camões
e também três originais. 25 Anos a Cantar apresenta muitos jogos
vocais (até se verifica a colaboração do coral Lopes Morago em O
Passarinho) e belas harmonias criadas pela diversidade instrumental.
Naturalmente o destaque tem que ser dado aos temas originais – Não Deixes
Para Trás (com inclusão de trompete e tuba a dar um colorido muito
interessante), A Música do Vento (com rigor ao nível dos arranjos e das
progressões) e o tema título. E a verdade é que tomara muita gente que faz vida disto criar um disco com esta elegância e riqueza. Que venham mais 25! [81%]
The Crimson Guitar – A Tribute To
King Crimson
(FERNANDO PERDOMO)
(2019, Forward Motion Records/Cherry Red Records)
Se Out To Sea deixou algumas dúvidas a respeito
da capacidade de Fernando Perdomo criar momentos musicais memoráveis
(apenas neste aspeto, pois já conhecemos a sua técnica apurada como
guitarrista), Zebra Crossing dissipou-as com um conjunto de elegantes
temas. O guitarrista agora volta à carga com mais um trabalho perfeitamente
dispensável. Tudo bem que se preste mais um tributo aos King Crimson.
Afinal a banda influenciou muita gente, incluído ele próprio. Mas porque mini
faixas – 10 temas em 25 minutos – apenas com a guitarra clássica? Apenas para
devaneio próprio? A quem interessará um registo assim? Um registo que recorda
os acordes que Perdomo executava quando jovem conheceu os KC e que nada traz a
não ser uma perda de tempo de cerca de meia hora. Um trabalho apenas destinado
a ele próprio, aos amigos e algum estudante de guitarra que seja um pouco mais
curioso. [54%]
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