Nome incontornável da
música portuguesa nos seus mais diferentes vetores, Renato Júnior só agora sentiu
que era a altura certa para avançar com um álbum em nome próprio. Uma Mulher Também Chora,
considerado, para a Via Nocturna, Disco do Ano na sua categoria, é um disco de
revelações e descobertas. E foi isso que também tentamos descobrir nesta
conversa com o prolífico músico nacional
Olá Renato, tudo bem? Obrigado
pela disponibilidade e parabéns pela excelência de Uma Mulher Também Chora.
A primeira questão é óbvia – porque só agora um disco teu?
Talvez só agora tive tempo para mim. Basicamente
apeteceu-me fazer algo por mim, algo de dentro para fora. Acho que chegou no
tempo certo.
Este é um disco muito
feminino. Tem a mulher no título, é praticamente todo cantado por mulheres, só
tem modelos femininos no booklet – onde está a igualdade de género?
(risos)
Justamente por isso, há tantas áreas em que a
igualdade de género não se respeita em detrimento da mulher, aqui é exatamente
ao contrário (risos).
Agora a sério – sendo
um álbum conceptual, está relacionado com a temática feminina?
Acaba por estar, embora não tenha sido esse o motivo
pelo qual foi concebido. Ainda assim assume um pouco esse papel, sim.
E foi fácil trabalhar
com tanta mulher junta? (risos)
Sim foi, já estava habituado também em outros projetos
como foi o caso da Rua da Saudade. A única dificuldade foi organizar agendas.
Dezasseis temas para um
disco parece demasiado nos dias que correm, mas a verdade é que nem se dá por eles
passarem. Isso só reflete a qualidade global. Essa qualidade foi o teu
principal cuidado?
Não pensei nesse aspeto, de resto nunca penso, tento
só fazer o que sinto e da forma que me esteja a soar melhor. Se lhe chamam a
isso qualidade, maravilha.
Durante quanto tempo
trabalhaste nestas composições? São todas mais ou menos recentes ou o resultado do trabalho ao longo dos anos?
Diria que 90% delas são recentes, compostas
nos últimos 2 anos, há dois temas que já vinham, de anos anteriores.
Tens uma experiência
invejável nos mais diversos campos. Se te perguntasse em que área mais gostas
de trabalhar, o que me responderias?
A área que mais gosto de trabalhar é a criação. Criar
canções, vesti-las à medida, criar projetos e conceitos e colocá-los junto do público.
E de todas as
anteriores experiências musicais qual ou quais te deram maior gosto fazer?
Não consigo enumerar de forma leviana nenhuma delas em
particular, mas atrevo-me a dizer que pela grandiosidade e hipótese quase única
de fazer algo do género durante a tua vida, talvez a banda sonora oficial do
Euro 2004 ao lado da Nelly Furtado.
Uma dessas experiências
foi o convite para criares canções para o Festival da Canção. Como reagiste a esse
convite?
Reagi bem, e tomei sempre os convites como desafios
para apresentar canções únicas com intérpretes surpreendentes. A última vez
levei a Simone Oliveira, 50 anos depois da primeira vez de ela lá ter
estado. Deu-me um grande gozo.
Sentes que este disco é
uma obra que fazia falta na música portuguesa que tão maltratada tem andado
ultimamente?
Não acho que a música portuguesa ande tão maltratada
como referes, acho inclusive que tem estado muito ativa e a crescer na sua
produção. Quanto a este disco fazer falta, acho que sim pois se não sentisse
que ele fosse acrescentar algo eu não o editaria.
Com tantas vozes
diferentes, que estratégia usarás quando levares este conjunto de canções para
palco?
Gostaria de pelo menos em 1 ou 2 concertos conseguir
ter todas as cantoras presentes. Se entretanto avançarmos para mais datas,
talvez fazer apenas com parte das cantoras, sendo que elas podem mudar de data
para data. Vamos ver...
Obrigado! Queres acrescentar
mais alguma coisa?
Apenas agradecer a atenção dada ao meu trabalho
desejando a todos votos de um ano de 2020 com tudo do melhor.
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