Entrevista: Bela Gisela


Oriundos de vertentes distintas, quatro elementos erguem um novo projeto de rock em português. São os Bela Gisela que mostram credenciais no seu disco de estreia homónimo. Um disco que aposta em estruturas sólidas numa viagem pelo rock em português onde se sente a emoção e energia vibrante do género. Motivos mais que suficientes para perceber o que esteve na origem do nascimento deste novo coletivo e como tem sido a sua vivência pré- e pós-álbum. Foi o vocalista Miguel Gomes quem nos respondeu.

Olá Miguel, antes de mais obrigado pela vossa disponibilidade. Quem são os Bela Gisela e o que vos motivou a erguerem este projeto?
Somos 4 "espíritos inquietos" que vivem e respiram arte, no caso a música e que temos uma paixão em comum, o Rock.

Porquê um nome como Bela Gisela? Como é que ele surge e que significado tem?
Já existíamos há algum tempo, tipo 6 meses e não tínhamos ainda um nome, fomos lançando várias hipóteses, até que um dia o Yoli sugeriu este nome (que na realidade são 2!) e que soou foneticamente bem, para além disso tem um sentido de humor e uma ironia que também faz parte do Rock n roll, é o nome feminino numa banda de 4 homens, achámos perfeito e cheio de oportunidade.

Sendo que já todos tiveram diversas experiências, como se proporcionou esta junção?
O Yoli convidou-me insistentemente que queria fazer uma banda no estilo old school como a história do Rock sempre teve, com canções, espirito e sobretudo com mensagem, seja social ou poética. Apesar de eu estar a trabalhar noutro projeto mais indie, fiquei agarrado com o que ouvi e comecei a escrever e a trabalhar com ele. Logo a seguir o Duarte e o Manz, também eles orfãos de novas aventuras musicais, aderiram logo e daí a irmos para estúdio foi logo de seguida.

Que nomes ou movimentos mais vos influenciam?
Uma das coisas que mais força tem nos BG são as variadas influências que cada um de nós temos. No meu caso eu venho dum rock mais Indie, a minha assumida referência é o Bowie, depois sou um melómano de vários artistas desde os Arcade Fire, The Strokes, até a Tom Waits, Nick Cave... Já o Yoli tem raízes em bandas de rock mais puro, muita Brit Pop, com muita influência de Blues e Funk que se refetem na sua maneira de tocar e compor; por outro lado o Duarte é um fã de bandas clássicas dos anos 60 e 70, mas também com grande influência do rock dos anos 90, altura quando começámos a aprender tocar; o Manz vem do Punk e do rock mais stoner, o que lhe confere um estilo muito próprio.

Lançaram, ainda no ano passo, o vosso primeiro álbum. Como o descreveriam?
É o início da nossa história. Não há bandas sem concertos ao vivo e sem gravações. Inicialmente pensámos em fazer um EP, com 4 ou 5 temas, mas depois achámos ser pouco para o que já tínhamos produzido e optámos por um LP. Definitivamente é um disco de estreia honesto e direto. Tem a urgência que se exige a uma banda de rock, a rutura com o sistema atual da música e da arte em geral, muito formatada ao easy listening e consumo rápido. O som sustenta as palavras e funcionam como um todo, não há truques aqui, há sim espírito e dedicação a uma só causa - a arte da música, a poesia no geral.

É curioso verificar que têm quatro temas com hífen no título. É algum fetiche? (risos)
Nunca tínhamos pensado nisso, mas por acaso... mas decididamente é mesmo coincidência, não tem mesmo qualquer significado e muito menos fetiche.

Como funciona o processo de criação nos BG?
Não existe um padrão fixo. Para este disco a maioria das ideias vieram do Yoli, ele tinha as malhas e algumas estruturas, eu escrevi as letras e trabalhei as melodias de voz, houve outras canções que foram ideias minhas. O Duarte e o Manz vieram após esta primeira fase e sustentaram-se no que já estava feito e deram o corpo. Mas isto não significa que num próximo disco as coisas não sejam feitas de outra forma, porque já nos conhecemos melhor e existe outra confiança e química.

Como decorreram os trabalhos nos Black Sheep, reconhecidamente um dos estúdios de onde saem das melhores propostas do rock nacional?
Correspondeu ao que pretendíamos, ou seja, nós já tínhamos a noção do que queríamos fazer desde a fase das maquetes caseiras, por isso foi literalmente colocar em prática o que foi inicialmente gravado e correu bem, pessoal com boa onda.

A mistura e masterização estiveram a cargo do engenheiro Steve Lyon. De que forma surge este nome associado aos BG? Como se proporcionou essa ligação?
O Yoli já conhecia o Steve de um outro trabalho com ele de há uns anos atrás e desde então ficaram sempre em contacto um com o outro. Na fase da mistura nós queríamos alguém com experiência e sensibilidade internacional. O nome do Steve reuniu logo consenso, porque o curriculum dele fala por si.

Na vossa opinião, que input trouxe ele às vossas criações artísticas?
Quando estás perante uma pessoa que trabalha com talentos como os The Cure, Depeche Mode, Siouxie Sioux ou até o Paul McCartney, é muito natural deixares que o cunho dele tenha um peso muito positivo na tua obra. No fundo o Steve deu a este disco aquele toque altamente profissional que muitas vezes distingue os discos da banalidade e do comum. Para além de corresponder às ideias que lhe apresentámos, sugeriu outras que esteticamente fizeram todo o sentido.

Têm tido oportunidade de apresentar estes temas ao vivo? E o que mais têm agendado para os próximos tempos?
Sim, antes do disco sair fizemos 2 ou 3 espetáculos, depois algumas Fnac’s e agora que o álbum está cá fora iniciámos para já uma tour de bares onde atuamos cerca de 30/40 minutos e damos a conhecer o nosso som às pessoas que já nos seguem e outras que vão surgindo, felizmente cada vez mais. De referir que ao vivo soamos como no disco, não há malabarismos de estúdio que depois muitas vezes defraudam as pessoas, como lamentavelmente assistimos por aí.

Objetivos para o futuro? O que pensam atingir?
Os BG funcionam no registo step by step ou no one step at the time, temos este disco que gostamos muito, temos dois vídeos de duas canções Homem-Massa e Obra-Prima (ambas com hífens...) estamos a promover o nome da banda e a essência da mesma. Os concertos ao vivo irão complementar a nossa apresentação às pessoas, iremos fazer mais um ou outro videoclip e o futuro imediato passa para voltarmos a estúdio e gravar um novo disco, ou em LP ou EP, logo se verá.

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?
Sim, desejamos que as pessoas no geral dediquem mais tempo à cultura e à arte no geral e que se afastem do dito entretenimento gratuito. Houve um tempo em que a cultura era valorizada com um bem social e humano e infelizmente nos dias que correm isso não acontece, fazemos esse apelo a todos porque é através da educação, da cultura e da arte que as sociedades se desenvolvem e criam um mundo melhor para se viver. Não parte apenas de nós criadores e artistas fazê-lo, também os meios de divulgação deveriam seguir esta linha de conduta. O vosso exemplo é o melhor, através de um blog divulgam o trabalho de muita gente e dão a conhecer a voz de quem produz obra. Assim deveriam ser todos e encarar a arte como um desígnio e necessidade humana e não um mero negócio lucrativo.

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