A saída da teclista Mónica Rodrigues abriu as
portas a um endurecimento do som dos Inner Blast. Continuando na forma de
quarteto e com um incremento no músculo debitado pelas guitarras, Figment Of The Imagination, segundo
longa-duração dos lisboetas, traz uma sonoridade diferente conjugada com
algumas novidades, como por exemplo, a utilização, pela primeira vez, da língua
portuguesa e a entrada na Ethereal Sound Works. Todas estas novidades foram
abordadas na nossa conversa com o baixista Luís Silva.
Olá Luís, antes de mais, obrigado pela disponibilidade e parabéns
pelo vosso novo álbum. O que têm feito os Inner Blast nestes anos que separaram
Prophecy de Figment Of The Imagination?
Obrigado. Para alem das alterações de lineup
com que tivemos de lidar, o foco esteve sempre direcionado para a promoção e
divulgação do álbum. Contámos com um número considerável de concertos, o que
foi fantástico, mas aproveitámos também para nos adaptarmos à nova realidade e
nos sentirmos confortáveis nela, antes de nos lançarmos num novo trabalho.
Começando precisamente
pelo título. Qual o seu significado? De que forma surgiu?
Na verdade, o título do álbum não está diretamente
relacionado com o tema em si. Aproveitámos o título da música e usámo-lo como
reflexo da forma descomprometida, livre e sem espartilhos com que partimos para
este trabalho, deixando simplesmente a imaginação funcionar.
Que mensagens pretendem
transmitir com estas composições?
Apesar de abordarmos algumas temáticas sérias, não é
esse o nosso propósito, contamos muito com o imaginário de cada um, e com as
várias interpretações que daí resultam. A intenção é que cada um vista a pele
do personagem e sinta a coisa à sua maneira. Apesar de falarmos de guerra,
religião, sociedade e mitologia, não vimos com falsos moralismos, e muito menos
pregar o que quer que seja. Apenas contamos “histórias” e criamos ambientes.
Falem-me do tema O Teu Veneno – é a
primeira vez que experimentam usar o português? O que vos motivou a isso? Será
para continuar?
O Teu Veneno gira em torno de uma relação obsessiva e doentia, e sim,
esta é a nossa primeira experiência na língua mãe e estamos bastante
satisfeitos com o resultado final. O facto de termos optado pelo português teve
a ver com o facto de aquando da sua composição a Liliana ter improvisado em
português com o único texto que tinha disponível no momento. A coisa soou bem,
pegou e como era algo que nunca tínhamos feito, decidimos avançar. Já no que
toca a ter ou não continuação, não é algo que esteja nos nossos planos, mas é
possível que possa voltar a acontecer.
Vamos a outro tema – There’s No Pride In
This War – onde contam com a colaboração de Pedro Morcego no intro e
com um sample de um discurso de Eugene Victor Debs. Qual é a temática
abordada na faixa e de que forma esses discursos se enquadram na mensagem?
Sim, é verdade, um grande abraço ao Pedro por tudo. A
música aborda o tema da guerra e as suas devastadoras consequências, e a
passagem em questão foi usada não pela sua conotação politica, mas sim pela
ideia geral de que a guerra “só” é má para quem a sente na pele, quer seja
militar ou civil, porque para alguns, ela até é bastante boa, é um negócio
extremamente rentável.
Musicalmente, nota-se
um aumento de peso, com um afastamento em relação ao vosso gothic metal
original. De que forma isso foi premeditado ou não?
Não foi intencional, achamos que a ausência dos
teclados teve um papel preponderante para que os temas tivessem ficado mais
brutos e pesados. O resto, pensamos que faz parte da natural evolução da banda como
quarteto e com um elemento novo.
E foi por isso que,
atendendo ao aumento de peso, sentiram que já não necessitariam de um teclista?
Por acaso foi ao contrário. Só depois da teclista (Mónica
Rodrigues) ter decidido abandonar a banda, e sem perspetivas a curto prazo
de alguém para o lugar, após muitos ensaios e ponderação, é que optámos por
abdicar das teclas e seguir como quarteto.
Todas as composições
aqui presentes já foram trabalhas sem a presença dos teclados?
Em grande parte sim. Apenas os temas There’s No
Pride e Throne Of Lilith tiveram esboços com teclas, que ainda
chegaram a ser tocados ao vivo, mas que atualmente estão muito diferentes. Tudo
o resto, já foi pensado de acordo com a nova realidade.
Uma outra questão
prende-se com a vossa entrada na ESW. Como se proporcionou esse contacto?
Com a gravação do álbum, havia a necessidade de
encontrar uma editora para a sua distribuição e comercialização, e após alguns
contactos, a Ethereal Sound Works foi a que nos proporcionou melhores
condições, pelo que a escolha acabou por ser óbvia, e estamos muito contentes
por fazer parte do seu catálogo.
As reviews têm sido
sensacionais. Esperavam uma reação tão generalizadamente positiva?
Apesar de nos termos entregado de corpo e alma à
conceção deste novo álbum, e termos feito exatamente o que queríamos fazer, sem
fórmulas ou barreiras, a maior dúvida mesmo era a de qual seria a reação das
pessoas à mudança de sonoridade, e felizmente essa foi muito boa e positiva. No
que toca ao álbum propriamente dito, não criámos expetativas, nem boas nem más.
Procurámos acima de tudo fazer um bom trabalho e com o qual todos nos
identificássemos, mas é extremamente gratificante e é com muito agrado que
vemos as pessoas apreciarem o nosso trabalho e gostarem do que fazemos.
Obrigado, Luís. Queres
acrescentar mais alguma coisa?
Queremos agradecer à Via Nocturna e a todos
aqueles que ao longo do tempo nos têm ajudado e apoiado, mas também, apelar a
todos para que continuem a apoiar o metal nacional e encham as salas de
espetáculos. Felizmente temos muitas e boas bandas por cá, para todos os
gostos, e que facilmente fazem valer cada cêntimo da entrada. O metal
nacional é bom, tem qualidade e recomenda-se! Apareçam.
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