Entrevista: Vëlla


São um dos segredos mais bem guardados do metal nacional, apesar do som fresco, melódico e poderoso apresentado na estreia Coma sugira que esse segredo possa estar a ser cada vez mais descoberto. O primeiro álbum é recente e por isso impunha-se conhecer melhor este novo nome da cena nacional. Quem nos respondeu, com um enorme sentido de humor, foi Caesar Craveiro, baixista da banda e produtor do disco.

 

Olá Caesar! Aí está a vossa estreia em termos discográficos. Que sentimentos vos dominaram com o lançamento de Coma?

O sentimento de que estar vivo é o contrário de estar morto (risos) e fazer música é exatamente isso para nós, estar vivo e poder expressar o que vai na alma, obviamente que isso é quiçá o melhor sentimento logo a seguir ao poder almoçar cozido à portuguesa.

 

Antes de irmos a Coma, centremo-nos nos Vëlla. Quando nasceram, com que intenções e objetivos, com quem?

Os Vëlla nasceram no final do verão de 2019 com a intenção de os seus membros substituírem o xanax e o valium desta vida e também com o objetivo de fazer umas cantigas, sobre tudo e sobre nada, que possam de alguma forma transmitir algum tipo de emoção a uma qualquer pessoa incauta que se atreva a ouvir e eventualmente até gostar.

 

Todos vocês já tinham tido experiências musicais relevantes noutros projetos ou não?

Sinceramente, tenho dificuldade em definir o que é relevante, para qualquer um de nós todas as bandas e ou projetos em que estivemos envolvidos foram no seu tempo e na sua altura super relevantes emocionalmente, mas se na pergunta o relevante se refere a algum tipo de sucesso, acho que não, nenhum de nós anda de Ferrari e tem casa em Beverly Hills. O sucesso, para nós, é apenas medido pelo facto de alguém gostar do que fazemos, isso sim não tem preço, sejam um, dois ou vinte.

 

Se vos perguntasse quais as principais referências musicais para os Vëlla, o que me responderiam?

Duvido que algum de nós possa responder corretamente a essa questão, os gostos pessoais de cada um de nós são verdadeiramente díspares e sinceramente nem sei como é possível nos entendermos.

 

Quando partiram para a composição de Coma, quais eram as vossas ambições?

Ao compor o disco a ambição era um pouco aquilo que já descrevi acima embora possa acrescentar que o disco tem a ambição de ser ouvido de preferência, várias vezes pela mesma pessoa, pessoas essas que são todos vocês. E obviamente com a ambição de ser tocado ao vivo, o mais possível e o mais longe possível para poder incluir viagens e jantaradas e afins. (risos)

 

E sentem que conseguiram atingir esses desideratos?

Penso que após várias discussões onde palavrões foram ditos, cadeiras arremessadas, instrumentos partidos e um role sem fim de todo tipo de injúrias o resultado final é o possível. Eu já ouvi umas centenas de vezes e ainda estou vivo e com vontade de ouvir mais 1000.

 

O álbum tem 12 temas, incluindo uma intro e dois interlúdios. Qual foi a vossa intenção ao colocar esses interlúdios?

Basicamente se não existissem esses 3 temas havia gente a sair da banda. Não foi possível erradicar os Duran Duran de forma eficaz pela raiz, então aceitar e dizer que sim foi a solução, afinal de contas dizem que não se deve contrariar os malucos. Como eu era logo o primeiro a sair se não houvesse interlúdios, tenho a dizer que a intenção foi cortar assim à bruta o flow mais pesado e trazer umas malhas porreiras que eventualmente serão aquilo que a banda irá fazer quando lançar o seu décimo disco.

 


No tema Tormento utilizam a língua portuguesa. É uma aposta para continuar?

Penso que sim. Seja em português ou noutro idioma qualquer, a vibe do tema é que acaba por ditar um pouco essas nuances e ou pormaiores. Ficamos extremamente contentes com essa fusão e quem sabe o que aí vem? Eu não sei de certeza.

 

E queres agora falar dos convidados que colaboram convosco? Quem são, como surgiu essa possibilidade e qual o seu papel?

A cena dos convidados aconteceu por várias razões, desde chavalitos que gostamos, e neste ponto estamos de acordo, de álbuns com convidados pela frescura que trazem aos temas assim tipo alface do LIDL. Frescura de cenas que só uma outra pessoa fora da banda poderia trazer. Depois o facto de sermos fãs de dois deles, o Miguel Inglês dos Equaleft, que dispensa apresentações para qualquer fã de peso em Portugal e ainda por cima é uma joia de moço. O André Ferreira aka Wild Maui é outro conhecido nosso desde os tempos da secundária e teve comigo uma banda durante largos anos nessa altura, e para não ficar melindrado também é uma joia de moço que ainda por cima é das pessoas mais criativas que conheço. As duas senhoras nós não conhecíamos, uma delas a Ana Marques canta fado e é grande amiga do nosso vocalista (Pedro Lopes) e assim que ele sugeriu tal ideia obviamente que ficamos empolgados e acedemos a experimentar, ficou bem catita, mas eu sou suspeito. A Ariana Pereira é filha do Paulo, o baterista e tem apenas 9 anos, estuda violino pelo que sei há algum tempo e tem talento pa cacete. Vou contar: o Paulo perguntou se ela gostaria de participar no disco, a Ariana disse logo que sim, ouviu a música 2 dias antes foi ao estúdio e gravou todos os violinos do tema Tormento numa noite e quase todos ao primeiro take! Foi altamente para mim testemunhar talento em estado puro, obviamente toda a banda adorou e ficou!

 

A festa de lançamento do álbum foi adiada devido à COVID-19, portanto agora será prematuro falar de concertos, mas o que podem prometer os Vëlla quando subirem a palco?

Só sabemos estar de uma forma.... dedos em sangue, quilos de suor, grades de minis, pregos ao alho e lágrimas de satisfação. Nenhum de nós tem qualquer pretensão de ser ou querer ser o quer que seja para além do que já somos, amigos e gente que gosta de tocar em conjunto. E subir acima dum palco é só a melhor sensação que existe, é difícil explicar, mas acho que vocês percebem. Dar tudo é apenas uma extensão daquilo que nos faz sentir bem.

 

Obrigado. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?

Quero agradecer especialmente a quem nos ouve, somos só tolos com acesso a instrumentos. Também a vocês e a todos que fazem com que exista uma cena na tuga e que tantas vezes eu acho que são esquecidos. E quero também pedir ao Pai Natal que leve o Corona com o carvalho daqui para fora porque isto assim não tem um pentelho da graça. Quando o Covides for de vëlla apareçam nos gigs, nos nossos e em todos quais possam, uma noite com música, amigos, uma jola e um cigarrito não sabem o bem que vos fazia. Abreijos!

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