Entrevista: Zurrapa

Os Zurrapa estavam prontos para lançar o seu álbum quando surgiu a pandemia. Não se preocuparam com isso, apesar de terem ficado uns dias a bater mal! E ainda bem que saiu porque (Des)Governo No País das Maravilhas até tem muito a ver com o que se tem passado no que diz respeito a… desgoverno! Foi com esta sempre irreverente atitude que fomos encontrar o baixista Nuno Mendonça na nossa capital de distrito, Viseu, em pleno coração da Região Demarcada do Dão!

 

Olá pessoal! Como é lançar um álbum em plena pandemia? De qualquer forma a data inicial foi adiada, não foi?

Sim, o disco era para ter sido lançado dia 3 de abril, com concerto, festa e póneis. Depois veio o bicho e tivemos de adiar para sabe-se lá quando. Ficamos ainda uns dias a bater mal sem saber o que fazer, tínhamos os discos e o merch tudo pronto e arrumado em caixas. Acabamos por cagar e meter o disco à venda sem apresentação. Era um risco, porque naturalmente com o concerto sabíamos que safávamos logo uns quantos cds e umas shirts, mas ainda assim, sem festa e com o pessoal todo encafuado em casa… a coisa até correu bem! Esgotamos o merch e o cd está a andar, devagarinho, mas vai andando. Pelo menos correu melhor do que esperávamos! Mas não é uma experiência a repetir porque estou velho para estes stresses!

Mas vamos lá falar deste (Des)Governo No País das Maravilhas. Embora seja a vossa terceira gravação, este é apenas o primeiro álbum. Como olham para todo este processo que ficou para trás?
Sim, é o terceiro registo, mas apenas o primeiro álbum. Não que isto o torne melhor ou pior que os Eps! Sinceramente, para nós, gravar um Ep com 3 ou 4 malhas ou gravar um álbum com 10 ou 15 é precisamente a mesma merda. Depende apenas de para onde estamos virados. Desta vez gravamos tantas músicas porque estavam feitas. Se só estivessem 5, tinha saído um Ep. Não foi um processo feito a pensar nisso. Começamos a ensaiar depois da quarentena e já temos 2 músicas novas quase feitas… na volta qualquer dia sai um Ep… ou um single… ou não sai nada! O processo é muito natural, vamos ensaiando o que está feito e de vez em quando surge alguma coisa e dá numa música. Sempre foi assim e acho que vai ser sempre assim!

E este é mesmo o álbum que os Zurrapa queriam apresentar agora?
Porquê? Está assim tão mau? Sinceramente sim. Só fazemos o que queremos. Não temos pressões de nada nem de ninguém, só metemos cá fora o que nos apetece. Se podia ser melhor? Claro que podia! E se soubéssemos até podia ser um disco bom!!! Mas é o que é e não estamos nada aborrecidos. O próximo poderá ser bem pior!

Pelo título do álbum, percebe-se logo a vossa contestação política e social. Como analisam toda esta situação vivida com a pandemia e a forma como foi gerida pelos nossos políticos e outros responsáveis?

A contestação política e social acho que é inevitável. Vivemos num país tão pequenino e ao mesmo tempo tão recheado de merda e de compadrios que acho que é natural. Eu sinceramente de políticos não espero nada… espero tanto como espero do pai natal. São cantigas e mais cantigas. A exceção é aquele senhor que abocanha bolo rei como se não houvesse amanhã. Esse é outro nível, o que gosto dele. Será que ele ainda faz as suas cenas? Nisto da pandemia, começamos como seria de esperar: que nem patrões. Na onda do “isso são merdas lá para a China, aqui não se passa nada!” Até que chegou cá. E aí penso que fomos andando de acordo com o que se podia. Agora com o desconfinamento, voltou a cagada. São incoerências ridículas, são normas que servem de manhã, mas à noite já são diferentes… sei lá… vejo tanta coisa que me parece só estupidez. Cada vez mais acho que vivemos realmente num desgoverno.

Os temas deste disco são todos recentes ou recuperaram algum mais antigo?
É tudo, tudo, tudo, tudo novo, sem exceção alguma!!!! Menos a Esta Vida É Uma Merda que é uma cena que usávamos para começar os concertos e que funcionava um bocado para testar o nível de álcool. Ah e os Toureiros Assassinos que é uma das primeiras músicas que fizemos e sabe-se lá porquê nunca tínhamos gravado. Vá… e a Afogado Em Cerveja, a Nós Não Cantamos Canções De Amor e a Que Avance A Destruição já as tínhamos tocado ao vivo uma catrefada de vezes. Mas de resto é mesmo, mesmo tudo novo, prometo!!!

E o processo de gravação do disco, correu tudo de forma tranquila e de acordo com o planeado?
Sim, foi mesmo como planeamos. Mentira, foi mesmo tudo ao lado. Na nossa cabeça íamos demorar 1 mês a gravar a coisa e no mês seguinte estava o disco na rua. Na realidade demoramos 6 meses a gravar e produzir o disco. E quando estava tudo finalmente pronto veio o cabrão do bicho! Correu tudo ao contrário.  Somos uma merda. Mas tirando isso correu tudo na boa, fizemos o que queríamos e como queríamos.

Pela primeira vez têm convidados num registo vosso. Podes apresentá-los e contar como se proporcionaram essas colaborações?

Agora sim, é mesmo verdade! Tivemos convidados que surgiram de forma natural. Essencialmente são amigos nossos e que pressionados e forçados até à exaustão, aceitaram prontamente. Tivemos a malta de Pindelo dos Milagres, da associação Milagre Metaleiro, a fazer o coro na música que fizemos sobre o festival deles… e aproveitamos que estavam no estúdio e esticamos a coisa para fazerem coros em mais uma música. Como já lá estavam, contrariados ou não, gravaram. Depois, na Cucaracha da Cerveja, quando fizemos a música metemos logo na cabeça que fosse como fosse íamos ter de enfiar ali um acordeão e um trompete. E raios partam se não enfiamos! Cravamos a Rita Arcão para fazer umas cenas com o trompete e o Filipe Soares para fazer o acordeão e naturalmente eles rejeitaram na hora. Mas lá os enganamos!

O primeiro vídeo/single foi Quero Trotil. É um fiel representando do resto do disco?
Penso que sim. Embora talvez até tenha sido das últimas músicas a ficar pronta, achamos que representava bem o disco. Claro que já tivemos quem nos dissesse que é a mais fraca de todas, ou que havia outras muito melhores para single… mas é para o lado que dormimos melhor. Se tivesse sido outra teríamos as mesmas reações. Mas é uma música que tem o que gostamos e que sabíamos à partida que faríamos um vídeo sem grandes complicações.

Obrigado Nuno. Queres acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado nesta entrevista?
Sim, queria. Mas não posso porque provavelmente ainda ia preso. Tirando isso, quero agradecer à Via Nocturna pela oportunidade e pelo apoio e ajuda na divulgação do nosso trabalho. E que o pessoal apoie estas iniciativas!! Grande abraço!

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