O Peru não é conhecido precisamente pelas suas bandas
de metal, mas é de realçar o surgimento destes Dangerous Project que se estreiam
com um Cosmic Vision de classe mundial. Oscar Martin
falou-nos desde Lima, onde está atualmente, apesar das suas experiências além-fronteiras.
E, entre outras coisas, contou-nos a curiosa história que esteve por trás da
escolha do nome do projeto.
Olá
Oscar! Obrigado pela disponibilidade e espero que esteja tudo bem neste
momento de crise! Podes apresentar os Dangerous Project aos metalheads
portugueses?
Olá Pedro, muito obrigado pela entrevista e uma
saudação especial a todos os teus leitores. Sou o guitarrista Oscar Martin
dos Dangerous Project, somos uma banda que por muitos anos acumulou a
energia do rock and roll e do heavy metal melódico e nós capturamos
tudo isso no nosso primeiro álbum Cosmic Vision. Sobrevivemos a muitos
obstáculos, de onde vimos o rock e o metal não é apreciado pela
maioria das pessoas, mas o nosso amor pela música e o apoio dos nossos fãs
fizeram-nos resistir e estamos aqui prontos para o rock, convidando todos
os rockers de Portugal a aumentarem o volume e a ouvirem o nosso álbum,
garanto-vos que se divertirão muito e que ficará entre os vossos favoritos.
Podes falar um pouco da
história da banda até agora?
Os Dangerous Project nasceram no final de 2015,
mas cada um de nós já fazia música antes, Eddy Geott e eu tocamos
anteriormente nos Yawarhiem, uma banda sinfónica de power metal
fundida com instrumentos andinos e letras que narravam a mitologia Inca. Por
outro lado, José Gaona e eu tocamos nos Icarus, uma banda
pioneira no power metal melódico do género no Peru, muito amada pelos
fãs peruanos. Tudo surgiu de uma forma muito natural. Estive algum tempo fora
do Peru e quando voltei visitei o meu amigo Eddy, que naquele dia estava com Adnagum
Franco e depois de umas cervejas e uma boa conversa começamos a tocar
músicas que sempre gostamos, Deep Purple, Scorpions, Rainbow,
foi uma jam super espetacular, estávamos um pouco bêbados, o volume do Marshall
subiu e os vizinhos chamaram a polícia... Foi uma boa descarga de rock and roll!
No fim de semana seguinte convidei Gaona para se juntar à jam e a
química foi instantânea. Naquele dia tocamos o que sabíamos até que a polícia
veio novamente para nos fechar. Isso repetiu-se todos os fins de semana e os
vizinhos odeiam-nos! Atiravam-nos com muita coisa nojenta, água, ovos podres! Imagina
Gaona a cantar Smoke On The Water e, ao mesmo tempo, a esquivar-se de um
projétil lançado a toda velocidade. O projeto era odioso demais para aquele
bairro tranquilo e os ensaios tinham-se tornado um perigo real. Foi assim que
nasceram os Dangerous Project e, desde então, não paramos de rockar.
Começamos a tocar em pequenos bares em Lima, e foi nessa altura que o Luber
Elend se juntou ao projeto. Nessa altura tínhamos um repertório amplo dos
anos 70 e 80, divertíamo-nos muito e, realmente, gostamos de tocar as músicas
com as quais crescemos, mas em meados de 2019 percebemos que estava na altura de
dar o próximo passo e decidimos lançar o nosso primeiro álbum. Foi assim que
nos organizamos: comecei a trabalhar na composição das músicas e Eddy assumiu a
produção musical que foi decisiva para o produto final, foi assim que lançamos o
nosso primeiro álbum Cosmic Vision!
Quais as vossas principais
influências conceptuais e musicais?
Eu cresci nos anos 80, nos primeiros anos da minha
vida fui “bombardeado” com boa música em todos os géneros musicais, tudo foi
ótimo. Poderia falar contigo durante horas! Não sou específico para ouvir
música, posso acordar a ouvir Deep Purple, Jetro Tull, Uriah
Heep, depois ouvir Scorpions, Alcatrazz, Malmsteen e
fechar o dia com Chuck Berry, Steve Ray, Gary Moore, no
dia seguinte posso acordar com Europe e depois ir aos Rainbow e
terminar o dia com Handel ou Bach. Acompanho a minha vida com
muita música e acho que ter crescido em toda aquela onda dos anos 80
influenciou muito a minha forma de compor.
Que motivações e
propósitos têm em mente para cumprir com este projeto?
Nada é mais gratificante e motivador para um músico do
que ver que o seu trabalho é bem recebido pelo público e vai cada vez mais
longe. Isso realmente impulsiona-nos a seguir em frente, as letras das nossas
músicas dizem muitas coisas. Ainda temos muito mais a dizer, há muito rock
dentro de nós, planeamos lançar muitos mais álbuns, encantar mais e mais
pessoas com a nossa música e ser uma grande banda. Isto é apenas o começo.
Em um determinado
momento deste caminho, trocaram de teclista. Como lidaste com a situação?
Um velho ditado diz: ''Uma bênção disfarçada''. Quando
isso aconteceu pensei que não encontraria um teclista adequado para a banda.
Sabes como é, toda a gente já passou por isso em algum momento da vida, sentes
que nada vai ser o mesmo, mas de repente algo acontece e percebes que tudo
acontece por um motivo. Eu conhecia o Luber há muitos anos, sempre falámos em
fazer música um dia, mas nunca aconteceu. Assim, numa noite peguei o telefone e
liguei-lhe. Encontramo-nos para ensaiar e imediatamente houve uma boa
comunicação e química, compartilhamos os mesmos gostos musicais, pelo que ele
complementou bem com o resto da banda.
De alguma forma isso
afetou a forma como tinhas previsto o álbum?
Bem, tivemos que adiar a data de lançamento e regravar
os teclados. No entanto, o efeito foi muito melhor do que o esperado. Com o Luber
Elend encontramos o que procurávamos.
Todas as músicas são em
inglês, exceto as duas faixas bónus que são em castelhano. Alguma razão
particular para isso?
Essas duas canções foram inicialmente escritas em castelhano.
Durante as nossas apresentações no Peru, foi muito emocionante ver e ouvir o
público cantar a letra de Fire In My Heart às lágrimas. Essa música
tocou os seus corações e foi por isso que decidimos incluir essas duas faixas na
nossa língua nativa, como foram concebidas.
Ainda moras fora do
Peru? De que forma administras o processo de composição e ensaios?
Por enquanto moro em Lima, embora esteja sempre em
constante movimento, adoro viajar e conhecer muitos lugares e culturas, isso
para mim é essencial para me inspirar e compor canções. Na banda temos uma
comunicação e afinidade muito boa, todos compartilhamos os mesmos gostos
musicais e as músicas que eu componho são do agrado de todos. Eddy Geott
acondicionou a acústica da sua casa onde tudo começou e agora já não somos um
estorvo para os vizinhos daquele bairro tranquilo.
Como se proporcionou
esse contacto com a Shade Moon Entertainment?
Recebi uma mensagem de David Van Hartingsveldt,
chefe da Shaded Moon Entertainment. Tínhamos muitos amigos em comum numa
rede social e quase imediatamente pude sentir nele vibrações muito boas. Ele é
uma pessoa gentil que sabe muito sobre música, tem sido muito respeitoso com o nosso
trabalho e estamos muito felizes por ter chegado a um acordo com ele. Graças à
Shaded Moon, muitas pessoas na Europa puderam conhecer a nossa música e isso é
muito gratificante para nós.
Vocês foram uma das
muitas bandas que foram afetadas pela covid-19. De que forma e o que fizeram para
superar a situação?
Claro, esta crise afetou a todos no mundo todo, é uma
pena, ninguém ficou alheio a essa situação. Tínhamos lançado o álbum recentemente,
tocávamos com frequência, tínhamos muitos planos e apresentações programadas
dentro e fora do Peru que foram cancelados devido à quarentena. Afetou-nos muito
porque a música é a nossa principal fonte de rendimento, somos músicos a tempo
inteiro, mas tivemos que nos reinventar para lidar com esta situação,
organizando eventos online e vendendo o nosso merchandising
através do serviço de entrega. Isso ajudou-nos a ficar mais perto dos nossos
fãs e a permanecer ativos.
E agora, projetos para
o futuro? Em que estão envolvidos atualmente?
Já estamos a trabalhar na nossa segunda produção,
aproveitamos a quarentena para nos reorganizar e aprender muito sobre os
processos técnicos da indústria musical e audiovisual, é um mundo fascinante.
Sempre fomos uma banda de rock and roll, chegamos sóbrios, ligamo-nos, soamos
e embriagamo-nos. Não tínhamos ideia de todas as possibilidades que existem por
trás da tecnologia e agora vamos usar isso a nosso favor na próxima produção,
mas sem deixar de ser a banda de rock and roll, livre, natural e
espontânea que sempre fomos. Obrigado a ti, Pedro, e viva o rock and roll.
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