Passaram oito anos desde que os Iranianos Angband lançaram o seu
último álbum. Embora nunca tenham parado de trabalhar, um problema de saúde do
vocalista Tim Aymar, atrasou o lançamento do quarto álbum, naquele que acaba
por ser o melhor registo do trio. Sendo a primeira banda iraniana que
entrevistámos, foi com enorme expectativa que partimos à conversa com o líder
Mahyar Dean.
Viva Mahyar! Os
Angband vêm do exótico Irão, por isso pedia-te que apresentasses a banda aos metalheads portugueses?
Viva! Angband é uma banda de heavy
metal/power metal e usamos elementos de metal
progressivo e música tradicional persa na nossa música.
Como
é o dia-a-dia de uma banda de metal no Irão?
Bem, agora é difícil para
todos os músicos em todo o mundo, mas o nosso é mais difícil porque não podemos
vender os nossos CDs no nosso país de origem e nem fazer espetáculos. O nosso
baterista Ramin Rahimi e eu somos
professores de música em Teerão. Felizmente, no século XXI, ninguém te pode
impedir de fazeres o que queres!
Recentemente,
no teu país, uma banda de black/death metal foi presa por ordem do governo. Sentem-se completamente
livres para cantar e tocar o que quiserem? Nunca pensaram que isso vos poderá acontecer?
A maioria das pessoas tem
sérias dúvidas sobre isso porque há alguns anos outra banda afirmou ter sido
condenada à prisão, mas depois de alguns meses as pessoas descobriram que eles
mentiram para chamar a atenção! Não vou dizer que é impossível, mas não vi as
notícias na comunicação social pró-governo, por isso não sei se é falso ou verdadeiro.
Há 20 anos atrás isso acontecia muitas vezes, mas hoje em dia as coisas estão
um pouco melhores.
Vocês
foram a primeira banda iraniana a assinar internacionalmente. De que forma isso
influenciou a vossa carreira?
Tem sido um grande
sentimento para mim ver a nossa música nas rádios de metal e ler as críticas sobre os nossos álbuns em diferentes
revistas ao redor do mundo. Usei algumas das críticas construtivas para tornar
a nossa música e produção melhores. Agradeço a todos que ouvem a nossa música.
Eu ainda vejo as pessoas chocadas ao ver uma banda de metal do Irão com contrato e isso é bom!
Também
és escritor, com dois livros editados sobre bandas Death e Testament. O que te
motivou a escrever sobre essas bandas? Já estás a trabalhar ou a pensar em
trabalhar em algum outro livro de outra banda?
Há 20 anos vi livros sobre os
Pink Floyd nas livrarias e decidi
escrever um livro sobre Death e
depois sobre Testament. O meu
principal objetivo era aumentar as verdadeiras informações sobre o Metal e principalmente as letras que
costumam ter algo importante dizer e também quebrar o rótulo de música
satânica! Agora não penso em escrever mais livros porque atualmente podes
encontrar muitas informações apenas pesquisando no Google!
Por
falar em Death, desde 2017 que tens o vocalista dos Control Denied de Chuck
Schuldiner, Tim Aymar, nas tuas fileiras. Acredito que não foi apenas uma feliz
coincidência...
Não, não foi! Quando ouvi Control Denied em 99 fiquei encantado
com a música e os vocais e fazer um álbum com Tim Aymar tornou-se um sonho para mim. Felizmente tornamo-nos
amigos através da mãe de Chuck. Tim é um amigo incrível e com ele aprendi
muitas coisas sobre produção musical.
Estive em contacto com o
Chuck durante um ano antes de ele falecer. Ele era uma ótima pessoa e apoiou
muito o livro. Mandou-me muitas t-shirts
dos Death, CDs, pósteres… etc. e tudo
isso é muito precioso para mim. Realmente gostaria de poder ver os Death or Control Denied ao vivo.
O
vosso lançamento anterior foi Saved From The Truth... em 2012. Portanto, um regresso que só
acontece 8 anos depois. O que aconteceu para haver este hiato tão longo?
O problema mais importante
tem sido a má economia do Irão e que está pior a cada dia! Comecei a escrever
música para IV em 2017 e depois
conversei com Tim sobre isso. Demoramos 3 anos para ele terminar o álbum devido
a uma dor crónica no pescoço. Ele é um grande homem de muita vontade e
finalmente terminou o álbum.
Mas
os Angband nunca pararam, certo? Em que atividades e/ou projetos estiveram envolvidos
durante estes anos?
Não, nunca paramos. Eu
estive focado principalmente nas minhas competências de engenharia de som.
A música Atena
é dedicada a Atena Aslani. Quem era ela e de que forma influenciou esta música?
Era uma adolescente inocente
numa pequena cidade no Irão que foi violentamente violada e morta por um homem.
Isso chocou a nossa sociedade e influenciou-me a escrever uma música sobre essa
tragédia.
Já Mirage é baseada num poema de J. Rumi. O que te motivou a usar este poema em
particular?
Os poemas persas clássicos
geralmente têm um significado profundo e são muito populares no Irão, por isso
sempre fizeram parte das nossas vidas. Eu gosto deste poema porque fala sobre
ser um ser humano humilde que percebe que é apenas um pequeno ponto no
universo.
Relativamente a IV,
como vês a vossa evolução como intérpretes e compositores?
Um músico decente está sempre
a crescer e a aprender, nunca para. Para este álbum, senti que podia trazer
mais elementos persas para a música, o que foi desafiador. Uma coisa que cresce
dentro de mim é a capacidade de usar as minhas capacidades com a guitarra como
parte da música e não apenas para impressionar as pessoas. Não me leves a mal, eu
gosto de impressionar as pessoas, mas com a minha música como um todo, não
apenas por tocar guitarras rápidas.
Ao longo do álbum
podemos ouvir um instrumento tradicional. O que é e quem o toca?
É um antigo instrumento Persa
de sopro chamado Ney. É o pai da
flauta e tem um som místico profundo. Pasha
Hanjani tocou esse instrumento e ele é um dos melhores do Irão.
Que projetos tens em
mãos e/ou em mente desenvolver nos próximos tempos, mesmo considerando a situação
actual de pandemia?
Bem, a Covid é uma merda,
mas pelo menos tenho mais tempo para escrever música e é isso que estou a fazer.
Espero que possamos lançar alguns singles
em 2021. Uma coisa é certa: os Angband
nunca param!
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