Britania é um trabalho
completamente diferente daquilo a que os espanhol Joaquin Padilla nos tinha
habituado. E nas suas próprias palavras, tentou fazer um disco de metal
sem os instrumentos tipicos de metal. E o resultado é assombroso. Só com
orquestra e coro e as diferentes personagens, Britania é um disco
diferente, mas emblemático. E foi a respeito deste álbum que fomos falar com o
compositor que já nos foi adiantando que um novo disco – que será o mais pesado
da sua carreira – já está em construção.
Olá, Joaquin, obrigado pela disponibilidade e parabéns pelo
lançamento de Britania. Essas cinco músicas são totalmente novas ou vêm das
sessões de gravação do teu último álbum?
É tudo material novo.
Legado de una Tragedia não é um conceito de canções isoladas. Nunca
sobra nenhum material. Eu componho uma história completa, com enredos,
personagens... e cada música é uma cena. Escrevo as canções e os interlúdios
que a trama precisa. Quando uma nova história começa, tenho que começar do
início.
Desta vez decidiste apenas gravar com orquestra e coro. Nada
elétrico! Por que escolheste essa opção e de onde vem a inspiração?
Desde criança que
adoro teatro musical. Na verdade, Legado começou com a ideia de ser um musical
pesado. Também adoro trilhas sonoras e música clássica. Sou um grande fã de
discos que incluem uma versão com apenas as partes orquestrais, como Nightwish
ou Fleshgod Apocalypse. Guitarras distorcidas e bateria poderosa não
revelam muitas das nuances que a orquestra possui. Portanto, tentei fazer um
“disco de metal” sem os instrumentos típicos do metal, mantendo o
caráter épico, a força, a paixão... mas apenas com uma orquestra sinfónica e
coros líricos. Tentei fazer com que parecesse um musical clássico como Los
Miserables ou O Fantasma da Ópera, mas com cantores de rock.
E é mais fácil trabalhar apenas com orquestra e coro ou também
com instrumentos de rock? Quão diferente foi a
tua abordagem no processo de criação?
É muito
diferente. Quando trabalhas com uma orquestra sinfónica, tens que compor
melodias para muitos instrumentos diferentes, com as suas particularidades, tens
que fazer partituras para todos eles. É muito emocionante porque tens muitas
possibilidades, podes criar ambientes muito interessantes, mas dá muito
trabalho. Não há espaço para improvisação. Os músicos tocarão exatamente o que
escreveste na partitura. É um trabalho muito meticuloso. Mas adoro fazer isso.
Há um sentimento muito especial quando os músicos tocam a tua música pela
primeira vez e descobres que a música flutuando na tua cabeça soa ainda melhor!
Um disco de rock tem muitas improvisações, os músicos podem adicionar a sua
personalidade, por exemplo nos solos de guitarra, podem respeitar os grooves
mas adicionar elementos. Aqui não.
E neste caso, como foi o teu trabalho nas três versões do álbum
- em espanhol, em inglês e a orquestral?
Legado de una
Tragedia é a ópera metal mais importante em espanhol, temos
milhares de fãs na Espanha e na América do Sul e embora haja fãs em todas as
partes do mundo, há um grande público que não conhece a obra pelo idioma. Achei
que era hora de atingir mais pessoas, de tentar aumentar o público e lançar o
álbum em mais países. Por isso, escrevi uma versão em inglês com a ajuda de Baol
Bardot Bulsara, vocalista dos TNT. O mais interessante é que quando
começamos a trabalhar na versão em inglês descobrimos que ela tinha uma
personalidade diferente. O som das palavras evoca outros tipos de sentimentos e
decidi que outros cantores interpretariam essas personagens. São duas versões
diferentes, línguas diferentes e cantores diferentes.
Exatamente, para a versão em inglês é óbvio que houve mais do
que uma simples tradução. De que forma trabalhaste na adaptação da obra?
Nao foi fácil.
Costumo escrever letras numa língua antiga, muito poética. Acho que as palavras
são muito importantes. E hoje, com as redes sociais, perdemos muito. Emojis
e mensagens curtas matam as palavras. Procuro aproveitar a riqueza do idioma e
traduzir para um idioma que não era o meu não foi fácil. Felizmente Baol é um
amante da história antiga, da mitologia e ajudou que a adaptação não fosse uma
simples tradução. Eu queria que a poesia sobressaísse.
Como conseguiste fazer com que esses grandes nomes
internacionais colaborassem contigo?
Trabalhar com Johnny
Gioeli ou David Readman foi um sonho que se tornou realidade. Sou fã
deles desde a minha adolescência, quando ouvi pela primeira vez Hardline
ou Pink Cream 69. Apresentei-lhes o projeto e ambos me pediram para o ouvir
antes de dar uma resposta. Acho que eles não esperavam ouvir um álbum como este.
E foi exatamente isso que os fez aceitar o meu convite. Eles estão muito
acostumados a fazer discos clássicos de hard rock, mas essa foi uma
aventura bem diferente. Aceitaram imediatamente. Com Thomas Vikstrom eu
já tinha trabalhado no meu álbum anterior The Secret Of The Templars e
ele é um dos meus cantores favoritos. Desta vez, ele está mais feliz porque
conseguiu cantar em inglês. Na vez anterior tinha que fazer em espanhol e foi
mais complicado para ele, embora o resultado tenha sido incrível. Também foi a
primeira vez que trabalhei com a Rosalía Sairem, também dos Therion
e ela tem sido fantástica e tem uma voz maravilhosa. E Baol é um dos cantores
mais versáteis que conheço. Ele já trabalhou em peças de teatro musical e foi a
pessoa perfeita para interpretar o druida.
Esta é realmente uma ótima ópera que seria ótimo transpor para
palco com performances e tudo o mais. Achas que isso poderá ser possível um
dia, logo que a pandemia acabe?
A pandemia é um
problema real para trazer uma peça como esta para palco. É difícil coordenar as
agendas de todos os músicos que trabalham nos seus próprios projetos, mas tenho
a certeza que logo que este período acabe, poderemos fazer espetáculos de Legado.
Quando podem os vossos fãs esperar um novo longa duração?
Muito em breve,
na verdade. Já estou a gravar a próxima ópera. Acabei de terminar as demos
e começarei a gravar nas próximas semanas. Desta vez, contarei uma história
assustadora sobre as "pinturas negras" do pintor espanhol Goya.
Será o álbum mais pesado que já fiz, o mais dark e embora tenha uma
orquestra sinfónica, também terá instrumentos de rock. Um álbum
realmente de metal!!!
Obrigado, Joaquin. Queres enviar alguma mensagem para os teus fãs?
Obrigado pelo vosso
apoio. Sem vocês, este sonho não viveria. E obrigado Daniel!
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