Reviews: Al Mouraria, Flying Circus, Joel Hoekstra's 13, Mood, Miss Lava

Com Vida (AL MOURARIA)

(2021, Independente)

Os Al Mouraria já têm uma vasta carreira de 17 anos, assente na garantia de experiência e maturidade. A mesma experiência e maturidade que apresentam no seu mais recente disco, o sétimo, – Com Vida. Um disco que se foca no fado, mas não se limita ao fado. Aliás, desde logo o formato ensemble (com acordeão, saxofone, clarinete e contrabaixo) da formação base aos quais se adicionam as percussões (cortesia de João Melro) e vozes rapper (cortesia de Subtil), deixa bem evidente que a abordagem foi muito mais ampla. Como de facto, seja com incursões pela música tradicional, pelo jazz, pelas marchas ou pela bossa nova. Neste disco participam cerca de duas dezenas de artistas que aceitaram a colocar as suas vozes nestas composições, dando-lhe, também neste aspeto, um colorido diferenciado. No entanto, um disco ligeiramente menos longo teria tido um resultado mais efetivo, em função de alguma repetitividade que acaba, naturalmente, por surgir em 16 canções espalhadas por quase uma hora de música. [80%]



 

Flying Circus (FLYING CIRCUS)

(2021, FastBall Music)

Depois de uma carreira de 30 anos, completada em 2020, os Flying Circus decidiram dar uma olhadela nostálgica pelo seu passado. Por isso, o quinteto alemão, praticante de um sofisticado prog rock, decidiu passar esse ano histórico (e pandémico) a recuperar algum do seu antigo repertório, que agora é apresentado nesta compilação simplesmente batizada de Flying Circus. Todos os temas anteriores a 2011 aqui presentes foram totalmente regravados com a nova formação, os temas anteriores a 2020 receberam uma mistura nova e refrescante, sendo que apenas as canções do álbum conceptual 1968 (lançado há cerca de um ano) não sofreram qualquer mexida. Entre as 15 faixas, que mostram o melhor da carreira do coletivo, faz parte um novo tema, por sinal espetacular (e a deixar água na boca para o próximo álbum!), intitulado Dystopia. Mas, note-se que mesmo nas regravações de temas antigos há novidades. Um exemplo, surge em Carpe Noctem onde o vocalista Michael Dorp cede a sua posição ao baterista Ande Roderigo; outro diz respeito a solos de violino executados pelo teclista Rüdiger Blömer. E isso acontece em Seasons, The World Is Mine e, novamente, em Carpe Noctem. Flying Circus mostra claramente o nível atingido pelo coletivo desde que este line-up está junto e se serve para celebrar 30 anos de uma brilhante carreira, também projeta muitos mais e ainda mais brilhantes. [92%]



 

Running Games (JOEL HOEKSTRA’S 13)

(2021, Frontiers Music)

Joel Hoekstra (guitarrista, Whitesnake, Trans-Siberian Orchestra, Night Ranger, Broadway) criou as suas próprias músicas, juntou os melhores dos melhores e lançou o próprio projeto, Joel Hoekstra’s 13. E quando falamos dos melhores falamos apenas de Russell Allen, Vinny Appice, Tony Franklin, Derek Sherinian e Jeff Scott Soto, a quem se deve acrescentar, como convidados, Lenny Castro, Chloe Lowery, Dave Eggar e Katie Kresek. Mas, claro que muitas vezes uma superbanda não faz um super álbum. E neste caso não faz. Naturalmente ajuda a forma como os desempenhos individuais são de topo e na forma como os solos são realmente empolgantes. Mas, de resto, tudo o que diz respeito às canções, soa um álbum pouco dinâmico, demasiado igual entre si e entre muitos outros lançamentos e muito formatado ao estilo Frontiers. É, portanto, um disco com pouca identidade que vive de três momentos mais interessantes: a emotividade transmitida em How Do You, o groove de Cried Enough For You e a balada acústica Running Games. [77%]



 

Glow Burn Live (MOOD)

(2020, Hammer Records)

The Fourth Ride Of Doomanoids data de 2001 e foi o último lançamento dos Mood, banda de doom metal da Hungria. Passados 18 anos em silêncio (bem, se não consideramos o vídeo com o mesmo nome em 2007 e o single digital Wombocosmic em 2018), a banda de Budapeste regressou aos palcos para um espetáculo único de comemoração do seu 25º aniversário. O concerto foi no célebre Barba Negra Music Club, na sua cidade e aconteceu a 4 de janeiro de 2019. E foi registado para a posteridade tendo sido lançado em formato 2CD e DVD no final de 2020, pela Hammer Records. E não deixa de ser curioso o jogo de palavras do nome da banda: Mood (sentimento) é também... doom lido de fim para o princípio! E por falar em curiosidades, o seu primeiro álbum foi Volume 1, em 1996. Alusão ao célebre Vol. 4 dos Black Sabbath? Eventualmente, até porque a banda presta tributo aos britânicos neste live com uma versão de Children Of The Grave que encerra o concerto. Os CD têm cerca de 90 minutos de música, sendo que o DVD ainda apresenta uma entrevista em exclusivo conduzida por Laszlo Lenard e um vídeo promocional das sessões de gravação de Wombocosmic. Musicalmente, os Mood são doom clássico. Som poderoso, vocais limpos, riffs pesados e lentos. Mas não propriamente lentos em excesso nem muita obscuridade porque a componente de heavy metal tradicional também está presente. [85%]



 

Doom Machine (MISS LAVA)

(2021, Small Stone/Kozmik Artifactz Records)

Sucessor do EP Dominant Rush (2017), o quarto álbum dos heavy rockers Miss Lava projeta o nome dos lisboetas além-fronteiras com uma edição a cargo da Small Stone Records/Kozmik Artifakz. Um passo importante na carreira dos nacionais com um disco que faz jus ao seu título. Riffs doom, densos e caleidoscópicos, exploração de interlúdios hipnóticos, na forma de Magma, Karma, Alpha e Terra, e uma textura multifacetada onde o doom e o stoner se cruzam numa caminhada pesada, vigorosa e tumultuosa. Mas também profundamente catártica e emocional porquanto se inspira na perda trágica do filho do guitarrista K. Raffah (com apenas um mês e meio de idade), bem como no nascimento de filhos de outros membros durante a ocorrência de todo o processo. Gravado ao vivo nos Generator Music Studios, em Lisboa, Doom Machine carrega todo o esplendor do stoner moderno com ganchos atrás de ganchos e um piscar de olhos à escola Kyuss que não deixará ninguém indiferente. [80%]

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