Entrevista: The Limit



O que é que têm em comum os nacionais Dawnrider e os lendários Pentagram e The Testors? É que membros destes nomes se juntaram num novo e excitante projeto, os The Limit. Que, ainda por cima, teve em Portugal um forte impulso na sua génese, sendo que o álbum de estreia, Caveman Logic, até foi gravado no Algarve. O vocalista Bobby Liebling e o guitarrista Sonny Vincent conversaram connosco sobre todas estas peripécias em tempos de pandemia.

 

Viva, obrigado pela vossa disponibilidade e parabéns pela estreia Caveman Logic. Em primeiro lugar, e embora sejam músicos muito conhecidos, podem apresentar a banda aos rockers portugueses?

SONNY VINCENT (SV): A banda é Bobby Liebling, vocalista, Sonny Vincent, guitarrista, Hugo Conim, guitarra, João Pedro Ventura, bateria e o último é Jimmy Recca no baixo.

 

Como disse, todos vocês são músicos experientes com um rico passado noutras bandas. O que vos motivou a iniciar este novo projeto?

SV: Eu e Bobby tínhamos um amigo em comum, mas não nos conhecíamos e esse amigo, que já conhecia o Bobby há uns anos, conduziu, durante algumas tournées, um autocarro para mim. Ele mostrou a minha música para o Bobby, demos uma telefonadela e conversámos. Foi tudo bom, muitas piadas malucas e muitos bons momentos no telefone e ficamos seriamente decididos a fazer um álbum. Um álbum que viria a ser gravado em Portugal. No início era para ser na zona de Washington, mas aquilo passou, não resultou e foi quando tive uma ligação com o Hugo no Algarve e partiu daí. Depois do estúdio de DC ter caído, o Hugo perguntou porque é que não vínhamos gravar a Portugal e foi assim que todos nós nos juntamos. Conheci o Hugo e convidamos o Jimmy para tocar baixo no álbum. Antes de irmos para Portugal já tínhamos as estruturas básicas das músicas que eu mandei para todos e Bobby tinha as letras, fez tudo de uma vez. Eu e o Bobby escrevemos a maioria das músicas do álbum e o Hugo escreveu duas músicas. Juntamos tudo e fizemos isso.

BOBBY LIEBLING (BL): Como eu disse, nós conseguimos. Foi um tempo de gravação muito curto e tivemos muitas sessões bem longas. Foi muito concentrado naquele pequeno período de tempo.

 

Então já conheciam os músicos portugueses que estão na banda. E eles foram a base para o início de The Limit.

SV: Eu conhecia o Hugo e ele enviou-me alguns exemplos de bateristas diferentes que ele conhecia em Portugal e no final escolhemos o João. Quer dizer, eu já tinha escrito as músicas e mandado para o Hugo e o Hugo e o João já estavam a trabalhar nelas em Portugal e o Jimmy estava a praticar em Filadélfia. Como já disse, o Bobby estava a escrever as letras e acabei por descobrir que eu e Bobby escrevemos juntos sobre canções diferentes e fomos para Portugal fazer o álbum.

 

O que significa o nome da banda, The Limit, e como surgiu?

BL: Há uns anos eu ia usar o nome, mas guardei-o na minha mente, quero dizer, não para fazer algum tipo de nome raro, estranho, mas era bom usar um nome meio extremo e, tu sabes, o início do projeto foi uma espécie mistura de fusão entre o punk e o rock ou entre o punk e o hard rock, e eu queria levar isso ao extremo, mas simplesmente como The Limit, mas sabes que pensamos em muito nomes para a banda.

SV: Sim, na verdade, analisamos muitos nomes, todos enviaram listas de nomes diferentes e começamos a descartá-los. Eu descartei alguns. Fiquei com Suicidal, The Brast Insects, The Mil Lovers. Era nomes demasiado maus para a nossa banda e quando Bobby surgiu com The Limit eu disse ok, é esse, e, finalmente, todos concordaram. Poderíamos ter-nos chamado de The Telephone Booth Messiahs Artists, mas, em vez disso, escolhemos The Limite.

 

Também seria um bom nome...

BL: Também queríamos algo que fosse realmente ousado e marcante, mas simples. Não demorou tanto, sabes? De nomes, quero dizer. As pessoas não podem entender o que querem, sabes como é, The Limit é o que tu fazes, certo?

 

Este é um projeto criado pela pandemia?

SV: Não, fizemos isto antes da pandemia, embora tenhamos gravado no Algarve e quando terminamos de fazer todas as faixas fomos todos para casa, para recuperar da experiência da gravação, da logística e do que passamos todos os dias. Tudo ocorreu bem. Estávamos totalmente apaixonados pelo Hugo e pelo João e correu bem. Eu, Bobby e Jimmy damo-nos bem e finalmente encontramos o nosso caminho. Mas antes foi um inferno. Voltamos a casa e o plano era eu voltar a Lisboa para fazer a mistura com o nosso engenheiro Paulo Vieira. Tinha o meu ingresso comprado e foi quando a pandemia nos atingiu, portanto tivemos que aprender como fazer a mistura remotamente, o que foi muito, muito difícil porque o que podes fazer pessoalmente sentado numa mesa de mistura, se uma coisa é um pouco mais barulhenta, acertas. Mas explicando pela internet, podes deixar isso um pouco mais alto. E então outro e-mail: não, isso está muito alto. E então, para frente e para trás, para frente e para trás, e assim, com um monte de meses de trabalho, durante a pandemia fizemos a mistura, tínhamos alguns dos meus amigos da Alemanha e da Inglaterra e as nossas pequenas partes de guitarra e trabalhamos bem e o resultado surgiu. Sabes, foi o rei da boa sorte, o facto de não ter ido para Portugal fazer isso e tivesse convidado alguns outros guitarristas que sabem enviar as partes por e-mail como transfering. Portanto, queríamos um álbum que tinha hard rock com um tipo de atitude punk e um pouco de poeira estelar e algum tipo de preto de alguns dos nossos guitarristas e isso tornou-o divertido e a pandemia foi uma droga porque atrapalhou, mas no final, de certa forma, ajudou.

 

A mistura foi a única parte do trabalho que foi feita remotamente?

BL: Apenas os overdubs de guitarra tiveram que ser feitos remotamente.

SV: Sim, não todas, mas algumas, as faixas básicas, todas as minhas coisas de guitarra, as baterias, o baixo, a voz do Bobby, todas as músicas foram gravadas no Algarve, mas depois a mistura, o take final de guitarra e os toques finais foram feitos remotamente.

 

O álbum de estreia, como eu já disse, é Caveman Logic. Por que escolheram este título? Qual é a mensagem que estão a tentar enviar?

BL: Eu tinha uma foto parecida. Estou no mundo da música há muito tempo e sempre me apeguei a um certo tipo de gosto e a uma certa abordagem. Não sou necessariamente de todas as novas tecnologias e esse tipo de coisas e fiz um álbum alguns anos atrás, onde tive o tempo ou as moedas presas na zona do crepúsculo. Como um verdadeiro reflexo disso, Caveman Logic é a forma de o manter simples, direto, muito básico e eu sou como um dinossauro quando se trata de estar num tempo gasto. Eu não sou sobre todos termos todas as tecnologias de algumas bandas para ir embora com o pensamento. Mantenham as coisas básicas.

 

Este álbum foi lançado pela Svart Records. Como se proporcionou essa ligação?

SV: Quando terminamos o álbum, estávamos a pensar em pedir a uma editora para lançar e então o Hugo contactou e começou a falar com a Svart. Depois, com os nossos amigos ajudamos um pouco com o contrato e no final, quando já estava tudo acertado, acabamos por ligar diretamente com a Svart e ficamos muito felizes porque conseguimos um bom contrato. Eles são pessoas fixes para trabalhar, dizem o que fazem e fazem o que dizem e pensamos que estamos no caminho certo e estamos muito felizes em lançar o nosso álbum com a Svart.

BL: Principalmente durante a pandemia, porque sabíamos que as coisas não iam correr normalmente e aí tivemos que fazer algo diferente para que o grupo sobrevivesse. Ter assinado durante a pandemia, com os negócios a passar por momentos difíceis, sabíamos que poderia tornar-se algo diferente e ser mais difícil assinar um contrato com uma editora. E quando nos aproximamos, eles foram muito recetivos e deixaram-nos muito felizes, porque conseguimos um bom contrato, durante toda essa merda fora do normal que está a acontecer.

 

Mas, para vocês nem deve ter sido difícil conseguir um bom contrato, porque todos vocês são bem conhecidos, portanto...

BL: Nós temos experiências de onde viemos, mas, mesmo assim, durante este tipo de período em que as coisas estão a acontecer, não é tão fácil seres assinado por todas as coisas que fizeste, como normalmente. Não é tão fácil para uma empresa investir.

 

Este é um projeto de um álbum apenas ou pretendem continuar no futuro?

SV: Definitivamente, estamos ansiosos para conseguir outro álbum porque aprendemos muito sobre a logística, portanto basicamente repetiríamos o processo deste primeiro álbum. Faríamos de novo em Portugal, mas desta vez teríamos as coisas um pouco mais planeadas em termos de logística. Quando estávamos a ouvir as misturas em bruto, todos começamos a dizer que seria bom tocar essas músicas em palco e quando estávamos a ouvir o álbum final, todos concordamos que seria incrível tocar em frente de um público, mas, de momento, estamos presos na pandemia e não sabemos se irá haver mais confinamentos nos próximos 20 anos ou se faremos espetáculos. Nós esperamos que sim. Bobby e o seu grupo Pentagram têm planos, mas todos têm planos. Apenas temos que esperar, mas definitivamente The Limit é como um tigre a puxar a sua corrente. Estamos prontos para fazer tudo que for selvagem, mas temos que ver o que acontece, sabes como é.

 

Kitty Gone e Black Sea foram os dois primeiros vídeos. Por que estas escolhas?

SV: Nós não os escolhemos, foi a editora que os escolheu e concordamos com eles. Tínhamos que dar luz verde a tudo. Eu acho que foram boas escolhas e que as pessoas responderam bem às escolhas e com algumas músicas e com pessoas diferentes na banda e opiniões diferentes, nunca poderíamos chegar a um consenso de qual seria o melhor single ou o primeiro single, portanto apenas seguimos com o que a editora achou bem.

 

Já disseram que pretendem voltar aos palcos. Seria uma tour portuguesa, por exemplo?

BL: O teu palpite é tão bom quanto o nosso, mas ainda não podemos dizer. Não temos ideia do que vai acontecer ao mundo nos próximos meses e no restante deste ano. Sinceramente, não temos ideia. Temos sido abordados por lugares para fazer espetáculos, pequenas tours, mas temos que ver. Agora é imprevisível.

SV: de facto, fizemos um espetáculo não anunciado. Fomos de carro do Algarve a Lisboa e fizemos um espetáculo lá, só para trabalhar algumas músicas em frente ao público antes de as gravar. Entramos no palco e disse ao público: não vai ser um espetáculo do Bruce Springsteen de 2 ou 3 horas, não vai ser um espetáculo dos Grateful Dead por uns 12 anos a envelhecer no palco. Vai ser bem curto, mas estamos felizes por estar aqui e vamos tocar as nossas músicas que vamos gravar dentro de alguns dias. Foi incrível. Divertimo-nos muito, fizemos apenas um concerto e foi muito porreiro, mas como a pandemia é uma droga, o que podes fazer?

 

E a respeito dos vossos outros projetos? O que podemos esperar nos próximos meses?

SL: Bobby vai promover alguns relançamentos dos Pentagram. Eu terei algo a sair dentro de alguns meses, mas basicamente estamos apenas focados nos The Limit. Apenas para que possamos dar o máximo que pudermos, embora tenhamos sempre outras coisas a acontecer, mas, como eu disse, pensamos que The Limit seria bom quando juntássemos estas pessoas e fizéssemos um álbum, mas não sabia que iria captar assim a magia e soar como soou. Tem um lugar especial nos nossos corações.

BV: Existem coisas atuais para nós. É nosso foco agora. Tenho as tournées dos Pentagram a chegar no outono e não sabemos o que vai acontecer com todo o estado do mundo. Ouvi há 3 dias que a França está em confinamento.

SL: Sim, confinamento total.

BV: Sim, quero dizer, quem sabe. Teremos que ver.

 

Obrigado, pessoal. Querem mandar alguma mensagem para os vossos fãs?

SL: Podem ir ao Amazon agora e adquirir o álbum. Há, provavelmente, algumas coisas que eu gostaria de dizer, mas, tu sabes, iremos, provavelmente, escrever um livro sobre o dia que estivemos em Portugal. Eu direi que as letras são escritas por Bobby e uma coisa que gosto nas letras é que elas são muito autobiográficas e isso é muito bom para mim e outras pessoas ouvirem. Mas está tudo na música. Falar é falar, falar é fácil, portanto, ouçam o álbum e façam o vosso próprio julgamento.

BV: Foi lançado a 9 de abril. Está em LP, CD e é distribuído em todo o mundo.



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