Entrevista: Tarantula



No ano em que a mais emblemática banda de metal nacional, os Tarantula, cumpre os seus 40 anos de carreira, o presente é dado pela banda aos seus fãs – o regresso aos discos de originais com um sólido Thunder Tunes From Lusitania. Claro que, ao longo do ano, haverá mais prendas, mas, para já, o maior motivo da nossa conversa com o vocalista Jorge Marques foi, precisamente, esse regresso aos discos 11 anos depois.

 

Olá, Jorge, obrigado por despenderes algum tempo com Via Nocturna. E permite que te diga que, para mim, é uma honra poder fazer esta entrevista. Foram 11 anos sem discos. O que se passou no reino dos Tarantula durante este longo período?

Obrigado. É igualmente uma honra para nós fazermos esta entrevista para a Via Nocturna. Bem, muita coisa. Se por um lado, no que a gravações diz respeito, este hiato durou cerca de uma década, por outro, também nos permitiu participar noutros projetos, e dar continuidade a outros, embora os Tarantula não tenham estado parados. Houve uma altura em que começámos a compor, mas a gravação de um novo álbum acabou por ficar em stand-by.  Durante este tempo, o Paulo deu continuidade à sua carreira a solo, lançando dois álbuns, eu tive tempo para me dedicar mais à pintura, às exposições etc… mas todos estivemos ocupados.

 

O facto de o Paulo Barros ter lançado, durante esse período, dois álbuns em nome próprio foi uma causa ou consequência dessa paragem? Ou não teve nada a ver?

Bem, de certa forma, sim, teve mais tempo para se dedicar ao seu projeto a solo e a outros em que foi sendo solicitado. Mas o Paulo compõe com alguma regularidade e sempre geriu a sua carreira a solo consoante os períodos de maior ou menor atividade da banda, com tranquilidade.

 

Assim sendo, os temas que fazem parte deste vosso novo disco são resultado de um trabalho recente de composição ou foram sendo criados ao longo do tempo?

Na realidade, a maior parte das músicas foram criadas há alguns anos, pelo Paulo. A entrada em estúdio foi sendo adiada por falta de disponibilidade, isto é, nem todos os elementos estavam disponíveis, devido a compromissos de diversa ordem.  Nós nunca tivemos, nem fizemos qualquer pressão para gravar, simplesmente aconteceu quando tinha que acontecer, essa é a verdade. No final de 2019, finalmente deu-se o click. Como é natural, aí surgiram novos arranjos e novas ideias. Era suposto terminar as gravações em março/abril de 2020, mas os sucessivos confinamentos foram adiando a conclusão do álbum, neste caso, faltava gravar as vozes, o que aconteceu somente em novembro de 2020.

 

E, de alguma forma, Thunder Tunes From Lusitania pode ser considerado como o produto da pandemia ou não?

O Thunder Tunes From Lusitania não sendo produto da pandemia, acaba por estar intrinsecamente ligado a ela. Pelos motivos que referi anteriormente. As músicas já estavam gravadas antes de surgir a pandemia. Durante o lockdown tive tempo para atualizar algumas letras. Durante este período, o Luís continuou o trabalho de produção e estivemos sempre em contacto. Fui trabalhando em casa a parte vocal, partilhando-o com a banda.

 

Com um passado recheado de grandes lançamentos, onde pensam que se enquadra este Thunder Tunes From Lusitania no vosso percurso e discografia?

Boa pergunta. Compreendo que haja a tendência para se fazer esse tipo de análise e algumas comparações com os registos discográficos anteriores. Apesar de ter sido um longo período sem gravar, acho que o nosso ADN musical ou a nossa essência se mantêm, é impossível desligarmo-nos do nosso passado. Na minha opinião, este álbum é o resultado de uma evolução natural, fruto da maturidade que fomos adquirindo ao longo de todos estes anos. É um disco abrangente em que existem elos com o passado, o que é inevitável, mas também sinto algo de diferente, quer na abordagem quer na sonoridade. Talvez haja alguns pontos comuns entre o Light Beyond The Dark, que nos abriu novos horizontes na altura, e o Spiral Of Fear, o álbum anterior a este. É apenas a minha opinião. Resumindo, não tendo sido premeditado ou intencional, penso que o Thunder Tunes From Lusitania, de certa forma, é uma espécie de síntese da nossa discografia.

 

Este disco parece estar numa onda mais hardrockeira. Concordams Foi planeado ou aconteceu simplesmente?

Sinceramente, não sei. Temos recebido opiniões diversas. Ao longo de todos estes anos sempre tivemos a noção de que a fronteira entre o que é Hard Rock e o que é Heavy-Metal é por vezes muito ténue e relativa, mas nunca nos preocupámos muito com isso, com rótulos, até porque esses também se foram alterando com o tempo. Na verdade, sempre valorizámos a canção, seja mais Hard ou mais Heavy, como lhe quiserem chamar. Concluindo, não foi planeado, houve apenas algum cuidado na ordem das músicas, pela diversidade das composições, para o tornar mais equilibrado.  

 

Para este novo álbum houve alguma preparação especial?

O processo criativo foi o habitual e desde que entrámos em estúdio tudo estava igualmente a decorrer com normalidade. Se houve algo de diferente, foi o tempo que tive para compor as vozes, o que foi bastante importante, devido à complexidade de grande parte das músicas. Foi um grande desafio, devo confessar.

 

Depois de Kingdom Of Lusitania, em 1999, este é o segundo disco com o termo Lusitania no título. Tematicamente está relacionado com a nossa história ou não?

Não. O Kingdom of Lusitania é um álbum conceptual. Esse sim, está relacionado com a nossa história. Embora tivéssemos outras alternativas, optámos por não usar o nome de uma música como título do álbum. Thunder Tunes From Lusitania foi a escolha, é uma frase que surge no Spiral Of Fear, uma espécie de slogan, achámos que definia bem o conteúdo deste álbum. Ao mesmo tempo é uma alusão ao nosso passado, à nossa identidade, está tudo relacionado.

 

Deste álbum já foram produzidos os vídeos para os temas Storm, The Flame Is Still Alive e, mais recentemente, The Voice Inside. Porque a escolha destes temas em particular?

São três temas que revelam alguma da diversidade e intensidade deste álbum. O The Voice Inside é o tema que abre o disco. Acho que faz uma certa ligação com o álbum anterior, o Spiral Of Fear. O Storm está relacionado com a situação que todos estamos a viver, a crise pandémica. O The Flame is Still Alive é um retrato simples e fiel da nossa história, um tema dedicado especialmente aos nossos fãs. Em ano de 40º aniversário, fazia todo o sentido. No fundo, são três músicas que representam bem a nossa sonoridade atual e o nosso estado de espírito.

 

Há previsões para mais algum vídeo?

Sim. Temos mais alguns conteúdos prontos e outros a serem preparados, que a seu devido tempo serão revelados.

 

Como acabaste por referir, 2021 é o ano que marca o vosso 40º aniversário. Sei que há planos para o celebrar de forma especial. Podem adiantar-nos alguma coisa neste momento?

Sim, claro. Em princípio, no verão, serão reeditados os 2 primeiros álbuns, finalmente em CD (e em K7). É algo que os nossos fãs pedem há bastante tempo. Para o final do ano teremos o lançamento de um documentário, um DVD ao vivo e também outro CD ao vivo. Esperamos que seja possível celebrar com os nossos fãs, ao vivo, neste ano tão especial para nós. De qualquer forma podem aceder ao nosso site www.tarantula.pt para se manterem a par das novidades.

 

E quanto a palco, agora com as limitações a serem levantadas, em que estão a trabalhar?

Bem, até ao momento, continuamos limitados. Temos dois espetáculos, o Vagos Metal Fest no dia 30 de julho e um outro em Arco de Valdevez, ainda com data por definir. Como é evidente, ainda não há a certeza de que se vão realizar. Estamos todos na expectativa.

 

A terminar, mais uma vez obrigado Jorge e dou-te a oportunidade de acrescentar algo mais ao que já foi abordado nesta entrevista e enviar uma mensagem para os vossos fãs...

Nós é que agradecemos. Quanto aos nossos fãs…. não temos palavras… o carinho que temos recebido tem sido fantástico. Estamos mesmo gratos pelo apoio de todos, revistas, fanzines, rádios, programas online, mesmo de público de outros quadrantes, géneros e preferências musicais. Tem sido agradável a receção a este Thunder Tunes From Lusitania. Sentimos igualmente o respeito que as pessoas têm por nós, pelo facto de atingirmos esta marca de 40 anos de existência. Bem hajam. Obrigado a todos. Obrigado Via Nocturna. Grande Abraço dos TARANTULA.


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