É
uma ideia inovadora e um projecto arrojado. Dois projetos juntam-se para criar
um disco. A ideia não é completamente nova, mas não é de todo muito vulgar.
Desta vez o duo Um Corpo Estranho, numa base de rock mais orientado
para o blues, e o one-man-project psicadélico Saturnia criaram esta obra emblemática
que dá pelo nome de O Místico Orfeão Sónico. Fomos tentar perceber a mecânica desta junção.
Olá, viva, como estão? Obrigado pela disponibilidade. O
motivo desta conversa é o lançamento de O Místico Orfeão Sónico. O lançamento
está previsto para o final de outubro, mas, para já, o que nos podem ir
adiantando a este respeito?
PEDRO FRANCO (UCE) - Obrigado nós pelo vosso interesse. Lançámos o primeiro
single do disco A Velha Carruagem no final de agosto e é um bom
cartão-de-visita para este trabalho. É um disco que funde os dois universos, o
lado mais bluesy de Um Corpo Estranho e o universo psicadélico de
Saturnia. Na essência é um disco rock que viaja por entre um
ambiental etéreo com algumas curvas mais cruas do que é habitual em ambos os
projetos.
Mas a questão mais importante é, naturalmente, como e quando
surgiu esta ideia e oportunidade de juntar os dois projetos?
PF (UCE) - Já conhecíamos o Luís Simões há algum tempo e
sempre fomos admiradores do seu trabalho. Temos muitos amigos em comum e
normalmente cruzávamo-nos em jantares e festas de amigos, que quase sempre
acabavam em conversas até altas horas de noite. Foi fácil perceber que tínhamos
muitos gostos em comum. Quando surgiu a oportunidade convidámos o Simões para
gravar um tema, correu tão bem que acabámos por gravar um disco.
Esta
é, de facto, uma ideia não muito habitual no nosso panorama musical. Mesmo
sabendo que o disco ainda não saiu, como está a ser a sua aceitação?
PF (UCE) - O primeiro
single, A Velha Carruagem, está a ter uma aceitação muito boa,
apesar de sabermos que estamos a remar um pouco contra a maré de música que se
está a fazer hoje em Portugal, ou pelo menos a que está a ter mais aceitação.
Ainda só partilhámos com os nossos amigos, mas os que ouviram ficaram muito
surpreendidos com o resultado final.
Todo
o trabalho de composição foi feito em parceria ou cada um dos projetos avançou
com as suas partes de forma independente?
PF (UCE) - Foi um pouco de tudo. Quando percebemos que este projeto podia funcionar e decidimos compor mais temas, fomos buscar ideias guardadas que nunca iríamos explorar em Um Corpo Estranho. Entregámos ideias nossas ao Simões para ele trabalhar e ele fez o mesmo connosco. Foi assim que o processo se foi desenvolvendo lentamente, cada um em sua casa e às vezes juntos em estúdio. É importante dizer que este disco teve uma pandemia pelo meio e fomos obrigados a trabalhar mais isolados uns dos outros. Esse recolhimento foi imposto e obrigou-nos a ter que trabalhar em alguns momentos à distância.
Para
além dos três elementos dos dois projetos, ainda contam com alguns convidados.
Querem apresentá-los?
PF (UCE) - Um dos
pilares que definimos inicialmente para este projeto foi o de haver espaço para
convidarmos amigos e pessoas que admiramos. Convidámos o Samuel Palitos, o Tó Zé
Bexiga e o Filipe Caeiro (Xinês).
O
que tencionavam alcançar com a adição destes músicos extra?
PF (UCE) - Este projeto
é um espaço de experimentação. O que queremos é que as pessoas que convidamos
tragam novas abordagens às canções. Na verdade é mais uma celebração da amizade
e uma desculpa para estarmos uns com os outros.
Na
vossa opinião a ideia era juntar o melhor da produção dos dois projetos. Acham
que isso foi plenamente alcançado ou olhando para trás teriam mudado alguma
coisa?
PF (UCE) - Acho que
se pode sempre fazer melhor. Os discos cristalizam momentos e fases das nossas
vidas. Se olhar agora para trás certamente mudaria algumas coisas mas é melhor
olhar para a frente e pensar no que fazer a seguir.
A Velha Carruagem foi o tema escolhido para avanço. Porquê? É um tema fiel representante
da generalidade do disco?
PF (UCE) - Essa
decisão partiu mais do nosso grande amigo e produtor Sérgio Mendes. Desde o início que ele dizia que deveria ser o
primeiro single. Como confiamos muito
nele e é bom ter uma opinião de alguém de fora, confiámos. De qualquer forma
foi o tema que fixou o molde deste trabalho. Não foi o primeiro que trabalhámos
em conjunto, mas foi o primeiro que sentimos que tínhamos um caminho e que nos
abriu possibilidades.
Individualmente,
Homem Delírio foi o último trabalho de Um Corpo Estranho. Já há novidades quanto a
um seu sucessor?
PF (UCE) - Já estamos
a trabalhar em temas novos. É um processo lento que tem que ter algum
recolhimento, espaço e alguma fermentação. Para já estamos focados neste disco
com Saturnia e em leva-lo ao
público.
Quanto
a Saturnia, Stranded In The Green foi o disco deste ano. Como está a ser a
sua promoção e aceitação?
LUÍS SIMÕES (Saturnia) – Tudo ok, o Stranded
In The Green teve reviews
fantásticas, sobretudo na Europa. Estou satisfeito com o trabalho da Sulatron Records e embora as atividades
de Saturnia estejam temporariamente
em hibernação, porque quero estar concentrado em O Místico Orfeão Sónico, tenho mais vídeos promocionais na calha
para "retomar" a comunicação do Stranded
In The Green em 2021.
Há
ideias para levar este projeto conjunto para o palco? O que está a ser
preparado?
PF (UCE) - Sim, já
estamos a ensaiar e a ideia é tentarmos ser o mais fiéis ao disco possível.
Para já vamos apresentar o disco dia 20 de Novembro no Titanic Sur Mer em Lisboa e dia 14 de Janeiro no Fórum Luísa Todi em Setúbal.
Muito
obrigado! Querem acrescentar algo mais ao que foi abordado?
PF (UCE) - Gostava de pedir às pessoas para irem ver concertos, exposições e teatro. É importante retomar às práticas culturais, mesmo que lentamente. Além de ter sido um dos setores mais afetados pela pandemia, continua a ter carência de público e de políticas de suporte mais ativas.
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