Entrevista: António Garcez



Há quem diga que ele é o pai do rock português. Embora isso acabe por ter pouca importância quando a música fala mais alto. E, neste caso, fala bem alto no regresso de António Garcez aos discos com Vinde Ver Isto. Radicado há 35 anos nos EUA, o antigo membro dos Roxigénio e Arte & Ofício mostra que ainda está para durar e acompanhado por um line-up de luxo assina um grande disco. E foi com uma honra imensa que falamos com esta lenda a propósito deste disco.

 

Olá, António, tudo bem? Antes de mais, deixa-me dizer que é uma honra poder fazer esta entrevista com uma autêntica lenda viva do rock nacional. Claro que haveria muito para conversar com alguém com um passado tão rico, mas centremo-nos no teu novo álbum, Vinde Ver Isto. O primeiro single foi I’m Back. Foi uma escolha intencional, suponho. Foi para afirmares o teu regresso?

Obrigado pela consideração. De certa forma diria que sim, estou de volta e nada melhor do que me manifestar nesse sentido através da música. I Am Back retrata um pouco a mágoa de às vezes por razões diversas termos de viver além. E a questão é sempre a mesma. Valeu a pena? Esse é o retrato do I Am Back.

 

Quando começaste a trabalhar neste disco e como foi todo o processo de desenvolvimento?

Comecei a trabalhar neste disco depois de ter conhecido um dos maiores guitarristas com quem cantei. O Ricardo Gordo mandou-me uma música dos AC/DC com guitarra portuguesa e deixou-me pasmado. Não resisti e perguntei-lhe se queria trabalhar comigo. O resultado está agora à vista.

 

Estás radicado nos EUA há mais de 30 anos. Como tem sido a tua vida musical por lá? Este álbum foi feito lá ou cá, em Portugal?

Estou radicado nos Estados Unidos há 35 anos, fui para lá quando o Rock Português entrou numa fase agoniante e simplesmente não podia assistir a tamanha desgraça. Nos Estados Unidos gravei um álbum com músicos americanos e fiz pequenos gigs aqui e ali, mas nada maior porque, entretanto, resolvi licenciar-me em Engenharia e durante algum tempo a música ficou em stand by.

 

Como foi a escolha dos músicos que te acompanham nesta proposta?

A escolha dos músicos, todos eles superexcelentes, foram escolha do Ricardo Gordo e o trabalho final provou que a escolha foi a mais acertada.

 

Vocalmente varias entre o uso do português e do inglês. Porque seguiste esta via?

Noutros tempos realmente cantei a maior das vezes em inglês, com a exceção dum single que foi bem popular (Onde É Que Está o Capital). Hoje penso que usar as duas línguas serve melhor o propósito de espalhar a mensagem e diversificar a intensão!!

 

Dentro desta coleção de temas há um que acabas por ir buscar ao baú das memórias. Contradiction era dos Arte & Ofício, não era? Porque o recuperaste?

Recuperei o Contradiction porque sempre o achei um tema fantástico, mas também porque com o Ricardo Gordo e o seu conceito de guitarrista o tema ganhou mais power. Mais rock por conseguinte.

 

Se me permites, destacaria Ele Toca Sax. De onde veio a inspiração para uma faixa como essa e de que forma surge o Fábio Serrano a tocar sax?

Ele Toca Sax escrevi-o nos Estados Unidos e gravei-o com uma banda americana, mas numa onda mais jazzística. Depois o Ricardo pegou no tema deu-lhe a volta e o seu cunho pessoal e o tema ganhou outra alma. O Ele Toca Sax apareceu por sugestão do Ricardo Gordo, concordamos os dois que a introdução do mesmo só enriqueceria o tema e foi isso, resultou mesmo.

 

E como te viste na aventura de utilizar uma guitarra portuguesa num tema teu? Foi a tua primeira experiência com estes instrumentos?

Sim, foi uma experiência interessante na medida em que o Ricardo Gordo mantem o diálogo da guitarra portuguesa com a minha interpretação num mar de calmaria. Foi a primeira vez e pode ser que não seja a última.

 

Podes descrever um pouco a tua visão desta criação musical?

Well, isto é um álbum muito sério a nível do que se fez e faz do melhor no hemisfério rock. Nem só os americanos ou ingleses são bons a fazê-lo. Por isso a minha visão leva-me ao palco onde posso mostrar os dotes de quem nele participa incluindo os meus. De resto para a frente é o caminho!!

 

De alguma forma, este trabalho pode ser considerado o resultado da pandemia ou não?

Well, começou antes da pandemia e acabou com a pandemia a não desistir.

 

E a partir de agora? Há ideias para levar este álbum para a estrada?

Essa é a pergunta de ouro. Claro que a estrada e o objetivo máximo, aliás quem me conhece sabe que é no palco que eu destroço tudo em miúdos.

 

A terminar, uma questão diferente: por alguns (muitos!) és apontado como o pai do rock português. Como te sentes com este título?

Sim, as pessoas têm tendência para dizer que sou o pai do rock, mas na verdade houve quem começasse primeiro, o meu nome só surgiu para clarificar que o meu amigo Rui Veloso não o era. Não me importo que pensem que ele é o que eles querem que ele seja, é um gajo bem porreiro e isso e que interessa.

 

Muito obrigado! Queres acrescentar algo mais ao que foi abordado?

Obrigado por deixares a porta aberta, mas acho que já disse tudo sem por ninguém a dormir. Abraço.

Comentários

DISCO DA SEMANA #47 VN2000: Act III: Pareidolia Of Depravity (ADAMANTRA) (Inverse Records)

MÚSICA DA SEMANA #47 VN2000: White Lies (INFRINGEMENT) (Crime Records/We Låve Records)

GRUPO DO MÊS #11 VN2000: Earth Drive (Raging Planet Records)