Murro representa isso mesmo: um murro na mesa, um murro
que separa aquilo que somos daquilo que deveríamos ser. Murro é um projeto que
nasce em 2012, na altura em formato duo, e que acabou por evoluir para um
quarteto. E Misantropo
vai de
murro em murro até desfazer a face do ouvinte. Que, certamente, não se
preocupará muito com isso e até irá procurar levar mais algum
Olá, tudo bem? Antes de mais, em que consiste este
projeto intitulado Murro? Podem fazer uma breve apresentação e falar dos
objetivos que vos nortearam quando iniciaram esta caminhada?
Antes mais obrigado pelo
vosso interesse nos MURRO. Este é um
projeto que aparece como duo por volta de 2012, pelas mãos de Macaco Rápido que cantava e tocava
guitarra e Hugo Cão que tocava a
bateria. Mais tarde (2017), e depois de algumas experiências, surge o primeiro
álbum não editado - Foda-se, já com Hugo Cão nas vozes e Macaco Rápido nas guitarras. É um
trabalho que assenta numa base maquinal e principalmente no trabalho de
estúdio. Apesar de tudo isto o nosso objetivo foi sempre fazer dos MURRO um projeto mais analógico. Desta
forma aparece o nosso baterista Tiago Cê
e no baixo, Valter Costa. Trouxeram
à banda uma nova roupagem e um lado mais humano.
Murro é um nome curto, mas bem ilustrativo e
perfeitamente adaptado à vossa sonoridade. Como é que surgiu?
Surge exatamente por ser um
nome curto e direto, representa as classes mais oprimidas que de uma forma
metafórica muitas vezes querem dar um murro na mesa. Sendo nós uma banda de
cariz reivindicativo, achámos que faria sentido um nome assim.
Antes de Murro já tinham tido outras experiências
musicais? Que know-how
trouxeram para esta nova aventura?
Sim, claro, todos nós tivemos
outras experiências musicais, outros projetos, e continuamos a ter. O que traz
isto aos MURRO é toda uma diferença
estilística, que faz com que a banda também ela se torne uma mescla. Todos nós
ouvimos e gostamos de coisas diferentes, desde o Jazz ao Grind e achamos
que isso é notório no som dos MURRO.
Misantropo é o nome deste registo recentemente
lançado pela Raging Planet. Antes de mais, como se proporcionou essa ligação à
editora?
Esta ligação surge pela mão
do Rick Chain, que descobriu a banda e nos levou para a Rangingplanet
de Daniel Macosh. Estamos muito agradecidos, foi-nos dada sempre toda a
liberdade para nos exprimirmos da forma que queremos.
A banda foca-se em criar momentos negros e diretos,
apresentando uma realidade muito dura. De onde vem a inspiração?
A nossa inspiração é a
sociedade atual, seja esta uma realidade dura ou não, é o que nos inspira. Os
problemas sociais todos os dias falados numa comunicação social que promove o
capitalismo, a ocupação e imposição imperialista na ocupação de países como a
Síria e a Palestina, a luta das classes operárias que lutam pelos seus direitos
sociais e de igualdade entre as classes e todos os problemas que vivemos no
dia-a-dia porque também nós, os MURRO, fazemos parte desta massa. Também
nós somos trabalhadores explorados e sentimos isto na pele todos os dias. Pode
ser uma inspiração negra e dura como dizes, mas achamos que esta é a nossa
oportunidade para falar disto, tem de ser esta a nossa inspiração! Não poderia
ser de outra forma.
Já agora que significado e que histórias estão
subjacentes a títulos como Galinhas ou Homem do Talho, por exemplo?
No tema Galinhas
falamos do mal que o individualismo pode trazer à sociedade, achamos que a
união e o coletivo são o melhor caminho para uma sociedade mais justa. No tema Homem
do Talho, falamos da classe trabalhadora, daquele que nos serve a carne e
que com orgulho ostenta as nódoas de sangue representativas do seu trabalho. O Homem
do Talho quando confrontado com a miséria e o medo torna-se naquele que é
capaz de tudo para se satisfazer. No fundo todas as canções de MURRO
giram em torno de temas que se vivem na realidade mundana.
Na mesma sequência, como surge um título como Pá Modi Bó? O que significa?
Pá Modi Bó é uma expressão crioula que
significa porque tu. Aqui abordamos a
guerra, os refugiados, a miséria absoluta causada por uma intervenção
imperialista por parte da NATO, por exemplo! Falamos também dos rebeldes, dos
ditos terroristas que lutam contra estas agendas políticas capitalistas, os
ditos resistentes. No fundo são aqueles que lutam pela sua liberdade cultural e
ideológica.
O português é, pois, a língua utilizada, o que vem
acontecendo cada vez com mais frequência até com outras bandas. Como analisas
esta tendência e, no vosso caso, porque seguiram este caminho?
Na nossa perspetiva,
consideramos que cada vez mais bandas se apresentam em português por ser na
nossa língua nativa que melhor nos expressamos e nos fazemos entender ou então
talvez seja apenas uma moda. No nosso caso isso foi muito natural, foi assumido
desde o início, nunca experimentamos de outra forma. Achamos que cantar em
inglês, por exemplo, nunca iria soar como queríamos. O inglês é uma língua
demasiado falada em todo o mundo e que se pode tornar demasiado poética e para
este projeto queremos ser diretos e objetivos, daí a escolha do português. De
qualquer forma não queremos de maneira nenhuma desconsiderar quem canta noutras
línguas, é uma opção igualmente válida.
Podemos ver alguns momentos em que sobressai a
narração, fazendo lembrar nesse aspeto (e também na causticidade das palavras)
os Mão Morta. É uma das vossas referências?
Sim claro, temos imenso
respeito por bandas como os Mão Morta, os Bizzarra Locomotiva e
com certeza que somos influenciados por eles, tal como por outros. Ainda assim
achamos que o caminho que seguimos é muito diferente, basta estar atento. Felicidades
para eles...
Os primeiros concertos de apresentação de Misantropo
já aconteceram. Como decorreram as coisas?
Tocámos em Setúbal, na Capricho
Setúbalense, não estava cheio, mas as pessoas reagiram muito bem e tivemos
um excelente feedback por parte do público. No Barreiro tocámos no bar Locomotiva
e aí estava bastante público, o feedback foi igualmente positivo. Nestes
dois concertos tivemos a companhia e o apoio dos BESTA, o que para nós
foi ótimo, visto ser uma banda com um percurso muito interessante.
Como foi a criação deste disco Misantropo? A pandemia
afetou alguma coisa
durante o processo ou nem por isso?
Começámos a gravar Misantropo
no dia em que o Rick Chain nos levou para a Rangingplanet. Era
nossa prioridade gravar um registo discográfico. As captações foram feitas por
nós, na nossa sala de ensaio e depois a conselho do Rick mandámos as mesmas
para a Demigod Records do Miguel Tereso que misturou e masterizou
o disco. Nunca conseguimos lá ir devido à pandemia, foi tudo feito através do e-mail
e de várias audições até chegarmos ao produto final. Obviamente este vírus e as
medidas impostas pelo governo vieram atrasar o processo e lançamento do disco,
mas nós nunca paramos, estivemos sempre ativos.
Muito obrigado! Querem acrescentar algo mais ao que
foi abordado?
Obrigado, nós!! Apenas
acrescentar que A UNIÃO FAZ A FORÇA!
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