Entrevista: Kandia

 


All Is Gone já foi lançado em 2013, mas os Kandia preferem evoluir calma e serenamente, dando tempo a que as suas criações possam crescer. É o que se chama maturidade. E que acaba por ser recompensada com a entrada na seleta família da Frontiers Music, para o seu novo álbum Quartenary. E que bom é saber que, ultrapassadas algumas dificuldades, o duo (e seus colaboradores) estão de regresso ao melhor nível. Nya Cruz conta-nos tudo.

 

Olá, Nya! A última vez que falámos foi… há mais de 10 anos! Como tem evoluído o projeto? Os Kandia de agora estão, naturalmente, mais maduros, portanto pergunto de que forma isso é notório no novo trabalho?

O projeto amadurece connosco, estamos mais maduros também, são 15 anos de banda e mais 15 anos de idade. Vivemos muitas coisas, mudámos os nossos gostos, o estilo de vida... Tudo isso acaba por se refletir na música que fazemos. Em Kandia sempre quisemos assumir isso, o que faz com que cada disco tenha uma sonoridade diferente do anterior. Não somos adeptos de fórmulas, sabendo contudo o risco que isso acarreta. Este disco, tal como os anteriores tem o cunho da banda, mas tentamos sempre trazer algo novo.

 

Em termos de álbuns, Quaternary é o vosso novo trabalho, depois de um longo período sem lançamentos, devido a problemas de saúde. Está tudo bem agora?

Foram várias as razões que nos travaram um pouco na carreira da banda. Saúde, dificuldade em encontrar músicos que nos acompanhassem, um período de reflexão inevitável sobre se valeria a pena continuar. Kandia é um projeto que exige um esforço financeiro, sendo que somos dois apenas, o que na verdade é o mesmo que dizer um, pois a casa é a mesma. Quando a nossa filha nasceu foi imperativo perceber se deveríamos continuar a lutar por este sonho, uma vez que agora temos um ser humano à nossa responsabilidade. Foi preciso pesar tudo muito bem e adaptar-nos a esta mudança. A saúde é uma caixinha de surpresas, vamos ver como tudo corre.

 

Mas durante esse período foram compondo? Ou seja, os temas agora apresentados são todos recentes ou têm vindo a ser construídos desde o lançamento de All Is Gone?

Fomos compondo mas como te dizia há pouco, como os nossos discos refletem a nossa vivência, muita coisa foi ficando pelo caminho. Em 2017 lançámos dois temas e fizemos um refresh ao nosso primeiro EP. Em 2019 começámos a compor o que iria ser o nosso EP a lançar em 2020, mas entretanto apareceu a Frontiers e transformou-se num LP.

 

Já agora, o trabalho de composição continua a ser feito em duo ou está mais alargado?

A partir do All Is Gone a composição deixou de ser em duo. O Daniel Cardoso passou a fazer parte da composição alargando a sua marca em Kandia. Também somos da opinião que a junção de várias mentes criativas produz resultados fantásticos. Também queremos continuar a convidar outros compositores.

 

Estão incluídos, como referiste, na iniciativa Frontiers & Beyond levada a cabo pela Frontiers Music. Em que consiste esta iniciativa e de que forma a editora italiana chegou até vós (ou vocês à editora)?

A iniciativa da Frontiers é uma tentativa de mostrar ao Mundo que o rock/metal estão vivos e recomendam-se. Eles basicamente abriram o seu departamento de A&R para receber demos de bandas. Não tínhamos nada a perder e por isso enviamos o EP que estávamos a gravar e passado uma ou duas semanas fomos contactados por eles.

 

Qual o significado do termo Quaternary e como surgiu este título?

O nome do disco pode ter mais que uma leitura. Optámos por esse nome como um resumo daquilo que se pode ouvir, mas também acaba por ser um trocadilho. Quaternário porque é o nosso 4º trabalho, porque foi composto por 4 pessoas, como deves saber quaternário também é um compasso musical... Mas Quaternário é também o período geológico em que nos encontramos, e que entre outras coisas é caraterizado por alterações climáticas de grande impacto, etc.

 

Trata-se de um álbum conceptual? Em caso afirmativo, podem contar-nos que temáticas são abordadas?

Não gosto de assumir o disco como conceptual porque isso seria uma afronta aos verdadeiros discos conceptuais da história da música. Vejo-o mais como um “filme” que deve ser visto de início a fim sem paragens e sem trocas de ordem. Uma viagem por sentimentos e relações interpessoais, saúde mental e impacto da espécie humana no Planeta. No fundo tudo se interliga.

 

Jorgen Munkeby aparece como convidado no tema Murderers. Como se proporcionou essa ligação e como analisam o seu input no resultado final?

Conhecíamos bem o trabalho do Jorgen, sempre o achamos excepcional, Shining é uma lufada de ar fresco no espectro do rock/metal. Simplesmente o contactámos e ele foi muito acessível, é um ser humano fantástico e super talentoso.

 

E de onde surge essa vontade de misturar o metal com o jazz? Será uma experiência para continuar em temas futuros?

Não sei se lhe chamaria misturar jazz com metal (algo que a banda dele já faz muito bem). Posso dizer-te que desde o primeiro dia de Kandia que falámos em ter saxofone num tema, esteve quase para acontecer no IB|OR. Quando estávamos a compor a Murderers (na altura ainda para o EP, isto já aconteceu em fevereiro de 2019) tínhamos aquela bridge monumental e um dia o André diz “o que ficava mesmo bem aqui era um solo de sax... e se falássemos com o Munkeby?”. E foi assim. No próximo disco quem sabe uma guitarra portuguesa, ou trompete, tudo pode acontecer.

 

Para além de Jorgen Munkeby, têm mais algum convidado?

Este disco conta ainda com a participação do Nuno Rodrigues (WAKO, Mundo Pântano), Pedro Mendes, Samuel Morais e Paulo Martins.

 

Quando convidam alguém o que estão à procura? E já agora quando começam a trabalhar no tema já tinham uma ideia de quem o poderá enriquecer ou isso surge mais tarde?

Por norma compomos a base dos temas, aprimoramos e depois sentimos se poderia levar algo que o elevasse a outro patamar. Tentamos que seja algo menos comum, mas é um pouco ir ao sabor da maré.

 

The Flood foi o primeiro single retirado deste trabalho. Porque esta escolha? Sentem que é um tema representativo do todo o disco?

O tema a lançar primeiro foi aquele que mantinha mais a identidade anterior de Kandia e que não revelasse logo o que este disco traz de diferente. Foi um relembrar que aqui estamos ao nosso fãs antigos e de alguma forma nos apresentar aos seguidores da editora.

 

Como decorreram os trabalhos de produção com o Daniel Cardoso?

De forma suave como sempre. Trabalhar com o Daniel é fantástico. Como sempre, trabalhámos remotamente. Já temos a máquina bem calibrada nesse campo. O Daniel é parte da equipa, embora não esteja assumidamente na linha da frente. Ele produziu mas também é o responsável pelas baterias, alguns synths e até guitarras do disco.

 

Sendo certo que as coisas não estão fáceis, mas há planos para levar este disco para palco?

Dia 5 de fevereiro vamos apresentar o disco no Hard Club e temos o Comendatio alinhado para agosto. Sinceramente estamos à espera de ver como as coisas de desenrolam, tanto com o lançamento do disco como com esta data que temos mais proximamente. Para uma banda que trabalha sozinha cada passo em falso pode facilmente levar ao abismo.

 

Muito obrigado, Nya! As maiores felicidades! Queres acrescentar alguma coisa que não tenha sido abordada?

Apenas uma nota para todos aqueles que amam a música e arte em geral.  Todos já devem ter percebido que este setor tem sido largamente afetado pela pandemia e não só. Para que possamos voltar a encher as salas e perceber que não está tudo perdido precisamos que as pessoas demonstrem o seu apoio de todas as formas que lhes seja possível... Seria muito triste se, quando a pandemia terminar (seja isso quando for), a cultura estivesse tão na lama que já seja muito difícil trazê-la de volta. Obrigada pelo apoio e pela divulgação.

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