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anos depois o sonho concretiza-se. Os 5ª Punkada, coletivo composto por
utentes da Associação de Paralisia Cerebral de Coimbra, lança o seu
primeiro álbum, Somos Punks ou Não?. Um
sonho tornado realidade e pelo qual Fausto Sousa, em cadeira de rodas e com
paralisia cerebral, sempre lutou. Com ele estão outros músicos que encontram na
música a sua total e plena realização. Paulo Jacob, musicoterapeuta da
associação, e também membro da banda, acedeu a responder a algumas das nossas
questões.
Olá,
Paulo! Obrigado pela disponibilidade! Antes de mais, deixa-me dar os parabéns
por esta iniciativa de verdadeira integração e superação... Depois, podes apresentar
este fantástico projeto? Quando começaram e quais foram os objetivos na altura?
O grupo 5ª Punkada é uma banda formada em
finais de 1993, a partir das sessões de musicoterapia com o terapeuta Francisco
Sousa. O grupo é constituído por utentes da Associação de Paralisia
Cerebral de Coimbra. O Fausto (vocalista) sempre teve o sonho de cantar
(inspirado pelo Jon Bon Jovi) e com o terapeuta Francisco teve todo o
suporte e apoio para o começar a fazer. O principal objetivo do grupo sempre
foi (e continua a ser!) o de usufruir dos prazeres da música, através da sua
execução.
E uma aventura já com bastantes
apresentações ao vivo. De que forma é preparado cada espetáculo, atendendo à
especificidade deste conjunto de músicos?
Os espetáculos são preparados através dos
consecutivos ensaios (necessários para uma boa prestação ao vivo!). Preparamo-nos
sempre para dar o melhor de nós, com garra e qualidade! As únicas
especificidades relativas aos espetáculos têm que ver diretamente com as
condições de acessibilidade (ao palco e a todos os locais por onde os elementos
do grupo tenham que passar) pois dois dos elementos são utilizadores de
cadeiras de rodas.
Quanto tempo despenderam a preparar
este álbum?
Devido à pandemia, não houve muito tempo para
preparar o álbum... pois estivemos quase um ano e meio sem ensaiar. O processo
foi um pouco complicado, tendo tido apenas 3 dias (!!!) para preparar o álbum.
Paulo, além de músico na banda, és musicoterapeuta.
Qual é o teu trabalho específico com estes músicos?
O meu trabalho com o grupo insere-se numa matriz um
pouco diferente da musicoterapia... como
grupo, interessa-nos a procura da excelência musical (quer ao nível da
composição quer relativamente à performance).
Claro que, na qualidade de terapeuta (e não fazendo musicoterapia com os 5ª
Punkada!) poderei afirmar que há toda uma série de ganhos relativos à
execução e fruição musicais. O meu papel, acima de tudo é o de suporte e
coordenação de todas as potencialidades e idiossincrasias dos elementos que
integram o colectivo.
De que forma se proporcionou esta
ligação com a Omnichord Records?
Neste processo, a ligação com a Omnichord adveio no
decorrer de uma candidatura a um programa de co-financiamento do Instituto
Nacional de Reabilitação, tendo sido a entidade que apresentou as melhores
condições de realização deste sonho.
Conta-me lá como foi essa experiência de ter o estúdio
montado na vossa quinta?
Para dizer a verdade, a experiência não foi nova...
em 2005 já tínhamos montado um estúdio na nossa sala e gravámos um disco que...
nunca chegou a ser editado! Mas esta experiência foi diferente, pelo facto de
termos tido um produtor profissional e convidados especiais no disco.
E foi fácil gerir os nervos para as
gravações? Houve assim algum momento mais engraçado?
Nervos? Quais nervos?? Houve, de facto, momento
hilariantes: o baterista que não queria usar auscultadores para gravar; o
guitarrista que estava sempre a tecer elogios de admiração ao Vítor Torpedo,
entre outros momentos.
Blues da Quinta foi o tema escolhido
para amostra. Porque essa escolha?
Porque era uma forma de voltar ao início dos 5ª
Punkada e de prestar a devida homenagem a todos os que passaram pelo grupo.
O Blues da Quinta foi o primeiro tema a ser composto pelo grupo.
Bom, o resto do álbum até é diferente
do single de apresentação, com temas bastante longos. Em termos de composição,
de que forma funcionam as coisas nos 5ª Punkada?
No que respeita à composição, as coisas podem surgir
porque alguém já tem uma ideia para apresentar ao grupo ou então fazemos sessões
de improvisação sonoro-musical (expressão da musicoterapia), as quais gravamos
e analisamos posteriormente. Muitas vezes, nessas gravações, aparecem pequenos
momentos que nos inspiram e determinam o início ou uma parte de uma futura
canção/música.
Em termos de instrumentos, existe a adaptação de alguns às especificidades de cada músico, não é verdade? De que forma é isso feito?
Dependendo do movimento funcional de cada um, são
criadas todas as condições que permitem a qualquer indivíduo aceder ao instrumento
que quer. No caso do grupo, o guitarrista usa uma alteração minor no seu instrumento (usa 3 cordas
em vez das 6), a teclista que usa um ponteiro para poder pressionar as teclas e
o vocalista que faz os solos nas músicas recorrendo ao Soundbeam (interface com sistema multimodal que permite transformar
o movimento em som).
E agora, o que já estão a planear para
a estrada?
Bem, o plano é o seguinte: pôr toda a gente a dançar
e iniciar uma revolução!
Muito obrigado, Paulo! As maiores
felicidades! Queres acrescentar alguma coisa que não tenha sido abordada?
Muito obrigado pelo vosso apoio! Um grande abraço da
malta 5ª Punkada.
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