Gimba e Jorge Galvão são
conhecidos por terem sido parte integrante dos Afonsinhos do Condado. Mas houve
um antes... um antes onde os dois, de guitarra na mão, iam compondo umas
canções. Estávamos na década de 70 e, pouco tempo depois, ao duo juntava-se
Nuno Faria e assim nasciam os AdC e com eles, algumas dessas canções ficaram
guardadas na gaveta. Gimba fala-nos agora de todo este processo de
redescoberta, recriação e gravação destas pérolas perdidas.
Olá, Gimba,
tudo bem? O que tens feito desde a última vezem que conversámos, em 2019?
Tudo e mais alguma coisa. Dentro do possível...
De que forma é que a tua atividade durante
este período foi afetada pela pandemia?
É igual para todos. Seja médico, músico ou astronauta,
esta pandemia limitou em muito as nossas vidas nos tempos mais recentes.
Por falar em pandemia, foi o tempo deixado
livre pelos confinamentos que te/vos fez ir procurar nas vossas memórias as
pérolas que agora apresentam na forma de Os Imparáveis?
Não. Este disco foi praticamente todo gravado antes da
pandemia.
E foi mesmo nas memórias, correto? Porque
já não havia nada gravado desses tempos? Como foi esse processo de reconstrução
da história musical?
Nalguns casos foi fácil, pois as memórias estavam
frescas. Não nos esqueçamos que tocamos estas canções durante uns bons cinco
anos todas as semanas quando fizemos bares, na primeira metade da década de 80.
Mas temos também os casos de músicas que não estavam tão frescas, e tivemos que
puxar um pelo outro, palavra puxa palavra, de semana para a semana, de ensaio
para ensaio, fomos extraindo das profundezas das nossas memórias alguns pedaços
que pensávamos perdidos para sempre. Houve realmente um ou dois casos de
canções que não conseguimos recuperar. Mas, felizmente o grosso do pelotão está
intacto!
E daí até o seu lançamento o que aconteceu?
Quem teve a ideia, tiveram o apoio de alguém?
Gravamos tudo nas calmas e contamos com apoio financeiro
da Sociedade de Autores (SPA), para o fabrico dos CDs, a promoção, vídeo, etc.
Que memórias guardas desses tempos, numa
altura em que estavam ainda numa fase inicial da vossa carreira musical?
Muito boas. Era um tempo em que vivíamos literalmente
agarrados às nossas guitarras e, inclusive, dormíamos com elas dentro dos sacos
camas em acampamentos ao relento durante as férias.
Estes temos agora apresentados, foram
totalmente regravados para este lançamento?
Sim. Tudo do zero!
Quanto aos convidados foram ideias recentes
ou já na altura pensaram nisso?
Os convidados foram aparecendo à medida das necessidades.
Precisamos de um saxofone? Chamamos o Gui. Precisamos de uma
gaita-de-foles? Chamamos o Paulo Marinho. Foi por aí…
Ao longo das 18 faixas que compõem este
trabalho, parece que algumas seriam, na altura, apenas esboços do que poderiam
vir a ser músicas. Confirmas isso? Em caso afirmativo, porque não houve, desta
vez, um trabalho de as concluir?
Houve um caso (a faixa Mariana) em que concluímos
um esboço de uma ideia. Mas nos outros casos quisemos deixar esses pequenos
pedaços justamente como estavam, sem dúvida influências dos Beatles que,
aqui e ali, salpicavam os discos com apontamentos que não chegavam a ser
canções.
De todos os temas apresentados, apenas um
já tinha sido tornado público, correto? Por que razão os outros nunca saíram da
gaveta, nem mesmo mais tarde com os Afonsinhos do Condado?
Quando passámos a trio, estávamos em altas a compor novos
temas e com uma química e dinâmica diferentes de quando eramos só dois.
Apareceram as salsas, etc., e foi esse material que chegou a disco. Estas
canções foram ficando para trás, apesar as termos trocado ao vivo em trio, no
princípio dos Afonsinhos
Na altura, lembras-te de como se processou
o salto deste duo para os Afonsinhos do Condado?
Foi muito rápido. Um dia convidámos o Nuno Faria
(tinha acabado de completar os seus estudos de contrabaixo) para aparecer num
espetáculo e dar uns toques. Ele arrasou e já não o deixamos fugir. Passámos a
trio de um dia para o outro!
E quanto ao futuro? Haverá mais trabalhos
inéditos de Tiroliro & Vladimir ou mesmo dos Afonsinhos do Condado?
Talvez. É muito provável que aconteça uma coisa ou outra,
ou então nenhuma. O que for será…
E quanto aos teus próprios projetos? Em que
estás a trabalhar agora ou está previsto para breve?
Estou a trabalhar umas canções para um disco que se vai
chamar Tom Com Tom, cujas letras vão ser maioritariamente fonéticas e
onomatopaicas, e em que o próprio português se vai diluir numa salada de
sílabas sonoras que vão extravasar o próprio idioma e passar para o campo dos nonverbs,
que é a linguagem universal por excelência, o que poderá agradar a ouvidos de
muitas nacionalidades!
Obrigado, mais uma vez, Gimba! Queres
acrescentar mais alguma coisa que não tenha sido abordado?
Sim. Por favor não cuspam no chão e não digam «o quanto
antes», pois – podem comprovar com Eça, Saramago ou Peixoto – diz-se (e
escreve-se!) apenas «quanto antes». Já agora, corrijam a grafia: quando
chamamos alguém, usa-se um “Ó” e não “Oh”, que é uma interjeição: «Ó Manuel»;
«Ó Antónia»; «Ó fulano»... Valeu?
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