cHoclat
FRoG (para simplificar a escrita iremos utilizar a forma Choclat Frog) é um duo
alemão de prog rock formado por Rainer Ludwig e
pelo seu genro Tim Ludwig. O objetivo é criar música inovadora e arrojada e
isso ficou bem demonstrado logo no seu primeiro álbum, Snapshot. Um
disco onde fomos surpreendidos por passagens em português retiradas do épico Os
Lusíadas de Luís Vaz de Camões. Este foi, naturalmente, um dos temas da
nossa conversa com Rainer Ludwig.
Olá, Rainer! Em
primeiro lugar, obrigado pela disponibilidade. Choclat Frog é um projeto novo, portanto,
para começar podes apresentar a banda aos rockers
portugueses?
cHoclat FRoG é uma dupla
alemã de estúdio de rock progressivo comigo, Rainer Ludwig e o meu
genro, Tim Ludwig. Nós dois tocamos juntos desde 2003 depois de ter
encorajado Tim (na altura, namorado da minha filha) a tocar baixo e
gradualmente viciei-o com música progressiva. Após alguns anos de estudos de groove
(a propósito, sou baterista) fundamos, com o guitarrista Christof Engel,
o trio The Stock em 2010. Quando terminamos os trabalhos do único
lançamento desta formação Christof decidiu deixar a banda. Nesse ponto ficou
totalmente claro para Tim e para mim, que continuaríamos a escrever música. Começamos
a gravar as nossas ideias diretamente sem os ensaios convencionais. Os
resultados foram bons e nós dois começamos a engajar novos instrumentos. Comecei
a cantar e tocar teclas e Tim começou a tocar guitarra. Assim nasceram os cHoclat
FRoG e o nosso primeiro Snapshot.
Quais
são os vossos principais objetivos e ambições com Choclat Frog?
Bem, o nosso primeiro objetivo é
criar o máximo de música possível com vibrações inusitadas para enriquecer o género
RIO/Avant-prog e produzir álbum após álbum. Há tantas ideias de material
na nossa mente que provavelmente é o suficiente para fazer dez álbuns. Mas
agora, estamos focados no nosso próximo lançamento que está em andamento e a nossa
ambição para este álbum é estender o sucesso que tivemos com a nossa estreia.
Veremos então como vai continuar, mas não temos intenção de parar. Talvez
possamos até criar um novo subgénero um dia.
Que
nomes ou movimentos mais vos influenciaram neste projeto?
Para o nosso Snapshot de
estreia, não nos tentamos lembrar de nada o que já existisse. Durante as
gravações, muitas vezes foi dito por nós: “Ah, sim, isso é bom e incomum. Vamos
fazê-lo”. Podemos dizer agora que isso se tornou uma espécie de credo nosso
quando estamos a escrever música. Apesar disso, somos influenciados nos nossos
instrumentos e é isso que os ouvintes reconhecem. Alguns dizem que ouvem tons
de Peter Hammill, Frank Zappa, King Crimson, Primus
ou Yes e não podemos negar isso porque realmente somos influenciados por
essa ótima música. Mas mais uma vez: tentamos criar música sem recorrer a
receitas bem testadas de rock progressivo.
Diz-se
que este é um projeto de estúdio. Por que escolheram esta opção?
Somos apenas uma dupla, Tim e eu.
Mas a nossa música muitas vezes soa como uma banda de quatro, cinco ou até seis
cabeças. Não temos a equipa para tocar ao vivo ou fazer uma tournée com o
nosso álbum. É por isso que nos declaramos como projeto de estúdio quando
começamos. Não somos uma banda de maneira tradicional.
Outra
questão curiosa é o nome, Choclat Frog. Como é que ele surge e que significado
tem?
Há duas coisas que posso
adiantar: O nome não tem nada a ver nem com Harry Potter nem com a editora
de Fish. Na verdade, houve uma música que escrevi há muitos anos chamada
cHoclat FRoG. A peça era sobre, entre outras coisas, arte não lucrativa
e sobre coisas que na verdade não se encaixam. Por exemplo, algo nojento e algo
delicioso. Talvez esse tenha sido o ponto decisivo para dizer: “esse é o nome
perfeito para o nosso projeto de estúdio”. Olhando para trás, não sei
exatamente. De qualquer forma, em algum momento Tim desenhou este grande
logotipo e a partir de então fomos os cHoclat FRoG. Outra coisa que vale
a pena notar é a grafia de “cHoclat”. Está escrito como a pronúncia inglesa.
Como alemão, sempre me perguntei por que se escreve “chocolate”, mas se
pronuncia como “cHoclat”. De qualquer forma, acho que essa maneira de escrever
sublinha o aspeto vanguardista da nossa música. Isso encaixa-se muito bem com a
filosofia da nossa banda.
Snapshot foi o
vosso primeiro álbum lançado no verão passado. Como o definirias?
É um álbum conceptual de 60
minutos que consiste em 11 episódios. Todas as faixas contam histórias da
existência da humanidade moderna. Às vezes sério, outras vezes engraçado, às
vezes triste e outras vezes até com raiva, mas sempre com um pouco de sarcasmo
e muito animado. A inspiração básica de Snapshot foi um fluxo de
informações que não estão interligadas como conheces, por exemplo, de uma
transmissão de notícias ou de um feed de notícias das redes sociais.
Tentamos soar incomum e com certeza é um desafio descobrir isso para os novos
ouvintes, porque é um pouco bizarro em algumas perspetivas. Mas algumas pessoas
descobriram o Snapshot por o apreciarem e gostarem e é isso que nos
deixa felizes e também um pouco orgulhosos. É ótimo ver que este género está
vivo.
Como
disseste, o álbum é conceptual e é composto por 11 episódios. Há alguma
história incluída nele?
Todas as peças foram compostas de
forma analógica e pela forma que aparecem no tracklist. Quando
começamos, não tínhamos a intenção de criar 11 peças. O único marco que tivemos
foi criar aproximadamente 60 minutos de música. Para ser sincero, a nossa
primeira intenção era um álbum de uma faixa com esses 60 minutos, mas
infelizmente isso vai além das possibilidades da maioria das plataformas de streaming.
Por isso, decidimos dividir o álbum nessas 11 partes. Eu prefiro ouvir álbuns conceptuais numa linha cronológica, mas
devido a essa divisão é possível escolher uma faixa específica para pessoas que
não gostam de álbuns conceptuais.
Como
têm sido as reações até agora?
Ficamos absolutamente surpreendidos
com as reações positivas. Algumas críticas realmente boas foram escritas por
algumas plataformas conhecidas. Também estamos muito felizes em conseguir
alguns airplays em algumas estações de rádio e a oportunidade de ter
entrevistas. Já agora, gostaríamos de te agradecer por esta. As nossas cópias
físicas do Snapshot estão lentamente a esgotar o stok disponível
no bandcamp. Portanto, é incrível que haja um público que aprecia a nossa
música. Todas as coisas estão a correr bem para nós e estão definitivamente
acima das nossas expetativas até agora.
Liricamente
é uma produção muito profunda com alguns trechos de alguns dos maiores
escritores de todos os tempos. E inclui-se aqui algumas passagens da epopeia
portuguesa Lusíadas de Luiz Vaz de Camões. Onde o
descobriste? Até têm passagens em português, não é?
Tenho uma relação muito profunda
com a língua portuguesa. Quando fui pela primeira vez de férias a Portugal em
1985, reconheci que poderia ser vantajoso falar português, por isso visitei
diferentes cursos para aprender essa bela língua e ao longo dos anos de visita
ao país pude melhorar as minhas competências. De qualquer forma, quando
estávamos a gravar a Parte IV do Snapshot, houve uma parte que
tocamos com The Stock há alguns anos atrás. Naquela altura, tivemos na
banda um vocalista italiano durante um curto período. E ele falava partes do Inferno
de Dante nessa parte específica em língua italiana. Foi quando pensamos
em como substituir essa parte épica porque o italiano já não estava disponível.
Procurei literatura semelhante de um escritor português e assim encontrei os Lusíadas
de Luiz Vaz de Camões.
Este
álbum foi criado durante os confinamentos? Que influência teve no vosso trabalho?
Sim, parcialmente. Gravamos o Snapshot
no período de 2018 a 2021 e durante os dois primeiros confinamentos e toques de
recolher locais aqui no nosso município tivemos algumas semanas de interrupção.
Em termos de conteúdo, não houve influência na nossa música de Snapshot
da situação de pandemia. Acho que já estávamos muito avançados com as nossas
letras para isso. Numa perspetiva retro é a única coisa que iria bem com a
pandemia é o título da Part V: Need To Survive.
Como
decorreu o processo de gravação com todas essas circunstâncias estranhas?
Devido ao facto de sermos uma
família não houve um efeito muito grande durante as gravações. Os músicos
convidados como Uwe Grunert fizeram os seus overdubs no seu
próprio estúdio e caso alguém precisasse se se isolar de nós por causa de um
possível contágio fizemos o mesmo.
Muito
obrigado, Rainer, mais uma vez. Projetos e ambições para o futuro? O que nos
podes adiantar?
Sim, com muito prazer: um novo
álbum já está em preparação e já temos um bom status de trabalho com
ele. O que podemos revelar agora é que o nosso segundo lançamento não será um
álbum conceptual. A previsão de lançamento do próximo álbum será no final deste
ano ou início do próximo. Isso depende do nosso fluxo de trabalho durante os
próximos meses. E também não será chato no futuro: já existe um conceito para o
álbum após o próximo. Em conclusão, pode-se dizer: há muitas ideias para
provavelmente os próximos dez álbuns. Portanto, não parece que os cHoclat
FRoG fiquem quietos tão rapidamente.
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